Círio de Nazaré - Universidade Federal da Bahia
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180 Mas assegurar a coerência narrativa à transmissão é tarefa do coordenador de jornalismo por excelência. Ele age e reage em função do acontecimento de referência. Tem seu estoque de soluções e interferências que lhe permitem interpretar, construindo um espetáculo televisual, sem perder de vista convenções como a da verossimilhança, o hábito do verossímil segundo a opinião corrente que, na opinião de Eco (1991:198), fundamenta o nexo mais fácil e imediato de se construir na velocidade da transmissão ao vivo: Justamente por estar em contato imediato com a vida como casualidade, a transmissão direta é induzida a dominá-la, recorrendo ao gênero de organização mais tradicionalmente esperável, o do tipo aristotélico, regido por aquelas leis de casualidade e necessidade que são, afinal, as leis da verossimilhança. (Eco, 1991: 195). Prossegue o autor: A interpretação de um fato que nos acontece e ao qual devemos responder imediatamente – ou que precisamos imediatamente descrever, transmitindo-o com a câmera de televisão – é um dos casos típicos em que as convenções usuais ainda resultam as mais apropriadas. (Eco, 1991: 199). Não existe nenhuma pesquisa qualitativa sobre a transmissão do Círio ou uma pesquisa de recepção com os telespectadores da TV Liberal, mas a intuição e a experiência dos realizadores e o retorno obtido da audiência por telefonemas e e-mail indicam que a audiência prefere uma interpretação do Círio organizada sobre parâmetros da narração tradicional. Nessa narração, a transmissão da TV prende-se principalmente aos aspectos religiosos e culturais do Círio, e, quando mostra um pouco da festa profana que se desenrola no entorno da romaria, essas “fugas” do tema central são prontamente contextualizadas como acontecimentos marginais pelo
epórter ou pelo narrador, restituindo-se assim a linha central de verossimilhança e cortando-se a possível estranheza provocada por flashes como o que mostra um casal dançando brega na calçada após a passagem da berlinda (ao vivo) e a jogatina na praça da República (pré-gravado). 181 O coordenador de jornalismo é senhor e refém do tempo. Ele determina o ritmo do Círio eletrônico, mas age em função das estimativas do Círio da rua. Aos olhos do público, é o narrador a voz da transmissão, que orquestra o coro de repórteres e personagens que se sucedem no vídeo, mas, na verdade, as participações, inclusive do próprio narrador, são regidas pelo coordenador. Ele não interfere tanto na escolha das imagens e nas tomadas do helicóptero, que são negociadas diretamente entre o supervisor e a diretora, mas dá a ordem de entrada inclusive dos comerciais da transmissão. O coordenador trabalha com o roteiro na mão, dosando as entradas em função do desenvolvimento da romaria. No etapa inicial, cheia de acontecimentos como o atrelamento da corda e as homenagens, poupa o material pré-gravado e as entradas de outros postos. A prioridade de flash é sempre para o repórter mais próximo da berlinda ou de algum fato relevante, mas nem sempre isso é possível, pois, além do eventual problema técnico, a multidão cria problemas operacionais. Isso ocorre em vários momentos, como na queda dos equipamentos do posto da Sé, quando o hino do Círio substituiu a entrada do repórter. Outro exemplo: olhando os monitores, a equipe do switch descobre uma famosa atriz de TV na multidão e aciona o repórter mais próximo, mas ela desaparece na romaria e ele faz o flash com uma senhora de 100 anos de idade, que aproveita para convidá-lo para o almoço do Círio.
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acontecimento <strong>de</strong> referência. Tem seu estoque <strong>de</strong> soluções e interferências<br />
que lhe permitem interpretar, construindo um espetáculo televisual, sem per<strong>de</strong>r<br />
<strong>de</strong> vista convenções como a <strong>da</strong> verossimilhança, o hábito do verossímil<br />
segundo a opinião corrente que, na opinião <strong>de</strong> Eco (1991:198), fun<strong>da</strong>menta o<br />
nexo mais fácil e imediato <strong>de</strong> se construir na veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> transmissão ao<br />
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mais tradicionalmente esperável, o do tipo aristotélico, regido por aquelas leis <strong>de</strong><br />
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Prossegue o autor:<br />
A interpretação <strong>de</strong> um fato que nos acontece e ao qual <strong>de</strong>vemos<br />
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transmitindo-o com a câmera <strong>de</strong> televisão – é um dos casos típicos em que as<br />
convenções usuais ain<strong>da</strong> resultam as mais apropria<strong>da</strong>s. (Eco, 1991: 199).<br />
Não existe nenhuma pesquisa qualitativa sobre a transmissão do <strong>Círio</strong><br />
ou uma pesquisa <strong>de</strong> recepção com os telespectadores <strong>da</strong> TV Liberal, mas a<br />
intuição e a experiência dos realizadores e o retorno obtido <strong>da</strong> audiência por<br />
telefonemas e e-mail indicam que a audiência prefere uma interpretação do<br />
<strong>Círio</strong> organiza<strong>da</strong> sobre parâmetros <strong>da</strong> narração tradicional.<br />
Nessa narração, a transmissão <strong>da</strong> TV pren<strong>de</strong>-se principalmente aos<br />
aspectos religiosos e culturais do <strong>Círio</strong>, e, quando mostra um pouco <strong>da</strong> festa<br />
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são prontamente contextualiza<strong>da</strong>s como acontecimentos marginais pelo