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História da Educação Brasileira II - UFPB Virtual

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UNIDADE I UNIDADE <strong>II</strong><br />

UNIDADE <strong>II</strong>I<br />

Aula 8<br />

Aula 9<br />

Ora, se existe controle sobre o aluno na escola, esse é muito maior nas escolas experimentais,<br />

ou escolas novas. É o que demonstra Nicolaci <strong>da</strong> Costa. O texto é longo, mas indispensável,<br />

sobretudo porque diz respeito ao nosso objeto de trabalho, a educação infantil:<br />

Gostaria de argumentar que é nessa precarie<strong>da</strong>de (ou ausência) de uma linha<br />

divisória entre o público e o privado, acopla<strong>da</strong> à ênfase <strong>da</strong><strong>da</strong> à liber<strong>da</strong>de de<br />

expressão e ao incentivo conferido ao desenvolvimento de capaci<strong>da</strong>des<br />

idiossincráticas (características vistas por muitos como ‘liberadoras’ ou<br />

‘revolucionárias’) que se instaura um potencial de controle jamais sonhado<br />

em qualquer pe<strong>da</strong>gogia dita tradicional.<br />

Explico: ao expressar-se livremente na presença de observadores (professores<br />

e seus assistentes) atentos, treinados e com tempo disponível, as crianças<br />

facultam aos mesmos uma observação minuciosa e penetrante de todos (ou<br />

quase todos) os aspectos de seu fazer e de seu ser.<br />

Isso é facilmente constatável por meio dos relatórios enviados aos pais por<br />

escolas que adotam as pe<strong>da</strong>gogias experimentais , principalmente as do<br />

período pré-escolar. Neles, fica claro que o alvo <strong>da</strong> avaliação não é mais o<br />

mero ‘desempenho escolar’ <strong>da</strong> criança – como nos boletins <strong>da</strong>s escolas<br />

tradicionais, onde ela era (ou é) avalia<strong>da</strong> por seu aproveitamento em disciplinas<br />

como ciências, matemática, português etc. -, mas seu ‘desenvolvimento global’,<br />

aferido por uma multiplici<strong>da</strong>de de micro-categorias de avaliação.<br />

Além do exemplo já citado de um relatório (sobre uma criança de quatro anos)<br />

que continha 360 categorias de avaliação, cabe apresentar um segundo, onde<br />

a minúcia <strong>da</strong> observação se evidencia de outro modo. Um subitem intitulado<br />

‘organização motora de base’, do item ‘estruturação <strong>da</strong>s funções intelectuais’,<br />

parte de um longo relatório semestral enviado aos pais de uma aluna por uma<br />

escola carioca, contém a seguinte observação:<br />

Cristina an<strong>da</strong> e corre com segurança. Sobe as esca<strong>da</strong>s alternando os pés, não<br />

necessitando de apoio <strong>da</strong> parede (...). Para descer, não alterna os pés. Não<br />

demonstra dificul<strong>da</strong>de ao passar de senta<strong>da</strong> para em pé, deita<strong>da</strong> para senta<strong>da</strong> ou<br />

deita<strong>da</strong> para em pé.<br />

Em outro item do mesmo relatório, intitulado ‘desenvolvimento <strong>da</strong> comunicação’,<br />

podemos ler:<br />

Cristina sempre verbaliza suas necessi<strong>da</strong>des com todos na sala. Conversa muito<br />

com os amigos, com vocabulário adequado, dramatizando situações e referindo-se<br />

a si mesma pelo pronome ‘eu’. Responde às perguntas feitas sobre um objeto<br />

podendo determinar sua localização, função e características.<br />

Finalmente, na seção dedica<strong>da</strong> ao ‘desenvolvimento emocional’, encontramos:<br />

Cristina é muito desembaraça<strong>da</strong>, carinhosa e amiga. A<strong>da</strong>ptou-se com tranqüili<strong>da</strong>de<br />

ao ambiente escolar e aos amigos, com os quais tem um carinho especial. Está<br />

sempre atenta e disposta a cooperar nas rodinhas, gostando de fazer perguntas e<br />

conversar sobre o assunto <strong>da</strong>do ou falado. Realiza muito bem suas ativi<strong>da</strong>des,<br />

gostando muito <strong>da</strong> colagem, onde realiza bonitos trabalhinhos. Verbaliza to<strong>da</strong>s as<br />

suas necessi<strong>da</strong>des e enfrenta com tranqüili<strong>da</strong>de situações novas. Está sempre<br />

sorrindo e de bom humor.<br />

É incontestável que esse avaliador conhece Cristina muito bem. Além de suas<br />

capaci<strong>da</strong>des e preferências, é capaz de descrever em detalhes até seu modo<br />

de subir e descer esca<strong>da</strong>s.<br />

É também fora de dúvi<strong>da</strong> que esse tipo de conhecimento profundo sobre o<br />

outro é fonte de poder (e de eventual controle) sobre ele. Aliás, tanto a vigilância<br />

minuciosa como fonte de saber quanto o saber como fonte de poder não são<br />

novi<strong>da</strong>de e, além de terem sido deti<strong>da</strong>mente analisados por Michel Foucault,<br />

Basil Bernstein e Pierre Bourdieu, foram elementos básicos do pesadelo de<br />

muitos, como do 1984, de George Orwell.<br />

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