J. Herculano Pires - Portal Luz Espírita
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49 – O ESPÍRITO E O TEMPO<br />
é uma conquista progressiva, um avanço da humanidade, através do deserto ilusório<br />
dos bens materiais, na direção da Canaã espiritual.<br />
Ao atingir a individualização mediúnica, o profeta se põe em relação direta<br />
e pessoal com Deus. Dois indivíduos se defrontam: o divino e o humano. Os<br />
intermediários, quer sociais, quer espirituais, são afastados. O profeta não necessita<br />
mais dos sacerdotes, nem dos deuses. Abrão, por exemplo, é amigo de Deus e<br />
confabula com Ele. Despreza os deuses mesopotâmicos e os de todos os povos<br />
idólatras, porque elevouse acima do gregarismo psíquico e descobriu que a sua<br />
individualização não é apenas um processo terreno, pois corresponde a uma<br />
realidade espiritual, que é a individualização de Deus. Ninguém explicou melhor<br />
esse fato do que Descartes, ao descobrir, no fundo do cogito, no mais profundo de si<br />
mesmo, a ideia do Ser Supremo. De onde viria essa ideia, que não encontra apoio na<br />
realidade exterior, onde só encontramos os seres falíveis e imperfeitos da<br />
individualização social? Só poderia vir de uma realidade interior, e portanto<br />
espiritual.<br />
O Ser Supremo não corresponde aos produtos objetivos da evolução, mas<br />
aos subjetivos. E como é ele o modelo único da espiritualidade, aquele ímã divino de<br />
que falava Aristóteles, que atrai o mundo para a sua perfeição absoluta, o indivíduo<br />
espiritual não pode dirigirse senão a ele. Daí a energia e a firmeza, a intransigência<br />
com que os profetas hebreus rejeitavam a idolatria. O indivíduo espiritual, que neles<br />
se desenvolvia, recusavase a aceitar a própria diluição nos cultos formais do<br />
politeísmo. Esses cultos constituem um perigo para a integridade espiritual do<br />
profeta. A afirmação de John Murphy em seu tratado, ORIGENS E HISTÓRIA DAS<br />
RELIGIÕES, ajudanos a compreender todo esse processo: “O homem é o produto da<br />
evolução, tanto no seu corpo, quanto no seu espírito”. Murphy acrescenta: “O ser<br />
humano passou por graus sucessivos de evolução, e foi o seu espírito que o tornou<br />
especificamente humano”.<br />
As formas de individualização a que nos referimos oferecem a linha dessa<br />
evolução. Narciso levanta a cabeça do espelho das águas para contemplar o mundo<br />
com olhos sonhadores. A descoberta de si mesmo, de sua especificidade, de sua<br />
beleza própria, descortinalhe unia visão diferente das coisas dos seres. O corpo de<br />
argila que recebeu o sopro do Criador, segundo o imito bíblico, revelou um<br />
conteúdo espiritual, que supera a realidade imanente e leva o homem ao plano do<br />
transcendente. A individualização espiritual é, portanto, o ápice do processo<br />
evolutivo que se iniciou com a individualização biológica. Ao atingila, o homem se<br />
iguala a Deus, e pode falar a Ele como de igual para igual. Não era assim que faziam<br />
os profetas? Ouviam a Deus, e Deus os ouvia. A criação do homem à imagem e<br />
semelhança de Deus não é, portanto, uma simples alegoria, e não se refere ao plano<br />
material. O deus antropológico é apenas uma concepção aproximativa da realidade<br />
espiritual, que se converte no deussemforma de Israel ou dos místicos indianos.