Círio de Nazaré - Universidade Federal da Bahia

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20.04.2013 Views

séculos XVII e XVIII. O governador Souza Coutinho inaugurou o costume de levar um grande círio aceso, importado de Portugal. Até hoje, devotos levam velas acesas na Trasladação e, na romaria do domingo, carregam círios, que raramente acendem, entregando-os nos carros de promessas ou na igreja, ao final da romaria. Em 1803 a romaria ganhou o primeiro carro, alegórico ao milagre de dom Fuas Roupinho, nobre português que dera grande impulso à devoção nazarena em Portugal, ao ser salvo, por intercessão da Virgem, de cair num penhasco quando perseguia um veado, que seria o demônio, atraindo-o para a morte. Esse episódio é uma espécie de milagre fundador na crônica dos milagres da Virgem de Nazaré e sua alegoria foi introduzida por ordem da rainha de Portugal, d. Maria I, para lembrar a origem lusitana do culto que se desenvolvia na colônia. O Carro dos Milagres, como é chamado, sai às ruas até hoje. Em 1826, aconteceu outra intervenção oficial na romaria. O presidente da província determinou que um carro, imitando um castelo com bandeiras de nações católicas, abrisse o Círio, soltando fogos de artifício, para anunciar a aproximação do cortejo e guiar os que conduziam a berlinda, quanto à posição do início da romaria ou cabeça do Círio. Esse carro, puxado por bois, substituiu os clarins marciais. Foi suprimido em 1983, por razões de segurança. O Círio de 1855, ano de uma grande epidemia de cólera em Belém, trouxe o hoje desaparecido anjo Custódio, a filha de um vice-presidente que poder central, num genocídio que deixou 30 mil mortos. É rara e escassamente mencionada nos livros de História do Brasil. 26

pagava promessa montada em um cavalo branco, ladeada por dois cavaleiros vestidos à romana. A nota marinha, reflexo remoto da influência lusitana, segundo Moreira (1971) 15 , surgiu também naquele ano, quando o escaler de um brigue português, o São João Batista, no qual se salvaram 12 náufragos na rota de Belém a Lisboa, nove anos antes, é conduzido na romaria. Esse escaler transportara a imagem da Santa para o navio, quando foi a Portugal para ser encarnada. Os náufragos prometeram carregá-lo na romaria, mas, por proibição das autoridades civis, militares e eclesiásticas, limitaram-se a depositá-lo na ermida. Para o povo, a epidemia de cólera foi um castigo pelo voto não cumprido. Por ordem do novo presidente da província, o bote foi incorporado à procissão, com 12 crianças vestidas de marinheiros a bordo e depois substituído por uma miniatura do brigue. Desse escaler originou-se a marujada, filas de homens vestidos de marinheiros, que conduziam canoas como a "Arara", "Chiquinha", "Esperança" e outras, cheias de crianças, deslocando-se ao apito de um "chefe", gingando como se estivessem no mar. A marujada desapareceu em 1926, no segundo grande conflito do Círio, mas permanece na procissão o costume das barcas, que hoje são cinco, conduzem crianças vestidas de anjo e recolhem ex- votos. Crianças assim caracterizadas seguem também no Carro dos Anjos, alegoria criada especialmente para elas, mas os “anjinhos” são incontáveis em toda a romaria, geralmente bem pequenos, até de colo. 15 Nossa Senhora de Nazaré é protetora dos homens do mar. Nazaré, em Portugal, centro irradiador do culto, é uma aldeia de pescadores. Esse aspecto da devoção se conservou na Amazônia, onde o rio é um caminho natural. 27

séculos XVII e XVIII. O governador Souza Coutinho inaugurou o costume <strong>de</strong><br />

levar um gran<strong>de</strong> círio aceso, importado <strong>de</strong> Portugal. Até hoje, <strong>de</strong>votos levam<br />

velas acesas na Trasla<strong>da</strong>ção e, na romaria do domingo, carregam círios, que<br />

raramente acen<strong>de</strong>m, entregando-os nos carros <strong>de</strong> promessas ou na igreja, ao<br />

final <strong>da</strong> romaria.<br />

Em 1803 a romaria ganhou o primeiro carro, alegórico ao milagre <strong>de</strong><br />

dom Fuas Roupinho, nobre português que <strong>de</strong>ra gran<strong>de</strong> impulso à <strong>de</strong>voção<br />

nazarena em Portugal, ao ser salvo, por intercessão <strong>da</strong> Virgem, <strong>de</strong> cair num<br />

penhasco quando perseguia um veado, que seria o <strong>de</strong>mônio, atraindo-o para a<br />

morte. Esse episódio é uma espécie <strong>de</strong> milagre fun<strong>da</strong>dor na crônica dos<br />

milagres <strong>da</strong> Virgem <strong>de</strong> <strong>Nazaré</strong> e sua alegoria foi introduzi<strong>da</strong> por or<strong>de</strong>m <strong>da</strong><br />

rainha <strong>de</strong> Portugal, d. Maria I, para lembrar a origem lusitana do culto que se<br />

<strong>de</strong>senvolvia na colônia. O Carro dos Milagres, como é chamado, sai às ruas<br />

até hoje.<br />

Em 1826, aconteceu outra intervenção oficial na romaria. O presi<strong>de</strong>nte<br />

<strong>da</strong> província <strong>de</strong>terminou que um carro, imitando um castelo com ban<strong>de</strong>iras <strong>de</strong><br />

nações católicas, abrisse o <strong>Círio</strong>, soltando fogos <strong>de</strong> artifício, para anunciar a<br />

aproximação do cortejo e guiar os que conduziam a berlin<strong>da</strong>, quanto à posição<br />

do início <strong>da</strong> romaria ou cabeça do <strong>Círio</strong>. Esse carro, puxado por bois, substituiu<br />

os clarins marciais. Foi suprimido em 1983, por razões <strong>de</strong> segurança.<br />

O <strong>Círio</strong> <strong>de</strong> 1855, ano <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> cólera em Belém,<br />

trouxe o hoje <strong>de</strong>saparecido anjo Custódio, a filha <strong>de</strong> um vice-presi<strong>de</strong>nte que<br />

po<strong>de</strong>r central, num genocídio que <strong>de</strong>ixou 30 mil mortos. É rara e escassamente menciona<strong>da</strong> nos<br />

livros <strong>de</strong> História do Brasil.<br />

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