20.04.2013 Views

GUIA PRÁTICO de AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO

GUIA PRÁTICO de AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO

GUIA PRÁTICO de AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

República <strong>de</strong> Moçambique PROMOÇÃO ECONÓMICA <strong>DE</strong><br />

Viena, Áustria<br />

DPA SOFALA<br />

CAMPONESES - SOFALA<br />

<strong>GUIA</strong> <strong>PRÁTICO</strong><br />

<strong>de</strong><br />

<strong>AGRICULTURA</strong> <strong>DE</strong> <strong>CONSERVAÇÃO</strong><br />

Financiado<br />

pela


República <strong>de</strong> Moçambique PROMOÇÃO ECONÓMICA <strong>DE</strong><br />

Viena, Áustria<br />

DPA SOFALA<br />

CAMPONESES - SOFALA<br />

<strong>GUIA</strong> <strong>PRÁTICO</strong><br />

<strong>de</strong><br />

<strong>AGRICULTURA</strong> <strong>DE</strong> <strong>CONSERVAÇÃO</strong><br />

Autores<br />

Eng. Agr. A<strong>de</strong>mir Calegari<br />

José Paulo Cristiano Taimo<br />

Esta obra foi financiada pela Cooperação Austríaca para o Desenvolvimento e baseia-se principalmente nas<br />

experiências do IAPAR - Instituto Agronómico <strong>de</strong> Paraná, Londrina-Paraná-Brasil, e nos ensaios <strong>de</strong>monstrativos<br />

realizados na Província <strong>de</strong> Sofala, Moçambique, nos anos 2002 até 2005,<br />

no quadro dos projectos PROMEC, APROS, PACDIB (da Cooperação Austríaca) e PRO<strong>DE</strong>R (MINAG - GTZ).<br />

Financiado pela


AGRA<strong>DE</strong>CIMENTOS DOS AUTORES<br />

Os autores agra<strong>de</strong>cem a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar na Província <strong>de</strong> Sofala, Moçambique e,<br />

estar juntamente com os técnicos da Cooperação Austríaca e DPA, com os camponeses dos<br />

diferentes Distritos, <strong>de</strong>senvolvendo o sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação, num processo <strong>de</strong><br />

sensibilização e teste/validação dos componentes tecnológicos a nível <strong>de</strong> machamba. O<br />

trabalho se iniciou em 2001 e resultados muito promissores têm sido alcançado pelos<br />

camponeses, quer no tocante à diminuição <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra, maior aproveitamento da água,<br />

maior estabilida<strong>de</strong> na produção, aumento na produtivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diferentes culturas, etc.<br />

Agra<strong>de</strong>cemos ao Dr. Gerald Tschinkel da H3000 Development Consult em Áustria, pela<br />

confiança, amiza<strong>de</strong> e persistência na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> implementar o sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong><br />

Conservação em Moçambique. À Cooperação Austríaca, que sempre apoiou no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento dos trabalhos <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação. Também a equipe do PROMEC,<br />

pela amiza<strong>de</strong>, frutíferas discussões e perseverança nos trabalhos. Ao Bento Freitas e Cecília<br />

pelo apoio durante todas as consultorias. À GTZ, na pessoa do Sr. Nicolas Lama<strong>de</strong>, pela<br />

oportunida<strong>de</strong> e viabilização <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação; ao Mário Norman da<br />

PRO<strong>DE</strong>R –GTZ pela amiza<strong>de</strong> e contribuições durante todo este tempo <strong>de</strong> trabalho; ao Manfred<br />

Schug, que sempre acreditou ser possível implementar o sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong><br />

Conservação junto aos camponeses nas mais diferentes situações; à Direcção Provincial da<br />

Agricultura na pessoa do Dr. Ribeiro que sempre acreditou e apoiou as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

Agricultura <strong>de</strong> Conservação e também ao atual Diretor Provincial, Sr. António Raúl Limbau, que<br />

tem incentivado as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação; ao Eng. Madane pelo contínuo<br />

apoio do SPER em todas as ativida<strong>de</strong>s da Agricultura <strong>de</strong> Conservação. Ao Erasmo Saraiva e<br />

Rui Valadares pelo constante apoio e amiza<strong>de</strong>; a todos os técnicos da DDA dos diferentes<br />

Distritos e colegas das ONGs: Cáritas e FHI que sempre colaboraram nas discussões e nos<br />

trabalhos <strong>de</strong> consolidação da Agricultura <strong>de</strong> Conservação. Aos camponeses <strong>de</strong> toda a<br />

Província, pela paciência e perseverança no acompanhamento e avaliação das ativida<strong>de</strong>s das<br />

UTVs, on<strong>de</strong> sempre colaboraram e também acreditaram ser possível <strong>de</strong>senvolver uma<br />

agricultura sustentável que irá trazer maior segurança alimentar e eliminar <strong>de</strong>finitivamente a<br />

pobreza da Província e do país.


ÍNDICE<br />

INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 3<br />

1. O SISTEMA <strong>DE</strong> <strong>AGRICULTURA</strong> <strong>DE</strong> <strong>CONSERVAÇÃO</strong>...................................... 4<br />

1.1 A importância da Agricultura <strong>de</strong> Conservação .........................................................4<br />

1.2 Os fundamentos do sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação...................................5<br />

1.3 Os benefícios do sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação.......................................7<br />

2 A REALIDA<strong>DE</strong> DA PROVÍNCIA <strong>DE</strong> SOFALA ..................................................... 8<br />

2.1 Características regionais (generalida<strong>de</strong>s) ................................................................8<br />

2.2 O uso dos solos agrícolas (generalida<strong>de</strong>s) ..............................................................9<br />

2.3 Tecnologias empregadas no manejo dos solos agrícolas........................................9<br />

2.4 Práticas tradicionais <strong>de</strong> manejo <strong>de</strong> solos ...............................................................12<br />

2.5 Agricultura <strong>de</strong> Conservação: uma alternativa viável...............................................15<br />

3 A IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA <strong>DE</strong> <strong>AGRICULTURA</strong> <strong>DE</strong> <strong>CONSERVAÇÃO</strong> ... 16<br />

3.1 O início: a a<strong>de</strong>quação das áreas............................................................................16<br />

3.2 Passos gerais na implantação da Agricultura <strong>de</strong> Conservação .............................17<br />

3.3 Práticas que po<strong>de</strong>rão fazer parte do sistema.........................................................19<br />

4 A COBERTURA DO SOLO ............................................................................... 23<br />

4.1 As vantagens <strong>de</strong> manter o solo coberto .................................................................23<br />

4.2 Plantas <strong>de</strong> cobertura ..............................................................................................24<br />

4.2.1 Comportamento das diferentes espécies <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura e<br />

contribuição na melhoria das proprieda<strong>de</strong>s físicas, químicas e biológicas do<br />

solo.................................................................................................................24<br />

4.2.2 Formas <strong>de</strong> manejo <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura ...................................................26<br />

4.3 Efeitos das plantas <strong>de</strong> cobertura ............................................................................28<br />

4.3.1 Efeitos na matéria orgânica do solo ...............................................................30<br />

4.3.2 Efeitos no armazenamento <strong>de</strong> água e diminuição das perdas no sistema.....35<br />

4.3.3 Efeitos nos gradientes <strong>de</strong> temperatura do perfil do solo ................................36<br />

4.3.4 Efeitos na composição florística do solo (efeitos alelopáticos e físicos) na<br />

diminuição das populações <strong>de</strong> invasoras (plantas daninhas) .........................37<br />

