J. Herculano Pires - Portal Luz Espírita
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45 – O ESPÍRITO E O TEMPO<br />
do homem “egrégio”, que se destacou da grei. Acentuamse então os atributos éticos<br />
de Deus. A dignidade humana do indivíduo social projetase no infinito,<br />
expandindose na Suprema Dignidade. Nada mais justo, portanto, que a relação<br />
inversa também se verifique. O Deus Único se projeta no homem individual,<br />
estabelecendose a relação direta da Pessoa Divina com a pessoa humana.<br />
O profeta é o elo entre a terra e o céu. A individualização social produziu a<br />
individualização mediúnica, e esta, por sua vez, produz a individualização espiritual,<br />
através do aprimoramento dos atributos éticos do profeta. A simbiose metafísica<br />
resulta em benefícios recíprocos. O pensamento materialista, mesmo o dialético, não<br />
alcança a grandeza dessa relação dialética, semelhante a do homem que, pelo<br />
trabalho, modifica a natureza e é por esta modificado. O pensamento espírita<br />
consegue abranger as dimensões do fato, mostrando que, por traz da aparência, há<br />
uma realidade profunda. Na verdade, a projeção do homem ao infinito não é mais do<br />
que uma aproximação humana da realidade divina. A projeção psíquica do<br />
monoteísmo é simplesmente uma resposta do indivíduo humano ao apelo do<br />
Indivíduo Divino, que através dos séculos e dos milênios esperou a compreensão do<br />
indivíduo gregário.<br />
Podemos aplicar ao caso os versos de Rainer Maria Rilke: “Mesmo que não<br />
o queiramos, Deus nos faz amadurecer”. O amadurecimento social nos torna capazes<br />
de abranger maiores dimensões da ideia de Deus, pela maior amplitude mental que<br />
nos proporciona. O profeta se apresenta, assim, como um indivíduo em três<br />
dimensões. Na primeira, temos o indivíduo social; na segunda, o indivíduo<br />
mediúnico; na terceira, o indivíduo espiritual. Por esta terceira dimensão, o profeta<br />
revela uma individualização mais poderosa que a do indivíduo grego, que apesar de<br />
libertarse do gregarismo terreno, continuou politeísta, e que a do indivíduo romano,<br />
que se fechou no casulo social da cidadania. O profeta hebreu, que tem a sua réplica<br />
nos sábios, artistas e místicos dos demais povos da época, rompe a estreiteza das<br />
relações terrenas e estabelece aquela forma transcendente de relação que, segundo<br />
uma feliz expressão de Denis de Rougemont, o toma “mais livre que o indivíduo<br />
grego, mais entrosado que o cidadão romano, mais liberto pela própria fé que o<br />
entrosa”.<br />
3 – Individualização mediúnica<br />
A concomitância dos horizontes agrícola, civilizado e profético, no mundo<br />
hebraico, proporciona as condições necessárias ao aparecimento do horizonte<br />
espiritual. Essa a razão histórica, mesológica e psicológica do imenso poder do<br />
Cristianismo, transformador e renovador do mundo. Nenhuma das religiões orientais<br />
que invadiram o mundo grecoromano, como nenhuma das correntes filosóficas do