J. Herculano Pires - Portal Luz Espírita
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186 – J. <strong>Herculano</strong> <strong>Pires</strong><br />
somos criaturas espirituais, que morremos todos os dias e todas as noites no mundo<br />
inteiro, para que o problema se esclareça. Alienados à matéria, perdemos a visão de<br />
nossa natureza real e caímos nas deformações do artificialismo. O homem natural<br />
desaparece na embriaguez das adaptações à chamada sociedade de consumo. Na<br />
voragem das consumações, o próprio planeta é devorado e os homens se devoram<br />
entre si, na ressurreição da antropofagia em formas tecnicamente sofisticadas.<br />
3 – A volta ao humano<br />
As selvas de pedras, cimento e ferro, semeadas de monstros mecânicos,<br />
substituem hoje as selvas naturais do passado. O homem acredita que construiu o<br />
seu próprio mundo, melhor, mais rico e belo que o Mundo de Deus. Mas nessa<br />
construção perdeuse a si mesmo e não consegue encontrar o caminho de volta.<br />
Perdeuse no labirinto sem o fio de Ariadne.<br />
O Espiritismo não condena o progresso, mas o regresso. E para evitar o<br />
regresso à selva em termos de tecnologia gananciosa e antropófaga, procura<br />
restabelecer a condição humana do homem deformado e desnaturado. Não lhe<br />
propõe um novo tipo de religião, mas uma visão gestáltica da realidade. Procura<br />
despertálo para a compreensão de si mesmo e de sua responsabilidade existencial.<br />
As formas religiosas, dogmáticas e ritualistas herdaram e sofisticaram as<br />
superstições da magia primitiva. Ritos e sacramentos são fórmulas convencionais de<br />
reverência aos deuses selvagens e aos caciques tribais. Da magia e da idolatria<br />
nasceram os rituais suntuosos e vazios das religiões formalistas. Os paramentos e as<br />
vestes sacerdotais provêm dos cultos pagãos, nos quais a suntuosidade do vestuário<br />
e das insígnias, das coroas e das mitras, tinha pelo menos o poder de impressionar a<br />
imaginação ingênua dos crentes. Mas, segundo as leis da dialética, no<br />
desenvolvimento cultural das populações esses instrumentos úteis se tornaram<br />
prejudiciais.<br />
No Cristianismo, o culto externo e as práticas sacramentais desviaram o<br />
sentimento religioso das multidões para a idolatria fanática. As religiões, vazias de<br />
conteúdo, perderamse nas atrocidades do combate às heresias, das fogueiras<br />
inquisitoriais e das terríveis guerras de religião ainda hoje presentes no mundo, para<br />
espanto das criaturas pensantes. Os regimes políticos totalitários fizeram uma<br />
inversão curiosa e trágica do processo de desenvolvimento cultural. Transformaram<br />
seus líderes em novos deuses de um fanatismo brutal em que o sentimento de<br />
humanidade foi revertido em ferocidade selvagem. As religiões da violência<br />
cevaram as massas no medo ao sobrenatural, aos arbitrários poderes divinos e às<br />
prerrogativas sagradas da hierarquia clerical. Foi fácil aos sátrapas das ideologias<br />
massivas transferirem o terror das massas religiosas para o plano político. O