4.3.5 Efeitos na melhora <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> pousio ..........................................................39<br />

4.4 A produção <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong> cobertura.............................................41<br />

1


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

5 A ROTAÇÃO E CONSORCIAÇÃO NO SISTEMA <strong>DE</strong> <strong>AGRICULTURA</strong> <strong>DE</strong><br />

<strong>CONSERVAÇÃO</strong>............................................................................................... 42<br />

2<br />

5.1 A rotação e consorciação <strong>de</strong> culturas ....................................................................44<br />

5.1.1 Opções <strong>de</strong> rotação para arroz ........................................................................44<br />

5.1.2 Opções <strong>de</strong> rotação para gergelim ..................................................................45<br />

5.1.3 Opções <strong>de</strong> rotação para algodão ...................................................................47<br />

5.1.4 Opções <strong>de</strong> alguns sistemas incluindo o uso <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura............48<br />

5.1.5 Sugestões <strong>de</strong> algumas opções <strong>de</strong> diagrama sequencial <strong>de</strong> culturas.............52<br />

5.1.6 Sistemas <strong>de</strong> consorciação e rotação em diferentes sistemas <strong>de</strong> produção....53<br />

5.1.7 Indicação <strong>de</strong> protocolo para produção <strong>de</strong> batata reno ....................................55<br />

5.1.8 Rotação com espécies hortícolas....................................................................57<br />

5.2 Efeitos da rotação na ocorrência <strong>de</strong> pragas e doenças ..............................................60<br />

6 CONTROLE <strong>DE</strong> PRAGAS E DOENÇAS NO SISTEMA <strong>DE</strong> <strong>AGRICULTURA</strong> <strong>DE</strong><br />

<strong>CONSERVAÇÃO</strong>............................................................................................... 62<br />

7 RESULTADOS OBTIDOS POR PRODUTORES COM O USO <strong>DE</strong> COBERTURA<br />

DO SOLO, ROTAÇÃO E PLANTIO DIRECTO.................................................. 69<br />

7.1 Resultados obtidos na Província <strong>de</strong> Sofala............................................................69<br />

7.2 Resultados obtidos em diferentes países...............................................................78<br />

8 COMO ASSEGURAR O AVANÇO E ESTABELECIMENTO DO SISTEMA <strong>DE</strong><br />

<strong>AGRICULTURA</strong> <strong>DE</strong> <strong>CONSERVAÇÃO</strong> .............................................................. 81<br />

BIBLIOGRAFIA......................................................................................................... 83<br />

ANEXOS................................................................................................................... 86<br />

Anexo 1: Manejo ambiental a<strong>de</strong>quado evitando as queimadas.........................................87<br />

Anexo 2: Plantas <strong>de</strong> cobertura comuns na Província <strong>de</strong> Sofala ........................................89<br />

Anexo 3: Produção <strong>de</strong> massa vegetal <strong>de</strong> diferentes espécies <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura<br />

e % <strong>de</strong> nutrientes na matéria seca......................................................................92<br />

Anexo 4: Características, comportamento e recomendações para o uso <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong><br />

cobertura <strong>de</strong> primavera/verão .............................................................................93<br />

Anexo 5: O sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação no Brasil.........................................103<br />

Anexo 6: Características <strong>de</strong> diferentes espécies <strong>de</strong> plantas melhoradas <strong>de</strong> solos..........105


INTRODUÇÃO<br />

Nas mais diversas regiões do mundo on<strong>de</strong> se pratica a agricultura, um aspecto marcante e<br />

comum à maioria <strong>de</strong>ssas áreas é o uso intensivo e a má gestão dos recursos naturais, o que<br />

tem ao longo dos anos contribuído para o agravamento dos processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação dos<br />

recursos, principalmente solo e água, comprometendo severamente a produção agrícola em<br />

âmbitos compatíveis com as <strong>de</strong>mandas populacionais. Os processos <strong>de</strong> erosão do solo<br />

provocam alteração <strong>de</strong> algumas proprieda<strong>de</strong>s físicas, químicas e biológicas que, somados<br />

ao processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação da matéria orgânica, com consequente diminuição da<br />

fertilida<strong>de</strong>, tem conduzido a uma diminuição crescente do potencial produtivo <strong>de</strong> diferentes<br />

culturas nas mais diversas regiões agroecológicas. Essa situação aliada a outros aspectos<br />

ligados ao clima (temperaturas extremas, ocorrência <strong>de</strong> secas prolongadas, inundações,<br />

ataque severo e inesperado <strong>de</strong> pragas e/ou doenças), tem provocado em maior ou menor<br />

grau, nas mais distintas regiões, sérios riscos <strong>de</strong> insegurança alimentar às populações.<br />

A Província <strong>de</strong> Sofala, com seus diferentes tipos <strong>de</strong> solos, composta basicamente pela<br />

agricultura familiar <strong>de</strong> subsistência, apresenta uma situação semelhante, on<strong>de</strong> o sistema<br />

tradicional <strong>de</strong> manejo <strong>de</strong> solos baseia-se na retirada dos restolhos e capins da área ou<br />

mesmo queima <strong>de</strong> todos esses resíduos no fim da estação seca, antes do preparo do solo<br />

para a próxima campanha. O solo geralmente é preparado intensivamente com enxadas e,<br />

em pequena escala por tracção animal e/ou tractorizada. A <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra é<br />

muito alta e em geral na média uma família possui uma área cultivada em torno <strong>de</strong> 0.5 a 1.0<br />

hectare. A monocultura predominante consiste na sequência <strong>de</strong> cereais: milho-milho ou<br />

milho-mapira.<br />

Após o plantio das culturas, normalmente são necessários 3 sachas até que se complete o<br />

ciclo das culturas anuais (milho, mapira, feijão nhemba, etc.), na maioria dos casos árdua<br />

tarefa incumbida às mulheres.<br />

Assim, a constante <strong>de</strong>gradação dos solos na Província <strong>de</strong> Sofala, consequência da má<br />

gestão dos recursos naturais, quer pelo cultivo contínuo sem reposição dos nutrientes, quer<br />

pelas práticas anuais <strong>de</strong> preparo intensivo e queima dos resíduos orgânicos, monoculturas,<br />

aliado às condições climáticas irregulares e, ataque imprevisto e severo <strong>de</strong> algumas pragas<br />

e doenças, tem como consequência baixas na produtivida<strong>de</strong>, resultando em constante<br />

insegurança alimentar.<br />

Resultados alcançados nos últimos 4 anos a nível <strong>de</strong> campo com o sistema <strong>de</strong> Agricultura<br />

<strong>de</strong> Conservação em diferentes Distritos da Província, mostram que os rendimentos <strong>de</strong><br />

diferentes culturas, tais como milho, mapira, feijões, assim como algumas hortícolas (cebola,<br />

tomate, repolho, couves, pimento, cenoura, alface, etc.), po<strong>de</strong>m ser aumentados <strong>de</strong> 20 até<br />

150%, além <strong>de</strong> outros benefícios, tais como, diminuição <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra (não preparação do<br />

solo, menor número <strong>de</strong> regas e sachas, entre outros), possibilida<strong>de</strong>s reais <strong>de</strong> aumentar a<br />

área da machamba e, ter assegurado rendimentos suficientes para garantir o sustento das<br />

necessida<strong>de</strong>s nutricionais da família e o exce<strong>de</strong>nte ser direccionado ao mercado local e<br />

regional.<br />

Consi<strong>de</strong>rando a situação para os diferentes sistemas regionais <strong>de</strong> produção na Província <strong>de</strong><br />

