Círio de Nazaré - Universidade Federal da Bahia
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exemplo da corda. Nessas intervenções – com exceção do padre, europeu– está presente o discurso de valorização da identidade: É impossível ser um Estado sem identidade cultural clara, diz um deles. 136 A corda proporciona as imagens mais fortes do final da transmissão. A câmera capta o momento em que os promesseiros encerram a penitência, separando-se da corda e correndo para o altar do CAN, onde o celebrante pede para todos os que nos acompanham aqui ao vivo, para aqueles que nos acompanham por rádio e TV em todo o Brasil, que ela abençoe a todos. Uma fala que traduz claramente a sintonia do padre com as novas configurações do mundo midiático contemporâneo, no qual as instituições mais tradicionais legitimam a televivência. Apesar da solenidade e quase unção de alguns momentos, no geral a transmissão consegue um tom de leveza que, em televisão, costuma ser o resultado visível de um duro trabalho de pré-produção e de bastidores. Há equilíbrio entre o cerimonial e o jornalístico, entre a reflexão e a informação. A experiência se tornará o paradigma dos próximos cinco anos, sofrendo poucas alterações mesmo com a mudança do narrador em 1993 e do diretor da transmissão, em 1994. destaque. Alguns eventos nas transmissões dos anos seguintes merecem Em 1992, 200 anos de Círio, a imagem que vai às ruas é a “verdadeira”, a encontrada por Plácido 50 . A transmissão começa com falhas de áudio (vazamento de comunicação interna no ar) mas se recupera com a carinhosa 50 Esta imagem não participava da procissão há 50 anos. A que é conduzida no Círio é uma réplica.
poesia que Manuel Bandeira dedicou a Belém. O tema das reflexões é a memória e os questionamentos vão ser feitos pelos mesmos comentaristas do ano anterior, salvo o padre, substituído por outro. O narrador comemora quase dois milhões de telespectadores – Belém mais 50 municípios – mas a transmissão foi reduzida para os quatro postos tradicionais: Sé, subida da Presidente Vargas, TV Liberal e praça-Santuário. O discurso identitário está ainda mais forte nesse ano, com a inclusão de músicas e poesias de autores paraenses que, a rigor, nada têm a ver com o Círio ou a fé, mas sim com o cotidiano da região. As músicas e orações do ano anterior se repetem. 137 Os repórteres procuram fugir do lugar comum e buscam até o exótico. Um deles encontra "Seu" João, que leva um burro, companheiro de trabalho, à romaria, e não pede pouco à Santa: Alumine os homens que estão lá em cima pra ver se não castigam muito os pobres, que a gente está sofrendo muito. Em 1993, a TV discute a fome e a fé. Pessoas conhecidas da cidade são chamadas a responder sobre esses temas e aparecem em VTs pré-gravados durante a transmissão. Há alguns acréscimos ao repertório de poesias e orações, mas a repetição sinaliza que esse recurso está perigosamente próximo do esgotamento. Em 1994, mais de cem municípios paraenses recebem as imagens. Na apresentação inicial dos repórteres, há muita informação sobre o que acontece na romaria e no entorno. Repetem-se as tradicionais entrevistas com os promesseiros e também as falhas de áudio. O repórter Paschoal Gemaque registra a preocupação da Igreja com a duração da romaria e conta que um padre interrompeu a comunhão na Sé para apressar a saída do Círio.
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Alguns eventos nas transmissões dos anos seguintes merecem<br />
Em 1992, 200 anos <strong>de</strong> <strong>Círio</strong>, a imagem que vai às ruas é a “ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira”,<br />
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