Círio de Nazaré - Universidade Federal da Bahia
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Ortiz (1988), comentando <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> pioneiros <strong>da</strong> TV brasileira,<br />
mostra que a iniciativa individual é fun<strong>da</strong>mental nessa fase, é parte integrante<br />
<strong>da</strong>s estruturas que funcionam mal, a improvisação é uma exigência <strong>da</strong> época e<br />
possui, para além <strong>da</strong> luta contra dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s materiais, econômicas ou<br />
técnicas, a dimensão <strong>da</strong> criativi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Como já havia acontecido com o rádio, as<br />
pessoas que faziam TV aprendiam a construir a linguagem do novo meio na<br />
prática. As dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s, pelos <strong>de</strong>poimentos coletados neste trabalho, também<br />
parecem ter sido o cimento <strong>de</strong> relações que ultrapassavam o acúmulo <strong>de</strong><br />
trabalho, a remuneração, e as condições materiais.<br />
A característica <strong>de</strong> trabalho em equipe certamente se conserva na TV,<br />
até porque não existe outro meio <strong>de</strong> chegar a bons resultados, seja no<br />
telejornalismo, seja nos <strong>de</strong>mais setores <strong>de</strong> produção. Mas a evolução <strong>da</strong><br />
técnica, especialmente o advento do vi<strong>de</strong>oteipe, com sua frieza e capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
tecnológica (Ortiz, 1988:100-101) introduziria uma <strong>de</strong>formação do real, que em<br />
princípio seria <strong>de</strong>scrito na sua essência quando trabalhado ´ao vivo´, na sua<br />
espontanei<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Ortiz frisa que faz pouco sentido buscar-se a explicação <strong>da</strong><br />
impessoali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s relações entre os homens no tipo <strong>de</strong> tecnologia usa<strong>da</strong>,<br />
mas constata, a partir <strong>de</strong> relatos <strong>de</strong> profissionais que viveram a transição do ao<br />
vivo para o vi<strong>de</strong>oteipe, a transformação <strong>da</strong> forma <strong>de</strong> se relacionar com a<br />
produção cultural:<br />
O espaço <strong>da</strong> criativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, que em última instância <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong> precarie<strong>da</strong><strong>de</strong> do<br />
momento, é substituído por novas exigências que, como veremos, são agora atributos<br />
<strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> industrial que <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> lado a sua incipiência. (Ortiz, 1988:101)<br />
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