TESE Thais Picano 2007.pdf - Repositório Aberto da Universidade ...

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2.1. O ecossistema de sapal 2.1.1. Caracterização 2. O ambiente de estudo Nas margens das regiões estuarinas numa zona sob influência das marés e/ou inundações, podem apresentar densas concentrações de gramíneas halófitas emersas. Este tipo de ambiente, conhecido como sapal, tem como principal elemento estruturador a presença da gramínea do gen. Spartina (Capitoli et al. 1978). Sapais são frequentemente considerados como ecossistemas aquáticos muito produtivos, onde raízes das macrófitas, tais como Spartina sp. são capazes de alcançar alta biomassa durante a estação de crescimento (Teal, 1962; Pozo e Colino, 1992; Enriques et al., 1993). São ecossistemas complexos que funcionam como uma interface entre os habitats terrestre e aquático, ocorrendo ao longo das áreas intertidais, onde os valores de salinidade podem variar de água oceânica até água totalmente doce nos sapais das zonas a montante (Lefeuvre et al., 2003). Nas áreas colonizadas por Zostera sp. e Spartina sp. verifica-se que as populações de macroinvertebrados e de outros grupos faunísticos são mais desenvolvidas apresentando uma maior biodiversidade quando comparadas com outras (Almeida, 1988; Whitfield, 1989; Marques et al., 1993b). Estas macrófitas são capazes de retirar nutrientes do sedimento, tornando o limite de oxidação/redução mais profundo, promovendo, assim, boas condições de habitabilidade (Whitfield, 1989). Suas estruturas apresentam condições de flutuações, moldadas pela interacção entre factores físicos, químicos e biológicos (Knox, 1986). Esta interdependência molda, não só a estrutura do sistema, mas também as estruturas das comunidades biológicas nele existentes (Odum, 1997). Assim, apesar de serem considerados sistemas de transição entre habitats também de transição, as características físicas e biológicas dos sapais são bastantes específicas. As espécies que constituem as comunidades variam de espécies generalistas (provenientes dos sistemas adjacentes) a espécies especializadas que estão adaptadas às condições ecológicas prevalecentes (Lefeuvre et al., 2003). 10

As mudanças rápidas na salinidade, temperatura e exposição criam condições de stress e por isso limitam o modo como muitas espécies de invertebrados ocorrem neste habitat. Os caranguejos, caracóis, mexilhões e ostras são espécies típicas de invertebrados que vivem nos sapais. Os caranguejos e os caracóis do sapal partilham o material de plantas mortas durante a alimentação, acelerando o processo de decomposição (Wenner, 2003). Os insectos também são abundantes nos sapais. A maioria destes invertebrados consome plantas vivas ou os seus fluidos. Alguns também se alimentam de detritos, embora a importância do seu papel na cadeia alimentar como destruidor de detritos seja pequena, quando comparada com a sua importância na abundância de aves, que dependem deles para se alimentarem. Também muitas das espécies de peixe que vivem perto do sapal dependem dos insectos como alimento durante parte do ano (Packham et al., 1997). Muitas espécies vivem nos sapais onde os caules, folhas e raízes fornecem, simultaneamente, alimento, abrigo dos predadores e até "berçário". Sem a abundância de alimento e protecção dada pelas plantas de sapal, poucos juvenis conseguiriam sobreviver até à fase adulta. Muitos peixes que habitam os sapais entram e saem do sapal com a maré. Assim que saem da protecção do sapal tornam-se mais susceptíveis de serem comidos por um vasto número de predadores. Alguns peixes e camarões permanecem no sapal após a maré descer, vivendo em pequenos buracos e poças de água (Packham et. al., 1997). Os juvenis de espécies “invasoras” vindos de ambientes de águas mais profundas adjacentes alcançam taxas de crescimento rápidas nos sapais dos estuários. Uma consequência adicional do papel de “berçário” das zonas húmidas é que o movimento dos juvenis mais velhos para águas mais profundas permite exportar matéria orgânica de alta qualidade para as águas costeiras revelando-se, assim, vital para os peixes marinhos, especialmente aqueles de valor económico (Deegan, 1993). As aves (incluindo muitas espécies migratórias que repousam nos sapais durante o Inverno) contribuem com importantes nutrientes para os sapais através das suas fezes que se acumulam em grandes quantidades nas colónias de nidificação. Por outro lado, as fezes fertilizam a vegetação do sapal, uma importante função na cadeia alimentar do ecossistema (Packham et. al., 1997). As espécies estão normalmente distribuídas de acordo com a altura da maré. A zonação é por vezes dinâmica, reflectindo um processo sucessional no qual à superfície 11

2.1. O ecossistema de sapal<br />

2.1.1. Caracterização<br />

2. O ambiente de estudo<br />

Nas margens <strong>da</strong>s regiões estuarinas numa zona sob influência <strong>da</strong>s marés e/ou<br />

inun<strong>da</strong>ções, podem apresentar densas concentrações de gramíneas halófitas emersas.<br />

Este tipo de ambiente, conhecido como sapal, tem como principal elemento estruturador<br />

a presença <strong>da</strong> gramínea do gen. Spartina (Capitoli et al. 1978).<br />

Sapais são frequentemente considerados como ecossistemas aquáticos muito<br />

produtivos, onde raízes <strong>da</strong>s macrófitas, tais como Spartina sp. são capazes de alcançar<br />

alta biomassa durante a estação de crescimento (Teal, 1962; Pozo e Colino, 1992;<br />

Enriques et al., 1993).<br />

São ecossistemas complexos que funcionam como uma interface entre os<br />

habitats terrestre e aquático, ocorrendo ao longo <strong>da</strong>s áreas interti<strong>da</strong>is, onde os valores de<br />

salini<strong>da</strong>de podem variar de água oceânica até água totalmente doce nos sapais <strong>da</strong>s zonas<br />

a montante (Lefeuvre et al., 2003).<br />

Nas áreas coloniza<strong>da</strong>s por Zostera sp. e Spartina sp. verifica-se que as<br />

populações de macroinvertebrados e de outros grupos faunísticos são mais<br />

desenvolvi<strong>da</strong>s apresentando uma maior biodiversi<strong>da</strong>de quando compara<strong>da</strong>s com outras<br />

(Almei<strong>da</strong>, 1988; Whitfield, 1989; Marques et al., 1993b). Estas macrófitas são capazes<br />

de retirar nutrientes do sedimento, tornando o limite de oxi<strong>da</strong>ção/redução mais<br />

profundo, promovendo, assim, boas condições de habitabili<strong>da</strong>de (Whitfield, 1989).<br />

Suas estruturas apresentam condições de flutuações, mol<strong>da</strong><strong>da</strong>s pela interacção<br />

entre factores físicos, químicos e biológicos (Knox, 1986). Esta interdependência<br />

mol<strong>da</strong>, não só a estrutura do sistema, mas também as estruturas <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des<br />

biológicas nele existentes (Odum, 1997). Assim, apesar de serem considerados sistemas<br />

de transição entre habitats também de transição, as características físicas e biológicas<br />

dos sapais são bastantes específicas.<br />

As espécies que constituem as comuni<strong>da</strong>des variam de espécies generalistas<br />

(provenientes dos sistemas adjacentes) a espécies especializa<strong>da</strong>s que estão a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s às<br />

condições ecológicas prevalecentes (Lefeuvre et al., 2003).<br />

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