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Desdobramentos do projeto de nacionalização da literatura brasileira

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ISSN <strong>da</strong> publicação: ISSN 2175-6880 (Online)<br />

Anais <strong>do</strong> Evento 2010<br />

Volume 7<br />

Trabalhos apresenta<strong>do</strong>s no Grupo <strong>de</strong> Trabalho 07 - Pensamento Social e Relações<br />

Raciais no Brasil<br />

Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>res:<br />

Prof. Dr. Alexandro Dantas Trin<strong>da</strong><strong>de</strong> (UFPR)<br />

Profª Drª Simone Meucci (UFPR)<br />

Maria Izabel Macha<strong>do</strong><br />

Hilton Costa<br />

Ementa: Este Grupo <strong>de</strong> Trabalho visa <strong>de</strong>bater, numa perspectiva ampla, duas linhas <strong>de</strong><br />

investigação que, embora estejam interliga<strong>da</strong>s em inúmeras reflexões <strong>do</strong> pensamento sociológico<br />

brasileiro recente, possam vir a ser apresenta<strong>da</strong>s em suas respectivas especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s analíticas.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, esse GT visa <strong>de</strong>bater as ‘Interpretações <strong>do</strong> Brasil’ nas produções sociológica,<br />

literária, iconográfica, musical e cinematográfica, assim como as condições sociais <strong>de</strong> sua produção<br />

e circulação, abor<strong>da</strong>n<strong>do</strong> também a avaliação e a crítica <strong>do</strong> lega<strong>do</strong> colonial brasileiro, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong>-se,<br />

<strong>de</strong>ntre outros aspectos, a escravidão, a mestiçagem e o privatismo. Discute-se também as diferentes<br />

abor<strong>da</strong>gens <strong>do</strong> pensamento social brasileiro, tais como <strong>de</strong>terminismo e condicionamento racial e<br />

geográfico; cultura e diversi<strong>da</strong><strong>de</strong>; <strong>de</strong>sigual<strong>da</strong><strong>de</strong> social e dinâmica <strong>do</strong> capitalismo periférico. Sob<br />

esse prisma, pesquisas sobre trajetórias intelectuais, movimentos sociais, relações raciais,<br />

movimentos culturais e artísticos em perspectiva compara<strong>da</strong>, <strong>de</strong>ntre outras, compõem o escopo <strong>de</strong><br />

análises sobre o qual esse GT preten<strong>de</strong> ser uma amostra significativa <strong>da</strong>s contribuições presentes na<br />

sociologia no Brasil, implican<strong>do</strong>, por fim, no <strong>de</strong>bate sobre os efeitos <strong>da</strong>s interpretações nas políticas<br />

sociais e na produção cultural <strong>brasileira</strong> contemporânea.<br />

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DESDOBRAMENTOS DO PROJETO DE NACIONALIZAÇÃO DA LITERATURA<br />

RESUMO<br />

BRASILEIRA: A CONSTRUÇÃO DA TRADIÇÃO SIMBÓLICA DO IMPÉRIO<br />

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Marcio Luiz <strong>do</strong> Nascimento<br />

Neste trabalho, procurou-se efetivamente <strong>de</strong>senvolver a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que os românticos construíram um<br />

<strong>projeto</strong> político-literário. Este <strong>projeto</strong> teve <strong>de</strong>s<strong>do</strong>bramentos tanto estético-literários como político-<br />

históricos, pois fun<strong>da</strong>mentalmente tinha como proposta recuperar autores e obras literárias<br />

produzi<strong>da</strong>s <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o perío<strong>do</strong> colonial como nota<strong>da</strong>mente nacionais. O representou um marco na<br />

cultura <strong>brasileira</strong>, na medi<strong>da</strong> em que a<strong>de</strong>nsou o universo literário brasileiro e preservou a história<br />

literária e <strong>da</strong> intelligentsia nacionais, permitin<strong>do</strong>, posteriormente, aos letra<strong>do</strong>s nacionais elaborar a<br />

primeira história <strong>da</strong> <strong>literatura</strong> e <strong>do</strong>s intelectuais brasileiros. Meto<strong>do</strong>logicamente, seguiu-se por uma<br />

pesquisa que não dissociou textos literários <strong>do</strong> contexto sociopolítico <strong>do</strong> Brasil Império. O que<br />

resultou em ganhos analíticos em razão <strong>de</strong> li<strong>da</strong>rmos com textos literários, produzi<strong>do</strong>s por letra<strong>do</strong>s,<br />

cujo drama era equacionar a indissociabili<strong>da</strong><strong>de</strong> entre a vi<strong>da</strong> intelectual e a vi<strong>da</strong> política ou entre a<br />

ocupação <strong>de</strong> postos e cargos burocráticos estratégicos e a vi<strong>da</strong> intelectual. Dentre outros resulta<strong>do</strong>s,<br />

percebe-se que, enquanto intelectuais aproxima<strong>do</strong>s <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r político, os temas românticos<br />

ganharam na forja <strong>da</strong> Primeira Geração Romântica as suas feições políticas iniciais bem ao gosto <strong>do</strong><br />

Impera<strong>do</strong>r e <strong>do</strong>s grupos políticos dirigentes. As suas preferências políticas, associa<strong>da</strong>s às conquistas<br />

estético-literárias, foram <strong>de</strong>s<strong>do</strong>bra<strong>da</strong>s em temas indígenas e <strong>de</strong> exaltação <strong>do</strong>s heróis nacionais, assim<br />

como na busca <strong>da</strong> glorificação <strong>da</strong> natureza <strong>brasileira</strong>. Estes temas <strong>de</strong>s<strong>do</strong>bra<strong>do</strong>s constituíram-se nos<br />

elementos <strong>de</strong> continui<strong>da</strong><strong>de</strong> e originali<strong>da</strong><strong>de</strong> entre a <strong>literatura</strong> colonial e a <strong>literatura</strong> romântica, entre<br />

os símbolos literários e os símbolos políticos nacionais. Integrantes <strong>do</strong> establishment Imperial,<br />

percebe-se ao longo <strong>do</strong>s trabalhos <strong>do</strong>s letra<strong>do</strong>s <strong>da</strong> Primeira Geração Romântica, que as i<strong>de</strong>ias e as<br />

produções literárias estão inscritas na luta política e no trabalho <strong>de</strong> construção <strong>da</strong> tradição simbólica<br />

<strong>do</strong> Império.<br />

Palavras chave: primeira geração romântica, construção <strong>da</strong> tradição simbólica <strong>do</strong> Império, <strong>projeto</strong><br />

romântico <strong>de</strong> <strong>nacionalização</strong> <strong>da</strong>s letras, Invenção <strong>da</strong> tradição <strong>do</strong> Império<br />

3


DESDOBRAMENTOS DO PROJETO DE NACIONALIZAÇÃO DA LITERATURA<br />

BRASILEIRA: A CONSTRUÇÃO DA TRADIÇÃO SIMBÓLICA DO IMPÉRIO<br />

INTRODUÇÃO<br />

Marcio Luiz <strong>do</strong> Nascimento<br />

Potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s estético-literárias e político-históricas <strong>do</strong>s temas românticos nas mãos <strong>da</strong><br />

Primeira Geração Romântica<br />

Este trabalho consiste em avaliar os <strong>de</strong>s<strong>do</strong>bramentos <strong>do</strong> <strong>projeto</strong> <strong>de</strong> <strong>nacionalização</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>literatura</strong> <strong>brasileira</strong>, realiza<strong>do</strong> pela Primeira Geração Romântica1 , para a inclusão <strong>do</strong>s neoclássicos<br />

como pré-românticos, em cima <strong>de</strong> duas linhas mestras <strong>de</strong> sustentação: (a) as potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

estético-literárias e (b) as potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s político-históricas <strong>do</strong>s temas românticos para a invenção<br />

<strong>de</strong> uma tradição imperial.<br />

Ao longo <strong>de</strong>ste artigo, privilegiamos as potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s político-históricas <strong>do</strong>s temas<br />

românticos, cujos trabalhos <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ram ampla visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> ao esforço <strong>de</strong> construção <strong>de</strong><br />

uma tradição simbólica <strong>do</strong> Império. Isto porque, as potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s estético-literárias somente<br />

alcançaram espaço, entre os letra<strong>do</strong>s e a elite política nacional, com o Indianismo. Porém, como o<br />

“indianismo romântico”, em razão <strong>da</strong> sua centrali<strong>da</strong><strong>de</strong>, é um tema por <strong>de</strong>mais amplo e carrega<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

muitas nuanças, conseqüentemente ele não caberia neste estu<strong>do</strong>.<br />

A natureza tropical, enquanto tema romântico, não oferecia maiores dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s para ser<br />

introduzi<strong>da</strong> nas narrativas literárias <strong>de</strong> verve nacional, afinal a flora e as faunas existentes na Europa<br />

são muito distintas <strong>da</strong>quelas encontra<strong>da</strong>s aqui. Mesmo na construção <strong>da</strong>s personagens ficcionais, as<br />

diferenças entre os índios e os brancos não eram tão difíceis <strong>de</strong> ser estabeleci<strong>da</strong>s, pois, <strong>de</strong> certo que,<br />

1<br />

Domingos Gonçalves <strong>de</strong> Magalhães (Rio <strong>de</strong> Janeiro/1811 ─ Roma/1882) e Francisco Sales Torres-Homem<br />

(Rio <strong>de</strong> Janeiro/1812 - Paris/1876) eram forma<strong>do</strong>s em medicina, como também Joaquim Manuel <strong>de</strong> Mace<strong>do</strong> (Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro/1820 – Rio <strong>de</strong> Janeiro/1882) e Manuel Antônio <strong>de</strong> Almei<strong>da</strong> (Rio <strong>de</strong> Janeiro/1831 – Rio <strong>de</strong> Janeiro/1861).<br />

Manuel <strong>de</strong> Araújo Porto-Alegre (RGS/1806 – Lisboa/1879) era forma<strong>do</strong> em Artes, ain<strong>da</strong> que também Gonçalves <strong>de</strong><br />

Magalhães tivesse inicia<strong>do</strong> a graduação em Artes. Francisco A<strong>do</strong>lfo <strong>de</strong> Varnhagen (São Paulo/1816 ─ Viena/1878) era<br />

engenheiro militar, como também fora a carreira inicialmente <strong>de</strong> Araújo Porto-Alegre, <strong>de</strong>pois troca<strong>da</strong> pelas artes.<br />

Francisco Sales Torres-Homem era também forma<strong>do</strong> em direito como João Manuel Pereira <strong>da</strong> Silva (Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro/1817 – Paris/1897). Por sua vez, Joaquim Norberto <strong>de</strong> Sousa Silva (Rio <strong>de</strong> Janeiro/1820 – Rio <strong>de</strong> Janeiro/1891)<br />

foi autodi<strong>da</strong>ta, assim como Antônio Gonçalves Teixeira e Sousa (Rio <strong>de</strong> Janeiro/1812 – Rio <strong>de</strong> Janeiro/1861).<br />

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o tipo indígena era diferente <strong>do</strong> europeu pelos hábitos, pelo biótipo, pelas soluções técnicas, pela<br />

cultura e pela racionali<strong>da</strong><strong>de</strong> emoldura<strong>do</strong>ra <strong>da</strong>s suas instituições sociais. Entretanto, havia o<br />

problema <strong>de</strong> como sobrelevar a cultura indígena, já que a cultura européia era ascen<strong>de</strong>nte sobre<br />

aquela e, naquele momento <strong>da</strong> história, não era a cultura européia coloca<strong>da</strong> em dúvi<strong>da</strong> como<br />

superior a qualquer outra existente.<br />

A solução encontra<strong>da</strong> pelo movimento romântico – inicia<strong>da</strong> com Gonçalves <strong>de</strong> Magalhães,<br />

A<strong>do</strong>lfo <strong>de</strong> Varnhagen, Joaquim Norberto, Araújo Porto-Alegre, João Manuel Pereira <strong>da</strong> Silva,<br />

Antonio Gonçalves Teixeira e Sousa e Sales Torres Homem, mas só <strong>de</strong>finitivamente consoli<strong>da</strong><strong>da</strong><br />

com Gonçalves Dias e José <strong>de</strong> Alencar − foi projetar no indígena traços <strong>de</strong> distinção comuns aos<br />

nobres europeus no áureo perío<strong>do</strong> feu<strong>da</strong>l. Estes traços eram consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s como qualificativos <strong>de</strong><br />

superiori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> caráter e <strong>de</strong> distinção <strong>de</strong> classe: fi<strong>de</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> à palavra, honra<strong>de</strong>z nas atitu<strong>de</strong>s, força<br />

física, belicosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, amor à liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, e respeitabili<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

