Círio de Nazaré - Universidade Federal da Bahia

elação da festa com os fins superiores da existência humana (do mundo dos
ideais), a ressurreição e a renovação.
Como analisa o autor, a festa popular era, na Idade Média, a forma que
o povo encontrava de, temporariamente, penetrar na utopia de liberdade,
igualdade e abundância, rompendo com a desigualdade consagrada na festa
oficial, onde a hierarquia persistia. A percepção carnavalesca do mundo, na
visão de Bakhtin, permite a experiência de um autêntico humanismo, no qual o
indivíduo parecia dotado de uma segunda vida que lhe permitia estabelecer
relações novas, verdadeiramente humanas, com os seus semelhantes.
A partir dos anos 80 do século XX, a corda tem sido acusada como fator
de atraso da romaria, e inclusive de impedir o deslocamento da berlinda. A
Igreja desencoraja o extremo sacrifício físico e recomenda promessas que não
envolvam tanto desgaste para os fiéis. Padre Francisco Silva, pároco de
Nazaré e presidente da diretoria da Festa, mesmo afirmando que a Igreja não
pretende acabar com a corda, disse, em entrevista à revista Troppo
(Neto,1999:16-21)), que o esforço que se faz ali é, muitas vezes, sobre-
humano. E a Igreja não quer que seus fiéis se machuquem. Temos que ter
sensibilidade com os que se exaurem na corda. Ele afirma, ainda, que os
promesseiros vão entender que a corda, devido à quantidade exagerada de
pagadores de promessas, um dia vai perder sua finalidade. A corda é do povo
e a ele cabe a decisão.
No ano de 2001, o novo coordenador do Círio, João Maroja (2001:6),
com base na observação e cronometragem realizadas pela diretoria da Festa
durante o Círio de 2000, absolve a corda das acusações, apontando, em
entrevista ao jornal O Liberal, um novo fator para a lentidão da romaria:
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