J. Herculano Pires - Portal Luz Espírita
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34 – J. <strong>Herculano</strong> <strong>Pires</strong><br />
teológico a supremacia estatal. Atenas, pelo contrário, oporá a reflexão crítica e o<br />
individualismo, ou seja, os direitos do homem, como indivíduo.<br />
Os Estados Teológicos das civilizações orientais nos oferecem, portanto, o<br />
primeiro panorama desse novo ciclo da evolução humana, que chamamos horizonte<br />
civilizado. Analisando esses Estados, verificaremos que sua estrutura é herdada do<br />
horizonte tribal. O monarca egípcio, babilônico, hindu ou chinês, é um cacique<br />
tribal, cujas dimensões foram aumentadas quase ao infinito. Suas prerrogativas são<br />
as mesmas da vida tribal: domínio absoluto sobre o povo, que o deve respeitar e<br />
adorar, como a um deus. A evolução econômica e técnica do horizonte agrícola, que<br />
determinaram acentuado desenvolvimento do animismo, darão estrutura racional,<br />
mais sutil e complexa, a essas prerrogativas. Mas as civilizações orientais,<br />
dominadas pelo absolutismo tribal, serão estruturas teológicas asfixiantes, em que<br />
não haverá lugar para o indivíduo. O homem civilizado, à maneira do homemtribal,<br />
será apenas uma peça da gigantesca engrenagem do Estado Teológico, que lhe<br />
determinará, de maneira irrevogável, as formas de pensar e de sentir. O estatismo<br />
espartano será uma espécie de reação política a esse absolutismo teológico, mas<br />
servindose do mesmo processo de absorção. Somente a democracia ateniense abrirá<br />
possibilidades a um individualismo, tão novo e tão fascinante, que acabará por<br />
embriagála, fazendoa perderse nos excessos do liberalismo.<br />
Nos Estados Teológicos, a estrutura política assemelhase à estrutura<br />
metafísica ou divina. A Religião e o Estado se modelam reciprocamente, uma sobre<br />
o outro, e viceversa. A classe sacerdotal, racionalmente organizada, elabora os<br />
mitos no plano intelectual, criando a teologia, estruturando ritualismo, estabelecendo<br />
a genealogia dos deuses e as formas de relações entre estes e os homens. A teogamia<br />
egípcia, de que já tratamos, é um dos mais perfeitos exemplos dessas formas de<br />
relações: a genealogia divina se prolonga na genealogia humana dos faraós, graças à<br />
fecundação da rainha por um deus. Amalgamados assim os dois poderes, o temporal,<br />
o divino, na própria carne dos monarcas, os Estados Teológicos tornamse<br />
monolíticos. Ainda na Grécia vemos isso: a figura humana de Zeus, na sua corte<br />
olímpica, refletindo no espaço a estrutura política da nação. Murphy acentua esse<br />
aspecto do horizonte civilizado, da seguinte maneira: “No horizonte que chamamos<br />
civilizado, a religião reflete o sistema político e social: é em geral politeísta, com um<br />
grupo de deuses semelhante ao Senado de uma República ou, mais frequentemente,<br />
à corte de um monarca supremo e mais ou menos autocrata. Os deuses são<br />
principalmente as forças da natureza, como anteriormente, sob horizonte agrícola,<br />
mas, agora, mais profundamente personalizadas e dotadas de uma realidade<br />
dramática, que resulta do progresso da reflexão mental, entre as classes que<br />
dispuseram de lazer nessas antigas nações civilizadas”.<br />
Os Espíritos presentes nesse horizonte — devemos acentuar, por nossa vez<br />
— são ainda os da tribo e os do horizonte agrícola, mas enriquecidos pela