Sofala, é fundamental o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> agricultura sustentável e,<br />

certamente a Agricultura <strong>de</strong> Conservação oferece esta real possibilida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> são<br />

contemplados a diminuição da pobreza no meio rural, e uma maior garantia <strong>de</strong> segurança<br />

alimentar para todas as comunida<strong>de</strong>s.<br />

3


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

1. O SISTEMA <strong>DE</strong> <strong>AGRICULTURA</strong> <strong>DE</strong> <strong>CONSERVAÇÃO</strong><br />

1.1 A importância da Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

As inúmeras experiências <strong>de</strong> agricultores e resultados obtidos por pesquisas mostram que o<br />

sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação, que inclui o emprego <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura<br />

a<strong>de</strong>quadamente integradas em rotação <strong>de</strong> culturas, após <strong>de</strong>vidamente testadas e validadas<br />

nos sistemas regionais <strong>de</strong> produção, ou seja após serem adaptadas regionalmente, e<br />

distúrbio mínimo do solo, é importante porque:<br />

♦ Promove uma conservação e recuperação dos solos,<br />

♦ Permite uma melhor distribuição do trabalho durante todo o ano, resultando em<br />

economia <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra e menor consumo <strong>de</strong> energia,<br />

♦ Consegue uma diversificação com menores riscos <strong>de</strong> ataques <strong>de</strong> doenças e/ou pragas,<br />

♦ Aproveita melhor a humida<strong>de</strong> com diminuição da frequência <strong>de</strong> regas,<br />

♦ Melhora a redistribuição - aproveitamento e equilíbrio dos nutrientes, melhoria da<br />

capacida<strong>de</strong> produtiva do solo,<br />

♦ Diminui os custos <strong>de</strong> produção,<br />

♦ Contribui para uma maior estabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção,<br />

♦ Existe um tendência <strong>de</strong> aumento dos rendimentos das diferentes culturas e,<br />

consequente tendência <strong>de</strong> aumento da renda líquida da proprieda<strong>de</strong> e melhores<br />

perspectivas <strong>de</strong> diminuição da pobreza no meio rural.<br />

COMO SE CONSEGUE ISSO?<br />

Em áreas com cultivos anuais, a diminuição da taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição dos resíduos<br />

orgânicos frescos que são adicionados ao solo, assim como o próprio húmus é obtida<br />

através da redução do revolvimento do solo, eliminação da queima dos resíduos vegetais,<br />

adição <strong>de</strong> carbono orgânico ao solo, condições estas favorecidas por um manejo<br />

principalmente através da Agricultura <strong>de</strong> Conservação (sistema <strong>de</strong> plantio directo), incluindose<br />

sempre o uso <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura e a<strong>de</strong>quadas rotações entre as culturas.<br />

Normalmente, as áreas que são mantidas sem cobertura são as mais predispostas aos<br />

efeitos <strong>de</strong>sfavoráveis das excessivas precipitações, e com isso, certamente as perdas <strong>de</strong><br />

nutrientes por arraste das partículas (enxurradas) e lixiviação serão bem maiores em relação<br />

a uma área coberta. Além <strong>de</strong>ste agravante, também a prática <strong>de</strong> monocultivos ten<strong>de</strong> a<br />

agravar os problemas <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação do solo e, normalmente predispor os cultivos mais ao<br />

possível ataque <strong>de</strong> pragas e doenças.<br />

A rotação <strong>de</strong> culturas, incluindo diferentes espécies <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura adaptadas<br />

regionalmente, a<strong>de</strong>quadamente distribuídas temporal e espacialmente, contribuirão<br />

sobremaneira para uma maior biodiversida<strong>de</strong> no meio ambiente e consequente maior<br />

equilíbrio do sistema como um todo.<br />

A melhoria dos processos <strong>de</strong> uso e maneio do solo, e manutenção da capacida<strong>de</strong> produtiva<br />

do mesmo, é um meio <strong>de</strong> viabilizar a manutenção da família <strong>de</strong> forma sustentável e<br />

compatível tanto com os recursos naturais sob o ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> ambiental,<br />

quanto aos socio-económicos nos aspectos <strong>de</strong> segurança alimentar e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos<br />

camponeses.<br />

4


As vantagens do sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação po<strong>de</strong>m ser resumidas a seguir:<br />

• Promove a conservação e recuperação dos solos,<br />

• Permite uma melhor distribuição do trabalho durante todo o ano, resultando em economia <strong>de</strong><br />

mão-<strong>de</strong>-obra e menor consumo <strong>de</strong> energia,<br />

• Consegue uma diversificação com menores riscos <strong>de</strong> ataques <strong>de</strong> doenças e/ou pragas,<br />

• Aproveita melhor a humida<strong>de</strong> com diminuição da frequência <strong>de</strong> regas,<br />

• Melhora a redistribuição - aproveitamento e equilíbrio dos nutrientes,<br />

• Melhora a capacida<strong>de</strong> produtiva do solo,<br />

• Diminui os custos <strong>de</strong> produção,<br />

• Contribui para uma maior estabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção,<br />

• Contribui para um aumento dos rendimentos das diferentes culturas.<br />

Sr. Joaquim Mapinda:<br />

Pioneiro do sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong><br />

Conservação no Distrito <strong>de</strong> Dondo, mostrando a<br />

cobertura do solo, elevada produção <strong>de</strong><br />

biomassa da mucuna protegendo e melhorando<br />

a fertilida<strong>de</strong> do solo<br />

1.2 Os fundamentos do sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

O sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação vem sendo <strong>de</strong>senvolvido em diferentes<br />

continentes, nas mais diversas regiões agroecológicas e sistemas <strong>de</strong> produção. Este<br />

sistema, apesar <strong>de</strong> suas especificida<strong>de</strong>s locais e regionais, é governado por alguns<br />

princípios fundamentais.<br />

Os princípios da Agricultura <strong>de</strong> Conservação são os mesmos em praticamente todas as<br />

regiões do mundo on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolve a agricultura, e a sua aplicação ten<strong>de</strong> a promover<br />

benefícios tanto imediatos quanto ao longo dos anos, conduzindo ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />

uma agricultura sustentável e compõe-se basicamente <strong>de</strong>:<br />

1) Não remover o solo – distúrbio mínimo do solo, <strong>de</strong>vendo efectuar o plantio das culturas<br />

directamente sobre o solo,<br />

2) Manter o solo coberto, se possível durante todo o ano,<br />

3) Efectuar uma a<strong>de</strong>quada rotação <strong>de</strong> culturas, incluindo cultivos <strong>de</strong> subsistência e/ou<br />

mercado e também plantas <strong>de</strong> cobertura para se ter sistemas mais complexos, com<br />

maior diversificação e consequentemente mais equilibrados.<br />

5


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

O QUE PRECISA MUDAR NAS ACTUAIS PRÁTICAS TRADICIONAIS DA<br />

<strong>AGRICULTURA</strong> COMUNS EM MOÇAMBIQUE ?<br />

♦ Queima, aração do solo, monoculturas contínuas, solo mantido <strong>de</strong>scoberto, <strong>de</strong>verão ser<br />

evitadas nas machambas. Dessa forma, é recomendável não queimar os restolhos e<br />

resíduos vegetais nas machambas, mas sim manter os restolhos das culturas e <strong>de</strong><br />

plantas invasoras sobre o solo;<br />

♦ Evitar revolver o solo, quer com enxadas, tracção animal ou tractores;<br />

♦ Buscar executar rotação/sequência <strong>de</strong> culturas adaptadas às diferentes condições agroecológicas<br />

predominantes nas diferentes regiões e que promovam melhoria do solo e<br />

aumento <strong>de</strong> rendimento das culturas subsequentes;<br />

♦ O plantio das culturas <strong>de</strong>verá ser efectuado directamente no solo (coberto com capim ou<br />

outros resíduos), quer seja com catana, matraca, pequenos covachos ou através <strong>de</strong><br />

máquinas <strong>de</strong> plantio directo (tracção animal e/ou tractorizada).<br />

Os três princípios da Agricultura <strong>de</strong> Conservação são os seguintes:<br />

• Não remover o solo – distúrbio mínimo do solo,<br />

• Manter o solo coberto, se possível durante todo o ano, e<br />

• Efectuar uma a<strong>de</strong>quada rotação <strong>de</strong> culturas.<br />

6<br />

Feijão em plantio directo sobre capim que será<br />

rotacionado com milho<br />

(Distrito do Dondo).


