História da Educação Brasileira II - UFPB Virtual
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UNIDADE I UNIDADE <strong>II</strong><br />
UNIDADE <strong>II</strong>I<br />
Aula 8<br />
Como to<strong>da</strong> classe social, a aristocracia detinha uma ideologia, quer dizer, uma visão de<br />
mundo que, embora sua, era apresenta<strong>da</strong> ao conjunto <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de como váli<strong>da</strong> para todos, para<br />
que todos orientassem suas ações sociais e políticas por essa visão de mundo. Ao mesmo tempo,<br />
ela possuía canais de elaboração e divulgação dessa ideologia, sendo a Igreja o mais significativo.<br />
Tamanha a presença <strong>da</strong> Igreja que, quando olhamos para a I<strong>da</strong>de Média européia, pensamos que<br />
ela era a dona do pe<strong>da</strong>ço e nos esquecemos de enxergar a aristocracia, a nobreza feu<strong>da</strong>l, classe<br />
social à qual a Igreja servia. Como viria a servir, mais tarde, à burguesia, quando esta tivesse seu<br />
poder consoli<strong>da</strong>do.<br />
Como acontece no Brasil de hoje, na socie<strong>da</strong>de européia <strong>da</strong> I<strong>da</strong>de Média, também havia<br />
escolas. Naquela socie<strong>da</strong>de e, por extensão, em suas escolas, circulava uma pe<strong>da</strong>gogia. Uma só?<br />
Que nome atribuir àquela(s) pe<strong>da</strong>gogia(s)? Será que as pessoas <strong>da</strong>quela época estavam<br />
preocupa<strong>da</strong>s em discutir, como as de hoje, nomes de pe<strong>da</strong>gogias? Se havia mais de uma, qual<br />
seria a outra, além <strong>da</strong>quela que muitos denominam Tradicional? Tradicional em relação a quê? O<br />
que caracterizaria uma pe<strong>da</strong>gogia tradicional? Tradicional é sinônimo de velho? Você não acha<br />
essa imagem que os ditos escolanovistas pintam do que eles chamam tradicional um tanto<br />
caricatural? Existiria uma pe<strong>da</strong>gogia tradicional em estado “puro”?<br />
Georges Snyders, um estudioso <strong>da</strong> educação, diz que<br />
É indispensável, em primeiro lugar, tirar, dessa expressão (pe<strong>da</strong>gogia<br />
tradicional), qualquer sentido pejorativo, depreciativo, esse sentido que se<br />
tornou tão habitual pela leitura dos teóricos dos ‘métodos novos’. [...] e talvez<br />
sejamos levados a considerar, nela, valores que não podem, pura e<br />
simplesmente, ser tratados com desprezo, coisa que, de modo algum, implicará<br />
que se apresentem como definitivos, que recusem a<strong>da</strong>ptação às novas épocas<br />
e, até, transmutação profun<strong>da</strong>. (SNYDERS, 1974).<br />
E se eu lhe disser que a elaboração dessa tendência pe<strong>da</strong>gógica de matriz liberal, a que se<br />
convencionou denominar Tradicional, pertence a Friedrich Herbart, na segun<strong>da</strong> metade do Século<br />
XIX e que, buscando suas origens, encontrá-la-emos no jesuíta Francisco Suárez, no Século XVI,<br />
e nos protestantes Ratichius e Comenius, no Século XV<strong>II</strong>, logo, na moderni<strong>da</strong>de?<br />
Acredito que você, refletindo a partir<br />
dessas in<strong>da</strong>gações, concluirá que Tradicional<br />
não tem a ver, necessariamente, com Igreja<br />
(Católica) e com Medievalismo. Da mesma<br />
forma que o discurso do “Novo” tem pouca<br />
consistência. Lembre, por exemplo, a<br />
expressão República Nova, utiliza<strong>da</strong> para<br />
caracterizar o período <strong>da</strong> história republicana<br />
brasileira a partir de 1930! O que ele trazia de<br />
Novo em relação ao que se acusava como<br />
Velho ou Tradicional, a República Velha? E a<br />
Nova República, denominação atribuí<strong>da</strong> a essa<br />
que começou, em 1985, o que ela trouxe de Novo em relação ao período que a antecedeu, o<br />
Regime Militar? E se o Novo tem a ver com liber<strong>da</strong>de, com democracia e coisas do gênero, por que<br />
a ditadura varguista (1937-1945) é denomina<strong>da</strong> Estado Novo?<br />
Trilhas do Aprendente, Vol. 2 - <strong>História</strong> <strong>da</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>II</strong><br />
198<br />
Aula 9<br />
Estudo interessante sobre as tendências<br />
pe<strong>da</strong>gógicas de matriz liberal é feito por<br />
Dermeval Saviani, no livro Escola e<br />
democracia. Nesse livro, dentre outras<br />
coisas, ele compara a Pe<strong>da</strong>gogia<br />
Tradicional (Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> Essência) com<br />
a Escola Nova (Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> Existência),<br />
desde suas bases filosóficas,<br />
denunciando a mistificação de que a<br />
Escola Nova é fruto.<br />
O livro, cuja primeira edição é de 1983,<br />
continua atual. No ano 2003, ele já se<br />
encontrava na edição 36.<br />
É inadmissível que um estu<strong>da</strong>nte do Curso<br />
de Pe<strong>da</strong>gogia não possua esse livro!