Círio de Nazaré - Universidade Federal da Bahia
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O <strong>de</strong>sligamento <strong>da</strong> berlin<strong>da</strong> fará com que a cor<strong>da</strong> domine o ví<strong>de</strong>o e a<br />
fala dos comentaristas. Todos eles criticam duramente a <strong>de</strong>cisão <strong>da</strong> diretoria<br />
<strong>da</strong> Festa, especialmente o padre Ribeaux, que está <strong>de</strong> volta à transmissão e<br />
classifica o <strong>de</strong>sligamento como um crime e uma blasfêmia. O narrador repete<br />
que se está fugindo completamente às tradições do <strong>Círio</strong> e os comentaristas<br />
cobram respeito à manifestação <strong>de</strong> religiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> popular. Durante os<br />
comentários, a câmera captura um exemplo <strong>de</strong>ssa manifestação: o pescador<br />
Raimundo Santos, que faz sua entra<strong>da</strong> no <strong>Círio</strong> com a promessa mais<br />
inusita<strong>da</strong> registra<strong>da</strong> até então – acompanha a romaria usando uma longa<br />
túnica on<strong>de</strong> estão presos cem caranguejos vivos, que se movem enquanto ele<br />
dá entrevista à TV, contando que é <strong>de</strong> São Caetano <strong>de</strong> Odivelas, município<br />
paraense on<strong>de</strong> a coleta <strong>de</strong> caranguejos é uma <strong>da</strong>s principais fontes <strong>de</strong> ren<strong>da</strong>, e<br />
quase per<strong>de</strong>u um filho. A imagem corre o país, pelas re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> TV.<br />
Em conseqüência do <strong>de</strong>sligamento <strong>da</strong> cor<strong>da</strong>, o tempo <strong>de</strong> duração <strong>da</strong><br />
romaria também passa a ser uma questão central nas discussões. Os<br />
comentaristas con<strong>de</strong>nam a tentativa <strong>de</strong> racionalizar o tempo <strong>da</strong> relação com o<br />
sagrado e <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m o <strong>Círio</strong> como caminha<strong>da</strong> e não corri<strong>da</strong>. As afirmações<br />
tornam-se mais interessantes pelo lugar <strong>de</strong> fala dos comentaristas, a TV, que<br />
racionaliza e “compartimentaliza” o tempo na gra<strong>de</strong> <strong>de</strong> programação. No ano<br />
seguinte, a emissora enfrentará o paradoxo <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r as tradições do <strong>Círio</strong>,<br />
sob a pressão do tempo <strong>de</strong> duração <strong>da</strong> romaria, que se tornará ca<strong>da</strong> vez mais<br />
difícil <strong>de</strong> conter nos limites <strong>de</strong>sejáveis para a operação em re<strong>de</strong>.<br />
A transmissão <strong>de</strong> 1996 é histórica, pela duração <strong>de</strong> sete horas e pela<br />
visibili<strong>da</strong><strong>de</strong>: via satélite, o <strong>Círio</strong> po<strong>de</strong> ser captado nas antenas parabólicas <strong>de</strong><br />
todo país e vizinhos, como Paraguai, Bolívia e Guiana Francesa. Há 20