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“Nascidos para correr” - Associação de Atletismo Lebres do Sado

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<strong>“Nasci<strong>do</strong>s</strong> <strong>para</strong> <strong>correr”</strong><br />

<strong>“Nasci<strong>do</strong>s</strong> <strong>para</strong> <strong>correr”</strong> é um best-seller que o meu amigo e atleta <strong>do</strong> nosso clube Manuel Sequeira,<br />

em 2010, me aconselhou a ler.<br />

É <strong>de</strong> facto uma história interessante, da autoria <strong>do</strong> escritor norte americano Christophen McDougall,<br />

ex-corre<strong>do</strong>r <strong>de</strong> longas distâncias, que se inspirou na vida real <strong>de</strong> uma tribo habitante no Canyon<br />

mexicano, os Tarahumaras.<br />

Este povo tem a particularida<strong>de</strong> <strong>de</strong> viver livre em plena natureza, longe das fronteiras<br />

“civilizacionais”, e correr <strong>de</strong>scalço centenas <strong>de</strong> quilómetros por montes e picadas inóspitas.<br />

O que levou o autor a conhecer esta tribo on<strong>de</strong>, <strong>de</strong> tão isolada que está, a <strong>do</strong>ença é mal que não<br />

chega, foi a busca <strong>de</strong> soluções <strong>para</strong> as suas lesões nos pés.<br />

A este propósito, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ouvir muitas opiniões médicas e <strong>de</strong> cientistas livres e isentos <strong>do</strong>s<br />

gran<strong>de</strong>s lobbies <strong>do</strong>s laboratórios farmacêuticos e das gran<strong>de</strong>s marcas <strong>de</strong> calça<strong>do</strong> <strong>de</strong>sportivo e,<br />

ainda, <strong>de</strong> conviver algum tempo com o povo Tarahumara, chegou à conclusão <strong>de</strong> que o homem<br />

nasceu <strong>para</strong> correr e que a difusão <strong>de</strong> sapatilhas <strong>de</strong> marca, não passa disso mesmo, um lobby.<br />

Ora o título que caracteriza este artigo, no singular, po<strong>de</strong> muito bem aplicar-se ao José Sousa, atleta<br />

das <strong>Lebres</strong> <strong>do</strong> Sa<strong>do</strong> que, embora não corra <strong>de</strong>scalço, bem pelo contrário, pois possui sete pares <strong>de</strong><br />

sapatilhas Asics e Adidas, <strong>de</strong>vora quilómetros ao fim <strong>de</strong> semana, seleccionan<strong>do</strong> por vezes as provas<br />

mais longas e <strong>de</strong> trajectos on<strong>de</strong> o aci<strong>de</strong>nta<strong>do</strong> <strong>do</strong> terreno dita a sua lei.<br />

O Sousa, como vulgarmente é conheci<strong>do</strong> nas <strong>Lebres</strong>, é um <strong>do</strong>s nossos maiores representantes em<br />

competições no país e no estrangeiro.<br />

Recor<strong>do</strong>, em 2009, em passeio familiar por terras <strong>de</strong> França, ao chegar ao Monte Saint-Michel,<br />

surpresa das surpresas, encaro com um enorme out<strong>do</strong>or <strong>de</strong> promoção à “Marathon du Mont Saint-<br />

Michel” e quem, em quase<br />

toda a sua dimensão, ilustrava<br />

o mesmo? José Sousa,<br />

<strong>de</strong>vidamente equipa<strong>do</strong> com as<br />

cores das <strong>Lebres</strong> <strong>do</strong> Sa<strong>do</strong>.<br />

Nasci<strong>do</strong> em 1972, beirão <strong>de</strong><br />

Vila Nova <strong>de</strong> Foz Côa, on<strong>de</strong><br />

se situa o Museu <strong>de</strong> Arte<br />

Rupestre ao ar livre,<br />

Património da Humanida<strong>de</strong>,<br />

resi<strong>de</strong>nte em Queluz, auxiliar<br />

<strong>de</strong> armazém como profissão,<br />

é <strong>de</strong> facto acentuadamente<br />

um corre<strong>do</strong>r <strong>de</strong> fun<strong>do</strong> que,<br />

sem treinar durante a semana<br />

por falta <strong>de</strong> tempo e <strong>de</strong><br />

companhia, consegue fazer perto <strong>de</strong> 1900 Kms por ano.<br />

Perguntará o leitor como, sem correr durante a semana, ele atinge esta quilometragem por ano?<br />

