J. Herculano Pires - Portal Luz Espírita
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51 – O ESPÍRITO E O TEMPO<br />
CAPÍTULO V<br />
HORIZONTE ESPIRITUAL:<br />
MEDIUNIDADE POSITIVA<br />
1 – Transcendência humana<br />
A individualização espiritual representa o momento de transcendência<br />
humana, ou seja, aquele em que o homem supera as condições da própria<br />
humanidade. Até esse momento, ser humano é estar ligado a condições animais,<br />
diferenciandose das outras espécies apenas pela razão. Há deuses e homens. Os<br />
deuses são entidades espirituais, superiores, que vivem nos intermúndios, gozando<br />
do privilégio da imortalidade. Os homens são criaturas efêmeras, escravizadas ao<br />
solo, “bichos da terra, tão pequenos”, segundo a expressão de Camões. Mas, quando<br />
a evolução mediúnica abre as perspectivas do horizonte espiritual, o homem<br />
descobre que ele e os deuses são semelhantes, e por isso mesmo se eleva sobre a<br />
condição humana, atingindo a divina.<br />
Na antiguidade e na Idade Média, o dualismo humanodivino se mostra<br />
bem claro. Um fenômeno mediúnico de possessão é sempre tomado como<br />
manifestação demoníaca ou sagrada. O homem, não tendo ainda atingido o<br />
horizonte espiritual, não pode conceber que o espírito comunicante seja da sua<br />
mesma natureza. Para ele, tratase de uma entidade estranha, boa ou má. Entretanto,<br />
no horizonte profético de Israel, já aberto às perspectivas espirituais, aparecem as<br />
declarações insistentes de que os espíritos comunicantes são de natureza humana,<br />
como vemos nos casos espíritas da Bíblia, Velho e Novo Testamentos. Somente na<br />
era moderna, porém, essa compreensão irá se tornar efetiva. Porque só então o<br />
espírito humano amadureceu o suficiente, para que a promessa do Consolador, do<br />
Paráclito, do Espírito da Verdade, possa cumprirse. É por isso que o espírito de<br />
Charles Rosma, ao comunicarse em Hydesville, através da mediunidade das irmãs<br />
Fox, numa família metodista, não é mais tomado como demônio ou deus, mas como<br />
o espírito de um homem. Assim aceito, Rosma pode falar do seu estado, do seu<br />
passado, e dar as indicações de sua passagem ocasional pela residência em que foi<br />
morto, bem como das condições dessa morte e dos indícios existentes no subsolo,<br />
que serão encontrados mais tarde. Rosma pode ser tomado como um exemplo do<br />
fenômeno da transcendência humana, que assinala o aparecimento concomitante da<br />
mediunidade positiva. Não encontramos mais, em Hydesville, o profeta bíblico, nem