J. Herculano Pires - Portal Luz Espírita
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187 – O ESPÍRITO E O TEMPO<br />
resultado foi o que vimos na explosão da loucura megalômana dos novos e<br />
mesquinhos deuses estatais, figuras características da deformação do homem e do<br />
aviltamento da espécie.<br />
Foi a previsão das consequências desse processo, já bem visíveis em seu<br />
tempo, que levou Kardec a recusarse, durante todo o seu trabalho, a chamar o<br />
Espiritismo de religião. O máximo que concedeu foi declarar que a doutrina tinha<br />
consequências morais que o levavam a admitir o ensino moral do Cristo, com<br />
exclusão das partes mitológicas do Evangelho. Não obstante, o que hoje se vê no<br />
meio espírita é um anseio de regresso ao formalismo religioso institucional,<br />
incluindo o restabelecimento de uma hierarquia clerical leiga, que facilmente<br />
reabsorverá, logo que as condições se tornem propícias, todas as prerrogativas do<br />
autoritarismo eclesiástico. Já se notam as tentativas, de alguns dos chamados<br />
“mentores espirituais” do movimento doutrinário, com aplauso e imitação dos<br />
“mentores encarnados”, de amaciar a massa espírita com técnicas de comportamento<br />
exterior: atitudes mansas, gesticulação calculada, verniz de santidade, sorrisos<br />
meigos e a linguagem adocicada, como se a espiritualidade do homem se formasse<br />
de um conjunto de mesuras e etiquetas mandarinescas. Esse é o caminho clássico da<br />
desumanização do homem, da desvirilização do espírito, que se torna incapaz de<br />
sinceridade e franqueza, de coerência na convicção doutrinária, mas capaz de<br />
perfídia e calúnia, exibicionismo e mistificação, de sobrepor os interesses materiais<br />
das instituições aos deveres espirituais para com a doutrina. Com esse<br />
desencadeamento de um misticismo inferior, curtido no medo e na ignorância,<br />
caminhamos para um sectarismo religioso bastardo que afasta do Espiritismo as<br />
criaturas sinceras e ansiosas pelo restabelecimento da legitimidade humana.<br />
José Ingenieros, poderoso pensador argentino, em seu livro A SIMULAÇÃO<br />
NA LUTA PELA VIDA, oferecenos um estudo vibrante e profundo dos vários<br />
aspectos da traição do homem a si mesmo para ganhar posições e posses na vida<br />
social. A simulação é uma herança animal do homem, o resíduo das lutas para a<br />
sobrevivência nas selvas. O desenvolvimento dessa herança nos indivíduos é<br />
facílimo. Bastam alguns estímulos e alguns sucessos para desencadearse na criatura<br />
todo o complexo das manhas e perfídias do passado animal. E esse desencadear é<br />
tanto mais rápido e avassalador quanto mais se tenha desenvolvido a razão humana.<br />
O indivíduo cai no plano da chamada razãodiabólica, usando de todos os sofismas<br />
para a racionalização da sua conduta animal. Armase dos aparatos e técnicas da<br />
inteligência humana e contamina sem dificuldade os que dele se aproximam. Se não<br />
conhecermos esse aspecto perigoso da condição humana c não nos precavermos<br />
contra as suas ciladas, facilmente nos converteremos em untuosos embromadores<br />
em nome da Verdade. E como os Espíritos inferiores logo se juntam a essas pessoas,<br />
o seu poder de fascinação leva as suas vítimas a todos os desvarios, aparentemente