Pois o nosso protagonista neste artigo realiza provas quase to<strong>do</strong>s os sába<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>mingos, chegan<strong>do</strong><br />

até a efectuar duas competições no mesmo dia.<br />

Ah, feria<strong>do</strong>s em que haja provas, não lhe escapa nenhuma.<br />

Disse-nos um dia que não tem qualquer tipo <strong>de</strong> pré-pre<strong>para</strong>ção <strong>para</strong> as suas competições. É chegar<br />

ao dia da prova e encará-la como mais uma a concretizar, procuran<strong>do</strong> geri-la em função da distância,<br />

sem se assustar muito com ela.


Este homem, simpático <strong>para</strong> toda a gente, conversa<strong>do</strong>r, quase sempre sorri<strong>de</strong>nte, começou a<br />

praticar <strong>Atletismo</strong> em 2000, no Clube <strong>de</strong> Futebol “Os Avisenses”. Ainda em miú<strong>do</strong>, sem apresentar<br />

um percurso <strong>de</strong>sportivo, consegue ser campeão distrital <strong>de</strong> corta-mato escolar nos anos <strong>de</strong> 87/88 e<br />

88/89 e o mesmo título na velocida<strong>de</strong>.<br />

Como to<strong>do</strong>s nós corre<strong>do</strong>res, a prática da modalida<strong>de</strong> um pouco mais a sério surge através <strong>de</strong> um<br />

amigo que o levou <strong>para</strong> o seu primeiro clube, “Os Avisenses” pelo qual realizou a sua primeira<br />

competição, a Meia-Maratona da Ponte 25 <strong>de</strong> Abril, no ano 2000.<br />

Amante das viagens, da pesca<br />

e da fotografia, nas <strong>Lebres</strong> é o<br />

atleta que mais “bonecos” tira<br />

antes, durante e após a<br />

competição, contribuin<strong>do</strong><br />

involuntariamente <strong>para</strong> o<br />

espólio <strong>do</strong> clube.<br />

O José Sousa, ao longo das<br />

provas, em conversa com os<br />

companheiros <strong>de</strong> corrida, foi<br />

ouvin<strong>do</strong> falar nas <strong>Lebres</strong> <strong>do</strong><br />

Sa<strong>do</strong> e o seu interesse e<br />

motivação em se fazer<br />

representar pelo clube<br />

começou a ganhar forma, até<br />

que o actual Presi<strong>de</strong>nte da<br />

Direcção, Paulo Mota, lhe<br />

formalizou o convite, <strong>de</strong>corria o<br />

ano <strong>de</strong> 2008.<br />

A sua primeira competição<br />

realizada pelo clube foi nada<br />

menos que a 1ª edição <strong>do</strong>s “100kms <strong>do</strong> Ultra-trail da Ma<strong>de</strong>ira”, o que vem provar a sua gran<strong>de</strong><br />

apetência <strong>para</strong> as longas distâncias, qual corre<strong>do</strong>r Tarahumara.<br />

Daí <strong>para</strong> cá, a polivalência <strong>de</strong>ste atleta em representação das <strong>Lebres</strong> é por <strong>de</strong>mais evi<strong>de</strong>nte.<br />

Para além das corridas, <strong>de</strong> distância curta, meias-maratonas, maratonas, trails ou ultra-maratonas, o<br />

clube já se fez representar por ele em provas <strong>de</strong> BTT ( apren<strong>de</strong>u a andar <strong>de</strong> bike em 2008), e<br />

Orientação, alicia<strong>do</strong> pelo Paulo Fernan<strong>de</strong>s, outro atleta das <strong>Lebres</strong>.<br />

Gosta <strong>de</strong> estar nas <strong>Lebres</strong>, confessou-nos: “Gosto <strong>de</strong> como tu<strong>do</strong> funciona, vê-se organização, apoio<br />

aos atletas e têm dirigentes que sabem estar, cumprin<strong>do</strong> com as suas obrigações. Tu<strong>do</strong> funciona<br />

como família”.<br />

Encontra no clube um projecto <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> estrutura<strong>do</strong>.<br />

As longas distâncias <strong>para</strong> ele são uma paixão. “É, sem dúvida, o gostar <strong>de</strong> correr em plena natureza<br />

e aventurar-me num evento diferente <strong>do</strong> normal. Para mim, o maior <strong>de</strong>safio é saber gerir to<strong>do</strong> o<br />

esforço numa prova <strong>de</strong>stas características, tanto pela distância como pela tipologia <strong>do</strong> terreno, uma<br />

vez que não tenho a pre<strong>para</strong>ção semanal necessária.<br />

É uma alegria enorme e um bem- estar mental saber que consegui superar tu<strong>do</strong> o que me proponho<br />

fazer e, <strong>de</strong> uma maneira tão simples, na maioria das vezes.<br />

Tu<strong>do</strong> isto é um <strong>de</strong>safio fantástico e ainda nunca fui aos limites. Talvez um dia o faça…<br />

Gosto <strong>de</strong> enfrentar na mesma competição vários tipos <strong>de</strong> piso e o grau <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> terá que ser<br />

mo<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> <strong>para</strong> tirar parti<strong>do</strong> <strong>do</strong> meu próprio bem estar.”<br />

O seu currículo é impressionante, não tanto pelos seus recor<strong>de</strong>s - 38,22 aos 10kms, 1,23,31 à meia<br />

maratona e 2,58,30 na maratona - mas pelo número <strong>de</strong> competições já realizadas, pela sua<br />

diversida<strong>de</strong> e distâncias percorridas.


Vejamos:<br />

Já concretizou 670 provas, das quais 116 são Meias maratonas, 46 Maratonas e 31 Ultramaratonas<br />

De todas, o Sousa que se consi<strong>de</strong>ra um “bom garfo”, fugin<strong>do</strong> apenas aos fritos, <strong>de</strong>staca as seguintes<br />

provas em que esteve envolvi<strong>do</strong>:<br />

- Caminho <strong>de</strong> Santiago ( 148 km ) 2007<br />

- Ultra Trail da Ma<strong>de</strong>ira ( 100 km ) 2008<br />

- Freita 2007 (50km ) e 2012 ( 70km )<br />

- Cita<strong>de</strong>les ( 73 km) 2008 / 2009<br />

- Ronda (101 km ) 2008 e 2011<br />

- Ultra trail du lac Annecy (92 km) 2012<br />

- Ultra trail da Serra <strong>de</strong> S. Mame<strong>de</strong> ( 105 km ) 2012<br />

- Geira Romana (45 km ) - 2008<br />

- Maratona <strong>de</strong> Montanha - Galarleiz - 2009/2010<br />

- Maratona <strong>de</strong> Paris - 2007<br />

- Maratona <strong>de</strong> Barcelona -2011<br />

- Meia maratona da Ponte 25 <strong>de</strong> Abril - 2000<br />

- Meia maratona <strong>de</strong> Miran<strong>de</strong>la - 2002<br />

- Cross Laminha - ( 9.5 ) 2004<br />

- Meli<strong>de</strong>s Tróia (43 km) – 2005<br />

Numa abordagem ainda ao seu extraordinário<br />

currículo, o Sousa é, como anteriormente<br />

dissemos, um <strong>do</strong>s nossos melhores<br />

embaixa<strong>do</strong>res no estrangeiro, talvez apenas<br />

supera<strong>do</strong> pela Célia Azenha e um pouco à frente<br />

<strong>do</strong> Paulo Fernan<strong>de</strong>s, ambos atletas das <strong>Lebres</strong>:<br />

