“Desvelando caminhos por um Brasil literário: ontem, hoje e sempre ...
“Desvelando caminhos por um Brasil literário: ontem, hoje e sempre ...
“Desvelando caminhos por um Brasil literário: ontem, hoje e sempre ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
EQUIPE DE LEITURA – SME/D.C.<br />
O CABOCLO, O PADRE E O ESTUDANTE<br />
Um estudante e <strong>um</strong> padre viajavam pelo sertão, tendo como bagageiro <strong>um</strong> caboclo.<br />
Deram-lhe n<strong>um</strong>a casa <strong>um</strong> pequeno queijo de cabra. Não sabendo como dividi-lo, mesmo<br />
<strong>por</strong>que chegaria <strong>um</strong> pequenino pedaço para cada <strong>um</strong>, o padre resolveu que todos<br />
dormissem e o queijo seria daquele que tivesse, durante a noite, o sonho mais bonito,<br />
pensando engabelar todos com os seus recursos oratórios. Todos aceitaram e foram<br />
dormir. À noite, o caboclo acordou, foi ao queijo e comeu-o.<br />
Pela manhã, os três sentaram à mesa para tomar café e cada qual teve de contar o<br />
seu sonho. O frade disse ter sonhado com a escada de Jacob e descreveu-a brilhantemente.<br />
Por ela, ele subia triunfalmente para o céu. O estudante, então, narrou que sonhara já<br />
dentro do céu à espera do padre que subia. O caboclo sorriu e falou:<br />
- Eu sonhei que via seu padre subindo a escada e seu doutor lá dentro do céu,<br />
rodeado de amigos. Eu ficava na terra e gritava:<br />
- Seu doutor, seu padre, o queijo! Vosmincês esqueceram o queijo.<br />
Então, vosmincês respondiam de longe, do céu:<br />
- Come o queijo, caboclo! Come o queijo, caboclo! Nós estamos no céu, não<br />
queremos queijo.<br />
O sonho foi tão forte que eu pensei que era verdade, levantei-me, enquanto<br />
vosmincês dormiam, e comi o queijo...<br />
Gustavo Barroso, Ceará.<br />
Recolhida <strong>por</strong> Luís da Câmara Cascudo. Em: “Contos Tradicionais do <strong>Brasil</strong>”.<br />
OS OVOS COZIDOS<br />
Um homem hospedou-se n<strong>um</strong>a casa, no meio de <strong>um</strong>a caminhada. Só havia ovos<br />
para comer e ele mandou cozinhar meia dúzia. Depois de fartar-se foi dormir e saiu pela<br />
madrugada sem pagar os ovos. Lá adiante lembrou-se que não havia pago, mas já não<br />
podia voltar, tal a distância percorrida. Então fez voto de botar o dinheiro dos ovos para<br />
render.<br />
Muito tempo depois voltou àquela mesma casa e pagou os ovos e mais os lucros. A<br />
mulher não quis receber, dizendo que os ovos tinham (teriam) rendido mais.<br />
Teima daqui, teima dali, resolveram botar a questão na mão do juiz. Constituíram<br />
advogado; o advogado do homem honesto chegou à audiência atrasado, alegando que<br />
estava cozinhando milho para plantar. Admiraram-se muito que ele cozinhasse milho para<br />
plantar pois não haveria de nascer e produzir. Ele disse: “E quem já viu ovos cozidos<br />
produzir?” Ganhou a questão.<br />
Contada <strong>por</strong> Antônio Pacífico Gomes, de São José de Mipibu,<br />
em casa de minha sogra Maria do Carmo Araújo.<br />
Recolhida <strong>por</strong> Celso da Silveira. Em: “O macaco e suas histórias maravilhosas”.