J. Herculano Pires - Portal Luz Espírita
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127 – O ESPÍRITO E O TEMPO<br />
comparação com o materialismo moderno. André Lalande acentua a natureza<br />
metafísica do chamado materialismo antigo. A própria concepção de matéria, nos<br />
gregos, é de natureza ontológica, como também acentua Lalande, advertindo ainda<br />
que devemos ter em conta as modificações semânticas, ao enfrentar a “tendência à<br />
sistematização” do pensamento filosófico.<br />
A tradição filosófica é, portanto, espiritualista. As grandes questões da<br />
Filosofia são metafísicas e não físicas. O materialismo surge com o desenvolvimento<br />
do pensamento científico, e isso se explica pela natureza das ciências, que nada mais<br />
são do que a racionalização das técnicas. Voltadas para o domínio da matéria, as<br />
ciências fizeram o pensamento descer da metafísica para a física. Daí a explicação<br />
de Augusto Comte, de que “o materialismo é a doutrina que explica o superior pelo<br />
inferior”.<br />
O Espiritismo, no seu aspecto filosófico, enquadrase rigorosamente na<br />
tradição filosófica. É uma filosofia do espírito, que parte da essência espiritual para<br />
explicar a existência material. Por isso, Kardec citou Platão como precursor do<br />
Espiritismo: o mito da caverna, da filosofia platônica, é uma alegoria espírita,<br />
mostrando a natureza efêmera e irreal da matéria, em face da brilhante realidade<br />
espiritual. Maurice Blondel explica que o termo Espiritualismo só apareceu no<br />
século XVII, empregado pelos teólogos, para designar o falso misticismo, os<br />
exageros de espiritualidade ou religiosidade. Era um termo pejorativo. Esse fato nos<br />
mostra a natureza espiritual da tradição filosófica, onde jamais aparece a<br />
discriminação moderna de espiritualistas e materialistas. Blondel acentua que o<br />
termo Espiritualista passou a ser utilizado, na época moderna, por “pessoas que<br />
mantêm comércio com os espíritos e não se contentam de ser espíritas, talvez porque<br />
o título de Espiritualista tem sido melhor empregado”.<br />
A verdade, porém, não é essa. A aplicação do termo Espiritualista tem sido<br />
apenas um equívoco, pois o termo Espiritismo só apareceu com Kardec, em meados<br />
do século XIX. Anteriormente a Kardec, o uso do termo Espiritualista era<br />
obrigatório. É natural que, posteriormente, os ingleses e os norteamericanos, que<br />
não adotaram a obra de Kardec, continuassem a utilizarse da velha e insuficiente<br />
designação.<br />
2 – O problema do conhecimento<br />
Já vimos, nos capítulos anteriores, que o problema do conhecimento se<br />
apresenta como um processo histórico, que se desenvolve através de fases<br />
sucessivas, precisamente definidas. O que dissemos da tradição filosófica reafirma<br />
essa tese. Ao estudar os horizontes culturais, vimos que o conhecimento positivo só