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J. Herculano Pires - Portal Luz Espírita

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29 – O ESPÍRITO E O TEMPO<br />

comparações. A fé ingênua, imposta pela autoridade e a tradição, derrete­se como<br />

cera frágil, ao fogo da razão.<br />

Somente a fé racional, ou a “fé raciocinada”, como queria Kardec, pode<br />

enfrentar serenamente essa análise histórica, sem perder­se na negação ou extraviar­<br />

se na dúvida. De outro lado, a razão cética, por mais cultivada que seja, não<br />

consegue penetrar a essência do mito agrário. Assim como a fé necessita da luz da<br />

razão, esta luz, por sua vez, necessita do pavio da fé. O Espiritismo demonstra que o<br />

mito agrário é essencialmente analógico, nasce do poder comparativo da razão. Esse<br />

poder assimilou, desde a era tribal, a ressurreição humana, demonstrada pelos fatos<br />

mediúnicos, à ressurreição vegetal. Sem a prova material da existência do espírito,<br />

da sobrevivência do homem, o mito agrário se reduz ao seu aspecto analógico, não<br />

deixando perceber os motivos profundos da analogia. Daí a descrença e o sorriso<br />

irônico dos “sábios”, que na verdade deviam esperar para sorrir mais tarde, uma vez<br />

que os que riem por último riem melhor.<br />

Agrário, também, é o mito da Virgem­Mãe, que adquire amplitude social e<br />

política na doutrina da teogamia egípcia, como já vimos. A terra, deusa­mãe, é<br />

virgem antes e depois do parto, pois não sai maculada da fecundação e está sempre<br />

em estado de pureza. Fecundada pelo deus celeste, floresce nas messes, embalando<br />

no seu colo materno o Messias, ou seja, o deus­solar, que traz a luz, a vida e a<br />

fartura das colheitas, após o inverno. O mito agrário da Virgem­Mãe tem ainda o seu<br />

aspecto astronômico, à semelhança de todos os deuses­agrários, uma vez que a terra<br />

e o céu se conjugam no mistério da fecundação.<br />

A constelação da Virgem é a primeira a aparecer no céu, após o solstício do<br />

inverno. Dela nasce o Sol, o Messias. E a constelação continua virgem, após o<br />

nascimento. A palavra messe, como se vê, tem um grande poder mítico: dela<br />

derivam o nome do Messias e do culto que lhe atribuem, mais tarde representado na<br />

liturgia da Missa. Assim também o mistério do pão e do vinho. O pão representava<br />

nos mistérios gregos a deusa Demeter, ou a Ceres para os romanos, mãe dos cereais.<br />

O vinho representava Baco ou Dionísio, deuses da alegria, da vida, e portanto do<br />

espírito. Comer o pão e beber o vinho era simbolizar a fecundação da matéria pelo<br />

poder do espírito. A matéria impregnada pelo poder do espírito era representada, nas<br />

cerimônias religiosas pagãs, pelo pão embebido de vinho. Quando os hebreus<br />

chegaram a Canaã encontraram essa prática entre os cananitas. Todo o horizonte<br />

agrícola se mostra dominado por essa simbologia mágica do pão e do vinho, de que<br />

o próprio Cristo se serviu, não para sujeitar os homens ao símbolo, mas para ilustrá­<br />

los através dele.<br />

Bastam esses exemplos, para vermos a intensidade da impregnação mítica<br />

do pensamento religioso contemporâneo. O Espiritismo luta contra essa<br />

impregnação, libertando o homem do peso esmagador do horizonte agrícola, para<br />

conduzi­lo ao horizonte espiritual, que Jesus anunciou à mulher samaritana.

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