J. Herculano Pires - Portal Luz Espírita
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26 – J. <strong>Herculano</strong> <strong>Pires</strong><br />
encarada atualmente como uma forma de racionalização, é para o Espiritismo um<br />
pouco mais do que isso. Porque é também uma prova da participação dos Espíritos<br />
na História, ao mesmo tempo em que uma poderosa fonte de esclarecimento dos<br />
problemas religiosos. Vemos no Egito duas categorias de deuses, bem definidas: a<br />
dos deusescósmicos e a dos deusesfamiliares. Na primeira, encontramos a tríade<br />
familiar constituída por Osíris, Ísis e Hórus, com toda a sua corte de divindades<br />
consanguíneas e de outras divindades. Na segunda, encontramos casos curiosos,<br />
como os referentes aos deuses Imhotep, Amenhotep e Bês, o anão. Estes deuses<br />
familiares oferecemnos o exemplo de divinização cósmica e universal que justifica<br />
a tese evemerista. Imhotep, médico do rei Dsejer, da terceira dinastia, e Amenhotep,<br />
arquiteto e médico de Amenofis III, da décima oitava dinastia, passam lentamente da<br />
categoria de deusesfamiliares para a de deusesuniversais, adorados como<br />
entidadesterapeutas, para chegarem depois ao limiar da categoria superior de<br />
deusescósmicos, encarnando a própria medicina ou os poderes curadores da<br />
natureza. Quando vemos todo esse processo de transformação realizarse aos nossos<br />
olhos, através dos estudos históricos, compreendemos a maneira por que a família<br />
cósmica de Osíris, Ísis e Hórus, o deuspai, a deusamãe e o deusfilho, foram<br />
elevados da terra ao céu. Assim como Imhotep e Amenhotep, anteriormente<br />
adorados na família real, como deusesfamiliares, depois se tornam deuses<br />
populares, e por fim se transformam em divindades mitológicas ou deusescósmicos,<br />
assim também aconteceu, forçosamente, com a família osiriana. E isso quer dizer,<br />
pura e simplesmente, o seguinte: que aquilo que hoje chamamos, no Espiritismo, de<br />
espíritosfamiliares, ou seja, a manifestação mediúnica dos parentes e amigos<br />
mortos, que velam pelos nossos lares, é a fonte da mitologia, a base do processo de<br />
racionalização e a própria origem das religiões.<br />
O caso do anão Bês é também bastante elucidativo. Esse anão tornouse um<br />
espíritopopular, isto é, passou do culto familiar para o culto do povo. Costumava<br />
aparecer cercado de macacos. Devia ter sido um anão que tratava de macacos<br />
sagrados. Depois de morto, seu espírito aparecia aos videntes, ou nos momentos de<br />
aparição mediúnica, da mesma maneira por que ele vivera. E como possuía virtudes<br />
que interessavam ao povo, além de apresentarse de maneira curiosa, em breve<br />
rompeu os limites do culto familiar. Os macacos que o cercavam eram<br />
remanescentes da zoolatria, aliás muito abundante no Egito, onde a zoolatria<br />
imperou até o fim da civilização. O anão Bês é um caso típico de universalização de<br />
um deusfamiliar. O fato de não ter esse processo atingido à categoria do deus<br />
cósmico nada tem de extraordinário. Os processos naturais nem sempre se<br />
completam. Os egípcios mantiveramse apegados à zoolatria, como os indianos se<br />
mantêm até hoje. O escaravelho dos amuletos, a adoração do Boi Apis em Mênfis,<br />
de Ibis na bacia do Nilo, dos Crocodilos em Tebas e do Bode de Mendes no Delta,<br />
são exemplos da arraigada zoolatria egípcia. Mas há casos de ambivalência, como o