50 – J. <strong>Herculano</strong> <strong>Pires</strong> Deus é amor, diz João, evangelista, e essa afirmação nos leva a um plano conceptual que paira muito acima do antropomorfismo religioso. Não obstante, devemos precavernos das ilusões. O deus conceptual é apenas um reflexo da realidade suprema. O indivíduo espiritual confabula com entidades superiores, certo de falar com o próprio Deus, como ocorreu com Moisés no Sinai ou com Elias no Carmelo. A individualização espiritual é ainda uma fase da evolução, que se prolonga nos planos da espiritualidade, muito além das nossas possibilidades de concepção e imaginação.
51 – O ESPÍRITO E O TEMPO CAPÍTULO V HORIZONTE ESPIRITUAL: MEDIUNIDADE POSITIVA 1 – Transcendência humana A individualização espiritual representa o momento de transcendência humana, ou seja, aquele em que o homem supera as condições da própria humanidade. Até esse momento, ser humano é estar ligado a condições animais, diferenciandose das outras espécies apenas pela razão. Há deuses e homens. Os deuses são entidades espirituais, superiores, que vivem nos intermúndios, gozando do privilégio da imortalidade. Os homens são criaturas efêmeras, escravizadas ao solo, “bichos da terra, tão pequenos”, segundo a expressão de Camões. Mas, quando a evolução mediúnica abre as perspectivas do horizonte espiritual, o homem descobre que ele e os deuses são semelhantes, e por isso mesmo se eleva sobre a condição humana, atingindo a divina. Na antiguidade e na Idade Média, o dualismo humanodivino se mostra bem claro. Um fenômeno mediúnico de possessão é sempre tomado como manifestação demoníaca ou sagrada. O homem, não tendo ainda atingido o horizonte espiritual, não pode conceber que o espírito comunicante seja da sua mesma natureza. Para ele, tratase de uma entidade estranha, boa ou má. Entretanto, no horizonte profético de Israel, já aberto às perspectivas espirituais, aparecem as declarações insistentes de que os espíritos comunicantes são de natureza humana, como vemos nos casos espíritas da Bíblia, Velho e Novo Testamentos. Somente na era moderna, porém, essa compreensão irá se tornar efetiva. Porque só então o espírito humano amadureceu o suficiente, para que a promessa do Consolador, do Paráclito, do Espírito da Verdade, possa cumprirse. É por isso que o espírito de Charles Rosma, ao comunicarse em Hydesville, através da mediunidade das irmãs Fox, numa família metodista, não é mais tomado como demônio ou deus, mas como o espírito de um homem. Assim aceito, Rosma pode falar do seu estado, do seu passado, e dar as indicações de sua passagem ocasional pela residência em que foi morto, bem como das condições dessa morte e dos indícios existentes no subsolo, que serão encontrados mais tarde. Rosma pode ser tomado como um exemplo do fenômeno da transcendência humana, que assinala o aparecimento concomitante da mediunidade positiva. Não encontramos mais, em Hydesville, o profeta bíblico, nem