O <strong>projeto</strong> <strong>da</strong>s luzes i<strong>de</strong>aliza<strong>do</strong> pelos românticos, com forte acento nacionalista, tinha atrás <strong>de</strong><br />

si o novel <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> singularizar a civilização <strong>do</strong>s trópicos, por meio <strong>da</strong> supervalorização <strong>da</strong><br />

exuberante e inigualável natureza tropical <strong>brasileira</strong> e <strong>da</strong> projeção no índio <strong>de</strong> traços feu<strong>da</strong>is <strong>de</strong><br />

distinção <strong>de</strong> classe, acresci<strong>da</strong> <strong>da</strong> visão idílica <strong>do</strong> branco como “coloniza<strong>do</strong>r épico”. Assim, a<br />

Primeira Geração Romântica abriu-se para uma frente <strong>de</strong> ação <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> <strong>literatura</strong>, construí<strong>da</strong> em<br />

torno <strong>da</strong> aspiração <strong>de</strong> estabelecer as especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> Nação <strong>brasileira</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> <strong>projeto</strong> <strong>da</strong> luzes e<br />

<strong>de</strong> “inventar uma tradição imperial”. Estes aspectos, nós veremos nos subitens a seguir, cujo<br />

<strong>de</strong>senvolvimento seguirá a seguinte or<strong>de</strong>m:<br />

Francisco A<strong>do</strong>lfo <strong>de</strong> Varnhagen:<br />

1. Domingos Borges <strong>de</strong> Barros: primeiros temas <strong>da</strong> <strong>literatura</strong> <strong>do</strong>s túmulos;<br />

2. Uraguai: um épico para o avanço <strong>do</strong> processo <strong>da</strong>s luzes;<br />

3. Caramuru: a paisagem neoclássica dá lugar à flora e fauna brasílicas.<br />

Joaquim Norberto <strong>de</strong> Sousa e Silva:<br />

1. Sugestões românticas <strong>de</strong> um árca<strong>de</strong>: José Bonifácio <strong>de</strong> Andra<strong>da</strong> e Silva;<br />

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2. A construção <strong>de</strong> uma tradição simbólica para o Império: a releitura <strong>da</strong> Inconfidência<br />

Mineira e <strong>do</strong>s poetas inconfi<strong>de</strong>ntes<br />

Domingos Gonçalves <strong>de</strong> Magalhães:<br />

A Revolta <strong>do</strong>s Balaios no Maranhão – uma típica leitura <strong>do</strong>s movimentos nativistas pela<br />

Primeira Geração Romântica.<br />

O TRABALHO DE CONSOLIDAÇÃO DA LITERATURA BRASILEIRA: OS PRÉ-<br />

ROMÂNTICOS NA FORJA DA PRIMEIRA GERAÇÃO ROMÂNTICA<br />

Francisco A<strong>do</strong>lfo <strong>de</strong> Varnhagen<br />

Domingos Borges <strong>de</strong> Barros: primeiros temas <strong>da</strong> <strong>literatura</strong> <strong>do</strong>s túmulos<br />

Os poetas Domingos Borges <strong>de</strong> Barros, Frei Santa Rita Durão e Basílio <strong>da</strong> Gama figuraram<br />

entre os escritores para os quais os estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Varnhagen estiveram mais volta<strong>do</strong>s, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

perceber-lhes os traços pré-românticos. Domingos Borges <strong>de</strong> Barros (Bahia/1779 – Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro/1855), aristocrata baiano forma<strong>do</strong> em Direito por Coimbra, foi diplomata na Europa e<br />

graças aos seus relevantes serviços presta<strong>do</strong>s à diplomacia <strong>do</strong> Império recebeu o título <strong>de</strong> Viscon<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Pedra Branca.<br />

Durante anos, ele viveu em Paris e, nesta ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, aproximou-se <strong>de</strong> intelectuais como Filinto<br />

Elísio2 , que o aju<strong>do</strong>u a se aperfeiçoar nos estu<strong>do</strong>s literários e vir a publicar “Poesias ofereci<strong>da</strong>s às<br />

senhoras <strong>brasileira</strong>s” (1825). Título galante para uma coletânea <strong>de</strong> poesias em que algumas são<br />

traduções <strong>de</strong> poesias <strong>de</strong> pré-românticos europeus e outras tantas exaltam a vi<strong>da</strong> campestre, o<br />

erotismo e o sentimento patriótico. Por sinal, <strong>de</strong>ntre as suas poesias <strong>de</strong> acento patriótico, em <strong>de</strong>fesa<br />

<strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência <strong>do</strong> Brasil, encontram-se “Epístola” ao Dr. Francisco Elias <strong>da</strong> Silveira e “Epístola”<br />

a Filinto Elísio.<br />

2<br />

Filinto Elísio (Lisboa/1734 – Paris/1819). Clérigo, tradutor e escritor liga<strong>do</strong> ao neoclassicismo português.<br />

Fugi<strong>do</strong> <strong>de</strong> Portugal por perseguição <strong>da</strong> Inquisição em 1778, Filinto Elísio migraria para Paris on<strong>de</strong> tomaria<br />

conhecimento <strong>do</strong> romantismo. Esta proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> que o levou a traduzir para o português “Os Mártires” (1816) <strong>de</strong><br />

Chateaubriand.<br />

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A<strong>de</strong>ral<strong>do</strong> Castelo observa que apesar <strong>do</strong> lirismo amoroso <strong>de</strong> Borges Barros ser ain<strong>da</strong><br />

afeta<strong>da</strong>mente árca<strong>de</strong>, no entanto, ele era na sua época o poeta nacional <strong>de</strong> “expressão mais<br />

liberta<strong>da</strong>”, como atesta o seu trabalho “Os túmulos”(1850) 3 . Neste poemeto, o autor “transferiu para<br />

a <strong>literatura</strong> <strong>brasileira</strong>, pela primeira vez, uma <strong>da</strong>s correntes <strong>de</strong> inspiração mais intensa <strong>do</strong>s albores<br />

<strong>do</strong> Romantismo europeu, a chama<strong>da</strong> “<strong>literatura</strong> <strong>do</strong>s túmulos” 4 , tocan<strong>do</strong> em temas pré-românticos<br />

como a solidão, a melancolia e a vacui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong>s sentimentos e <strong>do</strong> espírito.<br />

Entre os românticos, a difusão e o reconhecimento <strong>do</strong> valor <strong>da</strong>s poesias <strong>de</strong> Borges <strong>de</strong> Barros<br />

se <strong>de</strong>ram pelo <strong>de</strong>staca<strong>do</strong> espaço que ganharam na principal obra literária <strong>de</strong> A<strong>do</strong>lfo <strong>de</strong> Varnhagen,<br />

“Florilégio <strong>da</strong> poesia <strong>brasileira</strong>”. Neste trabalho, Varnhagen publicou <strong>do</strong>is cantos que compõem o<br />

poemeto “Os túmulos” (1º Canto/1825 publica<strong>do</strong> antes na sua obra “Poesias ofereci<strong>da</strong>s às senhoras<br />

<strong>brasileira</strong>s” e 2º Canto em 1850). Varnhagen observa que, no geral, apesar <strong>do</strong> poeta ser árca<strong>de</strong>, há<br />

na sua poesia o <strong>de</strong>sejo intencional <strong>de</strong> associar “sentimento patriótico” com a natureza nacional e a<br />

libertação <strong>da</strong> pátria. Enquanto no 2º Canto, os temas o aproximariam <strong>de</strong> alguns românticos europeus<br />

inspira<strong>do</strong>s na sombria “poesia fúnebre” 5 .<br />

Uraguai: um épico para o avanço <strong>do</strong> processo <strong>da</strong>s luzes<br />

José Basílio <strong>da</strong> Gama (Minas Gerais/1740 – Lisboa/1795), filho <strong>de</strong> rico senhor rural<br />

mineiro, foi noviço <strong>do</strong>s Jesuítas até o ano <strong>de</strong> 1759, quan<strong>do</strong> se <strong>de</strong>u a expulsão <strong>do</strong>s jesuítas por<br />

Pombal. Como ain<strong>da</strong> não era um religioso professo (últimos votos religiosos), pô<strong>de</strong> optar por seguir<br />

pela vi<strong>da</strong> secular ao invés <strong>de</strong> ser expulso <strong>do</strong> Império. Contu<strong>do</strong>, como permaneceu próximo <strong>do</strong>s<br />

jesuítas, quan<strong>do</strong> <strong>de</strong>cidiu ir a Coimbra para formar-se em Direito foi preso sob acusação <strong>de</strong><br />

partidário <strong>do</strong>s jesuítas e recebeu como pena o <strong>de</strong>gre<strong>do</strong> para Angola. Porém, conquistou o perdão <strong>da</strong><br />

sua pena ao escrever um Epitalâmio6 às núpcias <strong>de</strong> D. Maria Amália, filha <strong>de</strong> Pombal.<br />

3<br />

BARROS, D. B. <strong>de</strong>. Poesias ofereci<strong>da</strong>s às senhoras <strong>brasileira</strong>s. 2 vols. Paris: Aillaud Libraire, 1825; I<strong>de</strong>m,<br />

Novas poesias ofereci<strong>da</strong>s às senhoras <strong>brasileira</strong>s por um baiano. RJ: Laemmert, 1841; i<strong>de</strong>m, Os túmulos. BA: Typ. <strong>de</strong><br />

Carlos Poggetti, 1850.<br />

4<br />

CASTELO, J. A. Os pródromos <strong>do</strong> romantismo. In: COUTINHO, A. (Dir.). A <strong>literatura</strong> no Brasil. vol. II<br />

(Romantismo). RJ: Editora Sul América, 1969, p.48;49.<br />

5<br />

VARNHAGEN, F. A <strong>de</strong>. Florilégio <strong>da</strong> Poesia Brasileira. 2ª ed. Vol.3. Prólogo. RJ: ABL, 1947.<br />

6<br />

Em <strong>literatura</strong> clássica, também neste senti<strong>do</strong> aspira<strong>do</strong> por Basílio <strong>da</strong> Gama, consistia em solenizar por meio<br />

<strong>da</strong> poesia o momento <strong>do</strong> casamento, enquanto evento social <strong>de</strong> nubentes socialmente bem-situa<strong>do</strong>s.<br />

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Esta investi<strong>da</strong> foi certeira, pois o poema caiu nas graças <strong>de</strong> Pombal, que além <strong>do</strong> perdão <strong>da</strong><br />

pena, conce<strong>de</strong>u-lhe cartas <strong>de</strong> nobreza e fi<strong>da</strong>lguia e arrumou-lhe colocação no serviço público<br />

português como Oficial <strong>de</strong> Secretaria <strong>do</strong> Reino. A partir <strong>da</strong>í, Basílio <strong>da</strong> Gama afinou-se à política<br />

pombalina e como sintoma <strong>do</strong> seu alinhamento político compôs “Uraguai” (1769). Neste poema, os<br />

versos cantam a união entre os portugueses e os espanhóis para mover guerra às missões jesuíticas<br />

<strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong>, cumprin<strong>do</strong> as cláusulas <strong>do</strong> Trata<strong>do</strong> <strong>de</strong> Madri. Fica claro ao longo <strong>do</strong>s cantos, a<br />

intenção <strong>de</strong> Basílio <strong>da</strong> Gama <strong>de</strong> associar a missão religiosa <strong>do</strong>s jesuítas a interesses essencialmente<br />

econômicos:<br />

Essa riqueza<br />

Que cobre os templos <strong>do</strong>s benditos padres,<br />

Fruto <strong>da</strong> sua indústria e <strong>do</strong> comércio<br />

Da folha e peles, é riqueza sua.<br />

Com o arbítrio <strong>do</strong>s corpos e <strong>da</strong>s almas<br />

O céu lha <strong>de</strong>u em sorte<br />

A nós somente<br />

Nos toca arar e cultivar a terra,<br />

Sem outra paga mais que o reparti<strong>do</strong><br />

Por mãos escassas mísero sustento.<br />

Pobres choupanas, e algodões teci<strong>do</strong>s,<br />

E o arco, e as setas, e as vistosas penas<br />

São as nossas fantásticas riquezas.<br />

Muito suor, e pouco ou nenhum fasto 7 .<br />

Naquilo que interessava ao romantismo, Basílio <strong>da</strong> Gama cantava no poema “Uraguai” o<br />

índio como indivíduo puro, que estava exposto aos <strong>projeto</strong>s <strong>de</strong> religiosos aprisiona<strong>do</strong>s aos po<strong>de</strong>res<br />

temporais. To<strong>da</strong>via, não faltam ao longo <strong>do</strong> poema os atributos feu<strong>da</strong>is <strong>de</strong> distinção <strong>de</strong> classe – ao<br />

gosto <strong>do</strong>s românticos – predica<strong>do</strong>s ao índio, tais como o amor à liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, a fi<strong>de</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> aos<br />

compromissos, a honra<strong>de</strong>z e a <strong>de</strong>streza para a guerra.<br />