1.3 Os benefícios do sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

A prática da Agricultura <strong>de</strong> Conservação, traz benefícios a vários níveis:<br />

Ao nível dos Agricultores:<br />

Redução do trabalho (principalmente no tempo para realizar as activida<strong>de</strong>s),<br />

Redução nos custos <strong>de</strong> produção: menor necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> insumos externos (fertilizantes,<br />

pesticidas), menor uso <strong>de</strong> tractores/máquinas/equipamentos e combustível,<br />

Maior controle das invasoras diminuindo ou até eliminando a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

sachas/mondas nas culturas,<br />

Maior armazenamento <strong>de</strong> água no solo e menores perdas <strong>de</strong> água por evaporação:<br />

menor número <strong>de</strong> regas,<br />

Maior estabilida<strong>de</strong> e aumento no rendimento das diferentes culturas (cereais (milho,<br />

mapira), hortícolas (cebola, alho, alface, tomate, etc.), leguminosas (feijões: nhemba,<br />

vulgar, bóer, etc.),<br />

Aumento na lucrativida<strong>de</strong> do sistema agrícola.<br />

Ao nível <strong>de</strong> Comunida<strong>de</strong>s / Ambiente / Bacias Hidrográficas:<br />

Maior constância da água nos leitos dos rios, reaparecimento <strong>de</strong> mananciais que se<br />

secaram,<br />

Menor ocorrência <strong>de</strong> erosão e, consequente mais água limpa nos diferentes ambientes<br />

Menores riscos <strong>de</strong> enchentes,<br />

Diminuição <strong>de</strong> riscos do impacto <strong>de</strong> situações climáticas extremas,<br />

Menores gastos na manutenção <strong>de</strong> estradas e canais <strong>de</strong> escoamento <strong>de</strong> água,<br />

Maior segurança alimentar para as populações da região abrangida pelo sistema <strong>de</strong><br />

Agricultura <strong>de</strong> Conservação.<br />

Ao nível Global:<br />

Maior captura (sequestro) <strong>de</strong> carbono orgânico no solo,<br />

Menores riscos <strong>de</strong> poluição quer seja por poeira, fumo proveniente <strong>de</strong> queimadas, e<br />

diminuição dos riscos do efeito estufa (causado principalmente pela emissão <strong>de</strong> CO2<br />

para a atmosfera),<br />

Menor uso <strong>de</strong> combustíveis (economia <strong>de</strong> 40-60%), no caso <strong>de</strong> tratores,<br />

Menores perdas <strong>de</strong> nutrientes por lixiviação e consequente menos riscos <strong>de</strong><br />

contaminação das águas subterrâneas,<br />

Praticamente um controle quase total do processo erosivo (água, ventos),<br />

Menores perdas <strong>de</strong> água e, consequente maiores recargas dos aquíferos.<br />

A aplicação a<strong>de</strong>quada dos conceitos <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação quanto à Tração<br />

Tractorizada tem as seguintes implicações:<br />

Menos trabalho e menor necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> potência nos tractores,<br />

Economia <strong>de</strong> até 60% no combustível,<br />

Diminuição <strong>de</strong> até 50% da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tractores,<br />

Diminuição <strong>de</strong> até 40% no tamanho dos tractores,<br />

Aumento da vida útil do tractor, po<strong>de</strong> ser triplicada,<br />

Redução significativa no capital a ser investido nos tractores.<br />

7


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

2 A REALIDA<strong>DE</strong> DA PROVÍNCIA <strong>DE</strong> SOFALA<br />

2.1 Características regionais (generalida<strong>de</strong>s)<br />

8<br />

CHIBABAVA<br />

MARINGUE<br />

GORONGOSA<br />

NHAMATANDA<br />

BUZI<br />

CHEMBA<br />

MACHANGA<br />

CAIA<br />

MARROMEU<br />

CHERINGOMA<br />

DONDO<br />

MUANZA<br />

A Província <strong>de</strong> Sofala apresenta diferentes<br />

condições agro-ecológicas:<br />

Solos: arenosos, francos e argilosos (e suas<br />

combinações); com profundida<strong>de</strong> efectiva variável,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> solos rasos (litólicos) bastante jovens,<br />

normalmente nas áreas montanhosas com presença<br />

<strong>de</strong> rochas, até solos mais profundos nas áreas<br />

baixas, com maior acúmulo <strong>de</strong> húmus (matéria<br />

orgânica). Solos arenosos (areia quartzosa), solos<br />

francos (areno-argilosos), até argilosos (teores <strong>de</strong><br />

argila superior a 35%).<br />

Relevo: Variável, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a planície costeira (planos),<br />

até áreas montanhosas como a região <strong>de</strong><br />

Gorongosa e outras, variando portanto os relevos<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> as áreas planas, suave ondulado, ondulado,<br />

<strong>de</strong>clivoso e montanhoso.<br />

Matéria orgânica: <strong>de</strong>sempenha um papel<br />

extremamente importante na manutenção e/ou<br />

recuperação da fertilida<strong>de</strong> e capacida<strong>de</strong> produtiva<br />

<strong>de</strong>ssas áreas, sendo <strong>de</strong>ssa forma fundamental o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um manejo <strong>de</strong> solos e culturas<br />

que privilegiem a manutenção e/ou aumento dos<br />

níveis <strong>de</strong>ssa matéria orgânica nos solos explorados<br />

com agricultura.<br />

Fertilida<strong>de</strong>: a fertilida<strong>de</strong> química natural dos solos também é variável, sendo extremamente<br />

pobre nas áreas on<strong>de</strong> predominam areias quartzosas, aumentando conforme se aumenta<br />

os teores <strong>de</strong> argila; também áreas que tem sido cultivada por maior tempo, além das<br />

perdas <strong>de</strong> solos pela erosão e <strong>de</strong>gradação da matéria orgânica pela queima dos restolhos e<br />

pelo preparo contínuo do solo, aliados a não reposição <strong>de</strong> nutrientes, os solos se<br />

apresentam mais pobres e com menor capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção.<br />

Solo extremamente <strong>de</strong>gradado (Distrito <strong>de</strong> Gorongosa):<br />

mapira com fraco <strong>de</strong>senvolvimento e, tentativa <strong>de</strong><br />

recuperação da área com mucuna. Esta leguminosa não foi<br />

eficiente. Neste caso, é recomendado iniciar com feijão<br />

bóer.


