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J. Herculano Pires - Portal Luz Espírita

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2 – As dimensões do profeta<br />

44 – J. <strong>Herculano</strong> <strong>Pires</strong><br />

A aceitação do monoteísmo por todo um povo, acorrida pela primeira vez<br />

na história, quando os hebreus, após a relutância inevitável, admitiram que o deus<br />

familiar de Abrão, Isaac e Jacó, era o Ser Supremo, assinala o advento do horizonte<br />

profético. Desse momento em diante, os médiuns antigos adquiriram uma nova<br />

dimensão, e por isso mesmo uma nova' qualidade. Não eram mais os instrumentos<br />

submissos de espíritos dominadores, como o de Piton, a serpente délfica, possível<br />

representação alegórica de um antigo tirano, e não caíam mais nos transes<br />

inconscientes. Pelo contrário, instrumentos conscientes de um Deus universal,<br />

supremo, racional, passaram a falar como intérpretes e não como simples aparelhos<br />

de transmissão de mensagens vocais. A nova qualidade que adquiriram foi a<br />

dignidade individual. Fácil perceber­se a diferença existente entre a pitonisa, que<br />

caía em transe e proferia palavras desconexas, e o profeta hebreu, cheio de dignidade<br />

pessoal, de consciência da sua missão divina, que não temia apostrofar os poderosos<br />

do tempo.<br />

Vemos que a individualização social, produzida pelo horizonte civilizado,<br />

atinge sua culminância no horizonte profético, para redundar numa forma nova: a<br />

individualização mediúnica. O profeta é um médium que rompeu o gregarismo<br />

psíquico, arvorou­se em senhor de si mesmo, passou a responder pessoalmente pelos<br />

seus pronunciamentos mediúnicos. Acima dele, paira a razão suprema, o Deus único<br />

e universal, com o qual ele pode confabular através da mediunidade. E nele mesmo<br />

brilha a razão humana, a inteligência individualizada, senhora de si, capaz de julgar­<br />

se a si própria e julgar o mundo e os homens.<br />

A individualização da ideia de Deus, o conceito de um Ser Supremo,<br />

decorre da própria individualização humana. O homem, desprendendo­se do<br />

rebanho, destacando­se da massa gregária, torna­se “egrégio”, importante, e não<br />

pode mais admitir a sua submissão a deuses gregários. Tem de eleger um deus<br />

“egrégio”, um deus que, como ele, supere o rebanho olímpico. Este é o fato que<br />

justifica o engano materialista, que inspirou um belo soneto a Antero de Quental,<br />

segundo o qual não foi Deus quem fez o homem à sua imagem e semelhança, mas<br />

este quem fez Aquele. Realmente, o monoteísmo é uma projeção do homem ao<br />

infinito, como queria o poeta. Daí o antropomorfismo bíblico da concepção de Deus.<br />

Mas esse antropomorfismo não nega a existência do Ser Supremo. Antes, como<br />

afirmava Descartes, é a prova mais profunda e universal dessa existência, a marca<br />

indelével do Criador na criatura. O Deus Único, feito à imagem e semelhança do<br />

Homem Único, do indivíduo que se desprendeu da turba, deve possuir os atributos<br />

que caracterizam esse novo homem. Assim como os deuses múltiplos do politeísmo,<br />

formando o rebanho olímpico, reproduzem os vícios e as paixões do homem<br />

múltiplo do gregarismo, assim também o Deus Único reproduz a dignidade pessoal

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