Círio de Nazaré - Universidade Federal da Bahia

salvíficos da Virgem de Nazaré, e uma das principais tarefas das equipes de
rua é levá-los para a frente das câmeras.
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A TV, que não participa da organização do evento, ressente-se
especialmente da inusitada situação de ter que abrir mão de seu ritmo,
caracterizado pela velocidade e pela novidade, para se adequar ao ritmo
próprio da esfera do ritual religioso.
No caso do Círio, a TV usa expedientes narrativos para tentar conviver
com o tempo da celebração, que não domina. A TV Liberal vive, no Círio, a
contradição de assumir, editorialmente, a defesa das tradições, principalmente
a corda, enquanto conta os segundos que a separam do deadline .
Esse mal estar se torna explícito no encerramento precipitado da
transmissão do Círio 2000, quando o discurso do narrador da transmissão
revela os compromissos da emissora com a programação nacional e admoesta
a diretoria quanto à duração da romaria, tentando fazer com que ela atente
para um problema que, a rigor, é de economia interna da TV.
Diversos autores apontam para o poder que a TV teria de impor sua
lógica aos espetáculos que vai registrando. O casamento do Príncipe Charles e
Lady Di, em 1981, tornou-se um paradigma de cerimônia formatada para a
televisão. Eco (1984:198-199) faz uma irônica leitura das bodas
televisionadas, onde o vestido da noiva foi criado para ser visto de cima e os
cavalos da realeza foram medicados para que seu esterco ficasse com uma cor
telegênica. Esse seria um exemplo extremo de evento "falso" no nascedouro,
em que nada podia ser confiado ao acaso, tudo era dominado pela transmissão
da tevê, na Londres produzida como um estúdio.