2.2 O uso dos solos agrícolas (generalida<strong>de</strong>s)<br />

Áreas <strong>de</strong> baixadas <strong>de</strong> relevo plano, inundáveis na estação chuvosa (solos<br />

hidromórficos), normalmente exploradas com o cultivo <strong>de</strong> arroz inundado e, geralmente<br />

apresentam teores <strong>de</strong> matéria orgânica mais elevados.<br />

Parte das áreas <strong>de</strong> baixadas são ocupadas na entre-safra do arroz (outono/inverno) com<br />

cultivos hortícolas (cebola, alho, tomate, repolho, couves, cenoura, alface, etc.;<br />

geralmente empregando regas periódicas (bombas pe<strong>de</strong>stais, manual com regadores,<br />

inundação). As áreas mais altas, on<strong>de</strong> os solos apresentam menor acúmulo <strong>de</strong> água,<br />

são ocupadas por milho, mapira, feijões (nhemba, bóer, vulgar), gergelim, mandioca,<br />

algodão, etc. As culturas <strong>de</strong> subsistência normalmente são o milho, arroz, mapira,<br />

mandioca, cujo exce<strong>de</strong>nte é colocado no mercado. Por outro lado, o gergelim, algodão,<br />

hortaliças (subsistência e mercado) são produzidos com finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mercado.<br />

Áreas <strong>de</strong> meia encosta, predominam outras culturas <strong>de</strong> subsistência e mercado: milho,<br />

mapira, gergelim, feijões (nhemba, bóer, vulgar), algodão, mandioca, etc.; hortaliças:<br />

cebola, alho, repolho, couves, etc. (baixadas e meia encosta), enquanto algumas<br />

frutíferas, tais como: ananás, banana, caju, papaia, manga, etc., ocupam normalmente<br />

as áreas mais altas.<br />

As pastagens cultivadas são raras, ficando os animais em geral confinados a pequenas<br />

áreas e após as colheitas gran<strong>de</strong> parte é liberado para se alimentar dos restolhos e,<br />

algumas gramíneas que crescem nos campos. Assim, a existência <strong>de</strong> áreas controladas<br />

para abrigo dos animais é importante no sentido <strong>de</strong> evitar que os animais tenham acesso<br />

aos campos cultivados e, consequentemente eliminem os restolhos, que é um<br />

componente básico e fundamental para o sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação.<br />

Muitas áreas são ocupadas por vegetação arbustiva e florestas, que além <strong>de</strong> ser<br />

importante para gerar fontes <strong>de</strong> água, manutenção da flora e fauna, também contribui<br />

para o abrigo e procriação <strong>de</strong> diferentes insectos e outros organismos, muito dos quais<br />

são inimigos naturais <strong>de</strong> pragas promovendo assim um maior equilíbrio ambiental.<br />

2.3 Tecnologias empregadas no manejo dos solos agrícolas<br />

Geralmente na maioria das áreas é praticado uma agricultura puramente <strong>de</strong> extrativismo,<br />

sem a reposição <strong>de</strong> nutrientes (a maioria não utiliza fertilizantes químicos e o uso <strong>de</strong><br />

adubos orgânicos nos diferentes sistemas <strong>de</strong> produção é mínimo. Gran<strong>de</strong> parte das<br />

machambas se caracterizam por uma agricultura migratória (nomadismo), on<strong>de</strong> geralmente<br />

após alguns anos <strong>de</strong> cultivo intenso, quando os rendimentos baixam, o campo é<br />

abandonado e <strong>de</strong>ixado em pousio por 2-3 anos, para então posteriormente se retornar a<br />

cultivar nessas áreas.<br />

Praticamente não existe trabalhos <strong>de</strong> melhoramento <strong>de</strong> pousio e tampouco uma reposição<br />

dos nutrientes extraídos pelos cultivos. Além disso, a cada campanha on<strong>de</strong> serão<br />

implantadas novas culturas no terreno, a tradicional e predominante queima dos restolhos<br />

das culturas e/ou muitas vezes a sua retirada das machambas, somado ao preparo intensivo<br />

dos solos através <strong>de</strong> arações (enxadas ou tractores, ou ainda por tracção animal), tem<br />

acelerado a mineralização/<strong>de</strong>composição da matéria orgânica dos solos. Isso, tem<br />

provocado um aumento nas perdas <strong>de</strong> solos, água e nutrientes pelo processo da erosão; e,<br />

também, o comumente emprego <strong>de</strong> monoculturas, ou seja a repetição das mesmas culturas<br />

nos anos subsequentes, tem contribuído para o aumento das populações <strong>de</strong> invasoras<br />

(plantas daninhas), aumento da ocorrência <strong>de</strong> pragas e doenças, promovendo queda dos<br />

níveis <strong>de</strong> matéria orgânica dos solos e empobrecimento dos sistemas e, por consequência<br />

9


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

provocando uma drástica diminuição da capacida<strong>de</strong> produtiva das terras, manifestada<br />

através das quedas anuais <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> das diferentes culturas e, consequentemente<br />

uma menor segurança alimentar.<br />

Além dos aspectos negativos, também o uso <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra para a execução <strong>de</strong>stas<br />

práticas tradicionais é muito elevada, exaustiva e, por consumir um gran<strong>de</strong> tempo para sua<br />

execução, impe<strong>de</strong> a possibilida<strong>de</strong> e/ou chances <strong>de</strong> aumento da área da machamba,<br />

inviabilizando <strong>de</strong>ssa forma, maiores possibilida<strong>de</strong>s/oportunida<strong>de</strong>s do aumento da entrada <strong>de</strong><br />

ingressos e, consequente aumento da renda liquida das famílias.<br />

10<br />

Expansão <strong>de</strong> áreas ou abertura <strong>de</strong> novas machambas<br />

utilizando a prática tradicional <strong>de</strong>strutiva da queima<br />

(Distrito <strong>de</strong> Cheringoma)<br />

Paisagens típicas <strong>de</strong> região<br />

montanhosa (Distrito <strong>de</strong><br />

Gorongosa): preparo intensivo,<br />

plantio morro abaixo e erosão do<br />

solo com o resultado dum<br />

empobrecimento constante com o<br />

sistema tradicional<br />

Numa avaliação generalizada da situação dos solos agricultáveis das diferentes regiões <strong>de</strong><br />

Sofala, é muito preocupante o nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação das terras, comprovado pela observação<br />

em diversas machambas, nos diferentes Distritos, a visível <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> nutrientes por<br />

diferentes culturas (milho, mapira, feijão nhemba, etc.), assim como os baixos níveis <strong>de</strong><br />

nutrientes no solo, além da diminuição quase constante da matéria orgânica dos solos.<br />

Numa área <strong>de</strong> solo areia quartzosa, com mais <strong>de</strong> 80% <strong>de</strong> areia, sem cultivo atual., os<br />

resultados da análise <strong>de</strong> solos (Tabela 1) mostram o grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação e baixo nível <strong>de</strong><br />

nutrientes.<br />

Tabela 1: Composição química <strong>de</strong> solo (areia quartzosa, 0-20cm) no Distrito do Dondo<br />

Solo<br />

Areia<br />

quartzosa<br />

mg /<br />

dm 3<br />

(ppm)<br />

g /<br />

kg<br />

solo<br />

P C<br />

(%)<br />

Mat.<br />

Org.<br />

pH<br />

cmolc / dm 3 <strong>de</strong> solo (meq./100g <strong>de</strong> solo) (%)<br />

Al H+Al Ca Mg K S T V Al<br />

4.20 0.44 0.76 6.10 0.00 2.18 2.02 0.37 0.05 2.44 4.62 52.81 0.00<br />

P= fósforo; C= carbono; pH= pH do solo; Al= alumínio; H+Al= hidrogénio + alumínio;<br />

Ca= cálcio; Mg= magnésio; K= potássio; S= soma <strong>de</strong> bases; T= CTC;<br />

V= Saturação das bases; Al (%) = saturação <strong>de</strong> alumínio.


