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J. Herculano Pires - Portal Luz Espírita

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36 – J. <strong>Herculano</strong> <strong>Pires</strong><br />

referimo­nos, em geral, ao binômio Homem­Natureza, que é um contraste dialético.<br />

De um lado colocamos o Homem, como um poder oposto ao que se encontra do<br />

outro lado, representando o mundo exterior. Essa, entretanto, é uma concepção<br />

simplista, pois a verdade é bem mais complexa. O Homem não se opõe à Natureza<br />

como uma potência contrária, mas como parte dela mesma. A oposição não é<br />

externa, mas interna. Pelo seu corpo, o Homem pertence à rés extensa cartesiana, é<br />

uma espécie animal. Pelo seu espírito, pertence à rés cogitans, é uma substância<br />

pensante.<br />

Podemos dizer, com Espinosa, que o Homem é uma simples afecção do<br />

Todo, em que se conjugam as modalidades extensa e pensante da Substância, o que<br />

equivale a dizer, com o apóstolo Paulo, que “em Deus estamos e em Deus nos<br />

movemos”. À Natureza Universal, portanto, devemos opor a Natureza Humana, que<br />

é uma simples diferenciação daquela. O processo evolutivo explica essa oposição,<br />

mostrando­nos que a matéria e o espírito, ou o que Kardec chama o princípio<br />

material e o princípio inteligente do Universo, modificam­se através do tempo. Essa<br />

modificação é progressiva, assinalando um desenvolvimento qualitativo, como<br />

podemos verificar pela evolução física do planeta e das espécies vegetais e animais<br />

que o povoam. Esta evolução, por sua vez, encontra no Homem o seu ponto<br />

culminante. Quando dizemos, pois, que o Homem supera a Natureza, podemos<br />

acrescentar que essa superação não é apenas do Homem, mas da própria Natureza,<br />

que atinge na espécie humana a sua mais elevada expressão. Isso nos permite<br />

compreender, também, o que queremos dizer, quando falamos da superação da<br />

Humanidade. Nessa fase superior, a evolução está alcançando um novo plano, e o<br />

homem que avança além da craveira comum, superando a sua época, supera a sua<br />

própria espécie.<br />

O Espírito de Civilização, cujo aparecimento Murphy assinala como<br />

consequência do horizonte agrícola, marca a fase de superação do animal­político,<br />

com a transformação do ser­social do Homem num ser­moral, e consequentemente a<br />

transformação da espécie humana num processo histórico. Simone de Beauvoir<br />

adverte, com razão, que a humanidade não é uma espécie, mas um devir. Não<br />

obstante, devemos acentuar que ela já foi uma espécie, e que por isso mesmo guarda<br />

as marcas da sua animalidade ancestral. As características do Espírito de Civilização<br />

constituem os carismas dessa transformação profunda, que assinalam a passagem da<br />

espécie humana para o devir, ou seja, do concreto para o abstrato, da forma animal<br />

para a forma espiritual. Analisemos rapidamente essas características, que se<br />

apresentam como três funções do Homem numa fase superior da sua evolução.<br />

Temos primeiramente a capacidade de formulação de conceitos abstratos, que é o<br />

resultado de uma longa evolução da rés cogitans, da coisa pensante cartesiana. A<br />

História da Matemática nos ajuda a compreender esse processo, mostrando­nos o<br />

desenvolvimento da capacidade de contar, na vida primitiva. O pensamento do

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