J. Herculano Pires - Portal Luz Espírita
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24 – J. <strong>Herculano</strong> <strong>Pires</strong><br />
Os estudos espíritas mostram que há uma distinção a fazerse, nesse caso. O<br />
processo de racionalização decorre da experiência concreta, e por isso mesmo não<br />
pode ser encarado de maneira exclusivamente abstrata. Procuremos esclarecer isto.<br />
De um lado, temos a experiência concreta, constituída pelos contatos do homem<br />
com realidades objetivas. De outro lado, temos o processo da racionalização do<br />
mundo, ou seja, de enquadramento dos aspectos e dos elementos da natureza nas<br />
categorias da razão ou categorias da experiência. Da mesma maneira porque o<br />
contato do homem com o espaço físico lhe fornece uma medida para aplicar às<br />
coisas exteriores — a categoria espacial, o conceito de espaço — assim também o<br />
contato com os fenômenos espirituais lhe fornece uma medida espiritual, que é<br />
conceito de espírito. Este conceito é usado no processo de racionalização, como<br />
qualquer outro. Mas é absurdo querermos negar os fatos concretos que deram<br />
origem à categoria racional, ou querermos atribuir a essa categoria uma origem<br />
abstrata, diferente das outras.<br />
Somos levados, assim, a concluir que o animismo do “horizonte agrícola”<br />
apresenta três aspectos distintos, quando encarados sob a luz do Espiritismo. Temos<br />
primeiramente o aprofundamento do animismo tribal na personalização da natureza,<br />
que chamaremos, Fetichismo, com os fetiches básicos da TerraMãe e do CéuPai.<br />
Depois, temos a fusão da experiência e da imaginação, com o desenvolvimento<br />
mental do homem, no progresso natural do Mediunismo. Dessa fusão vai nascer a<br />
mitologia popular, impregnada de magia. E em terceiro lugar encontramos a<br />
primeira forma de religião antropomórfica, consequência da experiência concreta de<br />
que fala Bozzano, com o culto dos ancestrais. Deuseslares, manes e deuseslocais,<br />
como os deuses dos “pomos” egípcios, por exemplo, são entidades reais e não<br />
formas de racionalização. Nos deuses dos pomos egípcios, ou seja, das regiões do<br />
antigo Egito, temos já o momento de transição dos deuses reais para o processo de<br />
racionalização. A transição se efetua por uma maneira bastante conhecida. É um<br />
processo de fusão, que encontramos ao longo de todo o desenvolvimento espiritual<br />
do homem.<br />
O Fetichismo se funde com o Culto dos Ancestrais, através do Mediunismo.<br />
Os fetiches, como a terra e o céu, misturamse aos ancestrais, identificamse a eles,<br />
na imaginação em desenvolvimento. A mente rudimentar não sabe ainda fazer<br />
distinções precisas. Assim, por exemplo, Osíris, que foi um antepassado e como tal<br />
recebeu um culto familiar, transformase numa personificação da terra, com o seu<br />
poder de fecundação, ou no próprio Nilo, cujas águas sustentam a vida. A projeção<br />
anímica se realiza, nesse caso, através de uma experiência concreta. A mitologia<br />
nasce da história, pois a existência histórica de Osíris é convertida em mito, pela<br />
necessidade de racionalização do mundo.<br />
Nada melhor que os estudos de Sir James Frazer sobre o mito de Osíris,<br />
para nos mostrar isso. Kardec esclarece este problema, ao comentar a pergunta 521