J. Herculano Pires - Portal Luz Espírita
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39 – O ESPÍRITO E O TEMPO<br />
não são, portanto, formas simplórias de culto religioso, ou simples locais de consulta<br />
mediúnica. Sua estrutura, muitas vezes bastante complicada, alicerçase numa<br />
concepção do mundo. A natureza vaga dessa concepção corresponde à própria<br />
natureza sincrética da instituição oracular. O fenômeno mediúnico aparece nela<br />
como um mistério. Nada o explica, nem pode explicálo, nem deve atreverse a<br />
tanto. O tabu tribal se impõe de maneira mais vigorosa e mais ampla, agora<br />
desenvolvido numa forma racional, que é a concepção do sagrado. A humanidade se<br />
encontra, nessa fase, como um adolescente, que reelabora em seu íntimo os sonhos,<br />
os temores e as esperanças provenientes das primeiras visualizações do mundo<br />
exterior.<br />
A fase infantil de indiferenciação psíquica, vivida coletivamente no<br />
horizonte tribal, exerce ainda a sua influência sobre as cosmogonias oraculares.<br />
Curioso notarse que não há, nos oráculos, aquilo que chamaremos de<br />
individualização mediúnica. Embora exista o médium, ora chamado de oráculo, ora<br />
de pitonisa, e embora exista uma entidade comunicante, as mensagens são dadas<br />
através de processos impessoais. Às vezes, é o murmúrio da fonte que responde ao<br />
consulente; de outras vezes, é o rumorejar do bosque ou os sons misteriosos de uma<br />
gruta; e quando o médium responde diretamente, sua resposta imita os rumores<br />
confusos da natureza. Em todos os casos, a resposta depende da interpretação<br />
sacerdotal. Há, portanto, um corpo de sacerdotes que responde, de maneira coletiva,<br />
às consultas oraculares. As exceções representam casos de avanço do processo<br />
evolutivo, no sentido da individualização. O mediunismo oracular é, portanto, uma<br />
forma de transição para o culto individual dos Espíritos, que por sua vez exigirá a<br />
individualização mediúnica, já definida em casos típicos, como o da Pitonisa de<br />
Endor, de que nos fala a Bíblia.<br />
A História das Religiões nos mostra que o culto dos ancestrais foi<br />
inicialmente coletivo, os espíritos dos mortos considerados em conjunto e assim<br />
adorados, como no caso dos parentum e dos manes romanos. A individualização se<br />
efetua lentamente, evoluindo as coletividades humanas, como crianças em<br />
desenvolvimento, da “indiferenciação psíquica” para as fases superiores da<br />
racionalização. Os oráculos representam, no horizonte civilizado, esse momento de<br />
transição.<br />
4 – Os arquétipos coletivos<br />
A transição do mediunismo coletivo — claramente representado nos<br />
oráculos e nos antigos mistérios egípcios, babilônicos ou gregos — para o<br />
mediunismo individual, mostranos a existência de grandes idealizações coletivas,<br />
que são uma espécie de sonhos da humanidade. Esses sonhos apresentamse em