J. Herculano Pires - Portal Luz Espírita
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185 – O ESPÍRITO E O TEMPO<br />
sucessivas, acarneiradas e tolas, continuariam balindo nos campos, imitando as<br />
antecessoras, sem capacidade para reelaborar as experiências dos ancestrais e<br />
desenvolver a razão.<br />
Esta crítica ligeira dos primórdios bíblicos visa apenas a demonstrar que os<br />
fundamentos da Antropologia Religiosa dos cristãos formalistas inverteram a ordem<br />
natural da condição humana. Rousseau não quis devolver o homem à selvageria,<br />
como ironizou Voltaire. O que ele desejava, com sua contradição ao dogma bíblico<br />
da queda, era restabelecer o sentido ético da vida humana, reintegrando o homem na<br />
sua pureza primitiva, libertandoo do excesso criminoso de artifícios das leis de<br />
pureza impura do Judaísmo e do Cristianismo. Deus criou o homem para que ele<br />
criasse na Terra um mundo humano. Os formalismos religiosos deturparam o<br />
homem e o seu mundo, transformandoos numa caricatura trágica do que eles<br />
deviam ser.<br />
A revolução pedagógica de Rousseau nos serve de paralelo comparativo<br />
para a revolução espírita. O que esta procura, é libertar o homem do artificialismo<br />
deformante das sociedades farisaicas, herdeiras das sociedades teocráticas da<br />
Antiguidade, em que os representantes, ministros e embaixadores dos Deuses<br />
tripudiavam divinamente sobre a liberdade humana. Sem liberdade, o homem não<br />
respondia por si mesmo e se alienava à estrutura massiva do Estado, perdendo a<br />
visão da sua ética individual. Toda a espontaneidade de comportamento e de ação do<br />
indivíduo desaparecia na submissão aos poderes teocráticos. A razão humana<br />
subjugada pela falsa razão divina padronizavase ao nível da massa e a crítica, a<br />
ética e a criatividade individual desapareciam sob o entulho do normativo e<br />
autoritário. Foi o que se passou na Idade Média, provocando nos fins de um milênio<br />
o Renascimento e a Reforma. E é o que hoje se passa na sociedade tecnológica, em<br />
que o Bezerro de Ouro da Técnica volta a ser adorado pelas massas ansiosas de<br />
comodidade e supérfluo, entregandose fascinadas à proteção das divindades<br />
tecnológicas, que, como os Deuses antigos, prometem aos seus fiéis o domínio da<br />
Terra e a conquista da Céu. A essa fascinação coletiva, que já abrange quase todo o<br />
mundo, os que não se adaptam escapam pela tangente ilusória dos tóxicos ou do<br />
crime, no desespero do terrorismo e das rebeliões.<br />
Não há opções além do dilema: entrar para o rebanho como ovelhas ou<br />
transformarse em fera sanguinária. É o que estamos vendo na atualidade, com a<br />
agravante das facilidades e comodidades de um progresso material embriagador, em<br />
que a produção em massa e a velocidade se incumbem de equilibrar o excesso de<br />
população, enquanto as babilônias modernas se intoxicam de poluição ambiental, de<br />
sujeira e endemias estranhas, de loucura, erotismo e criminalidade avassaladora, em<br />
que a inocência das crianças se transforma na sagacidade e violência de assaltantes e<br />
assassinos. Ninguém se atreverá a contestar esse quadro monstruoso, mas poucos<br />
perceberão o que essa situação tem com o problema religioso. Basta lembrar que