Desconhecemos, <strong>de</strong>testamos jugo<br />

Que não seja o <strong>do</strong> céu, por mão <strong>do</strong>s padres.<br />

As flechas partirão nossas conten<strong>da</strong>s<br />

Dentro <strong>de</strong> pouco tempo: e o vosso Mun<strong>do</strong>,<br />

Se nele um resto houver <strong>de</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

Julgará entre nós; se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>mos<br />

Tu a injustiça, e nós o Deus e a Pátria.<br />

Enfim quereis a guerra, e tereis guerra 8<br />

7<br />

BASÍLIO DA GAMA, J. Canto Segun<strong>do</strong>. In: Uraguai. Lisboa: Régia Oficina Typográfica, 1769. Disponível:<br />

. Acesso em 17 out. 2008, p.10.<br />

8<br />

BASÍLIO DA GAMA, J. Canto Segun<strong>do</strong>. In: Uraguai. Lisboa: Régia Oficina Typográfica, 1769. Disponível:<br />

. Acesso em 17 out. 2008, p.12.<br />

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Caramuru: a paisagem neoclássica dá lugar à flora e fauna brasílicas<br />

Frei José <strong>de</strong> Santa Rita Durão (Minas Gerais/1722 – Portugal/1784), filho <strong>de</strong> um sargento-<br />

mor, foi poeta, religioso e teólogo forma<strong>do</strong> em Coimbra. No início <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong> intelectual e<br />

religiosa, posicionou-se ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong> Pombal contra os jesuítas, porém, mais tar<strong>de</strong>, precisamente em<br />

1761 rompeu com Pombal e fugiu para Roma, on<strong>de</strong> ficou até 1777, quan<strong>do</strong> ocorreu a que<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

Pombal. Quatro anos após a que<strong>da</strong> <strong>de</strong> Pombal, Santa Rita Durão publicou “Caramuru” (escrito em<br />

1764, mas publica<strong>do</strong> somente em 1781). Consiste numa epopéia em que, ao contrário <strong>da</strong>quela<br />

escrita por Basílio <strong>da</strong> Gama, o escritor posicionou-se a favor <strong>do</strong>s jesuítas, relevan<strong>do</strong> os seus gran<strong>de</strong>s<br />

feitos pela difusão <strong>da</strong> fé entre os “gentios” e a manutenção <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> geopolítica <strong>do</strong> Império Luso.<br />

No idioma Brasílico<br />

composto<br />

Do Exército, que Inácio à<br />

Igreja alista,<br />

Para empreen<strong>de</strong>r a<br />

bárbara conquista.<br />

São <strong>de</strong>sta espécie os<br />

Operários santos,<br />

Que com fadiga dura,<br />

intenção reta,<br />

Pa<strong>de</strong>cem pela Fé<br />

trabalhos tantos;<br />

O Nóbrega famoso, o<br />

claro Anchieta:<br />

Por meio <strong>de</strong> perigos, e <strong>de</strong><br />

espantos,<br />

Sem temer <strong>do</strong> Gentio a<br />

cruel seta,<br />

To<strong>do</strong> o vasto Sertão tem<br />

penetra<strong>do</strong>,<br />

E a Fé com mil trabalhos<br />

propaga<strong>do</strong>s.<br />

Da antiga Lusitânia o rei<br />

potente,<br />

Acompanhan<strong>do</strong> o sol no<br />

giro imenso,<br />

Vai ro<strong>de</strong>an<strong>do</strong> to<strong>do</strong> o<br />

globo ingente,<br />

Des<strong>de</strong> o aurífero Tago ao<br />

China extenso.<br />

Por ele a fé recebe to<strong>do</strong> o<br />

Oriente,<br />

O mouro ce<strong>de</strong> <strong>de</strong> pavor<br />

suspenso,<br />

E Europa admira pelo<br />

mar profun<strong>do</strong><br />

Que o seu reino menor<br />

subjugue um mun<strong>do</strong> 9<br />

A epopéia o “Caramuru” possui o mérito <strong>de</strong> ser construí<strong>da</strong> numa narrativa romântica.<br />

Assim, a flora e a fauna são brasílicas (o Maracujá, a mangaba, o tatu, as belas araras, o inhame, o<br />

araçá, a taioba, “<strong>da</strong>s frutas <strong>do</strong> país a mais louva<strong>da</strong>, é o régio ananás”, o palmito, o caju, a cutia, a<br />

paca, o periquito).<br />

Ain<strong>da</strong> que a disposição <strong>do</strong>s versos tenha sofri<strong>do</strong> influência camoniana e o gosto barroco<br />

rebusca<strong>do</strong> lhe tenha traí<strong>do</strong> algumas construções, entretanto, as figuras mitológicas e as paisagens<br />

neoclássicas não superaram o mérito <strong>de</strong> uma epopéia cria<strong>da</strong> em torno <strong>de</strong> acontecimentos históricos<br />

nacionais (a colonização <strong>da</strong> Bahia, a luta entre portugueses e holan<strong>de</strong>ses, a conquista <strong>do</strong>s sertões).<br />

9<br />

SANTA RITA DURÃO. J. Caramuru. Lisboa: Régia Oficina Typográfica, 1871. Canto X: estrofes LIII, LV e<br />

LX. Disponível: . Acesso em 17 out. 2008, p.201;<br />

202; 203.<br />

Anais <strong>do</strong> Evento<br />

9<br />

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Além <strong>do</strong> mais, é uma epopéia pontua<strong>da</strong> por gran<strong>de</strong>s nomes nacionais (Vieira; Anchieta; Diogo<br />

Álvares Correia; o “capitão <strong>do</strong>s etíopes valentes”, Henrique Dias; o “forte Camarão”):<br />

Nem po<strong>de</strong>reis temer que ao santo intento<br />

Não se nutram heróis no luso povo,<br />

Que o antigo Portugal vos apresento<br />

No Brasil renasci<strong>do</strong>, como em novo.<br />

Vereis <strong>do</strong> <strong>do</strong>ma<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Índico assento<br />

Nas guerras <strong>do</strong> Brasil alto renovo,<br />

E que os seguem nas bélicas i<strong>de</strong>ias<br />

Os Vieiras, Barretos e os Correias. 10<br />

Contu<strong>do</strong>, às vezes Santa Rita Durão distancia-se <strong>da</strong> proposta romântica indianista. Pois se,<br />

por um la<strong>do</strong>, valoriza algumas soluções indígenas bem-sucedi<strong>da</strong>s na alimentação e na arte <strong>de</strong><br />

guerrear, por outro la<strong>do</strong>, o indígena aparece em alguns <strong>do</strong>s seus versos como atrasa<strong>do</strong> <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong><br />

vista <strong>da</strong> engenhosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> sua técnica e como indivíduos <strong>de</strong> hábitos “bárbaros” e “cruéis”:<br />

Os sete, entanto, que <strong>do</strong> mar com vi<strong>da</strong><br />

Chegaram a tocar na infame areia,<br />

Pasmam <strong>de</strong> ver na turba recresci<strong>da</strong>,<br />

A brutal catadura, hórri<strong>da</strong> e feia;<br />

A cor vermelha em si mostram tingi<strong>da</strong><br />

De outra cor diferente, que os enfeia;<br />

Pedras e paus <strong>de</strong> embirras enfia<strong>do</strong>s,<br />

Que na face e nariz trazem fura<strong>do</strong>s.<br />

Na boca, em carne humana ensangüenta<strong>da</strong>,<br />

An<strong>da</strong> o beiço inferior to<strong>do</strong> caí<strong>do</strong>,<br />

Porque a tem to<strong>da</strong> em ro<strong>da</strong> esburaca<strong>da</strong>,<br />

E o lábio <strong>de</strong> vis pedras embuti<strong>do</strong>;<br />

Os <strong>de</strong>ntes (que é beleza que lhe agra<strong>da</strong>)<br />

Um sobre outro <strong>de</strong>sponta recresci<strong>do</strong>;<br />

Nem se lhe vê nascer na barba o pêlo,<br />

Chata a cara e nariz, rijo o cabelo. 11<br />

Ao longo <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a epopéia, percebe-se, em termos gerais, o contraste entre o homem<br />

indígena e o branco luso. O primeiro, um ser obtuso, “selvagem ru<strong>de</strong>”, um “bruto”, “um bárbaro<br />

americano”, um “ímpio”, “gente miseran<strong>da</strong> e bárbara”. Porém, o branco luso, por sua vez, fora<br />

apresenta<strong>do</strong> como o esclareci<strong>do</strong>, “o lume <strong>da</strong> razão”, “o sábio herói”, homens <strong>de</strong> “sábios mo<strong>do</strong>s”,<br />

“sábios capitães valentes”, “sangue esclareci<strong>do</strong>”, “campeões briosos”. Daí ser tão precisa a<br />

observação <strong>de</strong> Bosi:<br />

Se, pela cópia <strong>de</strong> alusões à flora Brasílica e aos costumes indígenas, o Caramuru parece<br />

<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> ín<strong>do</strong>le mais nativista <strong>do</strong> que o Uraguai, no cerne <strong>da</strong>s intenções e na estrutura, a epopéia<br />

<strong>de</strong> Durão está muito mais distante <strong>do</strong> homem americano que o poemeto <strong>de</strong> Basílio (...). O índio<br />

10<br />

SANTA RITA DURÃO. J. Caramuru. Lisboa: Régia Oficina Typográfica, 1871, Canto I: estrofe VII.<br />

Disponível: . Acesso em 17 out. 2008, p.02.<br />

11<br />

SANTA RITA DURÃO. J. Caramuru. Lisboa: Régia Oficina Typográfica, 1871, Canto I: estrofes XIX e XX.<br />

Disponível: . Acesso em 17 out. 2008, p.05.<br />

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como outro, objeto <strong>de</strong> colonização e catequese, per<strong>de</strong> no Caramuru to<strong>da</strong> a autentici<strong>da</strong><strong>de</strong> étnica e<br />

regri<strong>de</strong> ao marco zero <strong>de</strong> espanto (quan<strong>do</strong> antropófago), ou a exemplo <strong>de</strong> edificação (quan<strong>do</strong><br />

religioso).<br />

Parece-nos que no “Uraguai”, os temas românticos – a flora e a fauna brasílicas – estão<br />

diluí<strong>do</strong>s e hibridiza<strong>do</strong>s nos tópicos neoclássicos, os quais, por sua vez, alcançam maior primazia<br />

que os temas românticos. To<strong>da</strong>via, a epopéia é coerente com a proposta Iluminista <strong>de</strong><br />

esclarecimento e civilização <strong>do</strong> país, ao atacar a instituição naquele momento mais resistente ao<br />

processo <strong>de</strong> secularização, a Igreja. Esta, por sua vez, tinha a Companhia <strong>de</strong> Jesus na linha <strong>de</strong> frente<br />

<strong>do</strong> ataque à mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>, por sinal, a or<strong>de</strong>m religiosa contra a qual investia Basílio <strong>da</strong> Gama.<br />

A epopéia o “Caramuru”, por um la<strong>do</strong>, é mo<strong>de</strong>lar como <strong>literatura</strong> aproxima<strong>da</strong> <strong>do</strong>s temas<br />

românticos nacionais, pois apesar <strong>de</strong> concebi<strong>da</strong> em ambiente neoclássico, no dizer <strong>de</strong> Varnhagen,<br />

estaria entre as poesias mais brasílicas pela “exaltação <strong>do</strong> índio e o forte sentimento <strong>de</strong> pertença a<br />

terra” 12 . Por outro la<strong>do</strong>, carece <strong>de</strong> coerência interna no que diz respeito à instauração <strong>do</strong> processo<br />

<strong>da</strong>s luzes, pois coloca a ação <strong>do</strong>s jesuítas como a razão <strong>do</strong> esclarecimento e <strong>da</strong> civilização <strong>do</strong>s<br />

indígenas. O que não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser acerta<strong>do</strong> <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> racionalização, cuja<br />

ação racional expulsou o mun<strong>do</strong> mágico-mítico <strong>do</strong> universo indígena com aju<strong>da</strong> <strong>da</strong>s religiões<br />

monoteístas.<br />

No momento em que Santa Rita Durão escrevia, os jesuítas representavam o núcleo<br />

intelectual mais baliza<strong>do</strong> <strong>da</strong> Igreja <strong>de</strong> resistência ao processo <strong>de</strong> secularização e <strong>de</strong> consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong><br />

técnica oci<strong>de</strong>ntal. Dois elementos por trás <strong>do</strong>s quais estava apoia<strong>da</strong> a atitu<strong>de</strong> arrogante e a postura<br />