Pelos dados da análise química do solo, os níveis <strong>de</strong> matéria orgânica, cálcio, magnésio,<br />

potássio, assim como a soma <strong>de</strong> bases e CTC (Capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Troca <strong>de</strong> Cátions) , são<br />

bastante baixos, sendo apenas o fósforo com um teor levemente maior (possivelmente<br />

resíduos <strong>de</strong> queima <strong>de</strong> restolhos). Assim, solos semelhantes a este, que são gran<strong>de</strong> parte<br />

das áreas cultivadas na Província <strong>de</strong> Sofala, necessitam urgente interferência no manejo no<br />

sentido <strong>de</strong> aumentar os níveis <strong>de</strong> matéria orgânica, aumentando assim a CTC, para então<br />

promover uma a<strong>de</strong>quada reposição dos nutrientes (aliado à adubarão química e/ou<br />

orgânica) e recuperação da capacida<strong>de</strong> produtiva <strong>de</strong>ssas terras. Caso contrário, com a<br />

continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação dos solos, não será possível caminhar em direcção à<br />

sustentabilida<strong>de</strong> e garantia <strong>de</strong> segurança alimentar.<br />

Prova disso, é a baixa produtivida<strong>de</strong> das diferentes culturas (milho, mapira, arroz, gergelim,<br />

nhemba, etc.) relatadas pela maioria dos produtores consultados dos distintos Distritos.<br />

Por exemplo no Distrito do Búzi em reunião com técnicos e camponeses foi relatado a<br />

produtivida<strong>de</strong> média dos diferentes cultivos:<br />

Arroz: 2,0 toneladas/hectare<br />

Milho: 0,8 - 1,0 toneladas/hectare<br />

Estas produtivida<strong>de</strong> relatadas são muito baixas e, indubitavelmente pela alta <strong>de</strong>manda <strong>de</strong><br />

mão-<strong>de</strong>-obra envolvida, caso fossem efectuados estudos <strong>de</strong> balanço energético nos<br />

distintos sistemas <strong>de</strong> produção, possivelmente na maioria dos casos o balanço energético<br />

seria negativo, ou seja o montante total <strong>de</strong> energia consumida em todas as etapas da<br />

produção é muito maior do que aquela obtida através dos valores energéticos <strong>de</strong> produção<br />

das diferentes culturas (milho, mapira, arroz, etc.). Os rendimentos médios <strong>de</strong> diversas<br />

culturas em Moçambique são muito baixos (Tabela 2), certamente representam os<br />

rendimentos da gran<strong>de</strong> maioria dos camponeses da Província <strong>de</strong> Sofala.<br />

Tabela 2: Rendimento estimado e potencial (t/ha)<br />

Cultura<br />

Média <strong>de</strong> rendimento em<br />

Moçambique<br />

Rendimento<br />

actual<br />

Rendimento<br />

potencial<br />

Rendimentos no<br />

Zimbabwe<br />

Rendimentos em<br />

África (geral)<br />

Milho 0.1 - 2.3 1.0 - 3.0 1.4 1.2<br />

Mapira 0.3 - 0.6 0.5 - 1.5 0.6 0.8<br />

Arroz 0.5 - 1.8 1.0 - 2.5 2.8 1.6<br />

Feijão 0.3 - 0.6 0.4 - 0.6 0.7 0.7<br />

Mandioca 4.0 - 5.0 5.0 - 10.0 4.0 7.5<br />

Castanha <strong>de</strong><br />

caju<br />

Fonte: Taimo et al., 2005.<br />

0.1 - 0.2 0.4 -- --<br />

Os dados relatados mostram que há um gran<strong>de</strong> potencial em aumentar os rendimentos,<br />

necessitando a adaptação <strong>de</strong> tecnologias viáveis, utilização racional <strong>de</strong> insumos para atingir<br />

níveis sustentáveis <strong>de</strong> produção.<br />

Alguns resultados já alcançados pelos camponeses assistidos pelo Projecto PROMEC<br />

mostram que é possível em curto prazo, em algumas situações, com a implantação<br />

a<strong>de</strong>quada do sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação, aumentar imediatamente os<br />

rendimentos <strong>de</strong> diversas culturas.<br />

11


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

2.4 Práticas tradicionais <strong>de</strong> manejo <strong>de</strong> solos<br />

1. A mais comum e tradicional prática empregada pela maioria dos camponeses na<br />

Província <strong>de</strong> Sofala consiste na queima dos restolhos das culturas e/ou retirada dos<br />

mesmos da machamba; a cada implantação <strong>de</strong> nova cultura, preparo intensivo do solo<br />

com enxadas ou tracção animal; a prática repetida <strong>de</strong> monoculturas (milho-milho,<br />

mapira-mapira, etc.), tem proporcionado um excessivo uso <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra, além <strong>de</strong><br />

limitar a área a ser explorada na machamba, ou seja a actual área cultivada por cada<br />

família é bastante limitada, em geral ¼ a ½ hectare <strong>de</strong> plantio, em razão da alta<br />

<strong>de</strong>manda <strong>de</strong> trabalho, principalmente nas operações <strong>de</strong> preparo do solo e limpeza das<br />

ervas invasoras (sachas e monda), trabalho este na maioria dos casos efectuado por<br />

mulheres. Dessa forma, sempre estão à tona os riscos <strong>de</strong> segurança alimentar, ou seja<br />

com apenas uma pequena área <strong>de</strong> cultivo, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> perdas quer por secas<br />

ocasionais, excesso <strong>de</strong> chuvas ou mesmo ataques imprevistos e severos <strong>de</strong> pragas e/ou<br />

doenças é bastante gran<strong>de</strong> e, po<strong>de</strong>rão em diversas situações colocar as famílias em<br />

situação <strong>de</strong> emergência e riscos <strong>de</strong> não conseguirem alcançar os rendimentos<br />

suficientes para auto sustento. Assim, é preciso encontrar meios <strong>de</strong> aumentar a área da<br />

machamba a ser cultivada, pois a maioria dos camponeses raramente consegue suprir<br />

as necessida<strong>de</strong>s básicas <strong>de</strong> alimentação <strong>de</strong> uma família.<br />

2. A lavra manual, consiste num trabalho extremamente árduo e gran<strong>de</strong> consumidor <strong>de</strong><br />

tempo e energia junto aos camponeses. É necessário mudar os meios <strong>de</strong> produção (“é<br />

preciso sair da lavra com enxada todos os anos, pois é muito árduo”). Um trabalhador no<br />

campo, com uma carga <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> 8 horas diárias, consome em torno <strong>de</strong> 30-45 dias<br />

em média para lavrar uma área <strong>de</strong> 1 hectare, em áreas secas. Em áreas húmidas ou<br />

com bastante água (típica das áreas <strong>de</strong> baixada para cultivo <strong>de</strong> arroz em Búzi, Dondo e<br />

outros Distritos), o tempo <strong>de</strong>mandado po<strong>de</strong>rá ainda ser maior.<br />

3. Além da lavra, também a sacha (milho) e a monda (arroz), são práticas comuns nestes<br />

sistemas <strong>de</strong> produção e, também consomem bastante tempo e trabalho árduo aos<br />

camponeses; a prática da monocultura é a mais comum, ou seja normalmente os<br />

camponeses plantam arroz sobre arroz ou ainda milho sobre milho nos anos<br />

sequenciais.<br />

4. A gran<strong>de</strong> maioria dos camponeses não utilizam herbicidas e/ou fertilizantes químicos.<br />

5. Há uma necessida<strong>de</strong> muito elevada <strong>de</strong> apoio e assistência técnica à maioria dos<br />

camponeses, ou seja, é marcante a carência <strong>de</strong> informações técnicas e meios <strong>de</strong><br />

implementação no que diz respeito a um a<strong>de</strong>quado manejo <strong>de</strong> solo e das diferentes<br />

culturas exploradas.<br />

6. A actual área cultivada por cada família é bastante limitada, em geral ¼ a ½ hectare <strong>de</strong><br />

plantio, não suficiente para aten<strong>de</strong>r as necessida<strong>de</strong>s da família. É necessário encontrar<br />

uma forma URGENTE <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r aumentar a área <strong>de</strong> machamba, aumentar a produção/<br />

produtivida<strong>de</strong> e conseguir assim diminuir os riscos <strong>de</strong> intempéries às vezes imprevistas<br />

(seca, excesso <strong>de</strong> chuvas), ou mesmo um forte e inesperado ataque <strong>de</strong> pragas/doenças<br />

que possam comprometer o rendimento final das culturas e a garantia do suprimento <strong>de</strong><br />

alimentos durante todo o ano às famílias.<br />

7. A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> herbicidas, po<strong>de</strong>rá indirectamente proporcionar menos<br />

trabalho e consequentemente chances <strong>de</strong> aumentar a área <strong>de</strong> cultivo da machamba;<br />

entretanto po<strong>de</strong>rá trazer riscos <strong>de</strong> contaminação aos usuários e ao ambiente, caso não<br />

12


sejam seguidas as normas a<strong>de</strong>quadas <strong>de</strong> manuseio e aplicação, assim como<br />

produtos/dosagens menos tóxicos possíveis.<br />

8. A prática do consórcio ou associação <strong>de</strong> cultivos é praticado por muito poucos<br />

camponeses: milho + mandioca + hortaliças (quiabo, abóbora, melancia, etc.).<br />

9. Apesar da assistência técnica estar há vários anos tentando convencer os camponeses<br />

sobre a importância <strong>de</strong> observar atentamente alguns componentes técnicos (como por<br />

exemplo o uso a<strong>de</strong>quado dos compassos (espaçamento e <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> plantas) <strong>de</strong><br />

diferentes cultivos, principalmente o milho, as recomendações por parte da maioria dos<br />

camponeses não vem sendo seguido. Isto, como foi observado em várias machambas,<br />

<strong>de</strong> diferentes Distritos visitados, em alguns casos com 5-7 plantas <strong>de</strong> milho num mesmo<br />

covacho e, espaçamentos <strong>de</strong> 1.20m ou mais entre os covachos. Isto, além <strong>de</strong> provocar<br />

uma elevada competição entre as plantas, por água, luz e nutrientes, interfere<br />

negativamente e provoca diminuição acentuada na produtivida<strong>de</strong> das culturas (milho,<br />

mapira, principalmente, haja visto que estas plantas respon<strong>de</strong>m em rendimento quando<br />

em população i<strong>de</strong>al).<br />

10. Um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> camponeses da região do Búzi e outros distritos <strong>de</strong> Sofala,<br />

utilizam a prática <strong>de</strong> retirar os resíduos para fora da machamba e, a gran<strong>de</strong> maioria<br />

utilizam também a queima <strong>de</strong> todos os restolhos da machamba (restos culturais <strong>de</strong><br />

milho, arroz, mapira, etc., e também todos os capins e outras invasoras (plantas<br />

daninhas) que crescem nos campos). Estas práticas eliminam quase toda a adição anual<br />

<strong>de</strong> carbono orgânico (material orgânico) ao solo e, consequentemente após as colheitas,<br />

um montante <strong>de</strong> nutrientes também é retirado anualmente, <strong>de</strong>ssa forma o solo vai<br />

ficando mais empobrecido a cada ano, ou seja o balanço anual do carbono orgânico<br />

passa a ser negativo (sai mais carbono do que entra no sistema), além da diminuição<br />

contínua dos nutrientes, sendo portanto estas práticas in<strong>de</strong>sejáveis ao bom manejo do<br />

solo agrícola e, portanto não compatíveis com a “Sustentabilida<strong>de</strong> dos Sistemas <strong>de</strong><br />

Produção”.<br />

11. Um elevado número <strong>de</strong> camponeses em <strong>de</strong>terminadas áreas utilizam uma agricultura<br />

itinerante, ou seja após vários anos <strong>de</strong> cultivo (queima, preparo do solo, e monocultura<br />

quase que constante), quando o solo encontra-se <strong>de</strong>gradado e com baixa produção nos<br />

cultivos, abandonam estas áreas indo cultivar em outros campos e, assim após 3-4 anos<br />

<strong>de</strong> pousio, retornam a cultivar nestas áreas.<br />

Po<strong>de</strong>riam nestas áreas promover o ”melhoramento do pousio” com a inclusão<br />

principalmente <strong>de</strong> leguminosas nativas da região que irão aumentar os teores <strong>de</strong> matéria<br />

orgânica, nitrogénio através da fixação biológica no solo, além <strong>de</strong> contribuírem na<br />

reciclagem <strong>de</strong> outros nutrientes. Po<strong>de</strong>m ainda utilizar algumas leguminosas arbóreas,<br />

tais como: Glericidia sepium, Sesbania sp., Tephrosia sp., etc., ou arbustivas: feijão bóer<br />

(Cajanus cajan), ou mesmo com algumas leguminosas anuais: Mucuna sp., Clitoria<br />

ternatea, e perenes: Stylosanthes sp., Calopogonium mucunoi<strong>de</strong>s, etc.<br />

12. Alguns grupos <strong>de</strong> camponeses trabalham com tracção animal e, com uma possível<br />

implementação/adaptação no uso a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> equipamentos e máquinas (rolo-faca<br />

para manejo <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura e resíduos, máquina <strong>de</strong> plantio directo), po<strong>de</strong>rão<br />

além <strong>de</strong> aumentar a área da machamba, também proporcionar aumento na<br />

produtivida<strong>de</strong> e produção final, com uma maior renda líquida na proprieda<strong>de</strong>.<br />

13. O armazenamento <strong>de</strong> grãos apresenta problemas quanto a manutenção da qualida<strong>de</strong><br />

dos grãos, principalmente milho, mapira, mexoeira, que po<strong>de</strong>m sofrer ataques severos<br />

<strong>de</strong> gorgulhos, que ao <strong>de</strong>struírem os grãos inviabilizam o seu consumo. Faz-se<br />

necessário utilizar <strong>de</strong> técnicas que permitam uma melhor conservação <strong>de</strong>sses grãos e a<br />

sua manutenção por um maior tempo em condições aptas <strong>de</strong> consumo. Neste caso, a<br />

