J. Herculano Pires - Portal Luz Espírita
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181 – O ESPÍRITO E O TEMPO<br />
CAPÍTULO III<br />
ANTROPOLOGIA ESPÍRITA<br />
1 – A condição humana<br />
Quando examinamos a nós mesmos em confronto com o Mundo, nos<br />
limites do horizonte existencial, o que mais nos deve assustar é o nosso orgulho. A<br />
existência humana se fecha num círculo de possibilidades muito reduzidas. As linhas<br />
do horizonte visual e conceptual do homem se assemelham ao círculo de giz que se<br />
faz no chão para prender um peru embriagado, até a hora de o mandarmos ao forno.<br />
Conhecemos as limitações do corpo e do meio (físico, social e cultural) e<br />
não sabemos se poderemos rompêlas. Não obstante, com que arrogância alimentam<br />
as pretensões de conquistas mesquinhas ou atrevidas e sempre nos julgamos dignos<br />
da atenção e consideração de todos. O horizonte infantil é tão reduzido que deveria<br />
darnos a sensação de asfixia, mas apesar disso nos consideramos o centro do<br />
mundo. Na puberdade e na adolescência o círculo se alarga e as nossas pretensões<br />
aumentam. Na mocidade alargamos com as próprias mãos o nosso horizonte, como<br />
se fôssemos um jovem grego coroado de lucras e vitórias. Mas na madureza as<br />
nossas mãos se transformam em garras e nos julgamos capazes de escalar as<br />
montanhas azuis para dominar as distâncias invisíveis. Só nas proximidades da<br />
velhice começamos a reconhecer que as forças nos faltam, mas quantos superam<br />
essa ameaça apoiandose no cajado da experiência passada e do saber adquirido.<br />
Não raro os velhos retornam à infância e procuram compensar o enfraquecimento<br />
orgânico com a ilusão do poder da senectude, das glórias do passado, que devem<br />
então rendernos os juros da gratidão e das homenagens do Mundo.<br />
De onde brota essa fonte de vaidade que nos alimenta na projeção<br />
existencial através dos anos?<br />
Um velho mendigo, sentado na escadaria de uma igreja, à espera de<br />
esmolas, está pronto a falar de suas glórias passadas, de sua possível genealogia<br />
gloriosa, antes de apanhar a moeda que lhe damos. Seus olhos brilham muito mais<br />
com a atenção que lhe dispensamos do que com o brilho da moeda. De onde vem<br />
esse sentimento de importância pessoal no horizonte cinzento do crepúsculo?<br />
A condição humana é precária. O declínio orgânico é fatal, inevitável. A<br />
perspectiva da doença e da morte não permite ilusões. As promessas de uma vida<br />
espiritual são nebulosas, revestidas de ameaças terríveis ou da frustração total do