<strong>de</strong> superiori<strong>da</strong><strong>de</strong> diante <strong>do</strong> “selvagem americano”, manifesta<strong>da</strong> por Diogo Álvares Correia (herói<br />

branco luso <strong>da</strong> epopéia Caramuru). Dentro <strong>de</strong> um referencial cultural construí<strong>do</strong> nas bases <strong>de</strong> uma<br />

Europa branca, católica e vence<strong>do</strong>ra belicamente sobre outros povos, a pressuposição era <strong>de</strong> que a<br />

cultura indígena, salvo alguns hábitos alimentares e a <strong>de</strong>streza para a guerra, era rasteira e<br />

embruteci<strong>da</strong>; as crenças religiosas eram atrasa<strong>da</strong>s e mágicas; e as técnicas simplórias.<br />

De certo mo<strong>do</strong>, esta posição estava aproxima<strong>da</strong> i<strong>de</strong>ologicamente <strong>do</strong> pensamento <strong>de</strong><br />

Varnhagen, que em pleno romantismo <strong>de</strong>fendia a tese <strong>da</strong> tutoria <strong>do</strong>s índios pelos brancos, em razão<br />

12<br />

VARNHAGEN, F. A. <strong>de</strong>. O caramuru perante a história. Revista Trimestral <strong>de</strong> História e Geografia <strong>do</strong> Inst.<br />

Hist. Geo. Bras. RJ. Tomo X, 2ª ed. p.129-152, 1870.<br />

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<strong>da</strong> suposta incapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> cognitiva <strong>do</strong>s primeiros. Neste senti<strong>do</strong>, observou Brito Broca: “para<br />

Varnhagen o nosso silvícola constituía uma raça inferior, que <strong>de</strong>via não ser combati<strong>da</strong>, mas<br />

protegi<strong>da</strong> (...) a força para ele seria, no entanto, apenas um meio <strong>de</strong> fazer o indígena compreen<strong>de</strong>r a<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> submissão ”13 .<br />

No pioneiro trabalho <strong>de</strong> A<strong>do</strong>lfo <strong>de</strong> Varnhagen a “História Geral <strong>do</strong> Brasil” (1854-1857), a<br />

primeira história sistemática <strong>do</strong> Brasil escrita em base a pesquisa <strong>do</strong>cumental ampla, o indígena<br />

aparece qualifica<strong>do</strong> como integrante <strong>de</strong> um “povo primitivo” sem história e sem futuro. Ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iros<br />

“fósseis vivos” <strong>de</strong> uma época remota e resíduos <strong>de</strong> uma civilização a ser supera<strong>da</strong> <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao seu<br />

atraso técnico e social, posição que Varnhagen <strong>de</strong>ixou-se influenciar pelos estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Karl Friedrich<br />

Philippe von Martius (1794-1868) sobre as culturas ágrafas.<br />

No enten<strong>de</strong>r <strong>de</strong> von Martius, o indígena brasileiro “não era senão o resíduo <strong>de</strong> uma<br />

civilização muito antiga, posto que perdi<strong>da</strong> na história” 14 e que <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> pouco tempo <strong>de</strong>ixaria <strong>de</strong><br />

existir. Esta posição fora <strong>de</strong>fendi<strong>da</strong> por Martius no seu trabalho vence<strong>do</strong>r <strong>do</strong> concurso “Como<br />

Escrever a História <strong>do</strong> Brasil” (1845), patrocina<strong>do</strong> pelo Instituto Histórico e Geográfico<br />

Brasileiro/IHGB. Quase <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> publicação <strong>do</strong> livro <strong>de</strong> von Martius, Varnhagen<br />

publicaria “História Geral <strong>do</strong> Brasil”. Neste estu<strong>do</strong>, Varnhagen retomaria algumas <strong>da</strong>s i<strong>de</strong>ias<br />

etnológicas <strong>de</strong> Martius para então concluir que: “<strong>de</strong> tais povos na infância não há história: há só<br />

etnografia” 15 .<br />

Ain<strong>da</strong> em torno <strong>do</strong>s temas nacionalistas românticos, Varnhagen publicou “Épicos<br />

Brasileiros”, “Florilégio <strong>da</strong> Poesia Brasileira” 16 , biografias sobre Santa Rita Durão, Eusébio <strong>de</strong><br />

Matos, Basílio <strong>da</strong> Gama e Antônio <strong>de</strong> Gonzaga. No ensejo <strong>de</strong> reinventar a nossa história, escreveu<br />

os livros “História geral <strong>do</strong> Brasil”, “História <strong>da</strong>s lutas com os holan<strong>de</strong>ses no Brasil” e a<br />

“Narrativa epistolar <strong>de</strong> uma viagem à Bahia, Rio <strong>de</strong> Janeiro e Pernambuco” 17 .<br />

13<br />

BROCA, B. Românticos, pré-românticos e ultra-românticos: vi<strong>da</strong> literária e romantismo brasileiro. Prefácio<br />

<strong>de</strong> Alexandre Eulálio. SP: Livraria e Editora Polis, 1979, p.194.<br />

14<br />

MARTIUS, K. F. P. Como se <strong>de</strong>ve escrever a história <strong>do</strong> Brasil. BH: Itatiaia; SP: EDUSP, 1982, p.91-92.<br />

15<br />

VARNHAGEN, F. A. Os índios perante a nacionali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>brasileira</strong>. In: VARNHAGEN, F A. História geral<br />

<strong>do</strong> Brasil. RJ: Laemmert, 1854-1857, XIV-XXVIII (Discurso preliminar)<br />

16<br />

VARNHAGEN, F. A. <strong>de</strong>. Épicos Brasileiros: Lisboa: Imprensa Nacional, 1845; I<strong>de</strong>m, Florilégio <strong>da</strong> poesia<br />

<strong>brasileira</strong>. Lisboa: Madrid, Imprensa Nacional, Imprensa <strong>da</strong> V. <strong>de</strong> D. R. J. Dominguez, 1850-1853.<br />

17<br />

VARNHAGEN, F. A. <strong>de</strong>. História geral <strong>do</strong> Brasil. Tomos I e II. RJ: Laemmert, 1854-1857; I<strong>de</strong>m. História<br />

<strong>da</strong>s lutas com os holan<strong>de</strong>ses no Brasil <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1624 a 1654. Viena: Imp. Carlos Finsterbeck, 1871; CARDIM, Fernão.<br />

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A sua contribuição à consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> historiografia <strong>brasileira</strong> não está dissocia<strong>da</strong> <strong>do</strong> seu<br />

empenho em introduzir entre nós o rigor na investigação histórica e o respeito às fontes. Ain<strong>da</strong> que,<br />

Varnhagen misturasse às suas quali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisa<strong>do</strong>r, forte concepção provi<strong>de</strong>ncialista <strong>da</strong><br />

história, e, enquanto erudito medievalista e homem <strong>de</strong> letras próximo <strong>do</strong> Impera<strong>do</strong>r, pesasse-lhe os<br />

valores passadistas e a repugnância pelos movimentos nativistas. Daí, Varnhagen <strong>da</strong>r pouca atenção<br />

aos heróis <strong>da</strong> Revolução Pernambucana <strong>de</strong> 1817 e, nos seus estu<strong>do</strong>s sobre a História <strong>do</strong> Brasil,<br />

mostrar-se reticente ao abor<strong>da</strong>r a Inconfidência Mineira.<br />

Joaquim Norberto <strong>de</strong> Sousa e Silva<br />

Joaquim Norberto <strong>de</strong> Sousa e Silva (Rio <strong>de</strong> Janeiro/1820 – Rio <strong>de</strong> Janeiro/1891), um <strong>do</strong>s<br />

principais pilares <strong>da</strong> historiografia literária, foi quem esteve mais <strong>de</strong>dica<strong>do</strong> a coletar, editar e<br />

reeditar materiais literários, assim como aos estu<strong>do</strong>s biográficos sobre homens ilustres nacionais.<br />

Este intelectual nacionalista, que sacrificou to<strong>da</strong> a sua juventu<strong>de</strong> e trocou as oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

enriquecimento para lançar as bases <strong>da</strong> historiografia literária nacional, foi quem mais contribuiu,<br />

entre os românticos, com materiais biográficos e fontes históricas, a fim <strong>de</strong> que o romantismo<br />

integrasse ao seu movimento alguns escritores coloniais.<br />

Dentre os intelectuais <strong>da</strong> Primeira Geração Romântica, Joaquim Norberto foi quem mais<br />

contribuiu para que o tema indígena progredisse <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> romantismo. Neste aspecto, ele <strong>de</strong>dicou-<br />

se à pesquisa sobre as cosmogonias indígenas, ao estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s relatos <strong>do</strong>s jesuítas sobre as missões<br />

indígenas e à análise <strong>da</strong>s pesquisas sobre as populações autóctones feitas por naturalistas europeus.<br />

Um balanço geral <strong>do</strong>s artigos <strong>de</strong> Joaquim Norberto, “Da inspiração que oferece a natureza<br />

<strong>do</strong> novo mun<strong>do</strong> a seus poetas” (Revista Popular, 1862); “Originali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>literatura</strong> <strong>brasileira</strong>”<br />

(Revista Popular, 1861); “Tendências <strong>do</strong>s selvagens brasileiros” (Revista Popular, 1859);<br />

“Catequese e instrução <strong>do</strong>s selvagens brasileiros pelos jesuítas” (Revista Popular, 1859), permite<br />

perceber que a sua maior contribuição foi aplainar os caminhos para <strong>de</strong>slanchar o tema indianista. O<br />

que foi feito por meio <strong>do</strong> levantamento <strong>da</strong>s fontes e <strong>da</strong> pesquisa <strong>do</strong>s hábitos, costumes, len<strong>da</strong>s e<br />

tradições indígenas. Estes estu<strong>do</strong>s irão oferecer melhores recursos literários aos escritores para não<br />

Narrativa epistolar <strong>de</strong> uma viagem e missão jesuítica pela Bahia, Ilhéus, Porto Seguro, Pernambuco, Espírito Santo, Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro, São Vicente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ano <strong>de</strong> 1583-1590. Org. <strong>do</strong>s textos Francisco A<strong>do</strong>lfo <strong>de</strong> Varnhagen. Lisboa: Imprensa<br />

Nacional, 1847.<br />

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se sentirem tão ameaça<strong>do</strong>s e inseguros pela tensão entre ficção e verossimilhança, no momento em<br />

que a <strong>literatura</strong> nacional estava envere<strong>da</strong>n<strong>do</strong> pelas construções <strong>do</strong> romance indianista nos anos 50 e<br />

60 <strong>do</strong> século XIX e não havia mo<strong>de</strong>los prévios nacionais nos quais se mirar.<br />

Sugestões românticas <strong>de</strong> um árca<strong>de</strong> – José Bonifácio <strong>de</strong> Andra<strong>da</strong> e Silva<br />

José Bonifácio <strong>de</strong> Andra<strong>da</strong> e Silva (São Paulo/1763 – Rio <strong>de</strong> Janeiro/1838) <strong>de</strong>staca-se como<br />

um <strong>do</strong>s principais pré-românticos estu<strong>da</strong><strong>do</strong>s por Joaquim Norberto. Já em 1861, Norberto organizou<br />

e publicou a 2ª edição <strong>de</strong> “Poesias avulsas <strong>de</strong> Américo Elísio” (pseudônimo <strong>de</strong> Bonifácio <strong>de</strong><br />

Andra<strong>da</strong>). Nesta reedição <strong>de</strong> “Poesias avulsas” 18 , Joaquim Norberto também reproduziu a<br />

“Dedicatória” (escrita por Bonifácio <strong>de</strong> Andra<strong>da</strong> para a 1ª edição <strong>de</strong> 1825), que <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um<br />

balanço geral, permite perceber que José Bonifácio <strong>de</strong> Andra<strong>da</strong> e Silva foi um poeta <strong>de</strong> transição,<br />

“um precursor <strong>do</strong> pré-romantismo” pelas afini<strong>da</strong><strong>de</strong>s românticas, mas que ain<strong>da</strong> estava preso aos<br />

conteú<strong>do</strong>s e formas neoclássicas como também pon<strong>de</strong>ra Sérgio Buarque <strong>de</strong> Holan<strong>da</strong> no “Prefácio”<br />

às “Poesias” 19 .<br />

O Patriarca <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência fora o maior erudito <strong>do</strong> seu tempo no Brasil e tivera uma<br />

formação soli<strong>da</strong>mente clássica para permitir-lhe traduzir Voltaire, Newton, Hesío<strong>do</strong>, Virgílio,<br />

Pín<strong>da</strong>ro. Contu<strong>do</strong>, ele tivera uma formação além <strong>do</strong>s clássicos e ampla o bastante para também<br />

traduzir Scott, Byron, Ossin e Rousseau e publicar em 1825 a sua obra “Poesias Avulsas”, antes<br />

mesmo <strong>do</strong> “Résumé” <strong>de</strong> Ferdinand Denis, <strong>da</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1826, e <strong>de</strong> “Suspiros poéticos e sau<strong>da</strong><strong>de</strong>s”<br />

