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J. Herculano Pires - Portal Luz Espírita

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46 – J. <strong>Herculano</strong> <strong>Pires</strong><br />

helenismo, trazia consigo essa perspectiva nova, que oferecia ao homem a ampliação<br />

do seu poder conceptual, permitindo­lhe enxergar além dos horizontes que<br />

circundavam o mundo agrário, o mundo civilizado e o próprio mundo profético.<br />

Todas as explicações materialistas sobre a vitória do Cristianismo, a partir da<br />

derrocada do mundo antigo, sofrem da mesma estreiteza visual que caracterizava os<br />

povos da época, em face da espiritualidade hebraica. Assim como os “goyn” não<br />

compreendiam Israel, e assim como os próprios israelitas não compreenderam o<br />

Cristo, assim também o pensamento pragmatista, positivista ou materialista, de hoje,<br />

não pode compreender o sentido e a natureza do Cristianismo, que atinge no<br />

Espiritismo a sua mais perfeita expressão, e os cristãos formalistas não<br />

compreendem a natureza e o sentido libertários do movimento espírita.<br />

Da mesma maneira por que o grego e o romano consideravam<br />

supersticiosas as práticas religiosas judeu­cristãs, e o judeu, por sua vez, considerava<br />

heréticas as ideias libertárias do Cristianismo, os homens “cultos” e os “religiosos”<br />

de hoje formulam acusações semelhantes aos espíritas. Tudo se explica pela teoria<br />

dos horizontes culturais. O homem que se mantém fechado no círculo do horizonte<br />

civilizado, apegando­se aos “bens de civilização”, segundo a expressão de<br />

Kerchensteiner, não abre os seus olhos e a sua mente para as perspectivas mais<br />

amplas do horizonte espiritual. O esquematismo cultural e o dogmatismo religioso,<br />

com seus respectivos sistemas rituais, oferecendo­lhe uma riqueza concreta e<br />

imediata, muito superior à do passado, absorvem­lhe a atenção. A individualização<br />

social, longa e dolorosamente conquistada, defende­se de qualquer ameaça de<br />

desequilíbrio ou dispersão. O instinto de conservação do indivíduo­social ajuda­o a<br />

concentrar­se nos bens de cultura da civilização, mas ao mesmo tempo impede­lhe o<br />

avanço na espiritualização.<br />

Nada melhor, para nos esclarecer esse fenômeno, que a teoria dialética da<br />

cultura, formulada por Kerchensteiner, com as teses da cultura objetiva e subjetiva.<br />

O indivíduo­social é um produto da cultura objetiva, cercado dos bens de cultura que<br />

constituem objetivamente a civilização. Mas acima da civilização pairam os ideais e<br />

as aspirações do espírito humano, sôfrego por evoluir e se libertar dos esquemas por<br />

ele mesmo construídos. À ideologia dominante opõe­se a utopia desejada, no<br />

contraste histórico de Mannheim. E somente os indivíduos capazes de romper o<br />

círculo dos bens de cultura podem conceber a utopia como alguma coisa<br />

transcendente e não imanente a esses bens. Essa capacidade de transcendência é<br />

comum a todos os homens, mas só atinge a sua plenitude na proporção em que o<br />

indivíduo­social rompe o casulo das convenções, em que gostosamente se fechou,<br />

para abrir as asas de borboleta da individualização mediúnica. Depois disso, poderá<br />

tornar­se, e forçosamente se tornará, um indivíduo espiritual. Foi o que aconteceu<br />

com os profetas hebraicos. O horizonte agrícola da Palestina, com a vida agrária dos<br />

cananitas, não foi abafado pela invasão judaica. O próprio Abrão, ao partir de Ur, na

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