História da Educação Brasileira II - UFPB Virtual
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UNIDADE I UNIDADE <strong>II</strong><br />
UNIDADE <strong>II</strong>I<br />
Aula 4 Aula 5<br />
Aula 6 Aula 7<br />
Ora, a alfabetização <strong>da</strong> população implicaria a extensão do direito ao voto, necessário à realização<br />
do projeto nacionalista-desenvolvimentista <strong>da</strong> burguesia industrial brasileira, não sem razão, a<br />
experiência de Freire em Angicos, no Rio Grande do Norte, foi legitima<strong>da</strong> pela presença e pelo aval<br />
do Presidente Goulart.<br />
Paiva (1980), que estudou a trajetória <strong>da</strong> ação pe<strong>da</strong>gógica e <strong>da</strong> produção teórica de Freire<br />
até 1965, disse, ain<strong>da</strong>, que o projeto nacionalista-desenvolvimentista, tradução política e intelectual<br />
do keynesianismo para a reali<strong>da</strong>de brasileira dos anos 1950 e 1960, era apoiado, no início dos<br />
anos 1960, pelo governo norte-americano, em face <strong>da</strong> ameaça <strong>da</strong> expansão soviética, no contexto<br />
<strong>da</strong> Guerra Fria. Quanto ao método Paulo Freire, não causava temor, por isso sua experimentação<br />
foi financia<strong>da</strong> parcialmente pela agência norte-americana US. Agency for International Development.<br />
Abor<strong>da</strong>ndo o assunto, Beiseguel (2004) afirmou que, “Pelas suas características, o método<br />
Paulo Freire respondia às expectativas dos grupos dirigentes, no Governo <strong>da</strong> União, e aos objetivos<br />
fixados para o movimento estu<strong>da</strong>ntil na área <strong>da</strong> educação. [Que] a educação popular, assim<br />
concebi<strong>da</strong>, atendia integralmente às necessi<strong>da</strong>des dos grupos governamentais e estu<strong>da</strong>ntes<br />
comprometidos com a política <strong>da</strong>s ‘reformas estruturais’. [...] Mas o projeto atendia também às<br />
expectativas dos grupos orientados para uma transformação mais radical <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de”, grupos<br />
estes que ultrapassavam “os limites possíveis do processo de democratização do ensino e <strong>da</strong><br />
socie<strong>da</strong>de, na ordem social capitalista, no Brasil”.<br />
Enquanto muitos militantes <strong>da</strong> educação popular que ultrapassavam os limites do Estado<br />
populista eram duramente reprimidos a partir do golpe de 1964, Paulo Freire era poupado. Católico,<br />
defensor dos interesses privatistas <strong>da</strong> educação, quando <strong>da</strong> elaboração <strong>da</strong> Lei 4.024/61, foi<br />
preso, depois exilado. No exílio, como observou Paiva (1980), transformou-se no “tradutor”<br />
pe<strong>da</strong>gógico do Concílio Vaticano <strong>II</strong>, além de ganhar projeção internacional, ao atuar em movimentos<br />
de libertação nacional de viés desenvolvimentista.<br />
Se, como observou Francisco Wefort, as preocupações de Paulo Freire, nessa época, eram<br />
fun<strong>da</strong>mentalmente educativas, seus trabalhos, “Desde o início, [...] foram assimilados mais pelas<br />
suas virtuali<strong>da</strong>des enquanto meio de mobilização do que enquanto expressão de um conjunto<br />
articulado de idéias educacionais” (BEISEGUEL, 2004, pp. 415-416). Apesar do caráter conservador<br />
do regime político implantado no País em 31 de março (ou 1 de abril?) de 1964, o método Paulo<br />
Freire foi a<strong>da</strong>ptado pelo MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização), embora não reconhecido<br />
oficialmente.<br />
Quanto à educação <strong>da</strong> criança pequena, de 0 a 6 anos, deixemos para discuti-la na próxima<br />
Uni<strong>da</strong>de, uma vez que é só a partir dos anos 1980 que ela recebe a devi<strong>da</strong> atenção.<br />
Passemos agora a novos desafios.<br />
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