J. Herculano Pires - Portal Luz Espírita
J. Herculano Pires - Portal Luz Espírita
J. Herculano Pires - Portal Luz Espírita
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
126 – J. <strong>Herculano</strong> <strong>Pires</strong><br />
CAPÍTULO III<br />
A FILOSOFIA DO ESPÍRITO<br />
1 – O Espiritismo e a tradição filosófica<br />
A Filosofia <strong>Espírita</strong> se apresenta, no quadro geral das doutrinas filosóficas,<br />
e consequentemente na própria História da Filosofia, como uma das formas do<br />
Espiritualismo. No capítulo primeiro da “Introdução ao Estudo da Doutrina<br />
<strong>Espírita</strong>”, que inicia O LIVRO DOS ESPÍRITOS, Kardec acentua: “Como<br />
especialidade, O LIVRO DOS ESPÍRITOS contém a doutrina espírita; como<br />
generalidade, ligase à doutrina espiritualista, da qual apresenta uma das fases. Essa<br />
a razão por que traz sobre o título as palavras: Filosofia Espiritualista”. A definição<br />
de Kardec é absolutamente precisa. O VOCABULAIRE TECHNIQUE ET CRITIQUE<br />
DE LA PHILOSOPHIE, de André Lalande, ao consignar a Filosofia <strong>Espírita</strong>, com a<br />
denominação de Espiritismo, acentua o seu caráter espiritualista. A seguir, ao tratar<br />
do termo spiritualisme, esclarece que é impróprio chamarse o Espiritismo de<br />
Espiritualismo, como o fizeram e fazem os ingleses, e às vezes os alemães. Porque o<br />
Espiritismo é apenas uma espécie do gênero Espiritualismo, como o Marxismo, por<br />
exemplo, é apenas uma espécie do gênero Materialismo.<br />
A tradição filosófica é quase toda espiritualista. Referimonos hoje a<br />
doutrinas materialistas do passado, mas a verdade histórica não nos autoriza a tanto.<br />
As correntes gregas e helenísticas chamadas de materialistas, na verdade são apenas<br />
naturalistas. Melhor lhes cabe a designação clássica de hilozoístas, ou seja, de<br />
filosofias da matériaviva, animada por um princípio espiritual que escapa aos<br />
sentidos dos observadores. Os filósofos gregos, que antecederam as grandes<br />
correntes espiritualistas da fase socrática, são contemporâneos dos eleáticos e dos<br />
pitagóricos, que construíram a metafísica grega, cuja essência é o Ser, ou “aquele<br />
que é”, segundo a definição de Parmênides.<br />
As filosofias atômicas de Leucipo e Demócrito estão muito longe do<br />
materialismo atual: são intuitivas e racionais. Os sofistas gregos são “homens de<br />
razão”, que procuram pensar de maneira utilitária e acabam por se perder na<br />
abstração das palavras. Os materialistas constituem, na História da Filosofia,<br />
correntes modernas de pensamento. O que encontramos na antiguidade é uma<br />
posição objetivista, diante dos problemas do mundo e da vida, mas assim mesmo<br />
impregnada de metafísica. Harald Hoffding, por exemplo, estabelece a seguinte<br />
diferença: considera “materialismo primitivo” o dos filósofos antigos, em