“Desvelando caminhos por um Brasil literário: ontem, hoje e sempre ...
“Desvelando caminhos por um Brasil literário: ontem, hoje e sempre ...
“Desvelando caminhos por um Brasil literário: ontem, hoje e sempre ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
EQUIPE DE LEITURA – SME/D.C.<br />
OS SETE PARES DE SAPATO DA PRINCESA<br />
Era <strong>um</strong>a vez <strong>um</strong> reino em que havia <strong>um</strong>a princesa que gastava sete pares de sapato<br />
<strong>por</strong> noite. Ninguém podia explicar esse mistério. Vai então Joãozinho, <strong>um</strong> rapozote que<br />
andava correndo mundo e que saíra de casa com a bênção do pai, tinha chegado a essa<br />
terra e ouviu falar desse misterioso caso. O rei daria a mão da princesa em casamento a<br />
quem descobrisse tudo como era. Mas quem o tentasse e não descobrisse – era ali na certa<br />
– daria a cabeça a degolar. Muitos já tinham experimentado e recebido o grande castigo.<br />
Mas Joãozinho que era moço de muita confiança, em suas orações pediu a sua madrinha,<br />
Nossa Senhora, que o protegesse, e apresentou-se em palácio.<br />
Foi <strong>um</strong>a dificuldade para falar ao rei, mas <strong>por</strong> fim avistou-se com Sua Majestade, e<br />
vai então disse-lhe que estava pronto para decifrar o mistério. O rei avisou-o do que lhe<br />
havia de acontecer se não descobrisse. Ele aceitou, mas com a condição de dormir n<strong>um</strong><br />
aposento que se comunicasse com o da princesa. Ficou tudo combinado. Mas a princesa<br />
veio a saber, e ordenou à aia que pusesse dormideira no chá de Joãozinho. Dito e feito!<br />
Mas o rapaz, que era esperto, fez que bebeu, mas lançou fora o chá.<br />
Quando se acomodaram, Joãozinho fingiu que dormia, e até roncava para melhor<br />
fingir. Mas olho esperto! E até tinha anotado que debaixo da cama da princesa havia <strong>um</strong><br />
bauzinho de folha, fechado, de onde, de vez em quando, saia <strong>um</strong> ruído.<br />
Lá pela meia noite ouviu <strong>um</strong>a voz. Era da princesa, que chamava:<br />
- Calicote! Calicote!<br />
De dentro do baú saiu <strong>um</strong> diabinho!<br />
- É hora! É hora, princesa!<br />
A princesa vestiu-se n<strong>um</strong> momento. Pôs no bauzinho meia dúzia de pares de sapato,<br />
os quais pares, com que tinha nos pés, faziam sete.<br />
O diabinho pegou do baú e saiu pela janela com a princesa. Logo depois saiu<br />
Joãozinho, muito escoteiro. Lá fora havia <strong>um</strong>a carruagem toda dourada, com cavalos<br />
pretos arreados de ouro e prata.<br />
O Calicote e a princesa tomaram assento no carro. Joãozinho saltou para a traseira<br />
do trole, que partiu à toda.<br />
Lá adiante apareceu de repente <strong>um</strong> campo todo de flores de bronze. Joãozinho<br />
apanhou <strong>um</strong>a, examinou-a encantado e guardou-a no bornal que levava a tira colo.<br />
Mais adiante atravessaram outro campo, mas agora as flores eram de prata; depois<br />
outro campo de flores de ouro; outro de flores de diamantes; outro de flores de rubi; e<br />
outro de flores de esmeralda.<br />
Era mesmo <strong>um</strong>a lindeza! Joãozinho de cada <strong>um</strong> apanhava <strong>um</strong>a flor e metia no<br />
bornal, <strong>sempre</strong> mais encantando e admirado daquele mistério.<br />
Por fim chegaram a <strong>um</strong> rico palácio, como não há na Terra. Todo al<strong>um</strong>iado e com<br />
<strong>um</strong> jardim de maravilhas, com flores de toda casta de ricos metais e pedras preciosas.<br />
Tocava <strong>um</strong>a música que era <strong>um</strong>a coisa sobrenatural. Criadagem toda de libré. Convidados<br />
ricamente vestidos, todos pareciam príncipes e princesas.<br />
Os recém- chegados uniram-se aos outros convivas e foram todos para mesa da sala<br />
de jantar, onde havia <strong>um</strong> grande banquete. Joãozinho achou jeito de saltar <strong>um</strong>a das janelas<br />
e colocar-se debaixo da mesa.<br />
De vez em quando alg<strong>um</strong> dos convidados deixava cair <strong>um</strong> osso de peru ou de<br />
galinha, e Joãozinho apanhava e metia no bornal. Para encurtar logo depois começou o<br />
baile. E a cada contradança que a princesa dançava com alg<strong>um</strong> dos convidados, rompia <strong>um</strong><br />
par de sapatos que Calicote lançava para o canto, trocando-os <strong>por</strong> outros que trouxera no<br />
bauzinho. Mas Joãozinho era esperto e ia se apoderando de <strong>um</strong> pé de botina estragado<br />
quando estava para darem duas horas a princesa disse: