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A origem branca de uma devoção negra - ICHS/UFOP

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Social e familiar porque havia <strong>uma</strong> estreita interpenetração<br />

da religião com a vida social e familiar 28 .<br />

No Brasil o núcleo <strong>de</strong> convivência social eram as irmanda<strong>de</strong>s religiosas haviam<br />

se tornado <strong>uma</strong> forma <strong>de</strong> distração e diversão para a socieda<strong>de</strong> através das<br />

festas e procissões, havendo <strong>uma</strong> convicção religiosa mais superficial, diferente da<br />

que se vivia na Europa, por ter sido exaltada através <strong>de</strong> elementos predominantes<br />

nos ritos externos, como o colorido e a pompa das práticas que atendiam os sentimentos<br />

e os sentidos dos colonos 29 . Ambas as necessida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m ser compreendidas<br />

pela crença dos <strong>de</strong>votos que queriam agradar a Deus e mais ainda, aos santos<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>voção, assim como a importância e o reconhecimento social daqueles que<br />

promoviam ou eram homenageados nas festas ou funerais.<br />

Caracterizada como catolicismo barroco, pelo seu exagero e exuberância,<br />

tornou-se impossível conceber um cristianismo luso-brasileiro sem a intimida<strong>de</strong> entre<br />

o <strong>de</strong>voto e o santo. Outra característica atribuída a essa crença colonial foi a construção<br />

<strong>de</strong> <strong>uma</strong> religião profundamente influenciada por práticas pagãs, como<br />

os bois entrando pelas igrejas para serem benzidos pelos padres;<br />

as mães ninando os filhinhos com as mesmas cantigas<br />

<strong>de</strong> louvar o Menino-Deus; as mulheres estéreis indo esfregarse<br />

<strong>de</strong> saia levantada, nas pernas <strong>de</strong> São Gonçalo do Amarante;<br />

(...) Nossa Senhora do Ó adorada na imagem <strong>de</strong> <strong>uma</strong><br />

mulher prenhe 30 .<br />

É nesse ambiente que a <strong>de</strong>voção à Nossa Senhora do Rosário chegou ao<br />

Brasil. Depois da <strong>de</strong>sapropriação da primazia dominicana sobre esse culto na expansão<br />

para o além-mar, várias irmanda<strong>de</strong>s do Rosário foram fundadas pelos agostinhos,<br />

chegando nessas terras através dos jesuítas e possivelmente vinda também<br />

com os confra<strong>de</strong>s saídos <strong>de</strong> Portugal, tendo que consi<strong>de</strong>rar a obra dos missionários<br />

no Congo que preparou a aceitação <strong>de</strong> várias <strong>de</strong>voções que chegaram ao<br />

Brasil.<br />

De acordo com Russell-Wood não há dúvida que irmanda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> “homens<br />

pretos” surgiram no Brasil ainda no século XVI. Segundo Serafim Leite em 1586 os<br />

jesuítas fundaram várias confrarias do Rosário entre os escravos dos engenhos,<br />

“com o fim <strong>de</strong> promoverem a pieda<strong>de</strong> e a instrução religiosa <strong>de</strong> índios e negros” 31 .<br />

Já no século XVII foi fundada a irmanda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Nossa Senhora do Rosário dos Homens<br />

Pretos, em 1639, na Igreja <strong>de</strong> São Sebastião do Rio <strong>de</strong> Janeiro, tendo sido o<br />

início da construção da Igreja em 1708, processo que duraram 29 anos para ser<br />

concluído. Muitas irmanda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssa invocação foram fundadas nas igrejas do norte<br />

28 AZZI, Riolando. “Elementos para a história do catolicismo no Brasil”. In: Revista Eclesiástica Brasileira,<br />

Vol. 36, Faz. 141, p. 57.<br />

29 BOSCHI, Caio César. Op. Cit., p.58.<br />

30 FREYRE, Gilberto. Casa Gran<strong>de</strong> e Senzala. 48ª Ed. São Paulo: Global. p. 84.<br />

31 LEITE, Serafim. História da Companhia <strong>de</strong> Jesus no Brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro. Civilização Brasileira,<br />

1938. Vol. II. pp. 340-341.<br />

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