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J. Herculano Pires - Portal Luz Espírita

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43 – O ESPÍRITO E O TEMPO<br />

sua cabeça sobre a turba e viu­se capaz de julgá­la. Essa nova condição explica o<br />

aparecimento, no mundo que se estende, mais ou menos, do século nono ao terceiro,<br />

antes de Cristo, das grandes individualidades de sábios, místicos, poetas e profetas,<br />

numa vasta área de grande desenvolvimento da civilização. Murphy entende que<br />

essa área abrange o chamado Fértil Crescente, que vai da Grécia e o Egito, passando<br />

pela Palestina e a Mesopotâmia, até a índia e a China. Nos limites de tempo e espaço<br />

assim configurados, vemos brilharem a filosofia grega, o profetismo hebraico, o<br />

misticismo hindu e o moralismo chinês. Atrás deles, como pano de fundo, estão o<br />

patriarcalismo mesopotâmico, o sacerdotismo egípcio e o magismo persa.<br />

Abrão, como já vimos, era um herdeiro do horizonte civilizado<br />

mesopotâmico, levando consigo, ao deixar a cidade de Ur, a bagagem dos bens­de­<br />

cultura ali adquiridos. Moisés, por sua vez, era um herdeiro da civilização egípcia.<br />

Aquenáton e Zoroastro projetavam suas luzes sobre os patriarcas hebreus, através da<br />

poderosa influência das civilizações egípcia e persa. Muito natural, portanto, que os<br />

hebreus, ao implantarem o seu domínio em Canaã, estabelecessem ali, ao mesmo<br />

tempo, o horizonte civilizado, que traziam como herança, em mistura com o<br />

horizonte agrícola encontrado na terra, e sobre ambos abrissem as perspectivas do<br />

horizonte profético. Murphy assinala essa curiosa simultaneidade, que confirma a<br />

tese de Augusto Comte, sobre a mistura de elementos dos três estados: teológico,<br />

metafísico e positivo, em cada um desses mesmos estados.<br />

O horizonte profético atingiu, entre os hebreus, a sua culminância, mas nem<br />

por isso se apresenta em estado de pureza ideal. Muito pelo contrário, nos momentos<br />

de maior brilho do profetismo hebraico, os resíduos do horizonte agrícola fazem<br />

sentir poderosamente a sua presença. E assim tinha de ser, pois a evolução social,<br />

mental e espiritual do homem se desenvolve como um continuum, sem solução de<br />

continuidade. A nossa razão é que a fragmenta, como no caso da duração e do tempo<br />

bergsonianos, para atender às deficiências do nosso poder de percepção e<br />

compreensão do processo total. Os motivos da culminância do horizonte profético<br />

entre os hebreus, segundo nos parecem, e considerando­se a hereditariedade<br />

histórica já apontada, podem ser assim discriminados:<br />

1) Aceitação popular do monoteísmo, pela primeira vez na história, e<br />

consequente individualização da ideia de Deus;<br />

2) Acentuação dos atributos éticos de Deus;<br />

3) Estabelecimento de ligações diretas do Deus individual com o indivíduo<br />

humano; no caso, o profeta. Essas mesmas razões farão do profeta hebreu,<br />

como veremos logo mais, um indivíduo tridimensional, de individualização<br />

mais poderosa que o indivíduo grego e o seu herdeiro romano.

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