Círio de Nazaré - Universidade Federal da Bahia

autoridades militares e, por isso, a TV se eximia de comentá-las, embora tenha
aproveitado a oportunidade de mostrá-las 48 .
119
Após esse momento, o protesto some do vídeo. A crise entre a Igreja e o
Estado é recuperada no registro aparentemente casual de uma repórter que,
após mencionar a presença do governador (do PMDB, então partido de
oposição ao governo federal) e sua mulher, além de dois deputados federais
paraenses, diz que nenhuma autoridade federal participa do cortejo (o que
acontecia desde 1981). Outra repórter mostra o CAN tomado por 400 soldados
do Exército, explicando que a segurança é para evitar “tumultos” quando os
romeiros tentarem entrar na praça. O subliminar fazia parte, então, dos
manuais não escritos de jornalismo.
Neste ano, a transmissão sai do ar com freqüência, várias vezes os
repórteres não conseguem entrar quando acionados pelo narrador, ou entram
sem áudio. O VT sobre a berlinda é exibido mais uma vez, para cobrir um novo
“tempo morto” durante a transmissão. A julgar pelas que merecem destaque,
as promessas daquele ano não primam pelo insólito e um senhor que carrega
uma pequena imagem da Virgem ornada de flores acaba sendo entrevistado.
Passado o momento de saída da Catedral, a corda não tem mais grande
destaque nas imagens. As câmeras trabalham praticamente todo o tempo com
o plano aberto, e a multidão enche o vídeo, dando a dimensão da romaria. O
close é mais freqüente na câmera instalada na sede da TV, onde a
proximidade permite também as melhores imagens da berlinda. Essa câmera,
48 Por experiência, os jornalistas da época sabiam que poderiam explicar as imagens como um “acaso”
típico de transmissão ao vivo e do qual não conseguiram “livrar-se” cortando para outra câmera por
problemas técnicos, conforme entrevista de Waldemar Feitosa, que comandou essa transmissão, à
autora.