Círio de Nazaré - Universidade Federal da Bahia

do governo. No dia seguinte, os guardas encontraram a sala vazia: a imagem
voltara ao igarapé, onde foi novamente achada, com marcas de orvalho e
carrapichos no manto, testemunhos da caminhada noturna através da floresta.
O governador, então, mandou erigir uma cabana no local. O próprio
Plácido ergueu sua casa ao lado, e a imagem passou a receber a veneração
popular, com romarias, ladainhas e novenas, doações de ex-votos e mesmo
bens materiais como as terras onde hoje está edificada a Basílica de Nazaré.
Quando Plácido morreu, a guarda da imagem e dos bens passou a seu amigo
Antônio Agostinho. Nessa época, a devoção estava solidificada em Belém. A
cidade passara pelo desespero de três grandes epidemias (varíola em 1728,
bexiga em 1745 e sarampo em 1749) e, sem assistência médica, corria a pedir
ajuda à Virgem das Pedras (Rocque, 1981).
A lenda em torno da origem da imagem encontrada por Plácido tem
similaridades com a construção de outras crenças religiosas no Brasil e no
exterior: o achado maravilhoso por uma pessoa humilde, a imagem fujona que
caminha na noite, os primeiros milagres divulgados pelo povo, as
conseqüentes romarias para o local de veneração, até que a Igreja e o Estado
oferecem seu referendo ao culto espontâneo que já reúne milhares de devotos.
Em Belém, o apoio do governo vem apenas complementar o caráter
popular da devoção que já existia. Moreira (1971) chama atenção para o
predomínio que logo teria o Círio, uma romaria de origem popular, sobre as
procissões e festas existentes à época, impostas pelas Ordenações do Reino e
custeadas pela Câmara, como as do Corpo de Deus, Santa Isabel e do Anjo
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