Círio de Nazaré - Universidade Federal da Bahia

A corda dos promesseiros surgiu por acaso e em data incerta 16 . Sua
primeira função foi utilitária: a berlinda, espécie de pequeno coche envidraçado
onde é conduzida a imagem, substituíra o carro primitivo, mas ainda era
puxada por bois. Vencer o trecho do Ver-o-Peso 17 , inundado pela enchente da
baía de Guajará, era sempre um problema, naquele ano resolvido com a idéia
de envolver a berlinda numa grande corda, puxada pelo povo, no lugar dos
bois, transpondo-se mais facilmente o atoleiro. A corda, contribuição
genuinamente popular à romaria, só foi oficializada pela diretoria da festa em
1868, numa reforma da romaria que incluiu a retirada definitiva dos bois e
também a restrição a cavaleiros, carros e foguetes.
As medidas agradaram ao povo, mas desagradaram aos que viram
nelas um empobrecimento do cortejo. Noticiário de O Diário do Gram-Pará de
12 de outubro daquele ano (apud Rocque, 1981:46-47), defendeu a nova feição
da romaria, criticando os dandis da moda, esforçando-se para agradar pela
elegância as beldades que costumavam exibir-se no Círio.
A Figura 2 mostra o Círio a partir do atrelamento da corda à berlinda.
Mas o que a figura retrata é, na verdade, um posicionamento que só se verifica
nessa representação ideal, porque o volume de acompanhantes da romaria
subverte o desenho ordenado. No esquema apresentado, a cabeça do Círio
está mais ou menos na metade da avenida Presidente Vargas, quando a
berlinda ainda se encontra no início do Boulevard. O que acontece, a partir dos
anos 90, quando o Círio registra enorme crescimento, é que o início da
procissão chega ao ponto final com até quatro horas de antecedência da
16 Rocque (1981) dá como marco do uso da corda o ano de 1855.
28