História da Educação Brasileira II - UFPB Virtual
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UNIDADE I UNIDADE <strong>II</strong><br />
UNIDADE <strong>II</strong>I<br />
Aula 4 Aula 5<br />
Aula 6 Aula 7<br />
dizer que não aparecesse, de quando em vez, algum setor <strong>da</strong> burguesia descontente, reclamando<br />
alguma coisa do Estado, mas logo aparecia uma saí<strong>da</strong>. Quanto aos trabalhadores e suas lideranças,<br />
movimentos de contestação receberiam tratamento preventivo. Para isso, havia os meios de<br />
comunicação de massa, como o rádio, primeiro, seguido do cinema, <strong>da</strong> imprensa escrita, mais<br />
tarde, <strong>da</strong> televisão... E a escola, por meio dos professores, do livro didático.<br />
Por meio desses canais, sem esquecer a família e a religião, além dos sindicatos, sob<br />
controle estatal, e dos partidos políticos, fazia-se a propagan<strong>da</strong> dos governos, ensinava-se a<br />
disciplina necessária ao “operário-padrão”, estimulava-se o sentimento de amor e obediência à<br />
nação... Mas o que é a nação senão uma abstração, como já dissemos? Então, para ser ama<strong>da</strong> e<br />
obedeci<strong>da</strong>, a nação precisaria ser materializa<strong>da</strong>, o que se fez, recorrendo-se ao líder carismático,<br />
populista, a encarnação <strong>da</strong> nação.<br />
Agora, preste muita atenção. Só existe carisma, notorie<strong>da</strong>de, magnetismo de alguém sobre<br />
você quando você está carente. Esse alguém percebe sua carência e, se ele é um mau caráter,<br />
ele ataca, tira proveito de você. É assim que agem as lideranças políticas populistas. Observam,<br />
estu<strong>da</strong>m a socie<strong>da</strong>de, percebem as necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> maioria de uma população, os mais pobres,<br />
melhor dizendo, empobrecidos, e, em vez de descer até eles, contribuir para sua organização e<br />
construção de ações coletivas volta<strong>da</strong>s para a solução dos seus problemas, promovem-se,<br />
prometem ser a solução desses problemas, pousando de pais dos pobres quando, na ver<strong>da</strong>de,<br />
são as mães dos ricos. De modo que, ao final do man<strong>da</strong>to de um governante populista, os ricos<br />
<strong>da</strong>quela socie<strong>da</strong>de estão mais ricos, porque seu compromisso é com os ricos, a burguesia. Mas<br />
ele não explicita com quem está comprometido, pousando de popular. Então, mostra-se simpático,<br />
comunicativo, afetuoso com as pessoas comuns. Afinal, ca<strong>da</strong> voto na urna vale ouro.<br />
Acredito que você tenha conhecido presidentes de república que foram populistas. Getúlio<br />
Vargas (1930-1937 e 1951-1954), para começar. Juscelino Kubitschek (1955-1961) também o<br />
foi. Quanto mais os meios de comunicação eram aperfeiçoados, mais o populismo se refinava, a<br />
exemplo de Jânio Quadros (1961), com a difusão <strong>da</strong> televisão no Brasil. Seu sucessor, João<br />
Goulart (1961-1964), também encarnou o populismo. E, como disse Karl Marx, se a história se<br />
repete - <strong>da</strong> primeira vez, como farsa, <strong>da</strong> segun<strong>da</strong>, como tragédia -, como não relacionar Fernando<br />
Collor de Melo (1990-1992) a Jânio Quadros?<br />
Em outros níveis <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> política, também tivemos lideranças populistas: Padre Cícero, no<br />
Ceará, Adhemar de Barros, em São Paulo, Miguel Arraes, em Pernambuco, Leonel Brizola, no Rio<br />
de Janeiro... E, na Paraíba, você conseguiria identificar alguma liderança política populista? Creio<br />
que não seja preciso fazer muito esforço.<br />
Mas não se ilu<strong>da</strong> pensando que práticas populistas sejam privilégio de políticos de carreira.<br />
Se Juscelino Kubitschek prometeu fazer “50 anos em 5” (o slogan do seu governo), Paulo Freire,<br />
no campo <strong>da</strong> educação, não seria menos ambicioso. Como disse Paiva (1980), o educador<br />
pernambucano, durante o governo de João Goulart, propôs um método capaz de alfabetizar<br />
adultos em apenas 40 horas. Esse método viria a ser a base do também ambicioso Plano Nacional<br />
de Alfabetização (PNA), instituído nos termos do Decreto nº. 53.465, de 22 de janeiro de 1964,<br />
que tinha como meta alfabetizar cinco milhões de brasileiros em apenas dois anos.<br />
Ain<strong>da</strong> segundo Paiva (1980), Paulo Freire ganhou notorie<strong>da</strong>de não só em função do “método”,<br />
mas porque ele era apresentado num contexto de analfabetismo que beirava 50% <strong>da</strong> população.<br />
Trilhas do Aprendente, Vol. 2 - <strong>História</strong> <strong>da</strong> <strong>Educação</strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>II</strong><br />
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