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J. Herculano Pires - Portal Luz Espírita

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4 ­­ Individualização espiritual<br />

48 – J. <strong>Herculano</strong> <strong>Pires</strong><br />

Para bem compreendermos o problema da individualização espiritual,<br />

analisemos rapidamente as formas anteriores: a biológica e a social. O homem se<br />

destaca, individualmente, da massa animal da espécie, no momento em que se<br />

reconhece a si mesmo como unidade que se opõe ao múltiplo. Seu corpo é um, em<br />

conflito com muitos corpos, que o cercam por todos os lados. O gregarismo<br />

biológico é superado pelo narcisismo, e esse narcisismo se repete em cada indivíduo,<br />

no processo do desenvolvimento biológico individual, como ensina a psicologia da<br />

infância e da adolescência. Não obstante, a individualização biológica é apenas o<br />

primeiro passo da individualização social, e por isso mesmo não pode ser tomada<br />

como uma dimensão espiritual. No momento em que Narciso se debruça sobre o<br />

espelho das águas, e aprende a se contemplar, descobre também que merece a<br />

admiração dos outros. O vínculo social se estabelece. A fórmula de Sartre, sobre as<br />

três dimensões ontológicas do corpo, esclarece precisamente o que estamos<br />

estudando. Podemos resumi­la assim: “Existo no meu corpo, é esta a sua primeira<br />

dimensão; meu corpo é utilizado e conhecido por outro, e esta é a sua segunda<br />

dimensão; eu existo por mim como conhecido por outro a título de corpo, e esta é a<br />

terceira dimensão ontológica do meu corpo”.<br />

Ao reconhecer a existência do seu corpo, na massa da espécie, o homem já<br />

se projeta fora de si mesmo, na relação social. Mas, com isso, não se devolve à<br />

espécie. Pelo contrário, supera­a, iniciando a facticidade do social, entrando para<br />

uma nova forma de gregarismo, de ordem superior, que é o gregarismo psíquico. A<br />

terceira dimensão ontológica do corpo é o indivíduo social, que no plano do espírito<br />

representa apenas a primeira dimensão. O indivíduo social é uma transcendência<br />

imediata do indivíduo biológico, segundo o demonstra o próprio Sartre. E<br />

reportando­nos à definição, já citada, de Simone de Beauvoir, sobre a humanidade,<br />

podemos dizer que esta deixa de ser uma espécie, para se transformar num devir, no<br />

momento exato em que Narciso se olha no espelho das águas. Pisando no limiar do<br />

espírito, com a individualização social, o homem avança na espiritualidade através<br />

do lento e vasto processo da individualização mediúnica, que estudamos ao tratar<br />

dos horizontes tribal, agrícola e civilizado. Neste último é que surge o conflito entre<br />

o social e o mediúnico, porque o espiritual se impõe, a cultura subjetiva se define e<br />

se destaca da objetiva. Os deuses materiais do politeísmo se reúnem numa forma<br />

única e superior, a do monoteísmo, que é abstrata, espiritual.<br />

A utopia leva Platão a sonhar com a República, Francis Bacon com a Nova<br />

Atlântida, Karl Marx com a sociedade sem classes. Mas depois de Platão e antes dos<br />

outros, Jesus também pregara o Reino de Deus, para confirmar a natureza espiritual<br />

do homem, que transcende a material. E Kardec, mais tarde, daria sentido espiritual<br />

à lei da evolução, que o século dezoito descobriu, para mostrar que o Reino de Deus

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