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J. Herculano Pires - Portal Luz Espírita

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2 – Inteligência suprema<br />

53 – O ESPÍRITO E O TEMPO<br />

Em seu famoso estudo sobre a consciência metafísica do Ocidente,<br />

Wilhelm Dilthey assinala três motivos fundamentais para a nova concepção do<br />

mundo que surgiu a partir dos gregos. “Como uma fuga se compõe de poucos<br />

motivos fundamentais, assim esses três motivos dominam toda a metafísica<br />

humana”, declara Dilthey, acrescentando: “Foram transmitidos pelos povos antigos,<br />

unificando­se no Império Romano, no mundo em declínio abarcado por esse<br />

império, e nele se fundiram intimamente. Dessa união surgem as obras dos Pais da<br />

Igreja e as dos últimos autores pagãos. Na obra de Agostinho, A CIDADE DE DEUS,<br />

encontramos sua máxima unificação”. Os motivos fundamentais de Dilthey são: a<br />

ideia grega de. Deus como inteligência suprema, arquiteto do universo; a ideia<br />

romana do mundo como um sistema de relações jurídicas; e a ideia judaica da<br />

criação do mundo. Vemos que essa observação de Dilthey concorda com a<br />

proposição de John Murphy sobre o aparecimento do horizonte profético. Mas não<br />

devemos esquecer­nos de que nesse horizonte já começa a raiar uma nova<br />

perspectiva, a do horizonte espiritual. Aliás, é exatamente nesse novo horizonte que<br />

a consciência metafísica de Dilthey vai se definir, como o processo de<br />

transcendência que já assinalamos, e que o próprio Dilthey menciona no seu<br />

trabalho. Três motivos, também, nada mais que três notas fundamentais, constituem<br />

a base e a substância dessa fuga musical que, a partir dos gregos, dos romanos e dos<br />

judeus, arrebatará os espíritos e os conduzirá à epopéia da Renascença, eclodindo na<br />

forma de uma verdadeira alvorada espiritual, no século dezenove.<br />

Se Dilthey fosse espírita, teria alcançado, com sua extraordinária argúcia,<br />

os contornos mais sutis dessa nova conjugação de motivos, que não se processa<br />

apenas no imanente, mas também no transcendente. Ou seja: que não se refere<br />

apenas ao homem, e à ideia de Deus por ele formulada, mas também ao próprio<br />

Deus, e às relações do céu com a terra. Dilthey, historicista, permaneceu no plano<br />

histórico, analisando apenas os movimentos de ideias ao longo do tempo. Quando,<br />

porém, aplicamos a mesma análise às consequências do processo histórico, entramos<br />

na resultante metafísica e presenciamos o fato transcendente da libertação espiritual<br />

do homem.<br />

As três notas da grande fuga se confundem com as assinaladas por Dilthey,<br />

mas num outro plano. A primeira é a da concepção de Deus como inteligência<br />

suprema, centro mental do universo, não apenas o artista divino de Platão ou o<br />

artesão bíblico, mas a própria inteligência universal. Esta concepção aparece<br />

simultaneamente no período histórico e nos limites geográficos assinalados por<br />

Murphy para o horizonte profético. Não se limita aos gregos. Podemos encontrá­la<br />

na índia, na China, na Mesopotâmia e na Judeia. Mesmo na China de Confúcio,<br />

quando a ideia de Deus parece apagar­se ou substituir­se pela concepção moralista,

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