(1836) <strong>de</strong> Gonçalves <strong>de</strong> Magalhães. Nas “Poesias avulsas”, José Bonifácio <strong>de</strong> Andra<strong>da</strong> e Silva<br />

manifestara o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> seguir pelos termos inova<strong>do</strong>res <strong>do</strong> romantismo <strong>de</strong> Scott e Byron, como<br />

<strong>de</strong>ixara claro no texto <strong>da</strong> “Dedicatória”:<br />

Fui nele assaz parco em rimas, porque a nossa bela língua, bem como a inglesa, espanhola e<br />

italiana, não precisa, absolutamente falan<strong>do</strong>, <strong>do</strong> zum-zum <strong>da</strong>s consoantes para fixar a atenção e<br />

<strong>de</strong>leitar o ouvi<strong>do</strong>: basta-lhe o metro e o ritmo. E quanto à monotônica regulari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s estancas,<br />

18 SILVA, José Bonifácio <strong>de</strong> Andra<strong>da</strong> e. Poesias Avulsas. Bordéos: [s.n], 1825.<br />

19 ELÍSIO, A. (José Bonifácio <strong>de</strong> Andra<strong>da</strong> e Silva). Poesias. Prefácio <strong>de</strong> Sérgio B. <strong>de</strong> Holan<strong>da</strong>. RJ: INL;<br />

Imprensa Nacional, 1942, XIII (Prefácio)<br />

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14


que seguem à risca franceses e italianos, <strong>de</strong>las às vezes me apartei <strong>de</strong> propósito, usan<strong>do</strong> <strong>da</strong> mesma<br />

soltura e liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, que vi novamente pratica<strong>do</strong>s por um Scott e um Byron, cisnes <strong>da</strong> Inglaterra 20<br />

A<strong>de</strong>ral<strong>do</strong> Castelo consi<strong>de</strong>ra o texto <strong>da</strong> “Dedicatória” um “perfeito manifesto pré-romântico”,<br />

não só pelas indicações <strong>do</strong>s escritores românticos europeus como também pela “atitu<strong>de</strong> inova<strong>do</strong>ra”<br />

<strong>de</strong> proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong>s temas românticos <strong>de</strong> “sentimento <strong>da</strong> natureza”, “sentimento patriótico” e<br />

“i<strong>de</strong>ais <strong>de</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong>”. Contu<strong>do</strong>, ao contrário <strong>de</strong> A<strong>de</strong>ral<strong>do</strong>, Bosi <strong>de</strong>strata o autor <strong>de</strong> “Poesias<br />

avulsas”: “no Patriarca, a leitura <strong>do</strong>s românticos ingleses, que ele cita com louvor, ficaram no plano<br />

<strong>de</strong> vagas sugestões sem que o árca<strong>de</strong> pu<strong>de</strong>sse, sexagenário, absorver o espírito realmente novo que<br />

soprava na Europa. É no plano <strong>do</strong>s <strong>de</strong>talhes formais <strong>de</strong>sprega<strong>do</strong>s <strong>do</strong> to<strong>do</strong> que ele recebeu a lição<br />

romântica” 21 .<br />

A construção <strong>de</strong> uma tradição simbólica para o Império: a releitura <strong>da</strong><br />

Inconfidência Mineira e <strong>do</strong>s poetas inconfi<strong>de</strong>ntes<br />

Dentro <strong>de</strong> um balanço geral <strong>da</strong> obra <strong>de</strong> Joaquim Norberto, percebemos que ele <strong>de</strong>u maior<br />

ênfase aos estu<strong>do</strong>s sobre os inconfi<strong>de</strong>ntes. Acerca <strong>de</strong>les escreveu trabalhos biográficos sobre Inácio<br />

José <strong>de</strong> Alvarenga Peixoto, Manoel Inácio <strong>da</strong> Silva Alvarenga (1749–1844) e Tomás Antônio<br />

Gonzaga (1744–1792), procuran<strong>do</strong> lê-los como os precursores <strong>da</strong> nossa in<strong>de</strong>pendência política <strong>de</strong><br />

Portugal. Neste senti<strong>do</strong>, observa Antonio Candi<strong>do</strong> que Norberto e os seus companheiros românticos<br />

posicionavam-se como os her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong>ste processo <strong>de</strong> construção <strong>da</strong> Nação inicia<strong>do</strong> anteriormente<br />

pelos poetas inconfi<strong>de</strong>ntes:<br />

Assinalemos <strong>de</strong> passagem que uma <strong>da</strong>s expressões mais vivas <strong>do</strong> sentimento político <strong>de</strong>sses<br />

escritores foi o interesse pela Inconfidência Mineira, que praticamente <strong>de</strong>finiram, estu<strong>da</strong>ram e<br />

incorporaram ao patriotismo <strong>do</strong>s brasileiros, vinculan<strong>do</strong> os poetas arcádicos ao processo <strong>de</strong><br />

construção nacional, ao proclamarem o seu papel <strong>de</strong> precursores <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência. Deste mo<strong>do</strong>, se<br />

20<br />

ANDRADA E SILVA, J. B. <strong>de</strong>. Poesias avulsas <strong>de</strong> Américo Felício. Dedicatória <strong>de</strong> José Bonifácio <strong>de</strong><br />

Andra<strong>da</strong> e Silva. 2ª ed. (Org. <strong>de</strong> Joaquim Norberto). Bordéos: [s.n], 1825.<br />

21<br />

BOSI, A. A consciência histórica e crítica. In: BOSI, A. Historia concisa <strong>da</strong> <strong>literatura</strong> <strong>brasileira</strong>. 2ª ed. SP:<br />

Cultrix, 1979, p.82.<br />

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elaborou uma concepção coerente <strong>da</strong> <strong>literatura</strong> <strong>brasileira</strong> como fator nacionalista, aparecen<strong>do</strong> eles,<br />

reforma<strong>do</strong>res, como her<strong>de</strong>iros legítimos e continua<strong>do</strong>res <strong>de</strong> uma tradição 22<br />

No ensejo <strong>de</strong> interpretar os inconfi<strong>de</strong>ntes como os pródromos <strong>do</strong> <strong>projeto</strong> <strong>de</strong> criação <strong>da</strong><br />

Nação <strong>brasileira</strong>, elabora<strong>do</strong> nos termos <strong>de</strong> uma proposta nacionalista e civiliza<strong>do</strong>ra, Joaquim<br />

Norberto publicou “História <strong>da</strong> Conjuração Mineira” (1860). Nesta obra, aparece o seu trabalho <strong>de</strong><br />

forjar Tira<strong>de</strong>ntes como um herói nacional. Bem como parte <strong>do</strong> seu esforço <strong>de</strong> tornar público os<br />

raros e os numerosos <strong>do</strong>cumentos sobre o processo judicial <strong>do</strong>s inconfi<strong>de</strong>ntes, estu<strong>da</strong><strong>do</strong>s nas<br />

sessões <strong>de</strong> 1846 <strong>do</strong> Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro/IHGB, quan<strong>do</strong> se contou até mesmo<br />

com a presença <strong>do</strong> último inconfi<strong>de</strong>nte vivo23 .<br />

A estilização <strong>da</strong> morte <strong>de</strong> Tira<strong>de</strong>ntes e o empenho em transformá-la num ato político <strong>de</strong><br />

resistência à <strong>do</strong>minação <strong>de</strong> Portugal funcionaram como os eixos centrais <strong>de</strong>ste livro <strong>de</strong> Norberto24 .<br />

Nele, a linguagem narrativa misturou-se aos autos e <strong>do</strong>cumentos oficiais, <strong>de</strong> tal forma, a <strong>de</strong>monstrar<br />

que Tira<strong>de</strong>ntes percorreu a trajetória <strong>de</strong> um mártir: obstinação mistura<strong>da</strong> à gran<strong>de</strong>za <strong>de</strong> sentimentos;<br />

mostras <strong>de</strong> convicção e firmeza <strong>do</strong> seu i<strong>de</strong>al; e manifestações <strong>de</strong> extrema gratui<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

A <strong>de</strong>scrição <strong>da</strong> morte <strong>de</strong> Tira<strong>de</strong>ntes foi construí<strong>da</strong> em cima <strong>de</strong> um cenário, <strong>de</strong> forma a<br />

estilizar os últimos momentos <strong>de</strong> um justo e também mártir: o “magnífico e o esplêndi<strong>do</strong> céu <strong>do</strong> Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro” como testemunha <strong>de</strong>ste “espetáculo sempre bárbaro, sempre indigno <strong>de</strong> uma nação e<br />

sempre aviltante para a humani<strong>da</strong><strong>de</strong>”; a “face <strong>do</strong> pa<strong>de</strong>cente cheia <strong>de</strong> unção”, que nem mesmo o soar<br />

<strong>do</strong>s clarins e o rufar <strong>do</strong>s tambores anuncian<strong>do</strong>-lhe a sua morte fizeram com que “a sereni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />

alma <strong>do</strong> Tira<strong>de</strong>ntes se alvoroçasse, sem que o menor sintoma <strong>de</strong> susto lhe alterasse a fisionomia” 25 .<br />

Esta narrativa em tons dramáticos atingirá o clímax na <strong>de</strong>scrição <strong>do</strong>s últimos momentos <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

Tira<strong>de</strong>ntes:<br />

22 CANDIDO, A. Formação <strong>da</strong> <strong>literatura</strong> <strong>brasileira</strong>. 5ª ed. SP: EDUSP, 1975, p.50.<br />

23<br />

SILVA, J. N. S. Ao Instituto Histórico Brasileiro. In: SILVA, J. N. S. História <strong>da</strong> Conjuração<br />

Mineira.RJ:Garnier,1860 Disponível: . Acesso<br />

em 17 out. 2008, p.05.<br />

24<br />

SILVA, J. N. S. Pelo fra<strong>de</strong> que os assistiu <strong>de</strong> confissão (Apêndice). In: SILVA, J. N. S. História <strong>da</strong><br />

Conjuração Mineira. RJ: Garnier, 1860. Disponível:. Acesso em 17 out. 2008, p.172-179.<br />

25<br />

SILVA, J. N. S. Capítulo XIX. A morte e os <strong>de</strong>sterros. In: SILVA, J. N. S. História <strong>da</strong> Conjuração Mineira.<br />

RJ: Garnier, 1860. Disponível: . Acesso<br />

em 17 out. 2008, p.154; 152.<br />

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Subiu ligeiramente os <strong>de</strong>graus <strong>do</strong> trono que a escarnece<strong>do</strong>ra sorte lhe <strong>de</strong>stinara como seu<br />

<strong>de</strong>sprotegi<strong>do</strong>. Sem levantar os olhos, que tinha prega<strong>do</strong>s na imagem <strong>do</strong> divino mártir, sem<br />

estremecimento algum que lhe traísse a coragem, <strong>de</strong>u lugar ao algoz para o fatal preparo, pedin<strong>do</strong><br />

unicamente por to<strong>do</strong> o favor que abreviassem a execução, no que ain<strong>da</strong> insistiu por duas vezes. Era<br />

essa a última graça que solicitava, e nem assim lhe foi concedi<strong>da</strong><br />

Reti<strong>da</strong> pelo baraço [a cabeça <strong>de</strong> Tira<strong>de</strong>ntes] girou vertiginosamente e estorceu-se em<br />

convulsões por um momento até ser cavalga<strong>da</strong> pelo executor... Viu-se por algum tempo o homemmáquina<br />

e o homem-cadáver nessa luta ignominiosa <strong>do</strong> complemento <strong>do</strong> assassinato judiciário...<br />

Um grito imenso, ou antes, um gemi<strong>do</strong> sur<strong>do</strong>, roufenho e prolonga<strong>do</strong> irrompeu <strong>da</strong> multidão, e foi<br />

abafa<strong>do</strong> pelo rufo <strong>do</strong>s tambores... 26<br />

Com relação à proposta <strong>de</strong> transformar a Inconfidência Mineira num ato político <strong>de</strong><br />

resistência a Portugal, acredito ter si<strong>do</strong> mais bem <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> por Joaquim Norberto no prólogo<br />

por ele escrito, “Advertência”. Este texto foi escrito em 1860 para a apresentação <strong>do</strong> livro a<br />

“História <strong>da</strong> Conjuração Mineira” em sessão <strong>do</strong> Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro/IHGB,<br />

mais tar<strong>de</strong> foi introduzi<strong>do</strong> ao texto impresso:<br />

