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J. Herculano Pires - Portal Luz Espírita

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182 – J. <strong>Herculano</strong> <strong>Pires</strong><br />

nada. E apesar disso o pequeno pedaço de fermento de que falava O LOBO DO MAR,<br />

de Jack London, esse fermentozinho que cresceu até o limite possível e agora<br />

murcha e se extingue, ainda se considera importante e capaz de impressionar ,os<br />

outros.<br />

Será o apego à vida, como o do náufrago à sua tábua? O instinto de<br />

conservação a que ele se apega por impulso inconsciente, a lei de inércia mantendo a<br />

constância do ser em meio a todas as contradições?<br />

A visão antropológica das primeiras partes deste livro nos dá uma resposta<br />

a esta questão. Nas coordenadas do tempo e da evolução, o espírito humano<br />

amadureceu para a compreensão de sua realidade íntima, indestrutível, carregada de<br />

potencialidades que o declínio físico não pode afetar. “É estranho — dizia Aristides<br />

Lobo — quando penso na infância e na mocidade vejo que o eu, aquilo que<br />

realmente sou, permaneceu o mesmo através de todas as mudanças da idade”. Esse<br />

pivô do eu, em torno do qual giram as fases etárias como as. nuvens ao redor de uma<br />

torre, sem afetá­la, é a chave do mistério humano. O homem é espírito que se projeta<br />

num corpo animal e dele se serve para a viagem existencial. Nossa consciência de<br />

relação, estrutura mental do imediato, pode manter­se perplexa ante o mistério da<br />

vida, mas a consciência profunda, registro milenar das experiências evolutivas,<br />

guarda o segredo da imortalidade do ser.<br />

A intuição subliminar da nessa natureza espiritual é o que sustenta a nossa<br />

fé na invulnerabilidade ôntica. O ser é o que é e nada o pode afetar e modificar, e<br />

muito menos destruir. Por isso, o materialista mais convicto da sua inutilidade como<br />

criatura mortal, sofre e luta pelos seus princípios, na certeza íntima e absurda de que<br />

esse é o seu dever. Ser fiel a si mesmo é a obrigação interior que ele cumpre na<br />

infidelidade negativa da sua ideia supraliminar do nada, porque a consciência<br />

profunda, não deixa extinguir­se em seu íntimo a chama da sua própria verdade. O<br />

orgulho aparentemente contraditório do homem derrotado suga a sua seiva nas<br />

profundezas do ser que ele é e não pode deixar de ser. Essa conflitiva dialética do ser<br />

e do não­ser define a tragédia humana e a angústia existencial do homem. Se ele não<br />

suporta o peso do conflito e se atira na fuga do suicídio, a dolorosa experiência não<br />

deixa de ser experiência, forma de comprovação trágica da sua verdade íntima, que<br />

lhe mostrará na dimensão espiritual da vida a necessidade de reajustar a sua<br />

existência exterior à sua realidade ôntica, equilibrar a sua mente de relação e seus<br />

conflitos passageiros com a sua consciência profunda e a realidade indestrutível da<br />

sua natureza espiritual. A unidade do ser prevalece no tempo, pois a consciência<br />

imediata se funde, na essência de suas aquisições reencarnatórias, no final de cada<br />

existência, cem o acervo global da consciência profunda.<br />

A condição humana é purgatorial. A Terra é o Purgatório que os teólogos<br />

intuíram mas não souberam localizar. Mas não se purgam os pecados da<br />

classificação religiosa e sim os resíduos naturais da evolução. O corpo e a alma do

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