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INPE-14197-TDI/1099 ANÁLISE DA DISPERSÃO DE LARVAS DE LAGOSTAS NO ATLÂNTICO TROPICAL A PARTIR DE CORRENTES GEOSTRÓFICAS SUPERFICIAIS DERIVADAS POR SATÉLITES Camila Aguirre Góes Dissertação de Mestrado do Curso de Pós-Graduação em Sensoriamento Remoto, orientada pelos Drs. João Antônio Lorenzzetti e Douglas Francisco Marcolino Gherardi, aprovada em 09 de maio de 2006. INPE São José dos Campos 2006

INPE-14197-TDI/1099<br />

ANÁLISE DA DISPERSÃO DE LARVAS DE LAGOSTAS NO<br />

ATLÂNTICO TROPICAL A PARTIR DE CORRENTES<br />

GEOSTRÓFICAS SUPERFICIAIS DERIVADAS POR SATÉLITES<br />

Camila Aguirre Góes<br />

Dissertação de Mestrado do Curso de Pós-Graduação em Sensoriamento Remoto,<br />

orientada pelos Drs. João Antônio Lorenzzetti e Douglas Francisco Marcolino Gherardi,<br />

aprovada em 09 de maio de 2006.<br />

INPE<br />

São José dos Campos<br />

2006


528.711.7 : 595.384.1 (261.67)<br />

Góes, C. A.<br />

Análise da dispersão de larvas de lagostas no Atlântico<br />

Tropical a partir de correntes geostróficas superficiais<br />

derivadas por satélites / Camila Aguirre Góes. – São José dos<br />

Campos: INPE, 2006.<br />

93p. ; (INPE-14197-TDI/1099).<br />

1.Palinuridae. 2.Bóias de deriva. 3.Satélites altímetros.<br />

4.Estoques pesqueiros. 5.Sensoriamento remoto. I.Título.


“O que sabemos é uma gota, o que não sabemos é um oceano.”<br />

Isaac Newton.


A meu querido avô Carlos Aguirre (in memoriam),<br />

Dedico.


AGRADECIMENTOS<br />

Em uma de suas célebres frases, Isaac Newton pronuncia: “Só cheguei até aqui porque<br />

olhei por cima de ombros de gigantes”. Na minha vida esses gigantes se<br />

personificaram em todos aqueles que contribuíram nesta importante etapa profissional e<br />

pessoal.<br />

A Deus, que tem sempre guiado os meus caminhos mesmo sem eu perceber.<br />

À minha família, pela paciência, confiança e incentivo.<br />

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo<br />

apoio financeiro (processo nº. 131758/2004-7).<br />

Ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), pelas instalações; a todo o corpo<br />

docente, pelos conhecimentos transmitidos em especial ao prof. Dr. Bernardo Rudorff e<br />

prof. Dr. Gilberto Câmara; ao corpo discente, em especial à minha turma 2004, pela<br />

união e companheirismo fundamentais em cada etapa do mestrado; aos funcionários,<br />

aqui cabe um agradecimento especial à querida Etel, Angelucci e Vera pela solicitude.<br />

Ao Laboratório de Biologia Pesqueira (LABIPE) da Universidade Federal do Rio<br />

Grande do Norte, na pessoa do prof. Dr. Jorge Eduardo Lins Oliveira pelos dados<br />

biológicos fornecidos e total apoio para realização deste estudo.<br />

À Dra. Carla Carneiro Marques, Coordenadora de Pesquisa (IBAMA/CEPENE),<br />

responsável pelo Projeto Lagosta IBAMA/CEPENE e ao Dr. José Airton de<br />

Vasconcelos, Executor do mesmo projeto no estado do Rio Grande do Norte, pelos<br />

dados históricos de pesca de lagosta.<br />

Aos meus orientadores, prof. Dr. João Antônio Lorenzzetti, pela paciência, firmeza e<br />

confiança e prof. Dr. Douglas Gherardi, pelo apoio e troca de experiência.<br />

Ao Ramon, pelo auxílio na programação em MATLAB e, principalmente, pela<br />

implementação computacional do modelo utilizado neste estudo.<br />

Ao Dr. Arcilan Assireu e Dr. Ronald Buss de Souza, pelo interesse e colaboração neste<br />

trabalho.<br />

Jorge Conrado e Antônio Correia, pela ajuda com a programação em IDL.<br />

Rodrigo Sbravatti, pela ajuda com o SPRING.


Marilúcia Santos Melo Cid, funcionária da biblioteca do INPE, pelas dicas de<br />

formatação deste documento.<br />

Aos meninos do suporte computacional Felipe e Anderson.<br />

Ao Conrado, pela força, ânimo e partilhas.<br />

Meus amigos de todos os momentos Andrézinho, Thiago (Peipe), Fabrício (Monsxtro),<br />

Melissinha, Edu e Mírcea.<br />

Wilson Lins, Enner Herênio e Mari pelo ânimo e auxílio durante a pesquisa.<br />

Ao Agripino (Pipino), pelo total apoio, revisão do texto e pelo auxílio com as figuras.


RESUMO<br />

Três espécies de lagostas espinhosas são comercialmente pescadas na costa do Brasil<br />

(Panulirus argus, P. laevicauda e P. echinatus), representando uma entrada de divisas<br />

da ordem de 50 a 60 milhões de dólares. Estas espécies apresentam uma fase larval<br />

longa (cerca de 12 meses), possibilitando que as larvas sejam transportadas pelas<br />

correntes oceânicas por grandes distâncias, uma vez que estas não apresentam apêndices<br />

natatórios eficientes. Assim, questiona-se como ocorre a manutenção dos estoques<br />

pesqueiros em áreas onde as correntes oceânicas advectam as larvas para zonas distantes<br />

da costa. Para estudar a dispersão das larvas de lagostas foram analisadas as rotas de<br />

dispersão ao longo do Atlântico tropical (20ºN-15ºS; 15ºE-45ºW) para se verificar a<br />

possível conectividade entre os diferentes estoques presentes nesta região. Foi utilizado<br />

um modelo advectivo-difusivo que atualiza a posição das larvas diariamente, utilizando<br />

dados de velocidade geostrófica superficial derivadas de satélites altímetros. Os valores<br />

de velocidade das componentes geostróficas foram correlacionados com as velocidades<br />

obtidas a partir de bóias de deriva, apresentando uma alta correlação (componente zonal<br />

r = 0,94; componente meridional r = 0,65), indicando que as velocidades geostróficas<br />

representam realisticamente a circulação local. Os coeficientes de difusividade<br />

turbulenta incorporados ao modelo foram calculados a partir dos dados de derivadores<br />

presentes na área de estudo, estimando-se um valor médio que representasse a<br />

difusividade zonal (kx = 3970m 2 /s) e meridional (ky = 2050m 2 /s). As simulações de<br />

dispersão de larvas revelaram que, de acordo com a circulação média, as larvas<br />

desovadas na costa da África ficam retidas no entorno da área de desova, recompondo<br />

seus próprios estoques, sugerindo a inviabilidade dos estoques africanos manterem os<br />

estoques de lagostas da costa brasileira. Segundo as simulações os estoques da costa<br />

nordeste do Brasil são mantidos principalmente pelo aporte de larvas provenientes das<br />

ilhas oceânicas (Atol das Rocas, Arquipélagos de Fernando de Noronha e São Pedro e<br />

São Paulo). É possível, entretanto, que as ilhas no meio do Atlântico (p.ex. Ascensão)<br />

sirvam de trampolins ecológicos entre os continentes Africano e Sul-Americano.


USE OF GEOSTROPHIC CURRENTS DERIVED FROM RADAR ALTIMETER<br />

TO STUDY LOBSTER LARVAE DISPERSION IN THE TROPICAL<br />

ATLANTIC<br />

ABSTRACT<br />

Three species of spiny lobster are harvested along the Brazilian coast (Panulirus argus,<br />

P. laevicauda and P. echinatus). The annual revenue amounts 50 to 60 million US<br />

dollars. These species have a relatively long planktonic larval phase (about one year),<br />

that enables the mean ocean currents to transport the larvae over long distances away<br />

from the original spawning area. This raises the question of how the adult stock can be<br />

maintained in regions where the mean flow tends to advect larvae. To answer this<br />

question we investigate the larval dispersion across the tropical Atlantic (20ºN-15ºS;<br />

15ºE-45ºW) to verify possible connectivities among different stocks. We use an<br />

advection-diffusion model that updates the position of each larva everyday, along 365<br />

days using the surface geostrophic velocity fields derived from altimeter satellites.<br />

These velocities were correlated with drifting buoys velocities, resulting in a good<br />

agreement for both the zonal component (r = 0,94) and the meridional component (r =<br />

0,65). This indicates that the satellite-derived geostrophic flow represents a good<br />

approximation of the real velocity field for the region. The coefficient of diffusivity<br />

used in the model was calculated from the velocities of drifting buoys and a mean value<br />

was estimated to represent the zonal diffusivity (kx = 3970m 2 /s) and the meridional<br />

diffusivity (ky = 2050m 2 /s). Results of the spawning simulations in the coast of Africa<br />

indicate that the larval stock does not spread far from the spawning area, suggesting that<br />

the African stocks can not sustain the Brazilian stocks. Simulations also indicate that the<br />

Brazilian stocks could be maintained with larvae input from oceanic islands (Fernando<br />

de Noronha, São Pedro/São Paulo Archipelagos and Atol das Rocas). It is possible,<br />

however, that middle Atlantic Islands, such as Ascension Island, act as stepping-stones<br />

between the African and the South-American continents.


LISTA DE FIGURAS<br />

LISTA DE SÍMBOLOS<br />

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS<br />

SUMÁRIO<br />

CAPÍTULO 1................................................................................................................ 23<br />

INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 23<br />

1.1 Objetivo geral ........................................................................................................... 24<br />

1.2 Objetivos específicos ................................................................................................ 24<br />

CAPÍTULO 2................................................................................................................ 27<br />

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................... 27<br />

2.1 Distribuição geográfica e exploração da lagosta na costa do Br asil. ........................ 27<br />

2.2 Ciclo de vida das lagostas espinhosas ...................................................................... 31<br />

2.3 Circulação superficial marinha ................................................................................. 34<br />

2.4 Dados altimétricos para estudos de circulação marinha ........................................... 35<br />

2.5 Modelos utilizados para estudar a dispersão de larvas de lagostas .......................... 38<br />

CAPÍTULO 3................................................................................................................ 41<br />

MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................................ 41<br />

3.1 Área de estudo .......................................................................................................... 41<br />

3.2 Materiais utilizados................................................................................................... 43<br />

3.2.1 Dados Biológicos ................................................................................................... 43<br />

3.2.2 Dados Orbitais ....................................................................................................... 46<br />

3.2.2.1 Velocidade da corrente geostrófica obtida a partir de dados orbitais ................. 46<br />

3.2.2.2 Velocidade da corrente obtida a partir de bóias de deriva .................................. 47<br />

3.3 Metodologia de Trabalho .......................................................................................... 49<br />

3.3.1 Análise dos campos de velocidade ........................................................................ 49<br />

3.3.2 Cálculo do coeficiente de difusividade turbulenta ................................................. 51<br />

3.3.3 Descrição do modelo advectivo - difusivo .............................................................. 52<br />

3.3.4 Teste do modelo ..................................................................................................... 55<br />

CAPÍTULO 4................................................................................................................ 57<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................................. 57<br />

4.1 Avaliação dos campos de velocidade geostrófica .................................................... 57<br />

4.1.1 Análise qualitativa ................................................................................................. 57<br />

4.1.2 Análise quantitativa - comparação estatística das velocidades .............................. 61<br />

4.2 Coeficiente de difusividade turbulenta ..................................................................... 63<br />

4.3 Simulações do modelo .............................................................................................. 64<br />

4.3.1 Arquipélago de Cabo Verde .................................................................................. 64<br />

4.3.2 Costa do Marfim .................................................................................................... 67<br />

4.3.3 Ascensão ................................................................................................................ 68<br />

Pág.


4.3.4 Fernando de Noronha ............................................................................................ 71<br />

4.3.5 Arquipélago de São Pedro e São Paulo ................................................................. 73<br />

4.3.6 Atol das Rocas ....................................................................................................... 75<br />

4.3.7 Avaliação geral das simulações ............................................................................. 77<br />

CAPÍTULO 5................................................................................................................ 81<br />

CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................... 81<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 85<br />

APÊNDICE A - COEFICIENTE DE DIFUSIVIDADE TURBULENTA...............93


LISTA DE FIGURAS<br />

2.2 – Fases do ciclo de vida das lagostas espinhosas a) phyllosoma - larva, b) puerulus –<br />

pós-larva e c) indivíduo adulto. .............................................................................. 32<br />

2.3 – Radar altímetro e os parâmetros envolvidos na determinação da altura da<br />

superfície do mar. ................................................................................................... 37<br />

Fonte: AVISO (2006). ............................................................................................ 37<br />

3.1 – Principais correntes superficiais oceânicas do Atlântico Tropical. A área de estudo<br />

encontra-se em destaque. ........................................................................................ 41<br />

3.3 – Distribuição da freqüência relativa dos estágios de desenvolvimento das larvas<br />

coletadas durante o Programa REVIZEE-NE I e II................................................ 45<br />

3.4 – Derivador Lagrangeano de Baixo Custo................................................................ 48<br />

3.5 – Distribuição dos pontos utilizados para correlação entre os dados do altímetro e os<br />

dados de bóias de deriva. ........................................................................................ 50<br />

3.6 – Trajetórias das bóias de deriva durante os anos de 2000, 2001, 2002 e 2003. Os<br />

quadrados representam as áreas que tiveram o coeficiente de difusividade<br />

turbulenta calculado................................................................................................ 52<br />

3.7 – Teste do modelo advectivo-difusivo com os dados artificiais............................... 56<br />

4.1 – Magnitude da velocidade geostrófica média para as estações do ano. .................. 58<br />

4.2 – Campo médio da circulação geostrófica no Atlântico tropical. a) verão austral; b)<br />

outono austral; c) inverno austral e d) primavera austral. ...................................... 59<br />

(continua)........................................................................................................................ 59<br />

4.3 – Correlação entre as velocidades obtidas pelas bóias de deriva e as velocidades<br />

geostróficas derivadas dos radares altímetros. a) componente zonal e b)<br />

componente meridional. ......................................................................................... 61<br />

4.4 – Coeficiente de difusividade turbulenta calculado para as 35 áreas no Atlântico<br />

tropical. a) difusividade zonal e b) difusividade meridional. As áreas estão<br />

espacialmente representadas na Figura 3.6............................................................. 63<br />

4.5 – Trajetórias percorridas pelas larvas lançadas em Cabo Verde ao longo dos 365<br />

dias.......................................................................................................................... 65<br />

4.6 – Posição final das larvas após os 365 dias de transporte. As larvas posicionadas<br />

dentro da área em destaque (azul) são consideradas viáveis para recrutar os<br />

estoques brasileiros. A estrela indica a área de desova (início das simulações)..... 66<br />

4.7 – Trajetórias percorridas pelas larvas lançadas na Costa do Marfim ao longo dos 365<br />

dias.......................................................................................................................... 68<br />

4.8 – Trajetórias percorridas pelas larvas lançadas em Ascensão ao longo dos 365 dias.<br />

................................................................................................................................ 69<br />

4.9 – Posição final das larvas após os 365 dias de transporte. As larvas posicionadas<br />

dentro da área em destaque (azul) foram consideradas viáveis para recrutar os<br />

estoques adultos. A estrela indica o ponto de desova (início das simulações). O<br />

gráfico de barras apresenta os estágios de desenvolvimento que as larvas se<br />

encontravam ao final do experimento..................................................................... 70<br />

4.10 – Trajetórias percorridas pelas larvas lançadas em Fernando de Noronha ao longo<br />

dos 365 dias. ........................................................................................................... 71


4.11– Posição final das larvas após os 365 dias de transporte. As larvas posicionadas<br />

dentro da área em destaque (azul) foram consideradas viáveis para recrutar os<br />

estoques adultos. A estrela indica o ponto de desova (início das simulações). O<br />

gráfico de barras apresenta os estágios de desenvolvimento que as larvas se<br />

encontravam ao final do experimento..................................................................... 72<br />

4.12 – Trajetórias percorridas pelas larvas lançadas em São Pedro e São Paulo ao longo<br />

dos 365 dias. ........................................................................................................... 73<br />

4.13 – Posição final das larvas após os 365 dias de transporte. As larvas posicionadas<br />

dentro da área em destaque (azul) foram consideradas viáveis para recrutar os<br />

estoques adultos. A estrela indica o ponto de desova (início das simulações). O<br />

gráfico de barras apresenta os estágios de desenvolvimento que as larvas se<br />

encontravam ao final do experimento..................................................................... 74<br />

4.14 – Trajetórias percorridas pelas larvas lançadas no Atol das Rocas ao longo dos<br />

365 dias................................................................................................................... 76<br />

4.15 – Posição final das larvas após os 365 dias de transporte. As larvas posicionadas<br />

dentro da área em destaque (azul) foram consideradas viáveis para recrutar os<br />

estoques adultos. A estrela indica o ponto de desova (início das simulações). O<br />

gráfico de barras apresenta os estágios de desenvolvimento que as larvas se<br />

encontravam ao final do experimento..................................................................... 77


LISTA DE SÍMBOLOS<br />

d - Escala vertical da altura de densidade (m)<br />

f - Parâmetro de Coriolis (s -1 )<br />

g - Aceleração da gravidade (m/s 2 )<br />

u - Componente horizontal meridional da velocidade geostrófica superficial<br />

v - Componente horizontal zonal da velocidade geostrófica superficial<br />

?t - Variação de tempo<br />

e - Variação randômica normal<br />

z - Altura da superfície do mar média, relativa ao nível de superfície (m)<br />

F - Latitude (graus)<br />

O - Velocidade angular da rotação da Terra (7.3 x 10 -5 rad/s)


LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS<br />

ASPRS - American Society for Photogrametry and Remote Sensing<br />

AVISO - Archivage, Validation et Interprétation des données des Satellites<br />

Océanographiques<br />

CA - Corrente de Angola<br />

CB - Corrente do Brasil<br />

CCNE - Contra Corrente Norte Equatorial<br />

CEPENE - Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros do Litoral Nordeste<br />

CGa - Corrente da Guiana<br />

CGe - Corrente da Guiné<br />

CLS - Collecte, Localisation, Satellites<br />

CNB - Corrente Norte do Brasil<br />

CNE - Corrente Norte Equatorial<br />

CNES - Centre National d’Études Spatiales<br />

CNUDM - Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar<br />

CSE - Corrente Sul Equatorial<br />

CSEc - ramo central da Corrente Sul Equatorial<br />

CSEn - ramo norte da Corrente Sul Equatorial<br />

CSEs - ramo sul da Corrente Sul Equatorial<br />

DUACS - Data Unification and Altimeter Combination System<br />

ESA - European Space Agency<br />

GDP/SVP - Global Drifter Program/ Surface Velocities Program<br />

GODAE - Global Ocean Data Assimilation Experiment


IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais<br />

Renováveis<br />

JPL - Jet Propulsion Laboratory<br />

LCD - Low Cost Drifter<br />

MADT - Maps of Absolute Dynamic Topography<br />

MEDS - Marine Environmental Data Services<br />

NASA - National Aeronautics and Space Administration<br />

NOAA - National Oceanic and Atmospheric Administration<br />

PIRATA - Pilot Research Moored Array in the Tropical Atlantic<br />

PTT - Platform Transmitter Terminal<br />

RADAR - Radio Detection and Ranging<br />

REVIZEE - Programa de Avaliação dos Recursos Vivos da Zona Econômica Exclusiva<br />

SEAP/PR - Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da República<br />

SSALTO - Solid State Radar Altimeter<br />

TD - Topografia Dinâmica<br />

TOGA - Tropical Ocean and Global Atmosphere<br />

TSM - Temperatura da Superfície do Mar<br />

WOCE - World Ocean Circulation Experiment<br />

ZCIT - Zona de Convergência Intertropical<br />

ZEE - Zona Econômica Exclusiva


CAPÍTULO 1<br />

INTRODUÇÃO<br />

As lagostas espinhosas estão agrupadas taxonomicamente dentro da família Palinuridae<br />

e se destacam por sua importância ecológica e econômica. A primeira é característica<br />

inerente à maioria dos crustáceos decápodes que, através do seu modo de alimentação<br />

detritívoro, promovem a redução de tamanho dos fragmentos orgânicos, facilitando<br />

assim a decomposição bacteriana. Os decápodes têm importância fundamental na<br />

transferência de energia nos ecossistemas marinhos, uma vez que participam do<br />

processo de ciclagem de nutrientes, disponibilizando-os ao ambiente (Cooper, 1974<br />

apud Carqueija e Gouveia, 1998). Em determinados locais esta posição ecológica é<br />

representada predominantemente pelas lagostas espinhosas (Edwards e Lubbock, 1983a;<br />

Joll e Phillips, 1984; Mayfield et al., 1984; Góes, 2004), aumentando ainda mais a sua<br />

importância ecológica, haja vista que uma redução na população pode afetar o restante<br />

da cadeia biológica.<br />

Além disso, as lagostas espinhosas representam uma das pescarias mais rentáveis de<br />

todo o mundo, na qual o Brasil destaca-se como terceiro maior produtor mundial,<br />

ficando atrás apenas da Austrália e de Cuba (Kanciruk, 19<strong>80</strong>; Fonteles-Filho, 2005).<br />

No Brasil, a pesca da lagosta é realizada predominantemente na costa Nordeste,<br />

representando uma das mais importantes fontes de renda para os municípios pesqueiros<br />

desta região. As três espécies de lagostas espinhosas capturadas comercialmente são:<br />

Panulirus argus, P. laevicauda e P. echinatus. As expressivas margens de lucro<br />

impulsionam uma exploração exacerbada, que captura além da população adulta,<br />

indivíduos juvenis e fêmeas ovígeras, comprometendo o estoque reprodutor e<br />

provocando a atual situação de sobrepesca na qual se encontram os estoques lagosteiros<br />

(Lins Oliveira et al., 1993). Esta pesca desordenada pode ser constatada com a<br />

diminuição significativa das capturas nos últimos anos com implicações sociais,<br />

econômicas e ecológicas (Lins Oliveira et al., 1993). Como medida corretiva, os órgãos<br />

23


governamentais responsáveis (IBAMA e SEAP/PR), vêm implementando ações de<br />

manejo e fiscalização, visando reverter o quadro atual, que é agravado pelo longo ciclo<br />

de vida destas espécies (cerca de 1 ano de desenvolvimento larval e mais 4 anos até a<br />

idade reprodutiva), tornando lenta a recuperação do estoque sobre-explorado.<br />

Para elaboração de planos de manejo eficazes, que promovam a conservação dos<br />

estoques pesqueiros, são necessários estudos acerca da dinâmica populacional e<br />

reprodutiva, alimentação, migração e ecologia dos organismos.<br />

A família Palinuridae, particularmente, apresenta um longo período larval que dura<br />

cerca de 12 meses. Esta longa fase possibilita o transporte das larvas para locais<br />

bastante distantes (áreas receptoras/destino) do seu local de desova (áreas fonte/origem),<br />

tendo como principal agente dispersor as correntes oceânicas que podem servir como<br />

elo entre os diferentes estoques pesqueiros distribuídos ao longo do Atlântico tropical<br />

unindo os estoques situados tanto em áreas brasileiras (na Zona Econômica Exclusiva)<br />

quanto em áreas internacionais adjacentes. Questiona-se então se há conectividade entre<br />

os diferentes estoques distribuídos ao longo do Atlântico tropical, ou seja, se existe uma<br />

reposição dos estoques presentes na costa do Brasil a partir dos estoques situados na<br />

costa da África.<br />

1.1 Objetivo geral<br />

Investigar o processo de dispersão de larvas de lagosta no Atlântico tropical através de<br />

simulações numéricas com um modelo advectivo-difusivo alimentado com dados de<br />

correntes superficiais obtidas por satélites.<br />

1.2 Objetivos específicos<br />

- Avaliar os campos de corrente geostrófica superficial obtidos a partir de dados de<br />

radares altímetros.<br />

- Correlacionar os dados de corrente geostrófica obtidos por satélites com os dados de<br />

bóias de deriva.<br />

24


- Calcular os coeficientes de difusividade turbulenta médios, zonal e meridional, para a<br />

área de estudo.<br />

- Definir as principais áreas de desova que suprem os estoques lagosteiros da costa<br />

nordeste do Brasil.<br />

25


CAPÍTULO 2<br />

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA<br />

2.1 Distribuição geográfica e exploração da lagosta na costa do Brasil.<br />

As lagostas pertencem a quatro grandes famílias: Nephropidae (38 espécies de lagostas<br />

com quelas), Palinuridae (49 espécies de lagostas espinhosas), Synaxidae (2 espécies de<br />

lagostas de corais) e Scyllaridae (74 espécies de lagosta sapateira), das quais os<br />

representantes das famílias Nephropidae e Palinuridae destacam-se por sua importância<br />

econômica, mantendo uma das pescarias mais rentáveis do mundo (Kanciruk, 19<strong>80</strong>;<br />

Ford, 19<strong>80</strong>).<br />

As 49 espécies de lagostas espinhosas encontram-se distribuídas ao longo dos oceanos,<br />

desde áreas litorâneas até profundidades superiores a 400 metros, em águas tropicais,<br />

subtropicais e temperadas. A extensa distribuição geográfica reflete a grande<br />

flexibilidade e sucesso adaptativo destes organismos. Estas lagostas são abundantes ao<br />

longo da costa das Américas do Norte e do Sul, África, Mar Mediterrâneo, Índia,<br />

Austrália, Nova Zelândia e Ilhas do Pacífico, onde são exploradas comercialmente.<br />

Apesar da similaridade morfológica, estes organismos apresentam uma ampla<br />

diversidade de habitats, que varia de acordo com as necessidades de cada espécie<br />

(Kanciruk, 19<strong>80</strong>).<br />

No litoral brasileiro ocorrem cinco espécies de lagostas pertencentes à família<br />

Palinuridae: Justitia longimana, Palinustus truncatus, Panulirus argus, Panulirus<br />

laevicauda e Panulirus echinatus. As três últimas, pertencentes ao gênero Panulirus,<br />

são exploradas comercialmente e representam uma importante fonte de renda para os<br />

municípios pesqueiros da região Nordeste do Brasil (Kanciruk, 19<strong>80</strong>; Coelho e Ramos-<br />

Porto, 1998; Schmidt de Melo, 1999).<br />

Das três espécies que são capturadas comercialmente no Brasil, P. argus (lagosta<br />

vermelha) e P. laevicauda (lagosta verde) são as duas mais pescadas, participando com<br />

27


75% e 20% da produção total, respectivamente. Estas espécies encontram-se<br />

distribuídas ao longo da Plataforma Continental, próximo ao litoral, em profundidades<br />

de até 100 metros, enquanto que P. echinatus (lagosta pintada), encontra-se distribuída<br />

principalmente em ilhas e bancos oceânicos (Paiva, 1995).<br />

Nos últimos anos, a exploração dos estoques lagosteiros localizados no Nordeste do<br />

Brasil tem aumentado de maneira significativa, refletindo o otimismo gerado pelas altas<br />

margens de lucro e, sobretudo, por uma demanda cada vez maior do mercado<br />

internacional que absorve cerca de 90% da produção total do país. Esta demanda<br />

crescente faz com que os estoques de lagostas da região Nordeste sejam alvo de uma<br />

pesca intensiva, realizada em sua maioria por barcos artesanais, que capturam de forma<br />

inadequada indivíduos que compõem tanto o estoque juvenil quanto o estoque adulto<br />

(Lins Oliveira et al., 1993).<br />

Analisando os dados do IBAMA/CEPENE relativos à pesca de lagosta na região Norte<br />

e Nordeste do Brasil podemos constatar dois picos na produção (Figura 2.1). O primeiro<br />

pico ocorreu em 1979, onde a produção atingiu 11.111 toneladas e o segundo ocorreu<br />

em 1991, rendendo 10.998 toneladas. Porém, analisando os índices de captura por<br />

unidade de esforço de pesca (CPUE), podemos constatar que o esforço de pesca<br />

empregado no ano de 1991 (39991 número de covos/dia) foi superior ao esforço<br />

empregado em 1979 (30008 número de covos/dia). Ainda de acordo com a Figura 2.1,<br />

percebe-se que no final da década de 1960 a CPUE atingia valores bastante elevados,<br />

sugerindo que o estoque estava sendo subexplorado. Nos anos seguintes constata-se um<br />

declínio considerável nos índices de CPUE, chegando a valores menores que 0,1 quilos<br />

de lagosta por covo pescado em um dia de pesca, para o ano de 1997. Observa-se que o<br />

aumento na produção foi resultado de um expressivo acréscimo no esforço de pesca,<br />

porém os índices de captura não respondem proporcionalmente a este incremento,<br />

denotando uma situação de sobrepesca dos estoques explorados.<br />

28


Produção (t)<br />

Esforço de pesca (nº covo/dia)<br />

100000<br />

<strong>80</strong>000<br />

60000<br />

40000<br />

20000<br />

Produção de lagostas nas regiões Norte e Nordeste do Brasil<br />

0<br />

1965<br />

1967<br />

1969<br />

1971<br />

1973<br />

1975<br />

1977<br />

1979<br />

29<br />

1981<br />

Produção(t) Esforço de pesca (número de covos/dia) CPUE(kg/covo/dia)<br />

Figura 2.1 – Produção, Esforço de Pesca e Captura por Esforço de Pesca (CPUE) das<br />

pescarias de lagostas nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, no período de<br />

1965-1997.<br />

Fonte: IBAMA/CEPENE (2006).<br />

De acordo com o IBAMA/CEPENE, o esforço de pesca empregado na captura de<br />

lagostas na costa do Brasil se encontra em níveis superiores ao considerado ótimo para a<br />

captura máxima sustentável desde 1972. Estudos realizados por Paiva (1997) estimam<br />

uma produção máxima sustentável de 9.468 t para a área total de pesca, que inclui a<br />

costa Norte e Nordeste do Brasil. Fonteles-Filho (2005) calcula, através do método de<br />

Coortes, uma biomassa total de 25.701 t de lagostas. A partir deste valor calculado, o<br />

autor estima uma produção máxima sustentável de 10.2<strong>80</strong> t. Essa estimativa se<br />

aproxima razoavelmente daquelas obtidas a partir dos modelos Logístico (9.309t) e<br />

Analítico (9.818t).<br />

Fonteles-Filho (2005) considera que a fase de estabilidade na produção de lagostas<br />

ocorreu de 1972 a 1979, quando a CPUE anual média (0,331 kg/covo/dia) se aproxima<br />

da CPUE máxima sustentável (0,376 kg/covo/dia). A partir de 19<strong>80</strong> as populações de<br />

lagostas passaram a sofrer um estado crônico de sobrepesca, com produções anuais<br />

quase sempre abaixo da produção máxima sustentável. Isto significa a perda da<br />

capacidade de repor a biomassa retirada pela pesca, de modo que o sistema de<br />

1983<br />

1985<br />

1987<br />

1989<br />

1991<br />

1993<br />

1995<br />

1997<br />

1.6<br />

1.4<br />

1.2<br />

1.0<br />

0.8<br />

0.6<br />

0.4<br />

0.2<br />

0.0<br />

CPUE (kg/covo/dia)


exploração tem-se mantido operante em virtude da grande área de captura, em constante<br />

expansão (Fonteles-Filho, 2005). Este quadro continua e, a partir do ano de 1992 (ano<br />

subseqüente ao segundo pico de produção) nota-se um agravamento desta situação, pois<br />

os níveis de produção e produtividade apresentados nas estatísticas de captura indicam<br />

uma queda drástica na capacidade de renovação dos estoques.<br />

Os dados apresentados na Tabela 1 (1999-2002) dizem respeito apenas à região<br />

Nordeste e não constam dados de esforço de pesca para este período, mas servem para<br />

conjeturar o cenário atual da pesca se considerarmos que a região Nordeste é a que<br />

apresenta maior representatividade nas capturas.<br />

Neste período observa-se um incremento na produção de lagostas na costa Nordeste do<br />

Brasil, onde em 1999 a produção foi de 4.104,4 toneladas aumentando para 4.733,1 no<br />

ano de 2002 (Tabela 1). Se compararmos os dados de 2002 com os dados apresentados<br />

na Figura 2.1 perceberemos uma queda de cerca de 50% na biomassa de lagostas<br />

capturadas, verificando-se nitidamente um declínio nos índices de produção.<br />

Tabela 2 1 – Produção de lagostas na região Nordeste do Brasil, no período de 1999-<br />

2002.<br />

Anos Produção (ton)<br />

1999 4104,40<br />

2000 4423,04<br />

2001 4486,30<br />

2002 4733,10<br />

Fonte: IBAMA/CEPENE (2006).<br />

A fiscalização deficiente e, sobretudo a captura de indivíduos abaixo do comprimento<br />

médio de primeira maturação gonadal, podem levar esta atividade a um colapso<br />

ecológico, econômico e social num curto período (Lins Oliveira et al., 1993).<br />

30


A partir da década de 1970 os países que detêm as grandes pescarias de lagostas<br />

espinhosas no mundo, vêm realizando exaustivos estudos acerca da ecologia e<br />

comportamento destes animais, sobretudo das espécies que possuem elevado valor<br />

econômico. Estes estudos enfocam a fase adulta, deixando algumas lacunas no<br />

conhecimento das demais fases do ciclo de vida destes organismos (Phillips e Sastry,<br />

19<strong>80</strong>; Ford, 19<strong>80</strong>).<br />

As pesquisas realizadas no Brasil também são direcionadas à biologia dos indivíduos<br />

adultos, como por exemplo, os trabalhos realizados por Fernandes (1985); Viana<br />

(1986); Lins Oliveira et al. (1993), Soares (1994); Paiva (1995); Ivo (1996); Pinheiro et<br />

al. (1999); Pinheiro (2000); Pinheiro et al. (2003). A partir destes estudos foi possível<br />

estabelecer as medidas de ordenamento pesqueiro que se encontram em vigor. Em<br />

contrapartida os conhecimentos acerca da ecologia e distribuição das larvas ainda são<br />

fragmentados, apesar desta ser uma importante fase do ciclo de vida das lagostas.<br />

Em se tratando de recursos pesqueiros é relevante conhecer os aspectos biológicos e<br />

ecológicos de todas as fases do ciclo de vida das espécies de interesse econômico, pois<br />

este tipo de informação é fundamental para propor administrações de pesca visando uma<br />

exploração racional dos recursos (Booth e Ovenden, 2000).<br />

2.2 Ciclo de vida das lagostas espinhosas<br />

Os conhecimentos acerca do ciclo de vida das lagostas espinhosas nos revelam que,<br />

assim como grande parte dos organismos marinhos, esta família apresenta uma fase<br />

larval, de hábitos planctônicos. A larva, denominada phyllosoma (Figura 2.2a),<br />

apresenta algumas adaptações características do holoplâncton como, por exemplo, o<br />

corpo transparente e achatado dorsoventralmente em formato de folha (phyllos = folha e<br />

soma = corpo). Estas adaptações estão associadas ao longo período que as phyllosomas<br />

passam no plâncton (cerca de 12 meses), permitindo que as larvas sejam transportadas<br />

para lugares bastante distantes da sua área de desova, de acordo com as correntes<br />

oceânicas. Tal fator se deve à morfologia e pouca capacidade natatória das larvas<br />

(Phillips, et al., 19<strong>80</strong>, Phillips e Sastry, 19<strong>80</strong>).<br />

31


No final da fase larval, a phyllosoma sofre uma metamorfose e se transforma num<br />

organismo de tegumento transparente e com consistência delicada, bastante semelhante<br />

ao indivíduo adulto (Figura 2.2b), denominado puerulus (pós-larva). Este se apresenta<br />

como nadador ativo, no início desta fase, e finaliza assentando em áreas rasas (1-20<br />

metros), assumindo assim hábitos bentônicos. Após o assentamento, o puerulus adquire<br />

rapidamente um exoesqueleto pigmentado, característico dos indivíduos juvenis. No<br />

primeiro ano do estágio juvenil, estes organismos apresentam hábitos solitários vivendo<br />

em meio a esponjas, corais e rochas. A partir do segundo ano os juvenis começam a<br />

adquirir hábitos gregários e, geralmente deixam o habitat de juvenis um pouco antes ou<br />

no momento da maturação sexual. Para algumas espécies, como por exemplo Panulirus<br />

argus e P.cygnus, foram descritas migrações em massa de indivíduos juvenis em<br />

direção ao habitat dos adultos (Figura 2.2c), repondo assim o estoque reprodutor<br />

(Kanciruk, 19<strong>80</strong>; Phillips e Sastry, 19<strong>80</strong>).<br />

a b c<br />

Figura 2.2 – Fases do ciclo de vida das lagostas espinhosas a) phyllosoma - larva, b)<br />

puerulus – pós-larva e c) indivíduo adulto.<br />

A fase larval chega a durar até 12 meses para completar o seu total desenvolvimento e,<br />

durante este intervalo os indivíduos podem ser transportados para áreas bastante<br />

distantes do seu local de desova. A distância máxima que uma larva pode ser dispersa e<br />

a probabilidade de sobreviver até o assentamento está relacionada com: (1) o tempo de<br />

sua vida planctônica e, (2) a velocidade e direção das correntes que a transportam.<br />

Assim, a manutenção das populações que produzem larvas planctônicas é mantida de<br />

três principais formas: (1) quando o estágio planctônico é retido próximo aos locais de<br />

desova por processos físicos e comportamentos biológicos, apesar do seu potencial para<br />

32


dispersão; (2) através da migração dos estágios avançados (juvenis e adultos) ou ainda<br />

(3) as populações podem ser sustentadas pela reposição de larvas provenientes de outros<br />

locais (Scheltema, 1986).<br />

Estudos realizados com larvas de P. argus no sul da Flórida sugerem que a maior parte<br />

do recrutamento provém de outras regiões do Caribe (Lewis, 1951; Ingle et al, 1963).<br />

Do mesmo modo, Chiswell et al. (2003) propõem uma conexão entre as populações de<br />

Jasus edwardsii e Sagmarius verreauxi da Austrália e da Nova Zelândia a partir da<br />

dispersão de suas larvas. Berry (1974 apud Phillips e Sastry, 19<strong>80</strong>) também sugere um<br />

intercâmbio entre as larvas de P. homarus homarus de Madasgacar e da costa sudeste da<br />

África (Ingle et al, 1963; Sims e Ingle, 1966, apud Phillips e Sastry, 19<strong>80</strong>). No Brasil,<br />

especula-se que as populações de lagostas presentes em toda a bacia Atlântica possam<br />

ter um fluxo genético entre si (Freire, 2000; Góes et al, 2005). Assim, as larvas de<br />

diferentes estoques pesqueiros poderiam repor outros estoques bastante distantes do seu<br />

local de origem.<br />

Apesar dos mecanismos de transporte das larvas de lagostas ainda não estarem<br />

totalmente esclarecidos, é notório que os sistemas de correntes oceânicas desempenham<br />

um importante papel no transporte destes organismos, uma vez que as phyllosomas<br />

comportam-se como derivadores passivos, possuem poucas habilidades para migração<br />

vertical e apresentam um longo período larval (Phillips e Sastry, 19<strong>80</strong>; Booth, 1994;<br />

Lipcius et al., 1997; Polovina et al., 1999; Griffin, et al., 2001; Chiswell et al., 2003).<br />

Kanciruk (19<strong>80</strong>) cita que as larvas de lagostas apresentam mecanismos capazes de<br />

exercer um controle sobre os seus últimos estágios de muda. A phyllosoma é capaz de<br />

retardar a sua metamorfose de acordo com a proximidade de um habitat conveniente, o<br />

que representaria a sua primeira expressão para seleção de um habitat bentônico<br />

adequado para o assentamento. A seleção do substrato durante o assentamento de larvas<br />

de invertebrados tem sido constatada por vários autores, que comprovaram a capacidade<br />

destes organismos em detectar a heterogeneidade ambiental em pequena escala (Pawlik,<br />

1992). Segundo Palmer et al. (1996) os processos passivos são responsáveis pela<br />

reposição das larvas, mas o comportamento biológico é que irá determinar o local final<br />

de assentamento. No caso das lagostas espinhosas isso pode ser corroborado pelas<br />

33


poucas capturas de larvas em locais próximos à costa, reforçando a tese de que a<br />

metamorfose ocorre em áreas distantes da costa e que os puerulus realizam uma<br />

migração direta, relativamente longa em direção à costa (Phillips, 1975, Serfling e Ford,<br />

1975 apud Kanciruk, 19<strong>80</strong>).<br />

2.3 Circulação superficial marinha<br />

Para se conhecer os padrões de dispersão das larvas de lagostas faz-se necessário uma<br />

análise detalhada do sistema de correntes superficiais, que influenciam diretamente este<br />

fenômeno. De acordo com Stewart (1985) a circulação superficial está estreitamente<br />

relacionada com os sistemas de ventos atmosféricos, seguindo inicialmente os seus<br />

padrões e respondendo posteriormente à influência da rotação da Terra.<br />

Assume-se que o estresse e fricção do vento e a rotação da Terra influenciam o fluxo<br />

denominado de deriva de Ekman que atua em uma fina camada (dentro dos primeiros 5<br />

a 10 metros de profundidade) que se desloca em resposta ao vento. Uma vez livres da<br />

influência do vento, as correntes tendem a mover-se vagarosamente e friccionalmente<br />

sob influência das forças horizontais de gradiente de pressão e força de Coriolis, esta<br />

última associada à rotação da Terra. Este fluxo é denominado de fluxo geostrófico<br />

(Stewart, 1985).<br />

Na superfície do mar, os gradientes de pressão são manifestados como um declive nas<br />

direções zonal e meridional (??/?x; ??/?y), e os dois componentes horizontais (zonal u e<br />

meridional v) da velocidade geostrófica podem ser calculados a partir da simplificação<br />

das equações de movimento, como expresso abaixo:<br />

u = −<br />

v =<br />

g<br />

f<br />

onde:<br />

g<br />

f<br />

∂ζ<br />

∂y<br />

34<br />

[2.1]<br />

∂ζ<br />

[2.2]<br />

∂x


u e v = componentes zonal e meridional da velocidade geostrófica<br />

g = aceleração da gravidade (9,8 m.s -2 )<br />

f = 2 O sen F (parâmetro de Coriolis), onde O = velocidade angular de rotação<br />

da Terra (7,3x10 -5 rad/s) e F = latitude (graus)<br />

? = altura dinâmica da superfície do mar<br />

x e y = coordenadas horizontais nas direções leste-oeste e norte-sul,<br />

respectivamente.<br />

As Equações (2.1 e 2.2) têm sua validade para as escalas espaciais acima de algumas<br />

dezenas de quilômetros e horas e demandam um equilíbrio entre a força gradiente de<br />

pressão e a força de Coriolis. Estas equações apresentam uma singularidade em áreas<br />

próximas ao Equador, onde esta formulação não se aplica, pois no Equador senF=0 e f<br />

tende a zero. Neste caso são utilizados métodos alternativos nos quais as velocidades<br />

geostróficas são calculadas a partir de segunda derivada de ? , na área que vai de 5ºN a<br />

5ºS (Picaut, 1989; Lagerloef, et al. 1999).<br />

De acordo com as Equações 2.1 e 2.2, percebe-se uma relação direta entre as<br />

componentes horizontais de velocidade geostrófica e a altura dinâmica da superfície do<br />

mar. Esta medida é derivada da altura da superfície do mar que, por sua vez, pode ser<br />

determinada pelos radares altímetros a bordo de satélites artificiais. Os dados obtidos a<br />

partir de sensores orbitais apresentam grande potencialidade para estudos sobre a<br />

circulação oceânica superficial devido à obtenção de informações sinópticas em meso e<br />

grande escalas de forma repetitiva.<br />

2.4 Dados altimétricos para estudos de circulação marinha<br />

O desenvolvimento dos altímetros orbitais teve início nos EUA, na década de 1960,<br />

com o primeiro protótipo instalado na estação espacial Skylab em 1973, porém as<br />

primeiras medições com utilidade para oceanografia foram realizadas a partir de 1975,<br />

com o Geodynamics Experiment Ocean Satellite (GEOS-3, 1975-1978), cuja tarefa<br />

35


principal era determinar a possibilidade de se obter um mapa da altura da superfície do<br />

oceano global com precisão da ordem de 1 m. Ainda em 1978 foi lançado o satélite<br />

SeaSat, que possuía, além do altímetro, outros quatro instrumentos para aplicações<br />

oceanográficas, porém o Seasat deixou de funcionar após 110 dias do lançamento.<br />

Já na década de 19<strong>80</strong> (1985-1986) foi iniciada a missão da marinha americana Geodetic<br />

Satellite (GEOSAT), que visava primariamente obter medidas do geóide, com uma<br />

precisão de 10 cm. O GEOSAT gerou a primeira série temporal contendo vários anos de<br />

medidas da altura da superfície dos oceanos. Estes dados permitiram vislumbrar as<br />

novas aplicações para dados altimétricos.<br />

Na década de 1990, um consórcio de países europeus desenvolveu e lançou os satélites<br />

da série European Remote Sensing Satellite, ERS-1 (1991-1999) e ERS-2 (1995-<br />

presente). Estes satélites contam com uma série de instrumentos para observação da<br />

Terra, dentre eles os altímetros cuja precisão é da ordem de 5 cm. Ainda na década de<br />

1990 foi lançado o satélite franco-americano TOPEX/Poseidon (T/P) que ficou em<br />

órbita desde 1992 e foi desativado em janeiro de 2006. Os dados do T/P garantem uma<br />

precisão de 2 cm nas medidas de altura da superfície do mar. Em 2001 foi lançado<br />

Jason-1, cujo altímetro tem características similares ao altímetro a bordo do T/P. Os<br />

dois satélites encontram-se em órbitas paralelas intercaladas, de modo a maximizar a<br />

resolução espacial dos dados (Polito, 2005). A utilização de dados provenientes de<br />

diferentes satélites torna mais eficiente o recobrimento espacial e melhora a resolução<br />

temporal.<br />

Para calcular a altura da superfície do mar (Sea Surface Height), os radares altímetros<br />

emitem pulsos de radiação eletromagnética em direção a Terra e quantificam o tempo<br />

de retorno do sinal, calculando a distância entre o satélite e a superfície do mar. Esta<br />

medida é então subtraída da altitude do satélite, que é calculada a partir do geóide<br />

padrão, obtendo-se assim a Altura Dinâmica da Superfície do Mar (Dynamic<br />

Topography), como pode ser observado na Figura 2.3.<br />

36


Figura 2.3 – Radar altímetro e os parâmetros envolvidos na determinação da altura da<br />

superfície do mar.<br />

Fonte: AVISO (2006).<br />

Para que a precisão do dado seja garantida, são necessárias informações detalhadas<br />

acerca da órbita do satélite, do geóide padrão e de alguns parâmetros atmosféricos para<br />

a devida correção. Como instrumentos auxiliares, estes satélites são dotados de GPS de<br />

alta precisão que garante a exatidão de órbita do satélite e mais duas bandas de radar,<br />

responsáveis em medir a densidade de elétrons livres na Ionosfera, que altera a<br />

velocidade de propagação do feixe de radar naquela região. Assim, a altimetria pode<br />

prover informações satisfatórias acerca da altura da superfície do mar. Atualmente estes<br />

instrumentos garantem uma precisão do dado em centímetros, viabilizando o cálculo<br />

para obter as componentes da corrente geostrófica.<br />

O monitoramento da circulação oceânica, a partir de dados altimétricos de diferentes<br />

satélites, vem sendo utilizado em diversas aplicações como o apoio para a segurança de<br />

instalações offshore; operações de segurança e salvamento de embarcações; calibração<br />

de modelos de dispersão de poluentes no mar; estudos pesqueiros como por exemplo<br />

37


estudos sobre dispersão de larvas de espécies comercialmente exploráveis, entre outras<br />

aplicações (Viana e Menezes, 2005).<br />

2.5 Modelos utilizados para estudar a dispersão de larvas de lagostas<br />

Dentre os estudos de dispersão de larvas de lagostas que utilizam dados de altura da<br />

superfície do mar obtidos por satélites altímetros para derivar as correntes geostróficas<br />

podemos citar vários trabalhos. Chiswell e Booth (1999) verificaram a distribuição de<br />

larvas de Jasus edwardsii próximas ao vórtice Wairarapa, na costa da Nova Zelândia,<br />

utilizando dados do T/P. Polovina et al. (1999) alimentaram um modelo advectivo-<br />

difusivo de larvas de Panulirus marginatus no Arquipélago Havaiano, com dados de<br />

velocidade geostrófica derivados do T/P. Griffin et al. (2001) desenvolveram um<br />

modelo biofísico quantitativo de transporte larval baseado no indivíduo (IBM), na qual<br />

os dados de velocidade geostrófica foram derivados do T/P e Chiswell et al. (2003)<br />

também utilizaram dados de corrente geostrófica derivadas de altímetro para alimentar o<br />

modelo advectivo utilizado na análise da dispersão de larvas de lagostas através do mar<br />

da Tasmânia.<br />

Dentre os modelos citados, apenas o implementado por Polovina et al. (1999) representa<br />

a equação de advecção-difusão. Esta formulação representa uma simplificação das<br />

equações do movimento. A consideração mais usual é a de que o campo de velocidade<br />

pode ser representado por duas componentes, uma relativa ao escoamento médio (U),<br />

caracterizado pelas grandes escalas espaciais e temporais, e outra correspondente ao<br />

escoamento turbulento de mesoescala ou escalas ainda menores (u’). Assim, assume-se<br />

que a trajetória percorrida por uma partícula é governada por dois processos principais:<br />

a advecção do escoamento médio (U) e o transporte turbulento difusivo devido a u’.<br />

Este é o fundamento para a equação de advecção-difusão e para a parametrização da<br />

atividade turbulenta em termos da difusividade turbulenta k (Assireu, 2003).<br />

O modelo implementado neste estudo é uma adaptação do modelo testado por Polovina<br />

et al. (1999), seguindo também as simplificações da equação do movimento e<br />

desconsiderando os efeitos da deriva de Ekman no transporte larval, pois o transporte de<br />

larvas de lagostas é mais influenciado pelo transporte geostrófico que pelo transporte de<br />

38


Ekman. As amostragens de larvas na coluna d´água denotam a existência de uma<br />

densidade significativa de larvas abaixo da camada de Ekman, porém as larvas parecem<br />

realizar migrações diurnas nas profundidades entre <strong>80</strong> e 100 metros durante o dia e de<br />

10 a 20 metros durante a noite (Polovina e Moffitt, 1995). De fato, o corpo achatado, em<br />

formato de folha sugere que as larvas são adaptadas para um transporte passivo<br />

horizontal, auxiliado por uma migração vertical dentro da camada de mistura (Lipcius e<br />

Cobb, 1994). Chiswell et al. (2003) realizaram simulações de transporte de larvas de<br />

lagostas no Mar da Tasmânia em dois cenários distintos: o primeiro considera que o<br />

transporte é ocasionado apenas pela advecção e o segundo acrescenta a deriva de<br />

Ekman ao componente advectivo. Ao final dos experimentos os autores observaram<br />

que, se o transporte de Ekman fosse ignorado, as trajetórias teriam o seu padrão espacial<br />

modificado, porém isto não afetaria significativamente os percentuais de larvas que<br />

chegaram à costa da Nova Zelândia.<br />

39


3.1 Área de estudo<br />

CAPÍTULO 3<br />

MATERIAIS E MÉTODOS<br />

A área de estudo está localizada entre os paralelos de 20ºN e 15ºS e entre os meridianos<br />

de 15ºE e 45ºW, compreendendo o Atlântico tropical desde a costa da África até a costa<br />

do Brasil (Figura 3.1). Esta área foi escolhida devido à distribuição geográfica das<br />

espécies em estudo e da disponibilidade de dados de larvas coletadas na costa do<br />

nordeste do Brasil.<br />

20 o N<br />

10 o N<br />

0 o<br />

10 o S<br />

CG<br />

Retroflexão<br />

da CNB<br />

CB<br />

CNB<br />

CNE<br />

CCNE<br />

CSEn<br />

60 oW 50 oW 40 oW 30 oW 20 oW 10 oW 0 o 10 o 20<br />

E<br />

oS 41<br />

CSEc<br />

CSEs<br />

C. Guiné<br />

Figura 3.1 – Principais correntes superficiais oceânicas do Atlântico Tropical. A área<br />

de estudo encontra-se em destaque.<br />

Fonte: Adaptada de Lumpkin e Garzoli (2005).<br />

A circulação superficial nesta região é formada pelas partes equatoriais dos dois grandes<br />

giros do hemisfério norte e sul. No Atlântico tropical existe um giro sazonal, no sentido<br />

horário que consiste da Corrente Norte do Brasil (CNB) e sua retroflexão, a Contra<br />

Corrente Norte Equatorial (CCNE), que flui no sentido leste e sua extensão leste na<br />

costa da África, denominada de Corrente da Guiné (CGe). Esta última se bifurca em<br />

CSE<br />

C. Angola


Corrente Sul Equatorial (CSE) e Corrente de Angola. A CSE retorna na direção oeste<br />

até a costa do Brasil, o ramo sul da CSE, quando encontra a costa do Brasil se bifurca na<br />

CNB, que segue na direção norte cruzando o equador, e Corrente do Brasil (CB) que<br />

flui em direção ao sul ao longo da costa do Brasil. Da sua origem, na bifurcação da<br />

CSE, a CNB flui no sentido noroeste, margeando a costa do Brasil. Depois de cruzar o<br />

Equador uma componente da CNB sofre retroflexão no sentido leste, tornando-se a<br />

Subcorrente Equatorial e o restante da CNB continua no sentido nordeste até sua<br />

retroflexão a aproximadamente 7ºN, 48ºW.<br />

Na região de estudo existe uma componente zonal predominante que é forçada<br />

principalmente pelas Correntes Norte e Sul Equatorial, que fluem no sentido oeste e<br />

alimentam as principais correntes de contorno oeste do oceano Atlântico (Corrente do<br />

Golfo e Corrente do Brasil).<br />

Estudos anteriores (Molinari, 1983; Richardson e Mckee, 1984) mostram que as<br />

correntes do Atlântico tropical possuem uma forte variabilidade sazonal, intensivamente<br />

estudada a partir das expedições do programa Seasonal Response of the Equatorial<br />

Atlantic (SEQUAL) and Programme Francaise Océan-Climat en Atlantique Equatorial<br />

(FOCAL) durante os anos de 1983-1985 (Reverdin e McPhaden, 1986) e programas de<br />

modelagens (Philander e Pacanowski, 1986). Análises da variabilidade sazonal<br />

reveladas pelas observações realizadas pelos programas SEQUAL/FOCAL foram<br />

complementadas por observações históricas provenientes de deriva de navios (ship drift)<br />

(Richardson e Walsh, 1986; Richardson e Reverdin, 1987). Estudos subseqüentes<br />

utilizando GEOSAT e dados altimétricos do TOPEX/Poseidon (Carton e Katz, 1990;<br />

Katz et al. 1995; Arnault et al. 1999) refinaram estes resultados examinando a<br />

variabilidade das correntes geostróficas superficiais em áreas distante da costa (onde os<br />

erros gerados pela influência da maré podem contaminar o sinal altimétrico). Uma<br />

recente revisão sobre a circulação média anual do Atlântico tropical foi descrita por<br />

Lumpkin e Garzoli (2005), onde os autores realizaram uma análise da circulação sob<br />

uma perspectiva Lagrangeana. Neste estudo foram agrupados os dados de bóias de<br />

deriva presentes em toda área durante os anos de 1990 a 2003, com o objetivo de<br />

mapear as correntes oceânicas em uma resolução espacial de 1º x 1º. As observações a<br />

42


partir dos derivadores revelaram os ramos da CSE que se fundem com a CNB. Também<br />

revelou flutuações anuais na retroflexão da CNB, na CCNE e CSE e uma forte variação<br />

semianual na zona equatorial da Bacia. Este estudo atualiza os resultados obtidos<br />

anteriormente pelos programas SEQUAL/FOCAL e permite a geração de uma nova<br />

climatologia mensal de correntes superficiais no Atlântico tropical.<br />

A variabilidade sazonal mais proeminente foi encontrada na parte oeste da CCNE<br />

(Garzoli e Katz, 1983; Richardson e Walsh, 1986; Richardson e Reverdin, 1987;<br />

Arnault, 1987; Garzoli, 1992; Katz, et al. 1995) e no ramo equatorial da CSE (Katz, et<br />

al. 1981, Richardson e Reverdin, 1987; Arnault, et al. 1999), que são mais fortes<br />

durante a primavera austral, e mais fracas, ou até mesmo inversas, durante o outono<br />

austral. Uma forte sazonalidade também ocorre na Corrente Norte do Brasil e na<br />

Corrente da Guiana (CG) (Arnault, 1987; Johns et al., 1998) no ponto mais forte da<br />

retroflexão da CNB, que tem um pico durante o inverno e primavera austrais<br />

(Richardson e Walsh, 1986; Richardson e Reverdin, 1987). No centro da Bacia, a<br />

CCNE e o ramo equatorial da CSE são mais fortes durante o inverno austral (Peterson e<br />

Stramma, 1991; Richardson et al., 1992). Estas variações são ocasionadas<br />

principalmente pela sazonalidade dos ventos alísios na latitude da Zona de<br />

Convergência Intertropical (ITCZ) (Philander e Pacanowski, 1986; Stramma e Schott,<br />

1999).<br />

3.2 Materiais utilizados<br />

3.2.1 Dados Biológicos<br />

As amostragens biológicas foram realizadas somente na costa Nordeste do Brasil, na<br />

região pertencente à Zona Econômica Exclusiva (ZEE). Esta área compreende toda a<br />

costa Nordeste e se estende desde a foz do rio Parnaíba até Salvador, incluindo o Atol<br />

das Rocas e os Arquipélagos de Fernando de Noronha e São Pedro e São Paulo (Figura<br />

3.2). Além das ilhas oceânicas, uma série de bancos oceânicos rasos, com profundidades<br />

variando entre 50 m. e 350 m., pertencentes às Cadeias Norte-Brasileira e de Fernando<br />

de Noronha, ocorrem ao largo da plataforma continental, notadamente em frente aos<br />

Estados do Ceará e Rio Grande do Norte. A maior parte do domínio oceânico, contudo é<br />

43


formada por áreas de grande profundidade entre 4.000 m. e 5.000 m., as quais<br />

correspondem às Planícies Abissais do Ceará e de Pernambuco.<br />

Figura 3.2 – Área de coleta de dados biológicos (costa Nordeste do Brasil e ilhas<br />

oceânicas). Os asteriscos representam as estações de coletas. As linhas<br />

marrons representam as isóbatas de 200 e 1000 metros.<br />

As coletas foram realizadas em estações oceanográficas durante as campanhas do<br />

Programa REVIZEE NE – I e II, nos anos de 1995 (agosto a outubro), 1997 (janeiro a<br />

abril) (Figura 3.2), a bordo do Navio Oceanográfico da Marinha do Brasil, NOc.<br />

Antares. As larvas de lagostas foram coletadas utilizando-se redes do tipo Bongo, com<br />

abertura de malha de 300 e 500 µm, que eram arrastadas obliquamente a partir de uma<br />

profundidade de 200m.<br />

As larvas foram inicialmente fixadas em formol a 4% e transportadas para o laboratório<br />

do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia, para que fosse efetuada a<br />

triagem das phyllosomas. Posteriormente foram conservadas em álcool a 70%, e<br />

enviadas ao laboratório de Biologia Pesqueira da Universidade Federal do Rio Grande<br />

44


do Norte, para serem realizados estudos de sistemática e dinâmica das larvas. Para<br />

melhor visualização das estruturas morfológicas, as phyllosomas foram tingidas em<br />

banhos de imersão com ácido lático (24 horas) e lignina rosa (12 horas). As partes<br />

maiores (escudo cefálico, tórax, abdome, pleópodos e pereiópodos) foram observadas<br />

com o auxílio de estereomicroscópio e as partes menores (peças bucais e estruturas<br />

ornamentais como cerdas e espinhos) foram identificadas com auxílio de microscópio<br />

óptico.<br />

Assim, as larvas da família Palinuridae foram devidamente identificadas por espécie<br />

(Panulirus argus (Latreille, 1<strong>80</strong>4); P. laevicauda (Latreille, 1817) e P. echinatus<br />

(Smith, 1869)) e por estágio de desenvolvimento, sendo possível quantificar o tempo de<br />

permanência de cada indivíduo no plâncton.<br />

Foi observada uma predominância da ocorrência de larvas nos estágios avançados de<br />

desenvolvimento (VIII, IX, XI), correspondendo a 8, 9 e 11 meses que estas larvas<br />

perduraram derivando no plâncton (Figura 3.3).<br />

Frequência Relativa<br />

(%)<br />

35<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

Distribuição da frequência relativa dos estágios de<br />

desenvolvimento (n=170)<br />

1.18 1.18 1.18 2.35<br />

8.24<br />

45<br />

17.06<br />

12.94<br />

10.5910.00<br />

4.12<br />

31.18<br />

0.00<br />

I II III IV V VI VII VIII IX X XI XII<br />

Fases de desenvolvimento<br />

Figura 3.3 – Distribuição da freqüência relativa dos estágios de desenvolvimento das<br />

larvas coletadas durante o Programa REVIZEE-NE I e II.<br />

Estes dados biológicos serão importantes na comparação dos resultados das trajetórias<br />

obtidas pelas simulações.


3.2.2 Dados Orbitais<br />

3.2.2.1 Velocidade da corrente geostrófica obtida a partir de dados orbitais<br />

Neste estudo foram utilizados dados de correntes geostrófica (componentes u e v), que<br />

serviram como parâmetro de entrada para o modelo advectivo-difusivo. Os dados de<br />

velocidade geostrófica utilizados são produzidos por SSALTO/DUACS e distribuídos<br />

pela AVISO, com suporte da CNES. Este é um sistema multi-missão que disponibiliza<br />

os dados de velocidade geostrófica em tempo real ou quase-real, fornecendo para os<br />

principais centros operacionais de oceanografia e previsão do tempo na Europa e em<br />

todo o mundo, entre eles Global Ocean Data Assimilation Experiment (GODAE) e<br />

Mercator.<br />

O sistema de coleta de dados é denominado de multi-missão, pois utiliza dados<br />

provenientes de diferentes satélites altímetros (TOPEX/Poseidon, Jason e ERS), que são<br />

fusionados com o intuito de melhorar a resolução espacial e temporal. Os dados são<br />

disponibilizados gratuitamente em formato NetCDF no site da AVISO<br />

(http://www.aviso.oceanobs.com/) ou podem ser baixados através de um “anonymous<br />

file transfer protocol” (FTP): ftp://ftp.cls.fr/pub/oceano/AVISO/NRT-<br />

SLA/maps/oer_abs/merged/uv/, com resolução espacial de 1/3 graus e 7 dias de<br />

resolução temporal para todos os oceanos.<br />

As duas componentes de velocidade geostrófica (u e v) são obtidas a partir dos valores<br />

de Anomalia da Superfície do Mar. Neste procedimento são utilizadas as equações 2.1 e<br />

2.2 e, somente na área que compreende o Equador (5ºN-5ºS) é utilizado o plano-ß,<br />

calculado a partir da segunda derivada de ?, segundo Picaut (1989) e Lagerloef, et al.<br />

(1999).<br />

Os dados utilizados são denominados de Topografia Dinâmica Absoluta (Absolute<br />

Dynamic Topography - ADT), que corresponde à soma da Anomalia da Superfície do<br />

Mar (Sea Level Anomaly - SLA) + Topografia Média Dinâmica (Mean Dynamic<br />

Topography - MDT). A MDT é obtida através da Altura Média da Superfície do Mar<br />

(Mean Surface Height - MSH) subtraída do geóide padrão.<br />

46


Foram utilizados os dados relativos ao período de 2000 a 2003, organizados em 52<br />

matrizes referentes à componente u e 52 matrizes referentes à componente v. Como o<br />

objetivo do estudo é determinar o transporte médio, optou-se por calcular a média<br />

semanal ao longo dos 4 anos, assim, obteve-se uma base de dados composta de 52<br />

semanas médias para a componente u e 52 semanas médias para a componente v. Estas<br />

matrizes foram utilizadas para alimentar o modelo implementado.<br />

3.2.2.2 Velocidade da corrente obtida a partir de bóias de deriva<br />

As velocidades provenientes das bóias de deriva foram utilizados para validar as<br />

velocidades geostróficas e calcular os coeficientes de difusividade turbulenta a serem<br />

incorporados ao modelo.<br />

Os dados de bóias utilizados foram obtidos no site do Marine Environmental Data<br />

Service (http://www.meds-sdmm.dfo-mpo.gc.ca/) e fazem parte do programa Global<br />

Drifter Program/ Surface Velocities Program (GDP/SVP). Os derivadores utilizados<br />

neste programa são denominados de Derivadores de Baixo Custo (Low Cost Drifters) e<br />

são compostos de duas partes principais: um flutuador que fica à tona e uma vela<br />

submersa. O flutuador consiste de uma esfera que contém em seu interior um<br />

transmissor de satélite (PTT) responsável pelo envio dos dados coletados in situ, um<br />

sensor de submersão (acusa quando a bóia está totalmente submersa) e demais sensores<br />

responsáveis pela aquisição de dados atmosféricos e oceanográficos. Além de baterias<br />

(fonte de alimentação) e uma antena que transmite os dados para o satélite. Como um<br />

dos objetivos do uso de derivadores é o de estimar as correntes oceânicas é importante<br />

que ele seja acoplado da melhor forma possível, sofrendo o mínimo com o arrasto do<br />

vento de superfície e da deriva das ondas. Para atender estas recomendações, o outro<br />

componente bastante importante é a vela submersa, que atua minimizando o efeito do<br />

vento e outras forçantes superficiais sobre a trajetória da bóia (Mantovani e Lorenzzetti,<br />

2004) (Figura 3.4).<br />

47


Figura 3.4 – Derivador Lagrangeano de Baixo Custo.<br />

Fonte: Assireu (2003) e Lorenzzetti e Mantovani (2004).<br />

Vachon (19<strong>80</strong>), define um derivador Lagrangeano como sendo uma plataforma que tem<br />

sua posição periodicamente determinada a medida que ele é derivado pelas correntes.<br />

Porém estes derivadores nunca são perfeitamente acoplados à massa d´água na qual está<br />

inserido, pois o seu tamanho reage com as partículas de água ao seu redor (partículas<br />

que estão constantemente misturando-se e separando-se). Desta forma um derivador é<br />

somente um sensor quase-Lagrangeano (pseudo-derivador).<br />

Foram selecionadas todas as bóias que se encontravam dentro da área de interesse e as<br />

bóias que não apresentavam a vela de arrasto foram excluídas. A<br />

Tabela apresenta a distribuição do número de bóias de deriva presentes na área de<br />

estudo (ver Figura 3.1) durante o período de 4 anos (2000, 2001, 2002 e 2003). Nesta<br />

Tabela encontram-se computadas somente as bóias que apresentam a vela acoplada,<br />

excluindo-se as bóias sem vela (drogue-off).<br />

48


Tabela 3.1 – Número total de bóias de deriva disponíveis na área durante o período do<br />

estudo.<br />

3.3 Metodologia de Trabalho<br />

3.3.1 Análise dos campos de velocidade<br />

Ano Nº bóias<br />

2000 104<br />

2001 83<br />

2002 87<br />

2003 103<br />

Total 377<br />

Os dados de velocidade geostrófica foram validados de forma qualitativa, comparando-<br />

se as velocidades médias e direção das correntes obtidas com estudos realizados<br />

anteriormente, e de forma quantitativa, correlacionando as componentes de velocidade<br />

geostrófica com a velocidade obtida pelas bóias de deriva.<br />

Para validação quantitativa dos dados de entrada do modelo foi realizada uma<br />

correlação entre as componentes u e v da corrente geostrófica obtidas a partir dos<br />

radares altímetros (velocidade do altímetro) e os valores de velocidade u e v obtidos por<br />

bóias de deriva (velocidade da bóia). Deve ser observado que estes dados (velocidade<br />

das bóias de deriva) contêm além da parte geostrófica o componente de deriva de<br />

Ekman, ocasionado pelo arrasto do vento na camada superficial.<br />

Para comparação dos valores de velocidade foram selecionados 73 pontos aleatórios nas<br />

duas bases de dados (velocidade da bóia e velocidade do altímetro), de forma que<br />

49


contemplasse toda a área de estudo. A base de dados de velocidade das bóias foi<br />

organizada por semana, de forma coincidente com a base de velocidade do altímetro.<br />

Para seleção dos pontos realizou-se primeiro um diagrama espaguete com as trajetórias<br />

semanais das bóias, a partir do qual foram selecionadas áreas de 1ºx1º. Dentro destas<br />

áreas foi calculada a velocidade média de u e v. Como a resolução espacial dos dados do<br />

altímetro é de 0,33º, foi selecionado um quadrante de 3x3 células coincidentes à mesma<br />

posição e semana dos dados de bóias, na qual foi calculada a velocidade média da<br />

velocidade geostrófica. Este procedimento foi realizado para cada um dos pontos<br />

selecionados para a comparação das velocidades. As posições dos pontos podem ser<br />

visualizadas na Figura 3.5.<br />

45ºW 40ºW 35ºW 30ºW 25ºW 20ºW 15ºW 10ºW 5ºW 0ºE 5ºE 10ºE 15ºE<br />

20ºN<br />

15ºN<br />

10ºN<br />

5ºN<br />

0ºN<br />

5ºS<br />

10ºS<br />

15ºS<br />

Figura 3.5 – Distribuição dos pontos utilizados para correlação entre os dados do<br />

altímetro e os dados de bóias de deriva.<br />

De posse dos 73 pontos realizou-se uma correlação linear entre os valores das<br />

velocidades das bóias e os valores das velocidades geostróficas, para as duas<br />

componentes (u e v) separadamente. Os dados considerados espúrios (outliers) foram<br />

retirados da correlação sendo, provavelmente, gerados devido à turbulência que afeta<br />

50


diretamente as bóias de deriva. Ao final, foram então utilizados 70 pontos para<br />

correlação da componente zonal e 51 pontos da componente meridional.<br />

3.3.2 Cálculo do coeficiente de difusividade turbulenta<br />

O campo turbulento varia espacialmente e sazonalmente, porém, como o objetivo do<br />

trabalho é identificar o transporte médio das larvas e para efeitos de simplificação do<br />

modelo, assumiu-se que o campo turbulento é homogêneo (não varia espacialmente) e<br />

estacionário (não varia no tempo). Portanto, ele foi representado por um valor de<br />

difusividade turbulenta zonal e meridional. Os coeficientes de difusividade turbulenta<br />

(kx e ky) calculados para a área de estudo representam uma média de toda a área de<br />

estudo. Como o valor do coeficiente de difusividade turbulenta zonal (kx) diferiu do<br />

coeficiente de difusividade meridional (ky), optou-se por utilizar estes dois valores<br />

separadamente.<br />

Os coeficientes de difusividade turbulenta incorporados ao modelo são representativos<br />

da camada de mistura e foram calculados a partir dos valores de velocidades (u e v)<br />

obtidos por bóias de deriva presentes na área de estudo, segundo Assireu (2003). O<br />

autor calculou o coeficiente de difusividade turbulenta considerando dois parâmetros: os<br />

valores de velocidades turbulentas (u’ e v’) e as escalas integrais Lagrangeanas (Tx e Ty).<br />

Realizou-se um diagrama espaguete (Figura 3.6) com toda a base de dados para<br />

verificar a distribuição e representatividade espacial das bóias. A partir deste gráfico<br />

foram selecionadas 35 áreas (quadrantes) de 2ºx2º, distribuídas de forma que<br />

representasse toda a área de estudo. Em cada área (quadrante) foi calculado o valor<br />

médio de velocidade (u e v), obtendo-se foram estimados os coeficientes de difusividade<br />

turbulenta para cada componente (u e v) (Figura 3.6).<br />

51


latitude<br />

15 o N<br />

5 o N<br />

5 o S<br />

35 34<br />

33<br />

28 27 26<br />

25 24 23<br />

22<br />

21<br />

20 19 18 17<br />

16 15 14<br />

13 12<br />

11 10<br />

32 31<br />

30 29<br />

45 oW 35 oW 25 oW 15 oW 5 oW 5 oE 15 o 15<br />

E<br />

oS longitude<br />

Figura 3.6 – Trajetórias das bóias de deriva durante os anos de 2000, 2001, 2002 e<br />

2003. Os quadrados representam as áreas que tiveram o coeficiente de<br />

difusividade turbulenta calculado.<br />

Após calculados os coeficientes de difusividade para cada área, calculou-se o<br />

coeficiente de difusividade médio, que foi incorporado ao modelo, assim os coeficientes<br />

de difusividade zonal e meridional são valores fixos, que não variam no tempo e nem no<br />

espaço.<br />

O efeito difusivo foi simulado no modelo acoplando-se um componente randômico (e)<br />

ao coeficiente de difusividade turbulenta, responsável por introduzir certa aleatoriedade<br />

às trajetórias (ver Eq. 3.1 e 3.2).<br />

3.3.3 Descrição do modelo advectivo-difusivo<br />

O modelo advectivo-difusivo utilizado neste estudo foi adaptado de Polovina et al.<br />

(1999) e consta de duas equações que dizem respeito à componente zonal e à<br />

componente meridional das velocidades. Cada equação apresenta um primeiro<br />

componente de caráter advectivo (u e v) e o segundo de caráter difusivo (kx e ky). O co-<br />

52<br />

9<br />

7<br />

8<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1


seno presente somente na equação 3.1 corrige o fato de que as distâncias longitudinais<br />

decrescem do equador em direção aos pólos.<br />

xt = xt<br />

+ [ u(<br />

xt , yt , t)<br />

Δt<br />

+ ε kxΔt]<br />

+ Δt<br />

cos( y )<br />

yt t<br />

onde:<br />

t<br />

= y + [ v Δt<br />

+ ε kyΔt]<br />

3.2<br />

+ Δt<br />

t ( xt , yt,<br />

)<br />

t = tempo em dias;<br />

x e y = posição da larva (em graus)<br />

u e v = componentes de velocidade zonal e meridional (graus/dia)<br />

e = variável aleatória com distribuição normal (média 0, desvio padrão 1)<br />

kx = coeficiente de difusividade turbulenta zonal (grau 2 /dia)<br />

ky = coeficiente de difusividade turbulenta meridional (grau 2 /dia)<br />

Para efeitos de conversão 1m 2 /s = 7x10 -6 graus 2 /dia.<br />

O procedimento executado pelo programa implementado segue basicamente os<br />

seguintes passos:<br />

1) Escolha da posição de lançamento.<br />

Nesta fase são determinadas as áreas de desova. A seleção das áreas de lançamento, a<br />

partir das quais foram iniciadas as simulações de transporte das “pseudolarvas”, foi feita<br />

com base nos locais de ocorrência das populações adultas (Coelho e Ramos-Porto,<br />

1998; Schmidt de Melo, 1999).<br />

53<br />

3.1


Foram selecionados seis locais para iniciar as simulações onde há ocorrência de<br />

populações adultas: Cabo Verde (24-25ºW, 15-16ºN); Costa do Marfim (7-8ºW, 3-4ºN);<br />

Ascensão (14-15ºW, 7-8ºS); Fernando de Noronha (31-32ºW, 3-4ºS); Arquipélago de<br />

São Pedro e São Paulo (28-29ºW, 0-1ºN) e Atol das Rocas (33-34ºW, 3-4ºS).<br />

2) Lançamento aleatório de 5000 derivadores dentro de um quadrante de 1ºx1º.<br />

Após selecionada a área de desova, foi delimitado um quadrante de 1ºx1º, onde foram<br />

lançados aleatoriamente um número significativo (n=5000) de “pseudolarvas”, de forma<br />

que os pontos iniciais das 5000 pseudolarvas não partiam da mesma posição de<br />

lançamento, mas de uma pequena área, representando melhor uma população em<br />

desova.<br />

As lagostas que se distribuem ao longo dos trópicos realizam desova contínua durante o<br />

ano todo, porém existem dois picos de desova durante os meses de abril e setembro<br />

(Soares, 1994). Assim, para cada área selecionada foram realizados dois lançamentos,<br />

correspondentes aos meses de abril e setembro.<br />

3) Atualização da posição de cada pseudolarva (derivador).<br />

A cada dia a “pseudolarva” (derivador) tem sua posição atualizada e os valores de u e v<br />

são interpolados linearmente com os quatro pontos de grade mais próximos, assim o<br />

prosseguimento da trajetória é realizado com este novo valor de velocidade geostrófica.<br />

Esta operação é realizada para cada matriz durante 7 dias e no oitavo dia a base de<br />

dados é atualizada, ou seja, uma nova matriz contendo os valores de velocidade<br />

geostrófica de u e v referente àquela semana é utilizada. Este procedimento é realizado<br />

365 vezes utilizando a base de dados que contem as 104 matrizes (52 da componente<br />

zonal e 52 da componente meridional).<br />

4) Obtenção das trajetórias<br />

Ao final dos 365 dias são representadas graficamente as trajetórias percorridas pelas<br />

5000 larvas simuladas. Quando as trajetórias encontram áreas de fronteira (linha de<br />

54


costa ou excedem a área de estudo) o percurso é interrompido e a última posição antes<br />

da fronteira é armazenada.<br />

5) Quantificação das larvas consideradas viáveis para recompor os estoques brasileiros.<br />

Para quantificar o percentual de larvas viáveis para recompor os estoques adultos foi<br />

realizado um mapa de distância (buffer) de 300 km a partir da isóbata de 200 m, assim<br />

ao final dos 365 dias de simulação as larvas que se encontravam dentro desta área foram<br />

quantificadas como viáveis para recompor os estoques adultos.<br />

Esta distância foi determinada com base na distribuição das populações adultas sobre a<br />

Plataforma Continental e bancos oceânicos e na capacidade do puerulus em realizar<br />

migração horizontal de até 60 km em direção à costa (Pearce e Phillips, 1994).<br />

Experimentos realizados no Arquipélago do Havaí consideraram como viáveis as larvas<br />

que se encontravam a um raio de distância de 140 km das ilhas ao final dos 365 dias<br />

(Polovina et al., 1999).<br />

Em suma, cada simulação lançou 5000 larvas no início de cada mês considerado típico<br />

para a desova (abril e setembro). As simulações rastrearam a trajetória das larvas<br />

durante os próximos 365 dias. Nestes experimentos não foram considerados parâmetros<br />

biológicos como mortalidade, predação e migração vertical das larvas.<br />

3.3.4 Teste do modelo<br />

Para testar o modelo advectivo-difusivo foram criados dados artificiais que gerassem<br />

uma trajetória pré-concebida ao longo das 52 semanas (Figura 3.7). Nas semanas de 1 a<br />

13 foram utilizadas matrizes onde a componente zonal (u) assumiu valores positivos e a<br />

componente meridional (v) assumiu valores nulos (igual a zero), desta forma a partícula<br />

deveria seguir na direção leste. Nas semanas subseqüentes (14 a 27) a componente zonal<br />

assumiu valores nulos e a componente meridional assumiu valores positivos, assim a<br />

partícula teria que seguir no sentido norte. Nas semanas de 28 a 41 a componente zonal<br />

assumiu valores negativos e a componente meridional assumiu valores nulos, seguindo<br />

a partícula no sentido oeste. Nas últimas semanas, de 42 a 52, os valores da componente<br />

55


zonal assumiram valores nulos e a componente meridional assumiu valores positivos,<br />

seguindo então na direção norte.<br />

latitude<br />

15 o N<br />

5 o N<br />

5 o S<br />

4<br />

5<br />

3<br />

1 2<br />

45 o W 35 o W 25 o W 15 o W 5 o W 5 o E 15 o 15<br />

E<br />

oS longitude<br />

56<br />

1 - semana 1 (lançamento)<br />

2 - semana 14<br />

3 - semana 28<br />

4 - semana 42<br />

5 - semana 52 (final)<br />

Figura 3.7 – Teste do modelo advectivo-difusivo com os dados artificiais.


CAPÍTULO 4<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

4.1 Avaliação dos campos de velocidade geostrófica<br />

4.1.1 Análise qualitativa<br />

Os campos de velocidade geostrófica foram agrupados em estações do ano permitindo a<br />

análise sazonal do sinal. Para melhor visualização, os campos estão apresentados em<br />

mapas de magnitude (Figura 4.1) e vetores (Figura 4.2).<br />

A partir das duas componentes (u e v) foi calculada a magnitude da velocidade<br />

geostrófica, que apresentou valores mais altos durante a primavera e verão austrais na<br />

Contra Corrente Norte Equatorial (CCNE). Essa, juntamente com a Corrente Sul<br />

Equatorial (CSE) apresentam padrões sazonais bem evidentes e definidos. No centro da<br />

bacia, a CCNE e o ramo equatorial da CSE são mais intensas durante o inverno austral.<br />

Estas observações concordam com os valores encontrados por Lumpkin e Garzoli<br />

(2005), na qual a CCNE apresenta valores que variam de 25 cm/s em abril a até 75 cm/s<br />

em novembro. Durante o outono e inverno há uma intensificação da porção leste da<br />

CCNE, aumentando também o fluxo da Corrente da Guiné, na costa da África.<br />

Constata-se uma intensificação na CNB durante o outono e inverno austral, influenciada<br />

principalmente pelo braço equatorial da CSE.<br />

A magnitude apresenta seus valores máximos (64,311 cm/s) e mínimos (0,023 cm/s)<br />

durante o verão. No centro da bacia os valores são bastante baixos, ficando entre 0 e 10<br />

cm/s.<br />

57


20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

-5<br />

-10<br />

-15<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

-5<br />

-10<br />

-15<br />

Verão<br />

-40 -30 -20 -10 0 10<br />

Inverno<br />

-40 -30 -20 -10 0 10<br />

0 10 20 30 40 50 60 cm/s<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

-5<br />

-10<br />

-15<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

-5<br />

-10<br />

-15<br />

58<br />

Outono<br />

-40 -30 -20 -10 0 10<br />

Primavera<br />

-40 -30 -20 -10 0 10<br />

Figura 4.1 – Magnitude da velocidade geostrófica média para as estações do ano.<br />

De acordo com a direção do campo de corrente geostrófica superficial, podemos<br />

verificar que a CNB é gerada pelo braço sul da CSE que se bifurca a aproximadamente<br />

12-14ºS, na costa do Brasil, seguindo no sentido norte. No período em que a CSEc se<br />

torna mais fraca a sua influência sobre a CNB é reduzida, assim a componente<br />

meridional da CNB se torna predominante, durante a primavera e verão austral e se<br />

intensifica no outono e inverno austral, assumindo um caráter mais zonal (Figura 4.2).<br />

A partir destas análises constata-se a coerência entre os dados de velocidade geostrófica<br />

utilizados neste estudo e os padrões de circulação superficial descrito por outros autores<br />

para a área de estudo.


15 o N<br />

5 o N<br />

5 o S<br />

45 o W 35 o W 25 o W 15 o W 5 o W 5 o E 15 o 15<br />

E<br />

oS 15 o N<br />

5 o N<br />

5 o S<br />

a)<br />

b)<br />

Figura 4.2 – Campo médio da circulação geostrófica no Atlântico tropical. a) verão<br />

austral; b) outono austral; c) inverno austral e d) primavera austral.<br />

(continua)<br />

59<br />

Verão austral<br />

Outono austral<br />

45 o W 35 o W 25 o W 15 o W 5 o W 5 o E 15 o 15<br />

E<br />

o S


15 o N<br />

5 o N<br />

5 o S<br />

45 oW 35 oW 25 oW 15 oW 5 oW 5 oE 15 o 15<br />

E<br />

oS 15 o N<br />

5 o N<br />

5 o S<br />

c)<br />

d)<br />

45 o W 35 o W 25 o W 15 o W 5 o W 5 o E 15 o 15<br />

E<br />

oS Figura 4.2 – Conclusão.<br />

60<br />

Inverno austral<br />

Primavera austral


4.1.2 Análise quantitativa - comparação estatística das velocidades<br />

Na Figura 4.3 são apresentados os gráficos de correlação, comparando as velocidades<br />

das bóias e a velocidade geostrófica. Os coeficientes de Pearson para cada componente<br />

também são apresentados.<br />

A partir das correlações obteve-se uma correlação linear positiva, com o coeficiente de<br />

Pearson de 0,93 para a componente u e 0,63 para a componente v.<br />

altímetro (cm/s)<br />

altímetro (cm/s)<br />

a)<br />

b)<br />

Componente zonal (u)<br />

<strong>80</strong><br />

60<br />

40<br />

20<br />

0<br />

-40<br />

61<br />

r = 0,93<br />

n = 70<br />

-100 -50 -20 0 50 100 150<br />

bóias de deriva (cm/s)<br />

Componente meridional (v)<br />

-10<br />

-15<br />

r = 0,63<br />

n = 51<br />

-<strong>80</strong> -60 -40 -20 -5 0 20 40<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

bóias de deriva (cm/s)<br />

Figura 4.3 – Correlação entre as velocidades obtidas pelas bóias de deriva e as<br />

velocidades geostróficas derivadas dos radares altímetros. a)<br />

componente zonal e b) componente meridional.<br />

As comparações entre as velocidades semanais do altímetro e as velocidades<br />

coincidentes das bóias de deriva demonstraram uma boa correlação. Este nível de<br />

concordância confirma a validade do método empregado pela AVISO para calcular a<br />

corrente geostrófica superficial a partir de dados do altímetro.


Yu et al. (1995) citam que as bóias de deriva provêem a melhor fonte independente de<br />

informações sobre as correntes de superfície. Os dados utilizados neste estudo<br />

obtiveram altos coeficientes de correlação quando comparados com as velocidades<br />

obtidas pelas bóias, especialmente a componente u (r = 0,93).<br />

De forma geral, os dados de bóias concordam bem com os dados de corrente geostrófica<br />

como verificado por Yu et al. (1995), Griffin et al. (2001) e Chiswell et al. (2003). Yu<br />

et al. (1995) correlacionaram os campos mensais de velocidade geostrófica derivados do<br />

TOPEX/Poseidon (T/P) com trajetórias de bóias de deriva no Pacífico tropical. Os<br />

coeficientes de correlação encontrados foram de 0,92 para a componente zonal e de 0,76<br />

para a componente meridional. Griffin et al. (2001), estudando o efeito das correntes<br />

oceânicas para as fases larvais de P. cygnus na costa da Austrália, encontraram uma<br />

correlação de r = 0,7 para o componente zonal e r = 0,71 para o componente meridional<br />

entre os valores de correntes geostrófica obtidos pelo radar altímetro e os valores de<br />

velocidade obtidos a partir de bóias de deriva localizadas na área de estudo. Chiswell et<br />

al. (2003) compararam os valores de velocidade obtidos por uma bóia lançada no mar<br />

da Tasmânia com os dados de velocidade geostrófica obtidos pelo altímetro T/P. Os<br />

autores observaram que as diferenças entre as velocidades reduziam-se quando era<br />

adicionada a velocidade de Ekman, tanto para a componente zonal quanto para a<br />

componente meridional. O observado está de acordo com o esperado, uma vez que as<br />

bóias de deriva medem a velocidade total (corrente geostrófica e deriva de Ekman).<br />

Comparando os dados obtidos neste estudo com os dados de bibliografia citada<br />

verificamos que os dados utilizados estão coerentes com os trabalhos citados e<br />

expressam confiabilidade, sugerindo que as velocidades geostróficas derivadas dos<br />

sensores orbitais refletem a variabilidade real das correntes oceanográficas.0<br />

62


4.2 Coeficiente de difusividade turbulenta<br />

Para análise da difusividade assumimos que o campo turbulento de toda a área de estudo<br />

é homogêneo (não varia espacialmente) e estacionário (não varia no tempo).<br />

Os valores obtidos para a difusividade zonal variaram de 7,94x10 6 cm 2 /s a 1,36x10 8<br />

cm 2 /s, obtendo-se uma média de 3,97x10 7 cm 2 /s. Para a difusividade meridional os<br />

valores variaram de 5,41x10 6 cm 2 /s a 5,25x10 7 cm 2 /s, com média de 2,05x10 7 cm 2 /s<br />

(Figura 4.4).<br />

a)<br />

1,6E+08<br />

1,4E+08<br />

1,2E+08<br />

1,0E+08<br />

8,0E+07<br />

6,0E+07<br />

4,0E+07<br />

2,0E+07<br />

0,0E+00<br />

b)<br />

1,6E+08<br />

1,4E+08<br />

1,2E+08<br />

1,0E+08<br />

8,0E+07<br />

6,0E+07<br />

4,0E+07<br />

2,0E+07<br />

0,0E+00<br />

A1<br />

A1<br />

A3<br />

A3<br />

A5<br />

Efeito difusivo - kx (cm 2 Efeito difusivo - kx (cm /s)<br />

2 Coeficiente de difusividade<br />

/s) 2<br />

turbulenta zonal - kx (cm /s)<br />

A7<br />

A9<br />

A11<br />

A13<br />

A15<br />

A17<br />

63<br />

A19<br />

A21<br />

A23<br />

A25<br />

A27<br />

Efeito difusivo - ky (cm 2 Efeito difusivo - ky (cm /s)<br />

2 Coeficiente de difusividade /s) 2<br />

turbulenta meridional - ky (cm /s)<br />

A5<br />

A7<br />

A9<br />

A11<br />

A13<br />

A15<br />

A17<br />

A19<br />

A21<br />

A23<br />

A25<br />

A27<br />

A29<br />

A31<br />

n = 35<br />

Min.= 7,94e+6<br />

Máx.= 1,36e+8<br />

Média= 3,97e+7<br />

A29<br />

A31<br />

A33<br />

A33<br />

A35<br />

n = 35<br />

Min.= 5,41e+6<br />

Máx.= 5,25e+7<br />

Média= 2,05e+7<br />

Figura 4.4 – Coeficiente de difusividade turbulenta calculado para as 35 áreas no<br />

Atlântico tropical. a) difusividade zonal e b) difusividade meridional. As<br />

áreas estão espacialmente representadas na Figura 3.6<br />

Percebe-se que as médias apresentam a mesma magnitude, porém o coeficiente médio<br />

zonal é aproximadamente o dobro da difusividade meridional. Esta anisotropia era<br />

A35


esperada, uma vez que a componente zonal da velocidade é predominante em toda a<br />

nossa área de estudo.<br />

Polovina et al. (1999) utiliza um valor fixo de 5x10 6 cm 2 /s para o coeficiente de<br />

difusividade turbulenta como parâmetro de entrada do seu modelo advectivo-difusivo.<br />

Bauer et al. (1998), estudando o comportamento físico do Pacífico tropical a partir de<br />

dados de bóias de deriva, observaram que os maiores valores de difusividade ocorrem<br />

em regiões de forte cisalhamento meridional entre a Corrente Norte Equatorial e a<br />

Contracorrente Norte Equatorial. Os valores variam de 5 x 10 7 cm 2 /s a 76 x 10 7 cm 2 /s na<br />

componente zonal e 2 x 10 7 cm 2 /s a 9 x 10 7 cm 2 /s para a componente meridional.<br />

Poulain (1999, 2001) encontrou no Mar Adriático uma difusividade de 2 x 10 7 cm 2 /s na<br />

direção paralela às isóbatas. Os valores médios obtidos neste estudo estão coerentes, em<br />

magnitude, com os valores relacionados na literatura.<br />

Como o nosso objetivo era obter um valor médio do coeficiente de difusividade<br />

turbulenta para ser incorporado ao modelo, não foram realizadas análises mais<br />

aprofundadas sobre o comportamento de cada região, que levassem em consideração<br />

parâmetros de escala e tempo.<br />

Os coeficientes incorporados ao modelo foram os valores médios, que pudessem<br />

representar as difusões zonal (3,97x10 7 cm 2 /s) e meridional (2,05x10 7 cm 2 /s) de toda a<br />

área de estudo. Todos os valores de difusividade zonal e meridional para todas as áreas<br />

calculadas encontram-se na Tabela 1 do Apêndice A.<br />

4.3 Simulações do modelo<br />

4.3.1 Arquipélago de Cabo Verde<br />

As simulações realizadas a partir do Arquipélago de Cabo Verde revelam que as larvas<br />

desovadas nesta localidade tendem a ficar aprisionadas em um sistema de vórtices e<br />

meandros, próximo ao local de desova até completarem os 365 dias de vida planctônica<br />

(Figura 4.5). Um fenômeno similar ocorre no Nordeste da Tasmânia, (Chiswell e Booth,<br />

1999) onde a população de Jasus edwardsii é retida por “eddies” permanentes, que<br />

64


parecem reter as phyllosomas tempo suficiente para completar o seu desenvolvimento<br />

até o estágio de puerulus, e neste estágio nadar ativamente de volta para a costa.<br />

15 o 15 N<br />

o N<br />

5 o 5 N<br />

o N<br />

5 o 5 S<br />

o S<br />

45 o W 35 o W 25 o W 15 o W 5 o W 5 o E 15 o 15<br />

E<br />

o S<br />

45 o W 35 o W 25 o W 15 o W 5 o W 5 o E 15 o 15<br />

E<br />

o S<br />

15o 15 N oN 5o 5 N oN 5o 5 S oS 65<br />

Abril<br />

Setembro<br />

45oW 35oW 25oW 15oW 5oW 5oE 15o 15<br />

E<br />

oS 45oW 35oW 25oW 15oW 5oW 5oE 15o 15<br />

E<br />

oS Figura 4.5 – Trajetórias percorridas pelas larvas lançadas em Cabo Verde ao longo dos<br />

365 dias.<br />

De todas as larvas desovadas (n=5000) em abril, apenas 43,92% chegaram ao XII<br />

estágio de desenvolvimento, os 56,08% restantes encontraram a costa antes de<br />

completarem todos os doze estágios de desenvolvimento. Na simulação iniciada em


setembro, 63,62% das larvas completaram o seu ciclo total de desenvolvimento (365<br />

dias).<br />

O Arquipélago de Cabo Verde dista cerca de 700 km do continente Africano. Desta<br />

forma as larvas que, ao final do experimento, se encontravam entre o Arquipélago e o<br />

continente, podem ser consideradas viáveis para repor os estoques tanto da costa quanto<br />

do próprio Arquipélago (Figura 4.6). Esta distância possibilita que, após a metamorfose,<br />

o puerulus seja transportado para áreas próximas à costa e reponha os estoques adultos.<br />

Observa-se ainda que algumas trajetórias alcançam a Costa do Marfim, porém não são<br />

em número representativo para repor os estoques desta região. Do total de 5000 larvas<br />

lançadas em Cabo Verde, nenhuma conseguiu alcançar a área considerada viável para<br />

recompor os estoques adultos da costa do Brasil (em azul na Figura 4.6).<br />

Figura 4.6 – Posição final das larvas após os 365 dias de transporte. As larvas<br />

posicionadas dentro da área em destaque (azul) são consideradas<br />

viáveis para recrutar os estoques brasileiros. A estrela indica a área de<br />

desova (início das simulações).<br />

66


4.3.2 Costa do Marfim<br />

Com as simulações realizadas a partir da Costa do Marfim, pode-se perceber que as<br />

larvas são transportadas no sentido leste pela Corrente da Guiné e 100% das larvas<br />

chegam à costa antes de completarem os 365 dias de fase larval. O fato das larvas<br />

encontrarem a costa antes de completarem o seu ciclo larval não implica em que estas se<br />

tornam inviáveis. Pois possivelmente estes organismos apresentam um comportamento<br />

que os capacita em adequar o período larval às condições físicas apresentadas, podendo<br />

antecipar a metamorfose ao encontrarem as condições necessárias para o assentamento.<br />

As simulações realizadas em abril e setembro apresentaram uma pequena diferença. Na<br />

simulação iniciada em abril as larvas conseguiram percorrer uma distância maior que a<br />

simulação iniciada no mês de setembro (Figura 4.7), porém em ambas as simulações, as<br />

larvas ficaram retidas no Golfo da Guiné.<br />

67


15 o 15 N<br />

o N<br />

5 o 5 N<br />

o N<br />

5 o 5 S<br />

o S<br />

45 o W 35 o W 25 o W 15 o W 5 o W 5 o E 15 o 15<br />

E<br />

o S<br />

45 o W 35 o W 25 o W 15 o W 5 o W 5 o E 15 o 15<br />

E<br />

o S<br />

15 o 15 N<br />

o N<br />

5 o 5 N<br />

o N<br />

5 o 5 S<br />

o S<br />

68<br />

Abril<br />

Setembro<br />

45 o W 35 o W 25 o W 15 o W 5 o W 5 o E 15 o 15<br />

E<br />

o S<br />

45 o W 35 o W 25 o W 15 o W 5 o W 5 o E 15 o 15<br />

E<br />

o S<br />

Figura 4.7 – Trajetórias percorridas pelas larvas lançadas na Costa do Marfim ao longo<br />

dos 365 dias.<br />

4.3.3 Ascensão<br />

As simulações iniciadas na ilha de Ascensão mostraram que houve divergência nas<br />

trajetórias das larvas, onde algumas larvas seguiram na direção leste e outras se<br />

deslocaram na direção oeste (Figura 4.8). De todas as larvas lançadas mais de 50%<br />

conseguiram chegar à costa do Brasil até a época da metamorfose (aproximadamente<br />

365 dias) em condições de serem incorporadas ao estoque local (Figura 4.9).


15 o 15 N<br />

o N<br />

5 o 5 N<br />

o N<br />

5 o 5 S<br />

o S<br />

45 o W 35 o W 25 o W 15 o W 5 o W 5 o E 15 o 15<br />

E<br />

o S<br />

45 o W 35 o W 25 o W 15 o W 5 o W 5 o E 15 o 15<br />

E<br />

o S<br />

15 o 15 N<br />

o N<br />

5 o 5 N<br />

o N<br />

5 o 5 S<br />

o S<br />

69<br />

Abril<br />

Setembro<br />

45<br />

longitude<br />

o W 35 o W 25 o W 15 o W 5 o W 5 o E 15 o 15<br />

E<br />

o S<br />

45<br />

longitude<br />

o W 35 o W 25 o W 15 o W 5 o W 5 o E 15 o 15<br />

E<br />

o S<br />

Figura 4.8 – Trajetórias percorridas pelas larvas lançadas em Ascensão ao longo dos<br />

365 dias.<br />

Não houve grande diferença entre os percentuais de larvas consideradas viáveis nas<br />

simulações iniciadas em abril e setembro, apresentando um pequeno predomínio de<br />

larvas viáveis na simulação de setembro (Figura 4.9). Em abril, o total de larvas que<br />

completaram os 365 dias e encontravam-se dentro da área considerada viável para<br />

recrutamento na costa brasileira (área azul na Figura 4.9) foi de 56,24% e em setembro


este percentual foi de 59,16%. Estes valores são representativos e reiteram a<br />

possibilidade de conexão entre os estoques presentes em Ascensão e na costa do Brasil.<br />

A espécie que ocorre na ilha de Ascensão (Panulirus echinatus) é encontrada<br />

predominantemente em ilhas e bancos oceânicos da costa brasileira, ocorrendo em<br />

menor abundância na plataforma continental. Quando comparamos os resultados das<br />

simulações com as coletas de campo constatamos que das 50 larvas de P. echinatus<br />

coletadas no âmbito do Programa REVIZEE, nos anos de 1995 e 1997, 47 encontravam-<br />

se no estágio XI de desenvolvimento, revelando a presença de indivíduos com estágio<br />

avançado de desenvolvimento dentro da área considerada viável. Os dados de campo<br />

corroboram as simulações, revelando a real possibilidade de Ascensão servir como fonte<br />

para os estoques de P. echinatus ocorrentes no Brasil.<br />

10º<br />

5º<br />

0º<br />

-5º<br />

-10º<br />

-15º<br />

-40º -35º -30º -25º -20º -15º -10º -5º<br />

70<br />

Fre q. %<br />

<strong>80</strong><br />

60<br />

40<br />

20<br />

0<br />

Ascenção<br />

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 1 2<br />

Abril Se tem br o<br />

Figura 4.9 – Posição final das larvas após os 365 dias de transporte. As larvas<br />

posicionadas dentro da área em destaque (azul) foram consideradas<br />

viáveis para recrutar os estoques adultos. A estrela indica o ponto de<br />

desova (início das simulações). O gráfico de barras apresenta os estágios<br />

de desenvolvimento que as larvas se encontravam ao final do<br />

experimento.


4.3.4 Fernando de Noronha<br />

As simulações de larvas desovadas no Arquipélago de Fernando de Noronha mostrou<br />

um transporte pela CNB até o final dos 365 dias do seu período larval (Figura 4.10). As<br />

trajetórias seguiram no sentido norte até a costa do Rio Grande do Norte onde,<br />

conduzidas ainda pela CNB seguiram no sentido noroeste. Nas imediações do Cabo<br />

Calcanhar existe um forte influxo da CSE que abastece a CNB.<br />

latitude<br />

15 o 15 N<br />

o N<br />

5 o 5 N<br />

o N<br />

5 o 5 S<br />

o S<br />

45<br />

longitude<br />

o W 35 o W 25 o W 15 o W 5 o W 5 o E 15 o 15<br />

E<br />

o S<br />

45<br />

longitude<br />

o W 35 o W 25 o W 15 o W 5 o W 5 o E 15 o 15<br />

E<br />

o S<br />

15 o 15 N<br />

o N<br />

5 o 5 N<br />

o N<br />

5o 5 S oS 71<br />

Abril<br />

Setembro<br />

45 o W 35 o W 25 o W 15 o W 5 o W 5 o E 15 o 15<br />

E<br />

o S<br />

45 o W 35 o W 25 o W 15 o W 5 o W 5 o E 15 o 15<br />

E<br />

o S<br />

Figura 4.10 – Trajetórias percorridas pelas larvas lançadas em Fernando de Noronha ao<br />

longo dos 365 dias.


Podemos verificar na Figura 4.11 que 88,06% das larvas desovadas em abril<br />

encontravam-se nos últimos estágios de desenvolvimento (X, XI e XII) e 99,98% das<br />

larvas desovadas em setembro encontravam-se no XII estágio de desenvolvimento. Esta<br />

diferença entre as freqüências deve-se, provavelmente, ao enfraquecimento da CSE<br />

durante a primavera e o verão (Figura 4.1). Isso possibilita que as trajetórias cheguem<br />

em pontos mais a leste (entre 28º e 30ºW). É possível portanto, que os estoques<br />

presentes no Arquipélago de Fernando de Noronha sirvam como área fonte para os<br />

estoques distribuídos ao longo da costa Norte e Nordeste Setentrional brasileira.<br />

5º<br />

0º<br />

-5º<br />

-10º<br />

-15º<br />

-40º -35º -30º -25º<br />

72<br />

Freq. %<br />

100<br />

50<br />

0<br />

Fernando de Noronha<br />

1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 0 11 12<br />

Abril Se tembro<br />

Figura 4.11– Posição final das larvas após os 365 dias de transporte. As larvas<br />

posicionadas dentro da área em destaque (azul) foram consideradas<br />

viáveis para recrutar os estoques adultos. A estrela indica o ponto de<br />

desova (início das simulações). O gráfico de barras apresenta os estágios<br />

de desenvolvimento que as larvas se encontravam ao final do<br />

experimento.


4.3.5 Arquipélago de São Pedro e São Paulo<br />

As simulações realizadas a partir do Arquipélago de São Pedro e São Paulo (ASPSP)<br />

obtiveram resultados semelhantes aos obtidos para Fernando de Noronha, devido à<br />

proximidade geográfica. Porém, as pseudolarvas sofreram influência direta do ramo<br />

equatorial da CSE e posteriormente foram conduzidas pela CNB no litoral setentrional<br />

do Nordeste.<br />

latitude<br />

15 o 15 N<br />

o N<br />

5 o 5 N<br />

o N<br />

5 o 5 S<br />

o S<br />

45<br />

longitude<br />

o W 35 o W 25 o W 15 o W 5 o W 5 o E 15 o 15<br />

E<br />

o S<br />

45<br />

longitude<br />

o W 35 o W 25 o W 15 o W 5 o W 5 o E 15 o 15<br />

E<br />

o S<br />

15 o 15 N<br />

o N<br />

5 o 5 N<br />

o N<br />

5 o 5 S<br />

o S<br />

73<br />

Abril<br />

Setembro<br />

45 o W 35 o W 25 o W 15 o W 5 o W 5 o E 15 o 15<br />

E<br />

o S<br />

45 o W 35 o W 25 o W 15 o W 5 o W 5 o E 15 o 15<br />

E<br />

o S<br />

Figura 4.12 – Trajetórias percorridas pelas larvas lançadas em São Pedro e São Paulo<br />

ao longo dos 365 dias.


A Figura 4.13 mostra que 97,84% das larvas desovadas em abril que se encontravam<br />

dentro da área viável, estavam nos estágios avançados de desenvolvimento (IX, X, XI e<br />

XII). Em setembro, 100% das larvas encontravam-se no estágio XII de<br />

desenvolvimento.<br />

5º<br />

0º<br />

-5º<br />

-10º<br />

-15º<br />

-40º -35º -30º -25º<br />

74<br />

Freq. %<br />

100<br />

<strong>80</strong><br />

60<br />

40<br />

20<br />

0<br />

Arquipélago São Pedro e São Paulo<br />

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12<br />

Abril Setembro<br />

Figura 4.13 – Posição final das larvas após os 365 dias de transporte. As larvas<br />

posicionadas dentro da área em destaque (azul) foram consideradas<br />

viáveis para recrutar os estoques adultos. A estrela indica o ponto de<br />

desova (início das simulações). O gráfico de barras apresenta os<br />

estágios de desenvolvimento que as larvas se encontravam ao final do<br />

experimento.


4.3.6 Atol das Rocas<br />

As simulações realizadas a partir do Atol das Rocas, bem como às realizadas partindo<br />

de Fernando de Noronha e São Pedro e São Paulo demonstraram que todas as 5000<br />

larvas são viáveis para recompor os estoques presentes principalmente no Nordeste<br />

Setentrional brasileiro.<br />

Na Figura 4.14 percebe-se que, em setembro, as trajetórias das larvas avançam na<br />

direção nordeste e só depois retornam em direção à costa do Brasil, sendo transportados<br />

pela CNB, com forte influência do braço equatorial da CSE.<br />

75


latitude<br />

latitude<br />

15 o 15 N<br />

o N<br />

5 o 5 N<br />

o N<br />

5 o 5 S<br />

o S<br />

45<br />

longitude<br />

o W 35 o W 25 o W 15 o W 5 o W 5 o E 15 o 15<br />

E<br />

o S<br />

45<br />

longitude<br />

o W 35 o W 25 o W 15 o W 5 o W 5 o E 15 o 15<br />

E<br />

o S<br />

15 o 15 N<br />

o N<br />

5 o 5 N<br />

o N<br />

5 o 5 S<br />

o S<br />

76<br />

Abril<br />

Setembro<br />

45<br />

longitude<br />

o W 35 o W 25 o W 15 o W 5 o W 5 o E 15 o 15<br />

E<br />

o S<br />

45<br />

longitude<br />

o W 35 o W 25 o W 15 o W 5 o W 5 o E 15 o 15<br />

E<br />

o S<br />

Figura 4.14 – Trajetórias percorridas pelas larvas lançadas no Atol das Rocas ao longo<br />

dos 365 dias.<br />

Esta pequena diferença no início das simulações permite o desenvolvimento das larvas<br />

até o seu último estágio (XII), o que não acontece na simulação iniciada em abril, onde<br />

as larvas foram distribuídas em diferentes estágios com predominância do estágio X<br />

(67,32%) (Figura 4.15).


5º<br />

0º<br />

-5º<br />

-10º<br />

-15º<br />

-40º -35º -30º -25º<br />

77<br />

Freq. %<br />

100<br />

50<br />

0<br />

Atol das Rocas<br />

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12<br />

Abril Setembro<br />

Figura 4.15 – Posição final das larvas após os 365 dias de transporte. As larvas<br />

posicionadas dentro da área em destaque (azul) foram consideradas<br />

viáveis para recrutar os estoques adultos. A estrela indica o ponto de<br />

desova (início das simulações). O gráfico de barras apresenta os<br />

estágios de desenvolvimento que as larvas se encontravam ao final do<br />

experimento.<br />

4.3.7 Avaliação geral das simulações<br />

Ao final das simulações foi possível inferir que não existe um padrão definido para a<br />

dispersão das larvas. É provável que os indivíduos busquem, de alguma forma, as<br />

melhores condições para realizar o recrutamento. Chiswell e Booth (1999), descobriram<br />

que larvas de lagosta da espécie Jasus edwardsii na costa da Nova Zelândia apresentam


comportamentos diferentes, induzidos pelas mudanças das variáveis físicas. A estratégia<br />

de dispersão da população ao norte difere da encontrada ao sul da ilha. Ao norte da ilha<br />

as larvas são mantidas por vórtices e meandros durante o desenvolvimento larval e ao<br />

sul ainda são totalmente conhecidos os processos que determinam a permanência da<br />

população, porém há evidências de que as larvas sejam oriundas da costa da Austrália.<br />

Os dois pontos escolhidos para iniciar as simulações na costa da África são áreas de<br />

ocorrência registrada dos indivíduos adultos e suscitaram a hipótese de que as<br />

populações ocorrentes no Brasil apresentariam alguma conectividade com estas<br />

populações da África (Freire, 2000; Góes, et al. 2004). Porém, de acordo com as<br />

simulações, utilizando dados de correntes geostrófica obtidos por satélites, podemos<br />

concluir que há uma probabilidade extremamente baixa de existir um fluxo contínuo<br />

entre estes estoques, uma vez que as larvas simuladas ficam retidas na porção leste do<br />

Atlântico. Este argumento não exclui a possibilidade de um fluxo esporádico de larvas<br />

que, através de outros mecanismos, consiga de alguma forma conectar as populações<br />

dos dois continentes.<br />

As simulações realizadas a partir da Ilha de Ascensão corroboram a idéia de que estas<br />

pequenas ilhas no meio do Atlântico servem como trampolins ecológicos (stepping-<br />

stones) para as mais diversas espécies de peixes e invertebrados, principalmente aqueles<br />

que possuem uma fase larval pelágica e planctônica (Rosewater, 1975; Edwards e<br />

Lubbock, 1983; Leite, 2002)<br />

A partir das simulações realizadas nas ilhas oceânicas da costa do Brasil (Fernando de<br />

Noronha, ASPSP e Atol das Rocas) pode-se constatar que as larvas permanecem em<br />

áreas próximas à costa não se distanciando muito além da Plataforma Continental, desta<br />

forma as pós-larvas conseguiriam nadar em direção às zonas de recrutamento. É<br />

provável que as ilhas oceânicas sejam a principal área-fonte para reposição dos estoques<br />

presentes na Plataforma Continental e bancos submersos do Nordeste Setentrional<br />

brasileiro. Esta região é a que apresenta maior produtividade na pesca da lagosta, devido<br />

à presença de um substrato formado por algas calcárias e a maior largura da Plataforma<br />

Continental, que oferecem condições propícias para sobrevivência dos indivíduos<br />

adultos (Fonteles-Filho, 2005).<br />

78


Pesquisas com outras espécies de lagostas: P. marginatus no Arquipélago do Havaí<br />

(Polovina et al. 1999), P.argus nas Bahamas (Lipcius, et al. 1997), P. cygnus, (Griffin<br />

et al., 2001) Jasus edwardsii e Sagmariasus verreauxi na costa da Austrália; (Chiswell,<br />

et al., 2003) mostraram que o transporte pelas correntes é bastante importante para a<br />

distribuição espacial das larvas. Porém, deve-se lembrar que nem sempre a abundância<br />

de larvas próximas a locais onde ocorrem as populações adultas é suficiente para um<br />

bom recrutamento (Palmer et al., 1996) e que outros fatores como habitat e predadores<br />

podem ser importantes (Polovina et al. 1999).<br />

As simulações iniciadas nos dois períodos distintos (abril e setembro) foram<br />

importantes para observar a influência da sazonalidade na dispersão das larvas. Esta<br />

sazonalidade age, principalmente, na distribuição espacial dos estágios de<br />

desenvolvimento. Particularmente, as larvas desovadas em abril nas ilhas oceânicas do<br />

Brasil chegaram à fronteira da área de estudo (45ºW) com aproximadamente 10 meses,<br />

ou seja, ainda teriam mais dois meses para serem transportadas para locais mais ao<br />

norte, podendo repor os estoques daquela região.<br />

Com relação ao recrutamento, é notória a grande capacidade de migração horizontal do<br />

puerulus e até mesmo dos estágios finais das phyllosomas. Todavia, Chiswell et al.<br />

(2003) citam que ainda não são conhecidos os mecanismos empregados, ou mesmo se<br />

há uma programação genética intrínseca que promova esta natação em busca de locais<br />

adequados para o assentamento. Chiswell e Booth (1999) sugerem que outros<br />

mecanismos além da advecção induzem o transporte dos puerulus e dos estágios larvais<br />

avançados de desenvolvimento em direção à costa. Na costa nordeste do Brasil, os<br />

ventos estão sob forte influência da Zona de Convergência Intertropical (ITCZ). Apesar<br />

da alta correlação encontrada entre a componente zonal do transporte geostrófico e a<br />

componente zonal das velocidades obtidas pelas bóias de deriva, sugere-se que seja<br />

investigada a influência do transporte de Ekman na dispersão das larvas em um trabalho<br />

futuro.<br />

79


CAPÍTULO 5<br />

CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

De acordo com os resultados apresentados neste estudo, observa-se a adequação do uso<br />

de dados de corrente geostrófica derivados de satélites altímetros para analisar a<br />

dispersão de larvas de lagostas. A altimetria também pode prover uma informação útil<br />

acerca da dinâmica física para estudos sobre recrutamento. A abordagem empregada<br />

neste estudo pode ser adaptada e utilizada para outros recursos biológicos.<br />

Com relação às simulações de transporte de larvas, uma resposta completa para a nossa<br />

hipótese de que “os estoques de lagostas que ocorrem na costa da África suprem,<br />

através da dispersão de larvas, os estoques do Brasil”, vai além do escopo deste<br />

trabalho, uma vez que esta questão depende de outros parâmetros, como abundância das<br />

populações de cada local e taxas de mortalidade biológica.<br />

No entanto, baseado nas simulações é possível inferir que o sistema de correntes<br />

presentes na área e o tempo necessário para o desenvolvimento larval não são<br />

suficientes para permitir o fluxo transatlântico, refutando a hipótese de que exista uma<br />

interdependência entre os estoques. Porém não invalida a possibilidade de que um fluxo<br />

genético esporádico seja mantido por outros mecanismos de dispersão. Conclui-se então<br />

que, devido à circulação de meso-escala, as larvas desovadas na costa da África são<br />

retidas no entorno do local da desova e recompõe seus próprios estoques.<br />

Com base nestes experimentos foi possível reiterar a importância das ilhas no meio do<br />

Atlântico, como Ascensão, que podem servir como trampolins ecológicos (stepping<br />

stones) para as diversas populações da África e América. As ilhas sustentariam a<br />

conexão anfiatlântica e manteriam o fluxo genético entre esses continentes.<br />

Estudos de biologia molecular são recomendados para uma elucidação destas questões,<br />

permitindo identificar o grau de parentesco entre os estoques, pois apesar da modelagem<br />

fornecer um cenário semelhante ao natural, existem parâmetros biológicos não<br />

contemplados no modelo que irão definir a viabilidade deste transporte.<br />

81


Outro ponto importante a ser considerado é o hábito planctotrófico das larvas, que<br />

necessita de alimento disponível durante todo o percurso de dispersão para suprir as<br />

necessidades mínimas de ingestão. Uma ferramenta importante para definição destes<br />

padrões é a coleta de dados sobre produtividade primária e clorofila in situ, ou uma<br />

estimativa sinóptica destes parâmetros que pode ser obtida a partir de sensores ópticos<br />

orbitais desenvolvidos para este fim.<br />

Em termos gerais, este estudo é uma contribuição para o entendimento da dispersão<br />

larval de lagostas que ainda é incipiente no nosso país. Os resultados apresentados<br />

devem ser considerados como primeira tentativa, no Brasil, de se modelar os processos<br />

de dispersão larval transatlântica, integrando a biologia das lagostas e a dinâmica física<br />

do oceano Atlântico. Estes resultados podem servir de subsídio para futuras discussões<br />

sobre o assunto e auxiliando na execução de trabalhos futuros. Como estudo pioneiro<br />

foram encontrados resultados interessantes, mas esses devem ser investigados com<br />

maior rigor, levando-se em consideração outros parâmetros biológicos e abióticos que<br />

influenciam no processo de dispersão larval, assentamento e recrutamento das lagostas.<br />

Por fim, podemos afirmar que, apesar de suas limitações, o modelo advectivo-difusivo<br />

implementado é relevante devido a sua simplicidade, facilidade de manipulação e<br />

possibilidade de incorporação de outras variáveis, além de fácil adaptação para<br />

simulação de outros recursos biológicos.<br />

O modelo implementado neste estudo necessita de refinamentos que capacitem a<br />

entrada de parâmetros importantes como, por exemplo, a mortalidade das larvas e a<br />

influência do vento no seu transporte. Isso melhoraria as previsões sobre o percentual de<br />

indivíduos viáveis que podem recompor os estoques adultos.<br />

Também devem ser testados outros modelos mais robustos como, por exemplo, os<br />

baseados no indivíduo (individual based model - IBMs). Griffin et al. (2001),<br />

incorporaram a este tipo de modelo mais de 20 parâmetros importantes para o transporte<br />

de larvas de lagostas, dentre eles a migração vertical, mortalidade e influência do vento.<br />

Além disso, sugere-se a utilização de outros tipos de dados de entrada (i.e. dados<br />

Lagrangeanos e dados de saída de modelos numéricos), que possibilitem a análise de<br />

82


padrões de meso e pequena escala, analisando principalmente os efeitos da circulação<br />

sobre a plataforma continental.<br />

83


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91


APÊNDICE A<br />

COEFICIENTE DE DIFUSIVIDADE TURBULENTA<br />

Tabela A1: Coeficiente de difusividade turbulenta (zonal e meridional) em cm 2 /s. A<br />

localização das áreas encontra-se na Figura 3.6.<br />

Área Latitude Longitude Zonal (kx) Meridional (ky)<br />

area1 2ºN-4ºN 2ºE-4ºE 2,53E+07 2,48E+07<br />

area2 2ºN-4ºN 1ºW-1ºE 5,45E+07 2,14E+07<br />

area3 2ºN-4ºN 4ºW-2ºW 7,45E+07 2,69E+07<br />

area4 2ºN-4ºN 7ºW-5ºW 6,85E+07 1,71E+07<br />

area5 2ºN-4ºN 10ºW-8ºW 2,92E+07 1,69E+07<br />

area6 14ºS-12ºS 10ºW-8ºW 9,87E+06 5,41E+06<br />

area7 14ºS-12ºS 13ºW-11ºW 1,12E+07 7,05E+06<br />

area8 11ºS-9ºS 10ºW-8ºW 1,35E+07 9,02E+06<br />

area9 11ºS-9ºS 13ºW-11ºW 1,38E+07 1,10E+07<br />

area10 14ºS-12ºS 34ºW-32ºW 9,99E+06 1,03E+07<br />

area11 14ºS-12ºS 37ºW-35ºW 2,12E+07 1,20E+07<br />

area12 11ºS-9ºS 34ºW-32ºW 2,03E+07 1,33E+07<br />

area13 11ºS-9ºS 31ºW-29ºW 2,24E+07 1,48E+07<br />

area14 8ºS-6ºS 28ºW-26ºW 1,95E+07 1,39E+07<br />

area15 8ºS-6ºS 31ºW-29ºW 2,02E+07 1,75E+07<br />

area16 8ºS-6ºS 34ºW-32ºW 3,16E+07 2,08E+07<br />

area17 5ºS-3ºS 28ºW-26ºW 3,10E+07 1,85E+07<br />

area18 5ºS-3ºS 31ºW-29ºW 3,01E+07 1,55E+07<br />

area19 5ºS-3ºS 34ºW-32ºW 3,53E+07 1,<strong>80</strong>E+07<br />

area20 4ºS-2ºS 37ºW-35ºW 3,75E+07 2,07E+07<br />

area21 2ºS-0ºS 40ºW-38ºW 9,12E+07 4,09E+07<br />

area22 2ºS-0ºS 43ºW-41ºW 1,15E+08 4,48E+07<br />

area23 5ºN-7ºN 38ºW-36ºW 1,15E+08 3,50E+07<br />

area24 5ºN-7ºN 41ºW-39ºW 1,36E+08 5,25E+07<br />

area25 5ºN-7ºN 44ºW-42ºW 1,02E+08 5,07E+07<br />

area26 8ºN-10ºN 38ºW-36ºW 2,67E+07 1,75E+07<br />

area27 8ºN-10ºN 41ºW-39ºW 3,17E+07 2,73E+07<br />

area28 8ºN-10ºN 44ºW-42ºW 4,34E+07 2,61E+07<br />

area29 5ºN-7ºN 20ºW-18ºW 4,20E+07 2,29E+07<br />

area30 5ºN-7ºN 23ºW-21ºW 3,62E+07 3,12E+07<br />

area31 8ºN-10ºN 20ºW-18ºW 1,76E+07 1,33E+07<br />

area32 8ºN-10ºN 23ºW-21ºW 2,51E+07 1,68E+07<br />

area33 14ºN-16ºN 44ºW-42ºW 9,66E+06 5,59E+06<br />

area34 17ºN-19ºN 41ºW-39ºW 9,73E+06 9,44E+06<br />

area35 17ºN-19ºN 44ºW-42ºW 7,94E+06 7,71E+06<br />

Média 3,97E+07 2,05E+07<br />

93

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