J. Herculano Pires - Portal Luz Espírita
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129 – O ESPÍRITO E O TEMPO<br />
“estado positivo”. Por isso mesmo é que a dualidade de consequências, a que acima<br />
nos referimos, teria fatalmente de ocorrer.<br />
Ao sair do “estado teológico” e entrar no "estado positivo", o homem tinha<br />
fatalmente de elaborar a sua concepção positiva do mundo, ou seja, a concepção<br />
materialista. No mesmo instante, porém, esta concepção surgia como oposição à<br />
concepção teológica. O processo dialético se completa na síntese espírita: a<br />
concepção espírita do mundo reúne o misticismo teológico e o cientificismo<br />
positivo. Daí a sua natureza de espiritualismocientífico. Julgar o mundo é avaliálo.<br />
A concepção espírita equivale, portanto, a uma reavaliação do mundo. Diante dela,<br />
os antigos valores estão peremptos, superados. Também para a concepção<br />
materialista, os antigos valores tinham perecido. O materialismo substituíra os<br />
valores espirituais e morais pelos valores utilitários. Mas o Espiritismo reformula os<br />
dois campos e modifica a posição de ambos. Os valores espirituais são reconduzidos<br />
ao primado do espírito, mas os valores morais e materiais não são desprezados ou<br />
subestimados, como na antiga Mística.<br />
Há um novo critério valorativo: a lei de evolução. Este critério substitui,<br />
por um processo de síntese dialética, os dois critérios que anteriormente se<br />
opunham: o salvacionista e o pragmático. A salvação não está mais na fuga ao<br />
utilitário, mas no bom uso do utilitário, em favor da evolução. A axiologia espírita<br />
não é antropológica. Sua escala de valores não funciona em relação ao homem, mas<br />
à realidade universal. É o que vemos, por exemplo, nesta afirmação de Kardec, em<br />
seu comentário ao item 236 de O LIVRO DOS ESPÍRITOS: “Nada existe de inútil na<br />
Natureza; cada coisa tem a sua finalidade, a sua destinação”. As coisas valem, não<br />
em referência aos interesses passageiros do homem, mas em referência ao processo<br />
cósmico de evolução, dentro do qual o homem se encontra como uma forma<br />
passageira do Espírito. Este é imortal, e por isso mesmo sabe que as circunstâncias<br />
não podem determinar uma escala real de valores. O próprio homem vale pelo<br />
quanto evolui, e não pelo que é ou pelo que aparenta ser, num dado momento. Essa<br />
nova axiologia tem suas consequências no plano da cosmologia e da cosmogonia.<br />
Na cosmologia, Kardec afirma: “Todas as leis da Natureza são leis<br />
divinas”. (cap. I de O LIVRO DOS ESPÍRITOS) A estrutura de leis naturais do cosmos<br />
não se restringe ao plano físico, porque é uma estrutura global, que abrange,<br />
segundo os termos da moderna ontologia do objeto, todas as regiões ontológicas. A<br />
cosmologia espírita é íntegra, e não dualista. É um todo, em que não há sobrenatural<br />
e natural, pois o cosmos é um processo único. Na cosmogonia é que vai surgir o<br />
dualismo, porque o cosmos aparece como criação.<br />
Temos então a dualidade Criador e Criatura. Mas essa dualidade, mesmo no<br />
plano cosmogônico, que pertence à religião espírita, explicase como causa e efeito,<br />
numa espécie de polaridade, que, segundo advertem os Espíritos, nossa inteligência<br />
atual não consegue apreender em sua verdadeira natureza. Não obstante, a evolução