Muitas vezes, pensan<strong>do</strong> sobre os atos <strong>de</strong>sse drama lúgubre, lancei os olhos pelas páginas <strong>de</strong><br />

nossos historia<strong>do</strong>res que tiveram <strong>de</strong> julgar essa conjuração patriótica, pois que a qualifico sob o<br />

ponto <strong>de</strong> vista <strong>do</strong> pensamento <strong>de</strong> seus atores (...) ao grito insurrecional <strong>de</strong> Boston, que chamou às<br />

armas as colônias anglo-americanas, e hasteou entre os estan<strong>da</strong>rtes <strong>da</strong>s nações a ban<strong>de</strong>ira estrela<strong>da</strong>.<br />

Previu a Europa inteira que o exemplo seria fecun<strong>do</strong> em efeitos análogos, e esperou por tanto a<br />

repercussão <strong>do</strong> grito <strong>da</strong> in<strong>de</strong>pendência. Portugal, porém, nem foi surpreendi<strong>do</strong>, nem <strong>de</strong>spertou <strong>de</strong><br />

súbito ante a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> ver também o Brasil <strong>de</strong>sembainhar a sua espa<strong>da</strong>, <strong>de</strong>senrolar o pendão <strong>da</strong> nobre<br />

revolta, pelejar pela causa sagra<strong>da</strong>, e conquistar o lugar que lhe competia no mapa político <strong>da</strong>s<br />

nações 27<br />

Entretanto, é preciso ressaltar que acima <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> Joaquim Norberto era, como to<strong>do</strong>s os<br />

intelectuais <strong>do</strong> seu tempo, um homem or<strong>de</strong>iro que aspirava ver as reformas realiza<strong>da</strong>s<br />

26<br />

SILVA, J. N. S. Capítulo XIX. A morte e os <strong>de</strong>sterros. In: SILVA, J. N. S. História <strong>da</strong> Conjuração Mineira.<br />

RJ: Garnier, 1860. Disponível: . Acesso<br />

em 17 out. 2008, p.153.<br />

27<br />

SILVA, J. N. S. História <strong>da</strong> Conjuração Mineira. RJ: Garnier, 1860. Disponível:<br />

. Acesso em 17 out. 2008, p.08.<br />

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17


paulatinamente e <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> mais completa or<strong>de</strong>m. Por isto, mesmo diante <strong>do</strong> seu esforço <strong>de</strong><br />

retraduzir Tira<strong>de</strong>ntes e o papel <strong>da</strong> Inconfidência Mineira para a construção <strong>do</strong>s símbolos nacionais,<br />

Norberto relativizou a atitu<strong>de</strong> política <strong>de</strong> Tira<strong>de</strong>ntes, por consi<strong>de</strong>rá-la um perigo à uni<strong>da</strong><strong>de</strong> territorial<br />

e política <strong>da</strong> Nação:<br />

Morrera o Tira<strong>de</strong>ntes, não como um gran<strong>de</strong> patriota, com os olhos crava<strong>do</strong>s no povo, ten<strong>do</strong><br />

nos lábios os sagra<strong>do</strong>s nomes <strong>da</strong> pátria e <strong>da</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, e na alma o orgulho com que o homem<br />

político encara a morte como um triunfo, converten<strong>do</strong> a ignomínia em apoteose, mas como um<br />

cristão (...). Não foi a Conjuração Mineira uma tentativa que malogrou-se; jamais passou <strong>de</strong> uma<br />

i<strong>de</strong>ia generosa quanto à essência, e mesquinha quanto à forma. 28<br />

Era sublime o pensamento <strong>da</strong> in<strong>de</strong>pendência nacional, mas instituir uma, duas e quan<strong>do</strong><br />

muito três províncias em república, <strong>de</strong>sanexan<strong>do</strong>-as <strong>de</strong>sse to<strong>do</strong>, que <strong>de</strong>ve sempre permanecer uni<strong>do</strong><br />

e constituir um forte e po<strong>de</strong>roso império, seria retalhar a herança que sagraram os troféus <strong>da</strong>s<br />

vitórias <strong>de</strong> Paranapacuí, Guaxinduba e Guararapes, para amesquinhá-la em insignificantes<br />

quinhões...<br />

Felizmente ecoou o bra<strong>do</strong> <strong>do</strong> Ipiranga <strong>do</strong> norte ao sul, <strong>do</strong> oriente ao oci<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> gran<strong>de</strong> e<br />

nascente Império, e a aurora <strong>da</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong> surgiu para sempre bela e radiante na terra <strong>de</strong> Santa<br />

Cruz! 29<br />

Outros trabalhos <strong>de</strong> Joaquim Norberto escritos no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> forjar uma tradição para o<br />

Império são: “Modulações poéticas precedi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> um bosquejo <strong>da</strong> história <strong>da</strong> poesia <strong>brasileira</strong>”<br />

(1841), “Obras poéticas <strong>de</strong> Alvarenga Peixoto” (1865) e “Cantos Épicos” 30 (cantos <strong>de</strong>dica<strong>do</strong>s ao<br />

Impera<strong>do</strong>r Pedro II, aos episódios históricos <strong>da</strong> Guerra Holan<strong>de</strong>sa e à In<strong>de</strong>pendência <strong>do</strong> Brasil).<br />

28<br />

SILVA, J. N. S. Capítulo XIX. A morte e os <strong>de</strong>sterros. In: SILVA, J. N. S. História <strong>da</strong> Conjuração Mineira.<br />

RJ: Garnier, 1860. Disponível: . Acesso<br />

em 17 out. 2008, p.153.<br />

29<br />

SILVA, J. N. S. História <strong>da</strong> Conjuração Mineira. RJ: Garnier, 1860. Disponível:<br />

. Acesso em 17 out. 2008, p.158.<br />

30<br />

SILVA, J. N. S. Cantos épicos. RJ: Laemmert, 1861. Prefácio <strong>do</strong> Cônego Joaquim Caetano Fernan<strong>de</strong>s<br />

Pinheiro, traçan<strong>do</strong> <strong>da</strong> poesia uma visão evolutiva basea<strong>da</strong> no prefácio <strong>de</strong> Cromwell, <strong>de</strong> Victor Hugo.<br />

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18


A Revolta <strong>do</strong>s Balaios no Maranhão – uma típica leitura <strong>do</strong>s movimentos<br />

nativistas pela Primeira Geração Romântica<br />

Dentro <strong>de</strong> um balanço geral, a leitura <strong>do</strong>s movimentos nativistas pela Primeira Geração<br />

Romântica quase sempre se silenciou acerca <strong>da</strong> resistência <strong>do</strong>s movimentos sociais contra a<br />

<strong>do</strong>minação patrimonialista, a casa <strong>de</strong> Bragança e as <strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong> violência por parte <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r<br />

central. Basta ver, como intencionalmente <strong>de</strong>ram menor atenção ao papel <strong>do</strong>s lí<strong>de</strong>res <strong>da</strong><br />

Inconfidência Mineira (como os trabalhos <strong>de</strong> Capistrano <strong>de</strong> Abreu e Varnhagen) e <strong>da</strong> Revolução<br />

Liberal Pernambucana (a exemplo <strong>de</strong> Varnhagen).<br />

Em geral, quan<strong>do</strong> os integrantes <strong>da</strong> Primeira Geração Romântica conduziram os seus<br />

estu<strong>do</strong>s sobre os movimentos nativistas para o terreno <strong>da</strong>s questões políticas, quase sempre se<br />

per<strong>de</strong>ram em consi<strong>de</strong>rações retóricas sobre a escolha <strong>da</strong> melhor forma <strong>de</strong> governo, a volatili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

<strong>do</strong>s parti<strong>do</strong>s políticos e o lugar-comum <strong>do</strong> diagnóstico <strong>de</strong> que o nosso atraso político <strong>de</strong>corria <strong>da</strong><br />

ignorância <strong>do</strong> povo.<br />

Ten<strong>de</strong>ram a silenciar-se sobre os apelos contra o ódio racial e os <strong>de</strong>sman<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s senhores<br />

rurais, bem como acerca <strong>da</strong>s revoltas contra a miséria e a opressão provoca<strong>da</strong>s pelo latifúndio.<br />

Havia também a intenção <strong>de</strong> transformar os movimentos nativistas em lutas partidárias ou em<br />

manifestações isola<strong>da</strong>s <strong>de</strong> indivíduos <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>iros, cruéis, ociosos e facinorosos. Neste senti<strong>do</strong>, um<br />

<strong>do</strong>s melhores exemplos <strong>de</strong>sta interpretação <strong>do</strong>s movimentos sociais pela Primeira Geração<br />

Romântica é a narrativa histórica <strong>de</strong> Gonçalves <strong>de</strong> Magalhães “Memória histórica e <strong>do</strong>cumenta<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> Revolução <strong>da</strong> Província <strong>do</strong> Maranhão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1839 até 1840” (1848) 31 .<br />

Em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1839 o “vapor São Sebastião” saiu <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro rumo a São Luís<br />

(Maranhão), levan<strong>do</strong> Gonçalves <strong>de</strong> Magalhães, o coronel Luiz Alves Lima (posteriormente o Duque<br />

<strong>de</strong> Caxias), os seus oficiais e o novo ministério nomea<strong>do</strong> pela Corte para presidir a Província <strong>do</strong><br />

Maranhão e coman<strong>da</strong>r as forças militares provinciais, pois o Movimento Balaia<strong>da</strong> (1838–1841)<br />

estava “flagelan<strong>do</strong>” a respectiva Província.<br />

O texto é uma narrativa histórica escrita para ser apresenta<strong>do</strong> em sessões <strong>do</strong> Instituto<br />

Histórico e Geográfico Brasileiro/IHGB na presença <strong>do</strong> Impera<strong>do</strong>r e <strong>do</strong>s seus associa<strong>do</strong>s. Ao longo<br />

31<br />

MAGALHÃES, D. G. <strong>de</strong>. Memória Histórica e Documenta<strong>da</strong> Revolução <strong>da</strong> Província <strong>do</strong> Maranhão <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

1839 até 1840. Novos Estu<strong>do</strong>s CEBRAP. SP, n.23, p.14-66, marc. 1989.<br />

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<strong>do</strong> texto, Gonçalves <strong>de</strong> Magalhães situou a Balaia<strong>da</strong> como um movimento nasci<strong>do</strong> <strong>de</strong> mais um<br />

lance <strong>do</strong> “sistema <strong>de</strong> transações” 32 e <strong>de</strong> trocas <strong>de</strong> influências políticas. Uma <strong>da</strong>s marcas <strong>da</strong> nossa<br />

vi<strong>da</strong> política nacional, que, a seu ver, havia “santifica<strong>do</strong>” a máxima: “quem na<strong>da</strong> tem, na<strong>da</strong><br />

alcança”.<br />

Causava-lhe <strong>de</strong>sânimo o “far<strong>do</strong> <strong>do</strong>s bacharéis”, que lota<strong>do</strong>s em cargos e postos públicos<br />

lutavam “<strong>do</strong> extremo Norte ao extremo Sul para manter uni<strong>do</strong> o Esta<strong>do</strong> que her<strong>da</strong>mos <strong>de</strong> 1822.<br />

Nossa tarefa histórica é traduzir e civilizar a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> para construir a nação por hora<br />

inexistente” 33 . Enquanto isto, os <strong>do</strong>is grupos políticos maranhenses – os “bemtevis” e os “cabanos”–<br />

revezavam-se no po<strong>de</strong>r e ca<strong>da</strong> qual esperava “o momento para <strong>de</strong>rrubar o estabeleci<strong>do</strong>”, mesmo<br />

diante <strong>do</strong> perigo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sintegração <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m e <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> geopolítica <strong>da</strong> Nação. Neste vai e vem <strong>de</strong><br />

intrigas palacianas, Gonçalves <strong>de</strong> Magalhães flagrou o sisu<strong>do</strong> e conserva<strong>do</strong>r em letras Francisco<br />

Sotero <strong>do</strong>s Reis, empenha<strong>do</strong> em “sorrateiramente maquinar a que<strong>da</strong> <strong>do</strong> presi<strong>de</strong>nte” para com isto<br />

vexar “o parti<strong>do</strong> oposto” 34 .<br />

A causa <strong>do</strong> “Movimento Balaia<strong>da</strong>”, segun<strong>do</strong> Magalhães, foi a <strong>de</strong>cisão <strong>da</strong> Assembléia<br />

Provincial <strong>do</strong> Maranhão, a exemplo <strong>da</strong> <strong>de</strong> Pernambuco, <strong>de</strong>cretar a “Lei <strong>do</strong>s Prefeitos” (1839), que<br />

em princípio concedia ao presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> província a prerrogativa <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r nomear autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s como<br />

o prefeito e o juiz <strong>de</strong> paz para os municípios. Estas nomeações eram usualmente prerrogativas <strong>da</strong>s<br />

câmaras municipais e funcionavam como a base <strong>da</strong> autonomia política <strong>do</strong>s municípios. Mais tar<strong>de</strong>,<br />

as câmaras municipais per<strong>de</strong>rão <strong>de</strong>finitivamente esta prerrogativa com o avanço <strong>do</strong> processo <strong>de</strong><br />

centralização <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> por meio <strong>da</strong> Lei <strong>de</strong> Interpretação <strong>de</strong> 12 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1840, posteriormente<br />

ratifica<strong>da</strong> por <strong>de</strong>cisão <strong>do</strong> Conselho <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> (1841).<br />