Trinta e nove foi o número <strong>de</strong> provas já<br />

contabilizadas no estrangeiro, totalizan<strong>do</strong> a<br />

bonita soma <strong>de</strong> 1394 kms.<br />

Vejamos por on<strong>de</strong> ele an<strong>do</strong>u:<br />

- Annecy – França<br />

- Amestredão - Holanda<br />

- Allaurin <strong>de</strong> la Torre – Málaga – Espanha<br />

- Barcelona – Espanha<br />

- Badajoz – Espanha<br />

- Chamonix – França<br />

- Mont Saint-Michel – França<br />

- Castrocontrigo – Espanha<br />

- Cercidilha – Espanha<br />

- Cork – Irlanda<br />

- Caneça da Vaca – Espanha<br />

- Dublin – Irlanda<br />

- Edimburg – Escócia<br />

- Jerandilha <strong>de</strong> La Vera – Espanha<br />

- Lavalenet – França<br />

- Madrid – Espanha<br />

- Manzaneda / Ourense – Espanha<br />

- Mérida – Espanha<br />

- Paris – França<br />

- Praga – Republica Checa<br />

- Roma – Itália<br />

- Ronda – Espanha<br />

- Sevilha – Espanha<br />

- Valência – Espanha<br />

- Zalla - Espanha


Recentemente, um atleta<br />

das <strong>Lebres</strong> achou que o<br />

clube <strong>de</strong>veria ter uma<br />

equipa <strong>de</strong> <strong>Atletismo</strong> <strong>de</strong><br />

elite. Perguntámos ao José<br />

Sousa, como um <strong>do</strong>s<br />

nossos atletas mais<br />

representativos, qual a sua<br />

opinião.<br />

“ Discor<strong>do</strong> frontalmente<br />

pois, <strong>para</strong> manter uma<br />

equipa <strong>de</strong> elite, os custos<br />

mensais seriam enormes<br />

<strong>para</strong> o clube e, perante as<br />

dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> tesouraria<br />

que as <strong>Lebres</strong> apresentam,<br />

seria <strong>de</strong> to<strong>do</strong> inviável. Por<br />

outro la<strong>do</strong>, o excelente ambiente sempre vivi<strong>do</strong> entre os atletas, on<strong>de</strong> to<strong>do</strong>s são trata<strong>do</strong>s <strong>de</strong> igual<br />

forma, não voltaria a ser o mesmo. A família das <strong>Lebres</strong> sempre foi unida pela igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> valores.<br />

Vamos manter-nos assim.”<br />

Como to<strong>do</strong>s os atletas, ao longo <strong>do</strong>s muitos anos que leva <strong>de</strong> prática <strong>de</strong>sportiva, tem sempre uma<br />

peripécia <strong>para</strong> contar.<br />

Vejamos a “estória” <strong>do</strong> Sousa:<br />

“Decorria o ano <strong>de</strong> 2002 e resolvi fazer a primeira edição da meia maratona <strong>de</strong> Miran<strong>de</strong>la.<br />

Fui <strong>de</strong> expresso e cheguei por volta das 22H00. Jantei e, como ia acampar, indaguei on<strong>de</strong> seria o<br />

Parque <strong>de</strong> Campismo.<br />

Com a informação necessária, pus-me a caminho sem que antes alguém, em tom <strong>de</strong> admiração, me<br />

tivesse interroga<strong>do</strong> se eu ia a pé até lá.<br />

Enquanto caminhava, comecei a perceber que o tão ansia<strong>do</strong> Parque não era assim tão perto e, ainda<br />

por cima, o caminho não era ilumina<strong>do</strong>. Foi, digamos, uma caminhada um pouco assusta<strong>do</strong>ra.<br />

Ao chegar, <strong>de</strong>parei com o Parque aberto, aparentemente sem “porteiro” ou segurança.<br />

Acampei.<br />

No outro dia, logo pela manhã, o meu chek-out foi exactamente igual ao chek-in.<br />

Já em pleno caminho <strong>de</strong> acesso à cida<strong>de</strong>, e porque não estava bem com a minha consciência, voltei<br />

atrás e empurrei a porta da “recepção”. Deparo então com uma jovem atrás <strong>do</strong> balcão, aninhada<br />

junto <strong>de</strong> um aquece<strong>do</strong>r - o frio era muito - e acabei por pagar o alojamento num Parque sem<br />

qualquer controle e segurança.<br />

Em <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> momento <strong>de</strong>i por mim a pensar que esse fim <strong>de</strong> semana estava a ser um pouco<br />

estranho, sem saber que o pior estava <strong>para</strong> vir.<br />

Já no local da prova, ao equipar-me, reparo que tinha trazi<strong>do</strong> as sapatilhas erradas. As lágrimas<br />

vieram-me aos olhos; <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>slocação enorme e das peripécias nocturnas, não iria pu<strong>de</strong>r<br />

correr.<br />

Foi caso <strong>para</strong> dizer que “era muito <strong>para</strong> um homem só”.<br />

Das várias alternativas viáveis, correr com <strong>do</strong>is pares <strong>de</strong> meias mas sem sapatilhas, correr sem<br />

ataca<strong>do</strong>res ou, por fim, correr sem palmilhas, <strong>de</strong>cidi fazê-lo sem palmilhas, sem meias e com os<br />

ataca<strong>do</strong>res mal aperta<strong>do</strong>s. Foi a melhor solução possível encontrada.<br />

Concluí a prova sem mazelas nos pés e das 28 meias maratonas até aí realizadas, esta era até ao<br />

momento a 3ª com melhor tempo - 1H30M39S.<br />

Há coisas que não têm explicação!”

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