Círio de Nazaré - Universidade Federal da Bahia

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20.04.2013 Views

senhora, com os filhos, leva uma caixa de palmito da produção familiar, que estava ameaçada, para ofertar à Santa. Ações que são apropriadas e sintetizadas pelo narrador: Estes somos nós, esta é nossa fé. 146 As câmeras confirmam a grandiosidade dadaquele povo, com as imagens aéreas, que mostram um grande trecho do centro de Belém tomado pela romaria. O uso de imagens em primeiro plano aproxima o telespectador das pessoas em sacrifício - de joelhos na procissão - e o uso do slow torna mais dramáticas e emocionantes as imagens da corda. O tempo é, definitivamente, um tema recorrente na narrativa. Uma arte inserida periodicamente no vídeo marca o tempo de duração na romaria. O narrador tem o cuidado de não falar de “atraso”, mas lembra as sete horas do Círio anterior, ressalta a lentidão da romaria e, em vários momentos, vaticina que a diretoria deverá decidir pelo desligamento da corda da berlinda. Na sonorização da romaria, que a TV usa bastante, a organização do Círio faz insistentes apelos para que os fiéis não interrompam a caminhada, para que a procissão possa chegar mais rapidamente ao ponto final. A preocupação informativa é bem expressa pelo grande volume de entradas de repórteres. A primeira hora da transmissão é basicamente jornalística, com informações e entrevistas, inclusive sem a participação dos comentaristas. O tom jornalístico será predominante também na abordagem do confronto entre promesseiros da corda e policiais militares, quando os primeiros tentam, sem êxito, vencer a curva da Presidente Vargas. Nesse momento a solenidade do evento é cortada pelo conflito. As imagens mostram homens exaltados, à beira do confronto físico, pessoas pedindo calma, um empurra-empurra que provoca desmaios, inclusive de dois policiais militares, e

o narrador enfatiza que “a briga” é uma imagem rara no Círio. No meio do tumulto, os músicos da banda da Polícia Militar se retiram da procissão, protegendo os instrumentos, mas essa imagem não é destacada nem pelo narrador nem pelos comentaristas, que a essa altura já participam da transmissão, discutindo as dificuldades daquele ponto do percurso. 147 A tensão do conflito é quebrada pela beleza das imagens de uma queima de fogos e principalmente de uma chuva de papel picado, que parece envolver a berlinda numa insólita nevasca tropical. Logo após essas imagens, a câmera dá um corte para um rápido take de promesseiros que cortam pedaços da corda, mas o replay da chuva de papel picado proporciona a volta ao clima festivo. Esse clima não mais será quebrado, mesmo com a notícia de que a corda foi realmente desligada da berlinda, e com as imagens que a confirmam, mostrando a berlinda se distanciando dos promesseiros, que permanecem com a corda ainda assim. Também contribui para o tom festivo a leitura que o narrador faz de mensagens que chegam pela internet e pelo telefone, do Brasil e do exterior. Entre essas mensagens, algumas são de pessoas que pela primeira vez estão vendo o Círio, maravilhadas pela grandeza da procissão, mas a maioria delas vem de paraenses saudosos, que inclusive mandam recados afetuosos para parentes e amigos. Mais uma vez, a TV assume – e amplifica - uma função típica do rádio, e reproduz o tradicional mensageiro do interior da Amazônia. A quantidade de câmeras no percurso da procissão permite que a berlinda permaneça no vídeo até a chegada ao ponto final. Enquanto as câmeras do chão mostram o arcebispo abençoando os fiéis com a imagem da

o narrador enfatiza que “a briga” é uma imagem rara no <strong>Círio</strong>. No meio do<br />

tumulto, os músicos <strong>da</strong> ban<strong>da</strong> <strong>da</strong> Polícia Militar se retiram <strong>da</strong> procissão,<br />

protegendo os instrumentos, mas essa imagem não é <strong>de</strong>staca<strong>da</strong> nem pelo<br />

narrador nem pelos comentaristas, que a essa altura já participam <strong>da</strong><br />

transmissão, discutindo as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>quele ponto do percurso.<br />

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A tensão do conflito é quebra<strong>da</strong> pela beleza <strong>da</strong>s imagens <strong>de</strong> uma<br />

queima <strong>de</strong> fogos e principalmente <strong>de</strong> uma chuva <strong>de</strong> papel picado, que parece<br />

envolver a berlin<strong>da</strong> numa insólita nevasca tropical. Logo após essas imagens, a<br />

câmera dá um corte para um rápido take <strong>de</strong> promesseiros que cortam pe<strong>da</strong>ços<br />

<strong>da</strong> cor<strong>da</strong>, mas o replay <strong>da</strong> chuva <strong>de</strong> papel picado proporciona a volta ao clima<br />

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Esse clima não mais será quebrado, mesmo com a notícia <strong>de</strong> que a<br />

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mostrando a berlin<strong>da</strong> se distanciando dos promesseiros, que permanecem com<br />

a cor<strong>da</strong> ain<strong>da</strong> assim. Também contribui para o tom festivo a leitura que o<br />

narrador faz <strong>de</strong> mensagens que chegam pela internet e pelo telefone, do Brasil<br />

e do exterior. Entre essas mensagens, algumas são <strong>de</strong> pessoas que pela<br />

primeira vez estão vendo o <strong>Círio</strong>, maravilha<strong>da</strong>s pela gran<strong>de</strong>za <strong>da</strong> procissão,<br />

mas a maioria <strong>de</strong>las vem <strong>de</strong> paraenses saudosos, que inclusive man<strong>da</strong>m<br />

recados afetuosos para parentes e amigos. Mais uma vez, a TV assume – e<br />

amplifica - uma função típica do rádio, e reproduz o tradicional mensageiro do<br />

interior <strong>da</strong> Amazônia.<br />

A quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> câmeras no percurso <strong>da</strong> procissão permite que a<br />

berlin<strong>da</strong> permaneça no ví<strong>de</strong>o até a chega<strong>da</strong> ao ponto final. Enquanto as<br />

câmeras do chão mostram o arcebispo abençoando os fiéis com a imagem <strong>da</strong>

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