A ab-rogação <strong>da</strong> “Lei <strong>do</strong>s prefeitos” era um <strong>do</strong>s itens centrais reivindica<strong>do</strong>s pelos “balaios”,<br />

aos quais foram acrescenta<strong>da</strong>s, ao longo <strong>do</strong> conflito, outras reivindicações. Tais como a “anistia aos<br />

32<br />

MAGALHÃES, D. G. <strong>de</strong>. Memória Histórica e Documenta<strong>da</strong> Revolução <strong>da</strong> Província <strong>do</strong> Maranhão <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

1839 até 1840. Novos Estu<strong>do</strong>s CEBRAP. SP, n.23, p.15; 12, marc. 1989.<br />

33<br />

MAGALHÃES, D. G. <strong>de</strong>. Memória Histórica e Documenta<strong>da</strong> Revolução <strong>da</strong> Província <strong>do</strong> Maranhão <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

1839 até 1840. Novos Estu<strong>do</strong>s CEBRAP. SP, n.23, p.12, marc. 1989.<br />

34 MAGALHÃES, D. G. <strong>de</strong>. Memória Histórica e Documenta<strong>da</strong> Revolução <strong>da</strong> Província <strong>do</strong> Maranhão <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

1839 até 1840. Novos Estu<strong>do</strong>s CEBRAP. SP, n.23, p.15, marc. 1989.<br />

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evoltosos”; a “in<strong>de</strong>nização <strong>da</strong> tropa” <strong>do</strong>s revoltosos; a “expulsão <strong>do</strong>s portugueses <strong>da</strong> província” e a<br />

“incorporação <strong>de</strong> alguns chefes <strong>da</strong>s forças “bemtevis” às forças reais como oficiais 35. .<br />

O texto é uma narrativa histórica <strong>de</strong> um intelectual urbano próximo <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r, choca<strong>do</strong> com<br />

a cruel<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>do</strong>s conflitos e o nível <strong>de</strong> aban<strong>do</strong>no <strong>de</strong> uma província localiza<strong>da</strong> no extremo norte <strong>do</strong><br />

Brasil. Ao mesmo tempo, o texto reflete a condição <strong>de</strong> Magalhães como um <strong>do</strong>s integrantes <strong>da</strong>s<br />

“forças <strong>da</strong> legali<strong>da</strong><strong>de</strong>”. Neste senti<strong>do</strong>, Domingos Gonçalves <strong>de</strong> Magalhães não poupava os balaios<br />

<strong>da</strong> acusação <strong>de</strong> “errantes saltea<strong>do</strong>res”, “facinorosos”, “hor<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>vasta<strong>do</strong>res”, um “ban<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

saltea<strong>do</strong>res, sem cor política (...) sem nenhuma inteligência (...) nem plano político bem concebi<strong>do</strong>”,<br />

que an<strong>da</strong>vam “<strong>de</strong>vastan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> como quadrilhas <strong>de</strong> bárbaros saltea<strong>do</strong>res, capitanea<strong>do</strong>s por<br />

diferentes caudilhos, que obravam sem concerto” 36 .<br />

Ao chegar numa província em que 70 mil indivíduos eram livres e 120 mil eram negros<br />

escravos, o maior temor <strong>de</strong>ste letra<strong>do</strong> or<strong>de</strong>iro era ocorrer a <strong>de</strong>sintegração social pela “rebelião <strong>do</strong>s<br />

homens <strong>de</strong> cor”. Não obstante a esta condição, Gonçalves <strong>de</strong> Magalhães não tomou a escravidão<br />

como um problema central <strong>do</strong> conflito, apesar <strong>de</strong> relatar, <strong>de</strong>ntre outros fatos semelhantes, a atitu<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> tenente-coronel Militão Ban<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Barros. Este lí<strong>de</strong>r, à frente <strong>de</strong> 500 rebel<strong>de</strong>s, entrou na Vila<br />

<strong>do</strong> Riachão e num gesto simbólico, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tomá-la e assediá-la, permitiu que os revoltosos<br />

“arrombassem a ca<strong>de</strong>ia e queimassem o tronco”.<br />

Os amotina<strong>do</strong>s foram motiva<strong>do</strong>s, como informa Magalhães ao leitor, por “ódio <strong>de</strong> cor”. Em<br />

particular, era este o sentimento que movia o mulato Militão: um militar a quem outrora recusaram<br />

conce<strong>de</strong>r o cargo <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> Paz, por “haver ele nasci<strong>do</strong> escravo e ter si<strong>do</strong> forro por seu senhor e<br />

pai” 37 . Ain<strong>da</strong> neste senti<strong>do</strong>, Magalhães conhecera pessoalmente os lí<strong>de</strong>res balaios e sobre eles<br />

anotara a particulari<strong>da</strong><strong>de</strong>: que eram to<strong>do</strong>s “homens <strong>de</strong> cor”, tanto Raymun<strong>do</strong> Gomes, “quase<br />

negro”; como Cosme, o “infame negro”.<br />

Apesar <strong>de</strong> não <strong>de</strong>sconhecer a posição social <strong>de</strong>stes homens, tanto que relatou que os balaios<br />

eram indivíduos que viviam no limiar <strong>da</strong> pobreza e sob a opressão <strong>do</strong>s senhores rurais, Gonçalves<br />

35<br />

MAGALHÃES, D. G. <strong>de</strong>. Memória Histórica e Documenta<strong>da</strong> Revolução <strong>da</strong> Província <strong>do</strong> Maranhão <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

1839 até 1840. Novos Estu<strong>do</strong>s CEBRAP. SP, n.23, p.24, marc. 1989.<br />

36<br />

MAGALHÃES, D. G. <strong>de</strong>. Memória Histórica e Documenta<strong>da</strong> Revolução <strong>da</strong> Província <strong>do</strong> Maranhão <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

1839 até 1840. Novos Estu<strong>do</strong>s CEBRAP. SP, n.29, p.14-66, marc. 1989.<br />

37<br />

MAGALHÃES, D. G. <strong>de</strong>. Memória Histórica e Documenta<strong>da</strong> Revolução <strong>da</strong> Província <strong>do</strong> Maranhão <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

1839 até 1840. Novos Estu<strong>do</strong>s CEBRAP. SP, n.31, p.14-66, marc. 1989.<br />

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<strong>de</strong> Magalhães <strong>de</strong>stinou-lhes os piores predica<strong>do</strong>s. Entretanto, silenciou-se sobre os coronelaços <strong>do</strong><br />

tipo <strong>do</strong> Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Paranaíba, que no mesmo perío<strong>do</strong> <strong>da</strong> Balaia<strong>da</strong> vivia pilhan<strong>do</strong> fazen<strong>da</strong>s e<br />

pequenas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s no interior <strong>do</strong> Piauí e <strong>do</strong> Maranhão 38 .<br />

Ain<strong>da</strong> que ao longo <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a história <strong>do</strong> Império, a relação <strong>da</strong> Primeira Geração Romântica<br />

com o po<strong>de</strong>r político fosse indiscutivelmente próxima e possivelmente uma <strong>da</strong>s mais bem-<br />

articula<strong>da</strong>s entre os intelectuais e o po<strong>de</strong>r político, apareceram estu<strong>do</strong>s que interpretaram os<br />

movimentos nativistas como reações legítimas <strong>do</strong> povo brasileiro contra a Monarquia nacional,<br />

fun<strong>da</strong><strong>do</strong>s na <strong>do</strong>utrina <strong>do</strong> direito <strong>do</strong>s povos <strong>de</strong> resistir aos governos absolutistas.<br />

Nesta linha, foi escrito o “Libelo <strong>do</strong> povo” (1849) <strong>de</strong> Torres-Homem 39 :<br />

A revolução <strong>da</strong> in<strong>de</strong>pendência, que <strong>de</strong>volveu-nos à posse <strong>de</strong> nós mesmos, firmava como<br />

<strong>do</strong>gma fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> nova or<strong>de</strong>m social o gran<strong>de</strong> princípio <strong>da</strong> soberania <strong>do</strong> povo (...) em virtu<strong>de</strong><br />

<strong>da</strong>quele direito, preferiu a nação a Monarquia, <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong> que po<strong>de</strong>ria preferir a República <strong>de</strong><br />

Franklin e Washington; aclamou por seu rei o primogênito <strong>da</strong> casa <strong>de</strong> Bragança (...) esse rei era<br />

simples feitura <strong>de</strong> nossas mãos; (...) seu trono, contemporâneo <strong>da</strong> nossa liber<strong>da</strong><strong>de</strong>, repousa sobre a<br />

mesma base que ela – a revolução! (...) o seu po<strong>de</strong>r é empresta<strong>do</strong>, convencional, subordina<strong>do</strong> ao<br />

parecer e à vonta<strong>de</strong> <strong>da</strong> nação 40<br />

Esta posição <strong>de</strong> Torres-Homem, i<strong>de</strong>ologicamente resistente ao absolutismo materializa<strong>do</strong> no<br />

Po<strong>de</strong>r Mo<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>r, foi aos poucos se abran<strong>da</strong>n<strong>do</strong>: na medi<strong>da</strong> em que Torres-Homem assumia cargos<br />

públicos relevantes (<strong>de</strong>puta<strong>do</strong>, sena<strong>do</strong>r, ministro <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong>); trocou o Parti<strong>do</strong> Liberal pelo Parti<strong>do</strong><br />

Conserva<strong>do</strong>r e, por fim, mais próximo <strong>do</strong> Impera<strong>do</strong>r, recebeu <strong>da</strong> realeza o título <strong>de</strong> Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Inhomerim.<br />

38<br />

ALENCASTRO, L. F. Memórias <strong>da</strong> Balaia<strong>da</strong>. Introdução ao relato <strong>de</strong> Gonçalves <strong>de</strong> Magalhães. Novos<br />

Estu<strong>do</strong>s CEBRAP. SP, n.23, p.12, marc. 1989.<br />

39<br />

Francisco <strong>de</strong> Sales Torres-Homem nasceu no Rio <strong>de</strong> Janeiro (1812) e morreu em Paris (1876). Inicialmente<br />

estu<strong>do</strong>u medicina no Rio, porém entre os anos <strong>de</strong> 1833–1837 foi viver em Paris on<strong>de</strong> se bacharelou em Direito. Em<br />

Paris, uniu-se a Magalhães e Porto-Alegre para fun<strong>da</strong>r a Revista Niterói. Ain<strong>da</strong> viven<strong>do</strong> em Paris, prefaciou o livro <strong>de</strong><br />

Gonçalves <strong>de</strong> Magalhães “Suspiro poéticos e sau<strong>da</strong><strong>de</strong>s”, em 1836. De volta ao Brasil, continuaria a sua contribuição<br />

para as letras fun<strong>da</strong>n<strong>do</strong> com outros letra<strong>do</strong>s a Revista Minerva Brasiliense. Em 1849 publicou “Libelo <strong>do</strong> Povo” sob o<br />

pseudônimo Timandro, um livro escrito em tons liberais e pontua<strong>do</strong> <strong>de</strong> ousa<strong>da</strong>s críticas à Monarquia <strong>de</strong> D. Pedro II.<br />

Porém tal postura <strong>da</strong>rá lugar à outra mais próxima <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r à medi<strong>da</strong> que ele emplacava uma carreira política brilhante<br />

e próxima <strong>do</strong> Trono, cujo ápice ocorrerá quan<strong>do</strong> assumiu cargo <strong>de</strong> chefe <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> e, por fim, quan<strong>do</strong> recebeu o título<br />

<strong>de</strong> Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Inhomerim.<br />

40<br />

TORRES-HOMEM, F. S. O libelo <strong>do</strong> povo, por Timandro. RJ: Typ. Correio Mercantil, 1849, p.22, 23,<br />

78,79.<br />

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A resignificação <strong>do</strong>s movimentos nativistas, ocorri<strong>do</strong>s no perío<strong>do</strong> colonial e reinterpreta<strong>do</strong>s<br />

como reações <strong>de</strong> rupturas contra o regime monárquico e a or<strong>de</strong>m patrimonialista, só será retoma<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> movimento romântico por alguns intelectuais <strong>do</strong> Norte. Estes, por sua vez, estavam<br />

envolvi<strong>do</strong>s num complexo <strong>de</strong> fatores sociopolíticos e econômicos em parte distintos <strong>da</strong>queles<br />

vivi<strong>do</strong>s pelo “Grupo <strong>do</strong>s contentes”. Os intelectuais <strong>do</strong> Norte guar<strong>da</strong>vam algumas proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

entre si quanto aos níveis <strong>do</strong>s seus capitais econômicos e o grau <strong>de</strong> conservação <strong>da</strong>s suas heranças<br />

familiares. Objetivamente, to<strong>do</strong>s reuniam baixos níveis <strong>de</strong> capitais <strong>de</strong> relações sociais e<br />

econômicos.<br />

Desta forma, letra<strong>do</strong>s como Franklin Távora, Sílvio Romero, Tobias Barreto, Inglês <strong>de</strong><br />

