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“Desvelando caminhos por um Brasil literário: ontem, hoje e sempre ...

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A GULOSA DISFARÇADA<br />

EQUIPE DE LEITURA – SME/D.C.<br />

Um homem casara com excelente mulher, dona de casa arranjadeira e honrada, mas muito<br />

gulosa. Para disfarçar seu apetite, fingia-se sem vontade de alimentar-se <strong>sempre</strong> que o marido a<br />

convidava nas refeições. Apesar desse regime, engordava cada vez mais e o esposo admirava<br />

alguém poder viver com tão pouca comida. Uma manhã, resolveu certificar-se se a mulher comia<br />

em sua ausência. Disse que ia para o trabalho e escondeu-se n<strong>um</strong> lugar onde podia acompanhar os<br />

passos da esposa.<br />

No almoço, viu-a fazer <strong>um</strong>as tapiocas de goma, bem grossas, molhadas no leite de coco, e<br />

comê-las todas, deliciada. Na merenda, mastigou <strong>um</strong> sem-número de alfenins finos, branquinhos e<br />

gostosos. Na hora do jantar matou <strong>um</strong> capão, ensopou-o em molho espesso, saboreando-o. À ceia,<br />

devorou <strong>um</strong> prato de macaxeiras, enxutinhas, acompanhando-as com manteiga.<br />

Ao anoitecer, o marido apareceu, fingindo-se fatigado. Chovera o dia inteiro e o homem<br />

estava como se estivesse passado, como realmente passara, o dia à sombra. A mulher perguntou:<br />

- Homem, como é que trabalhando na chuva você não se molhou?<br />

O marido respondeu:<br />

- Se a chuva fosse grossa como as tapiocas que você almoçou, eu teria vindo ensopado como<br />

o capão que você jantou. Mas a chuva era fina como os alfenins que você merendou e eu fiquei<br />

enxuto como as macaxeiras que você ceou.<br />

A mulher compreendeu que fora descoberta em seu disfarce e não mais escondeu o seu<br />

apetite ao marido.<br />

Leopoldino Viana de Melo de Macaíba – Rio Grande do Norte.<br />

Recolhido <strong>por</strong> Luís da Câmara Cascudo. Em: “Contos tradicionais do <strong>Brasil</strong>”.<br />

O VELHO E O TESOURO DO REI<br />

(Rio de Janeiro)<br />

Havia em <strong>um</strong> lugar <strong>um</strong> homem velho muito pobre, tão pobre que não tinha o que comer.<br />

Um dia roubaram o tesouro do rei, e este disse que quem adivinhasse a pessoa que o tinha<br />

roubado, ganharia <strong>um</strong>a grande soma de dinheiro. Levantaram <strong>um</strong> falso ao velho muito pobre, e<br />

foram dizer ao rei que ele tinha dito que sabia quem havia roubado o tesouro. O rei mandou-o<br />

chamar, e deu-lhe três dias para adivinhar, sob pena de morte.<br />

Ficou o pobre homem em palácio, com ordem de comer do bom e do melhor. Logo no<br />

primeiro dia apareceu <strong>um</strong> criado que serviu de muito bons manjares, e o homem comeu até não<br />

poder mais. Quando acabou, virou-se para o criado e disse: Graças a Deus, que já vi <strong>um</strong>. “Isto foi<br />

referindo-se ao bom passadio, pois na sua vida era aquele o primeiro dia que ele tinha comido<br />

melhor.<br />

O criado, que era <strong>um</strong> dos cúmplices do roubo, ficou muito espantado e foi dizer aos outros<br />

dois companheiros o que tinha ouvido do velho. Então assentaram que no outro dia iria outro<br />

criado servir ao velho, para ver o que ele dizia. Com efeito, depois de ter comido e bebido bem no<br />

segundo dia, diz o velho para o criado: “Graças a Deus que já vi três.” Aí o criado ajoelhou-se aos<br />

pés do pobre homem e declarou que com efeito tinham sido eles que tinham roubado o tesouro do<br />

rei, mas que ele guardasse segredo, que eles prometiam entregar toda a quantia.<br />

O velho, que estava condenado à morte, assim que se viu senhor do segredo, jurou não<br />

declarar quem tinha feito o roubo e foi logo entregar o tesouro ao rei. Este ficou muito contente e<br />

recompensou o velho com <strong>um</strong>a grande soma de dinheiro.<br />

Os criados, <strong>por</strong> sua vez, não fizeram mais outro roubo, com medo de serem descobertos.<br />

Sílvio Romero. Em: “Contos Populares do <strong>Brasil</strong>.”

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