Círio de Nazaré - Universidade Federal da Bahia

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É um espetáculo a meio-termo entre o acontecimento midiático e a
cobertura jornalística. Enquadra-se nas principais características do primeiro,
conforme estabelecidas por Dayan e Katz (1999), mas, ao contrário do que
acontece em cerimônias citadas pelos autores, quando fatos que fogem ao
roteiro, como distúrbios, são noticiados apenas após encerrado o evento, o
jornalismo tem sido cada vez mais presente na transmissão do Círio,
quebrando o tom cerimonial. Isso pode ser encarado como uma forte
sinalização de que a TV tenta conduzir a representação do evento cada vez
mais no registro jornalístico, o que lhe permite maior autonomia pelo uso das
regras de seu próprio campo, e maior margem de controle de sua
representação do Círio, distanciando-se cada vez mais do evento de referência
para criar o que o diretor de Jornalismo da TV Liberal, Emanuel Villaça, chama
de TecnoCírio: espetáculo, informação e tecnologia em altas doses.
Nas fitas das transmissões e no relato da observação na TV verifica-se
que o Círio é enfocado sob critérios de noticiabilidade usados no telejornalismo,
mas permeados pela busca do espetacular. Existe um enquadramento padrão
do evento, no qual o sagrado sempre prevalece e o profano é praticamente
invisível. Entre os estereótipos liminarmente aceitos estão a fé, a emoção, a
gratidão, a conciliação e as tradições da festa.
Esses estereótipos são expressos pela multidão, em plano aberto, e
pelos promesseiros, no close e no big close. Ao lado do papel informativo,
entrevistando autoridades, membros da hierarquia da Igreja, organizadores e
pessoal da infra-estrutura do evento, a TV reserva lugar especial para a fala
dos promesseiros. Eles se destacam na multidão por comportamentos, trajes
ou objetos que os identificam como miraculados, testemunhos dos poderes