Sousa e Capistrano <strong>de</strong> Abreu enfrentavam obstáculos para se firmar em carreiras profissionais<br />

liberais e público-burocráticas. Isto porque eram filhos <strong>de</strong> famílias sob ameaça <strong>de</strong> <strong>de</strong>sagregação<br />

progressiva <strong>da</strong>s suas heranças <strong>de</strong> relações sociais e expostos a níveis crescentes <strong>de</strong> rebaixamento<br />

<strong>do</strong>s seus capitais econômicos. Além <strong>do</strong> mais, to<strong>do</strong>s eles foram nasci<strong>do</strong>s em províncias em grau<br />

avança<strong>do</strong> <strong>de</strong> empobrecimento e <strong>de</strong> per<strong>da</strong> <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r político por parte <strong>do</strong>s estratos oligárquicos rurais,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> três séculos estabeleci<strong>do</strong>s como grupo político e social estratégico.<br />

Dentro <strong>de</strong>ste quadro, po<strong>de</strong>mos alinhar Franklin Távora com o romance “Lourenço: crônica<br />

pernambucana” (1878) 41 . A trama <strong>de</strong>ste romance regionalista fora <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> em torno <strong>do</strong><br />

conflito entre <strong>do</strong>is grupos sociais em disputa pela condição <strong>de</strong> grupo social estratégico. De um la<strong>do</strong>,<br />

os senhores rurais <strong>de</strong> Olin<strong>da</strong> ameaça<strong>do</strong>s nos seus três séculos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r político e econômico pelo<br />

endivi<strong>da</strong>mento com os mascates, a que<strong>da</strong> <strong>de</strong> valores <strong>do</strong>s seus produtos agrícolas e a elevação <strong>do</strong><br />

preço <strong>da</strong> força <strong>de</strong> trabalho escrava, intensifica<strong>da</strong> <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1850 com a proibição <strong>do</strong> tráfico <strong>de</strong><br />

escravos. Do outro la<strong>do</strong>, estava a burguesia comercial <strong>do</strong> Recife, grupo social em ascensão política<br />

e econômica. Forte o bastante para impor preços reduzi<strong>do</strong>s aos produtos vendi<strong>do</strong>s pelos senhores<br />

rurais e, numa mostra <strong>da</strong> sua força política crescente, fazer valer os processos <strong>de</strong> liqui<strong>da</strong>ção judicial<br />

contra os senhores rurais, em <strong>de</strong>corrência <strong>do</strong> endivi<strong>da</strong>mento <strong>de</strong>stes últimos em suas mãos42 .<br />

41 TÁVORA, F. Lourenço: crônica pernambucana. Nova edição. RJ: H. Garnier, 1902.<br />

42<br />

Para uma contextualização <strong>do</strong> quadro socioeconômico, pano <strong>de</strong> fun<strong>do</strong> <strong>do</strong> romance Lourenço, ver FREYRE,<br />

G. Sobra<strong>do</strong>s e Mucambos. 14ª edição. SP: Global, 2003, p.90; 109; 121; 157; 496; 756. Para a compreensão <strong>da</strong> crise<br />

econômica <strong>da</strong> Província <strong>de</strong> Pernambuco, o melhor estu<strong>do</strong> que conhecemos é EISENBERG, P. L. Mo<strong>de</strong>rnização sem<br />

mu<strong>da</strong>nça: a indústria açucareira em Pernambuco. RJ: Paz e Terra, 1977, p.145-235.<br />

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CONCLUSÃO<br />

Os românticos estiveram empenha<strong>do</strong>s na construção <strong>de</strong> uma nação imagina<strong>da</strong>, a qual para<br />

ser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> <strong>brasileira</strong> e civiliza<strong>da</strong> “era preciso gerar uma diferenciação com a antiga metrópole,<br />

uma origem nativa. Tratava-se <strong>de</strong> <strong>do</strong>tar o Brasil <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>, uma língua, uma história, um<br />

povo, enfim, inventar uma tradição nacional” 43 . Ain<strong>da</strong> que, africanos e indígenas, apesar <strong>do</strong> papel<br />

central na formação <strong>da</strong> cultura <strong>brasileira</strong>, ficassem na ver<strong>da</strong><strong>de</strong> à margem <strong>da</strong> materialização <strong>de</strong>ste<br />

<strong>projeto</strong>.<br />

Neste senti<strong>do</strong>, Antonio Candi<strong>do</strong> situa o <strong>projeto</strong> literário nacionalista <strong>do</strong>s românticos e a<br />

<strong>literatura</strong> <strong>do</strong>s pré-românticos como uni<strong>do</strong>s pela aspiração <strong>de</strong> posicionar o Brasil entre os Esta<strong>do</strong>s-<br />

Nações Oci<strong>de</strong>ntais civiliza<strong>do</strong>s. O elo entre os <strong>do</strong>is grupos estaria fun<strong>da</strong>mentalmente no Indianismo,<br />

contu<strong>do</strong>, Antonio Candi<strong>do</strong> vê distinção entre o <strong>projeto</strong> <strong>da</strong>s luzes concebi<strong>do</strong> no perío<strong>do</strong> pré-<br />

romântico e aquele concebi<strong>do</strong> no perío<strong>do</strong> romântico:<br />

O indianismo <strong>do</strong>s neoclássicos po<strong>de</strong> ser interpreta<strong>do</strong> como tendência para <strong>da</strong>r<br />

generali<strong>da</strong><strong>de</strong> ao <strong>de</strong>talhe concreto. Com efeito, concebi<strong>do</strong> e esteticamente manipula<strong>do</strong> como<br />

se fosse um tipo especial <strong>de</strong> pastor arcádico, o índio ia integrar-se no padrão corrente <strong>do</strong> homem<br />

poli<strong>do</strong>; ia testemunhar a viabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> incluir-se o Brasil na cultura <strong>do</strong> Oci<strong>de</strong>nte (...). O<br />

indianismo <strong>do</strong>s românticos, ao contrário, <strong>de</strong>nota tendências para particularizar os<br />

gran<strong>de</strong>s temas, as gran<strong>de</strong>s atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> que se nutria a <strong>literatura</strong> oci<strong>de</strong>ntal,<br />

inserin<strong>do</strong>-as na reali<strong>da</strong><strong>de</strong> local, tratan<strong>do</strong>-as como próprias <strong>de</strong> uma tradição<br />

<strong>brasileira</strong> 44<br />

Nos termos <strong>de</strong>ste <strong>projeto</strong> <strong>de</strong> <strong>nacionalização</strong> <strong>da</strong>s letras e <strong>de</strong> civilização <strong>da</strong> Nação, a criação <strong>de</strong><br />

símbolos nacionais colocou a <strong>literatura</strong> e o alinhamento político-i<strong>de</strong>ológico <strong>do</strong>s intelectuais a<br />

serviço <strong>do</strong> Segun<strong>do</strong> Reina<strong>do</strong>. De tal forma, que a Primeira Geração Romântica seletivamente<br />

aproximou-se <strong>de</strong> alguns movimentos nativistas, ocorri<strong>do</strong>s no perío<strong>do</strong> colonial, em busca <strong>de</strong><br />

apreen<strong>de</strong>r <strong>de</strong>les os temas românticos e aproveitar-lhes os movimentos <strong>de</strong> resistência política à<br />

exploração econômica e à <strong>do</strong>minação cultural exerci<strong>da</strong>s pela metrópole portuguesa.<br />

43<br />

ALONSO, A. O indianismo romântico: a nação imagina<strong>da</strong>. In: ALONSO, A. I<strong>de</strong>ias em movimento. SP: Paz<br />

e Terra, 2002, p.58.<br />

44<br />

CANDIDO, A. Formação <strong>da</strong> <strong>literatura</strong> <strong>brasileira</strong>. 5ª ed. SP: EDUSP, 1975, p.21 (Grifo nosso)<br />

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Daí, por exemplo, o alto empenho com que se lançaram no estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> Inconfidência Mineira<br />

e o intenso trabalho que tiveram em tornar Tira<strong>de</strong>ntes um herói nacional. Tanto fora o empenho,<br />

que no ano <strong>de</strong> 1846, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro/IHGB promoveu <strong>de</strong>bates e<br />

seminários sobre a Inconfidência Mineira e, em algumas <strong>da</strong>s suas conferências, os integrantes <strong>do</strong><br />

Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro/IHGB esmeraram-se em trazer o “último conjura<strong>do</strong><br />

sobrevivente, José <strong>de</strong> Rezen<strong>de</strong> Costa” 45 .<br />

Ain<strong>da</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> mesma proposta nacionalista e civiliza<strong>do</strong>ra, foram escritos alguns épicos<br />

nacionais em pleno romantismo. O ponto por to<strong>do</strong>s eles compartilha<strong>do</strong> estava centraliza<strong>do</strong> na<br />

estilização <strong>da</strong> formação <strong>da</strong> Nação <strong>brasileira</strong>, como um evento pontualmente sublime e inscrito numa<br />

suposta or<strong>de</strong>m cósmica a ser realiza<strong>da</strong> num futuro próximo em meio a gran<strong>de</strong>s feitos. Nesta linha,<br />

temos as epopéias “A In<strong>de</strong>pendência <strong>do</strong> Brasil” (1847) <strong>de</strong> Teixeira e Sousa; “A confe<strong>de</strong>ração <strong>do</strong>s<br />

Tamoios” (1856) <strong>de</strong> Gonçalves <strong>de</strong> Magalhães; “Os Timbiras” (1857) <strong>de</strong> Gonçalves Dias; José<br />

Alencar com “Os filhos <strong>de</strong> Tupã” (1863); “Colombo” (1866) <strong>de</strong> Porto Alegre e “Anchieta” (1875)<br />

<strong>de</strong> Fagun<strong>de</strong>s Varela.<br />

O fato <strong>do</strong>s primeiros românticos formarem-se, em geral, nas Facul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Medicina e <strong>de</strong><br />

Artes, po<strong>de</strong>ria levar a um menor envolvimento com o nosso processo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> um Esta<strong>do</strong><br />

centraliza<strong>do</strong>r e pouco aberto à ação <strong>do</strong>s grupos políticos e sociais 46 . To<strong>da</strong>via, nós observamos que o<br />

grupo estava afina<strong>do</strong> i<strong>de</strong>ologicamente com a proposta política oficial <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> uma Nação<br />

monárquica; or<strong>de</strong>ira; geopoliticamente unifica<strong>da</strong>; e muito atarefa<strong>do</strong>s em <strong>de</strong>scobrir as singulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

<strong>da</strong> nossa formação social e étnica entre as gran<strong>de</strong>s civilizações oci<strong>de</strong>ntais.<br />

O exercício <strong>de</strong> cargos e postos públicos relevantes, preenchi<strong>do</strong>s em geral pela Primeira<br />

Geração Romântica na carreira diplomática, reforçou ain<strong>da</strong> mais a “homogenei<strong>da</strong><strong>de</strong> i<strong>de</strong>ológica”<br />

entre os seus integrantes. Isto porque o peso <strong>do</strong> treinamento no exercício <strong>de</strong> carreiras burocráticas<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Imperial 47 aproximou-os <strong>do</strong>s letra<strong>do</strong>s bacharéis, usualmente envolvi<strong>do</strong>s no <strong>projeto</strong> <strong>de</strong><br />

construção <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Imperial. Neste aspecto, concorreu o Instituto Histórico Geográfico<br />

Brasileiro/IHGB para esta maior uni<strong>da</strong><strong>de</strong> i<strong>de</strong>ológica, pois esta agremiação era um espaço <strong>de</strong><br />

45 SILVA, J. N. S. Ao Instituto Histórico Brasileiro. In: SILVA, J. N. S. História <strong>da</strong> Conjuração<br />

Mineira.RJ:Garnier,1860.Disponível: . Acesso<br />

em 17 out. 2008, p.05.<br />

46 CARVALHO, J. M. A construção <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m: a elite política imperial. Brasília: Ed. <strong>da</strong> UnB, 1981, p.23−40.<br />

47 CARVALHO, J. M. A construção <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m: a elite política imperial. Brasília: Ed. <strong>da</strong> UnB, 1981, p.32.<br />

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disputas políticas “on<strong>de</strong> reconheci<strong>da</strong>mente prevaleciam sistemas <strong>de</strong> privilégios e a proliferação <strong>de</strong><br />

interpretações morais <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>” 48 .<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

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