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História da Educação Brasileira II - UFPB Virtual

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UNIDADE I UNIDADE <strong>II</strong><br />

UNIDADE <strong>II</strong>I<br />

Aula 8<br />

muitas vezes aparece como se fosse a própria história, e a educação não o fosse. Isso fica<br />

evidente na abor<strong>da</strong>gem sobre educação, com base numa periodização que tem como parâmetros<br />

os fatos <strong>da</strong> história política. Se eu, por exemplo, participasse dessa posição, certamente começaria<br />

esse período que agora estu<strong>da</strong>mos em 1964 (“Revolução” de 31 de março”), faria um corte em<br />

1985 (“fim” do regime militar, nascimento <strong>da</strong> “Nova” República) e seguiria até os dias de hoje.<br />

Ora! Essa periodização <strong>da</strong> história segundo marcos políticos já é complica<strong>da</strong> em si mesma.<br />

Primeiro, porque camufla a presença <strong>da</strong> instituição militar em to<strong>da</strong> a nossa história republicana.<br />

Segundo, mas não em ordem de importância, porque esconde que as políticas de governo<br />

desenvolvi<strong>da</strong>s ao longo do Século XX brasileiro guar<strong>da</strong>m um forte caráter de continui<strong>da</strong>de,<br />

independentemente de provir de regimes “de exceção” ou de regimes “democráticos”, políticas<br />

que não vão além <strong>da</strong> adequação do País às exigências do capital internacional.<br />

Em terceiro lugar, por ser herdeira <strong>da</strong>quela periodização <strong>da</strong> história universal elabora<strong>da</strong> no<br />

Século XIX, e que você conheceu, na Aula 3 <strong>da</strong> Uni<strong>da</strong>de I, uma história dos eventos, ou dos<br />

grandes acontecimentos, uma histoire événémentielle, como diriam os franceses, feita por heróis.<br />

Trata-se de uma história que deseduca, melhor dizendo, que educa para a submissão, a<br />

subserviência, a passivi<strong>da</strong>de dos aprendentes, porque ensina que há quem faça a história por<br />

eles.<br />

E como já entramos, nesse terceiro arrazoado, no coração <strong>da</strong> educação e <strong>da</strong> pe<strong>da</strong>gogia, eu<br />

diria que os cortes artificiais que são feitos na elaboração <strong>da</strong> periodização <strong>da</strong> história, segundo<br />

parâmetros de ordem política, impedem o observador pouco atento de perceber, por um lado, a<br />

continui<strong>da</strong>de de políticas educacionais e de projetos pe<strong>da</strong>gógicos na passagem de um regime<br />

político dito democrático (os governos populistas) para outro dito de exceção (o regime militar),<br />

e para outro, ain<strong>da</strong>, dito democrático (nova república). Vamos ilustrar?<br />

Como você sabe, no ano de 1961, entrou em vigor a primeira LDBEN brasileira. No processo<br />

de tramitação dessa Lei, já estava presente a concepção produtivista <strong>da</strong> educação, inspira<strong>da</strong> na<br />

Teoria do Capital Humano. Você já leu algo sobre essa Teoria, formula<strong>da</strong> nos anos 1950 por<br />

Theodore Shultz, e que surgiu, no período dominado pela economia keynesiana e pela política do<br />

Estado de Bem-estar Social. Você também já leu a respeito e deve saber que o nome “keynesianismo”<br />

derivou do economista John Maynard Keynes (1883-1946). A aplicação de suas idéias no campo<br />

econômico levou o mundo capitalista a superar a crise dos anos 1930 e a conhecer o que ficou<br />

conhecido como a era de ouro do capitalismo. Preconizava-se o pleno emprego. Nesse momento<br />

de euforia, porque a economia capitalista (nos grandes centros) an<strong>da</strong>va a passos largos, Shultz<br />

ensinou que a educação teria como função preparar as pessoas para atuar em um mundo em<br />

expansão, que exigia força de trabalho educa<strong>da</strong>. Pablo Gentilli, citado por Saviani (2003), diz que<br />

O processo de escolari<strong>da</strong>de era interpretado como um elemento fun<strong>da</strong>mental<br />

na formação do capital humano necessário para garantir a capaci<strong>da</strong>de<br />

competitiva <strong>da</strong>s economias e, conseqüentemente, o incremento progressivo<br />

<strong>da</strong> riqueza social e <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> individual.<br />

Ora, nos anos 1970, advinha mais uma crise no sistema capitalista, e mais uma “era de<br />

ouro” do capitalismo chegava ao final. O que fazer com a Teoria do Capital Humano? Como<br />

justificar a crença na contribuição <strong>da</strong> educação para o processo econômico produtivo se a<br />

Trilhas do Aprendente, Vol. 2 - <strong>História</strong> <strong>da</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>II</strong><br />

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Aula 9

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