J. Herculano Pires - Portal Luz Espírita
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192 – J. <strong>Herculano</strong> <strong>Pires</strong><br />
provindos de tradições longínquas, sem nenhuma base de critério científico. O<br />
mesmo acontece hoje entre nós, sob a complacência de instituições representativas<br />
da doutrina e o apoio fanático de líderes carismáticos, pícegas espirituais e<br />
alucinados mentais a dirigir multidões de cegos.<br />
Todas as tentativas de correção dessa situação perigosa se chocam com a<br />
frieza irresponsável dos que se dizem responsáveis pelo desenvolvimento<br />
doutrinário. E a passividade da massa espírita, anestesiada pelo sonho da salvação<br />
pessoal, do valor mágico da tolerância bastarda, da crença ingênua do valor<br />
sobrenatural das esmolas pífias (o óbulo da viúva dado por casais de contas comuns<br />
nos bancos) vai minando em silêncio o legado de Kardec. O medo do pecado que sai<br />
da boca, da pena ou das teclas — enquanto se come e bebe à farta, semeiamse<br />
migalhas aos pobres e dormese na bemaventurança das longas digestões — faz<br />
desaparecer do meio espírita o diálogo do passado recente, substituindo o coro dos<br />
debates pelo silêncio místico das becas de siri. Ninguém fala para não pecar e peca<br />
por não falar, por não espantar pelo menos com um grito as aves daninhas e<br />
agoureiras que destroem a seara. A imprensa espírita, que devia ser uma labareda, é<br />
um foco de infestação, semeando as mistificações de Roustaing, Ramatis e outras,<br />
ou chovendo no molhado com a repetição cansativa de velhos e surrados slogans,<br />
enquanto as terras secas se esterilizam abandonadas.<br />
O óbulo da viúva não cai nos cofres do Templo, mas nos desvãos do chão<br />
rachado pela secura maior dos corações, como lembrou Constancio Vigil. À margem<br />
dessa imprensa paroquial, feita para alimentar a família, os jornais que surgem em<br />
condições de mostrar ao grande público a grandeza e o esplendor da Doutrina<br />
morrem de inanição, enquanto jornais mistificadores, preparados com os<br />
condimentos da imprensa sensacionalista e louvaminheira, ou temperados com<br />
bocas de siri (quanto mais fechadas, mais gostosas) são mantidos pela renda de<br />
instituições comerciais ou por interesses marginais. As escolas espíritas marcam<br />
passo na estrada comum. Os programas de rádio são sufocados por adulteradores e<br />
substituídos por improvisações acomodatícias. A televisão só se abre para<br />
sensacionalismos deturpadores. Os recursos financeiros só são empregados na<br />
caderneta de poupança da caridade visível, que no invisível rende juros e correções<br />
monetárias. As iniciativas editoriais corajosas — como o lançamento de toda a<br />
coleção da REVISTA ESPÍRITA — morrem asfixiados pelo encalhe, ante o<br />
desinteresse de um público apático. Os hospitais <strong>Espírita</strong>s transformamse em<br />
organizações comuns, mantidos pelas verbas oficiais de socorro a doentes que<br />
podem carreálas aos seus cofres, a antiga e legítima caridade espírita de anos atrás,<br />
sustentada por alguns abnegados que já passaram para o Além, murcha como flor de<br />
guanchuma em pastos ressequidos. Restam apenas, nessa paisagem desoladora,<br />
alguns pequenos oásis sustentados pelos últimos e pobres abencerragens de uma<br />
velha estirpe desaparecida.