13


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

14<br />

construção <strong>de</strong> celeiros melhorados seria uma óptima alternativa e, caso não seja<br />

possível po<strong>de</strong>-se empregar alguns tratamentos (agro-ecológicas) e sem riscos aos<br />

camponeses:<br />

Em um silo <strong>de</strong> armazenagem colocar uma camada <strong>de</strong> folhas <strong>de</strong> Eucalyptus sp. (30-40<br />

cm) em cada camada em torno <strong>de</strong> 1 metro <strong>de</strong> altura (formada por grãos <strong>de</strong> milho,<br />

mapira, ou mesmo em espigas, ou feijão. É importante também manter o fundo do local,<br />

e também a parte superior (sobre os grãos) cobertos por esta camada <strong>de</strong> folhas <strong>de</strong><br />

eucalyptus.<br />

Em caso da não disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> eucalyptus, po<strong>de</strong> também ser utilizado folhas e<br />

ramos <strong>de</strong> mucuna (ver<strong>de</strong>).<br />

É também possível a utilização <strong>de</strong> cinzas obtida através da queima <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira ou<br />

queima <strong>de</strong> cascas <strong>de</strong> arroz, ou ainda o uso <strong>de</strong> areia que <strong>de</strong>verão ser misturadas com os<br />

grãos dos cereais ou ainda <strong>de</strong> feijão: nhemba, bóer ou vulgar, a qual evitará o ataque <strong>de</strong><br />

gorgulhos, po<strong>de</strong>ndo assim permanecer armazenados por um longo tempo sem perda da<br />

qualida<strong>de</strong> dos grãos.<br />

14. Existem os CDR (Campos <strong>de</strong> Demonstração <strong>de</strong> Resultados) que servem para os<br />

camponeses observarem os resultados disponíveis e optarem por alguma nova<br />

tecnologia a ser implementada na machamba: novos híbridos disponíveis, compassos,<br />

controle <strong>de</strong> pragas e doenças, etc., também po<strong>de</strong>rão ser utilizados na difusão da<br />

Agricultura <strong>de</strong> Conservação. Ou seja, a Agricultura <strong>de</strong> Conservação não é um fim, mas<br />

sim um meio, no qual se po<strong>de</strong> conduzir diferentes culturas anuais e, no mesmo enfoque<br />

também culturas perenes (solo coberto, não queimar e não revolver o solo).<br />

15. O actual processo <strong>de</strong> difusão, normalmente levado a cabo pelos extensionistas, e a<br />

adopção <strong>de</strong> tecnologias por parte dos camponeses necessita melhor implementação,<br />

inclusive com o emprego <strong>de</strong> “promotores” que irão difundir tecnologias já validadas em<br />

seus campos, fazendo com que novas e promissoras tecnologias possam ser melhor<br />

testadas/validadas por outros camponeses e, efectivamente possam ser expandidas e<br />

adoptadas por um maior número <strong>de</strong> famílias <strong>de</strong> camponeses.<br />

16. Existem algumas pequenas experiências com o uso <strong>de</strong> controle biológico <strong>de</strong> pragas por<br />

parte <strong>de</strong> alguns camponeses, utilizando-se <strong>de</strong>: cebola, alho, coentro plantados junto aos<br />

canteiros das hortaliças em direcção ao vento para que o odor <strong>de</strong>stas plantas possam<br />

afugentar insectos e outras pragas; e também cinzas são aplicados sobre algumas<br />

pragas; no controle <strong>de</strong> lesmas e caracóis também são aplicados cinzas ao redor dos<br />

canteiros ou das plantas que irão impedir a passagem e ataque <strong>de</strong>stes moluscos às<br />

plantas. 1<br />

17. Sistema <strong>de</strong> Camalhões<br />

Em algumas regiões <strong>de</strong> Sofala é comum a prática da construção <strong>de</strong> camalhões no solo,<br />

visando um melhor manejo do solo explorado com agricultura. Esta prática é uma<br />

medida <strong>de</strong> conservação do solo e armazenamento <strong>de</strong> água que vem sendo empregada<br />

na região <strong>de</strong> Gorongosa e outras regiões, e se caracteriza:<br />

Normalmente, o solo é revolvido a cada estação, provocando uma aceleração no<br />

processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição da matéria orgânica ;<br />

A disposição <strong>de</strong>sses camalhões promove um maior controle da erosão em áreas<br />

<strong>de</strong> encosta, em virtu<strong>de</strong> dos mesmos serem aloucados perpendicularmente ao<br />

sentido do <strong>de</strong>clive e, portanto cortam o sentido das águas, diminuindo a<br />

velocida<strong>de</strong> e armazenando mais água nos camalhões; apesar disso o solo é<br />

revolvido periodicamente após cada colheita e manejado para implantação <strong>de</strong><br />

uma nova cultura;<br />

1 Vi<strong>de</strong> informações/recomendações no capitulo sobre Controle <strong>de</strong> pragas e doenças.


Todos os anos os novos restolhos dos cultivos são incorporados ao solo,<br />

mudando a localização do novo camalhão e, assim novamente o solo é revolvido<br />

com perdas nas suas proprieda<strong>de</strong>s físicas, químicas e biológicas do solo;<br />

Além da penosida<strong>de</strong> do trabalho, ocorre um elevado emprego <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra na<br />

execução das operações <strong>de</strong> reconstrução total e manutenção dos camalhões a<br />

cada ano;<br />

Apesar dos resíduos serem amontoados nos camalhões e uma maior quantida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> água armazenada, a constância anual no revolvimento do solo, provocará<br />

uma <strong>de</strong>gradação ao longo do tempo, principalmente da matéria orgânica e<br />

fatalmente mostrando ser um sistema que po<strong>de</strong>rá comprometer a<br />

sustentabilida<strong>de</strong> ao longo dos anos.<br />

Diante <strong>de</strong>sses inconvenientes, é sugerido que em áreas muito <strong>de</strong>clivosas sejam<br />

construídos pequenos terraços/ cordões vegetados, on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rão ser protegidos por<br />

barreiras vivas com Vetiver, cana-<strong>de</strong>-açucar, ou também com a inclusão <strong>de</strong><br />

leguminosas: feijão bóer (arbustiva), ou mutica - arbustiva) ou outras espécies (*citadas<br />

em práticas complementares <strong>de</strong> conservação), para que estas espécies ao serem<br />

podadas os resíduos possam ser <strong>de</strong>ixados sobre a superfície do terreno. Além disso, o<br />

solo não <strong>de</strong>verá ser revolvido e tampouco queimado os resíduos. Após as colheitas, os<br />

restolhos <strong>de</strong>verão ser distribuidos sobre o solo e, posteriormente a implantação das<br />

novas culturas <strong>de</strong>verá ser através do plantio directo (tracção humana – matracas,<br />

tracção animal ou tracção tractorizada), conforme a infra-estrutura local.<br />

2.5 Agricultura <strong>de</strong> Conservação: uma alternativa viável<br />

Entretanto, existem alternativas ao alcance do agricultor familiar, capazes <strong>de</strong> provocar<br />

aumento significativo dos rendimentos, diminuir a carga <strong>de</strong> trabalho, promovendo maiores<br />

entradas/ingressos e, consequentemente se conseguir uma produção capaz <strong>de</strong> gerar<br />

exce<strong>de</strong>ntes. Para isso, serão necessários mudar radicalmente os sistemas <strong>de</strong> manejo <strong>de</strong><br />

solos e culturas, tradicionalmente empregados e, por consequência, os camponeses com<br />

maior disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tempo e energia (maior disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra) e, assim<br />

po<strong>de</strong>r aumentar a área da machamba a ser explorada e, consequentemente com maiores<br />

chances <strong>de</strong> aumento da produção, com uma maior oferta <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong> subsistência e <strong>de</strong><br />

mercado. Este sistema <strong>de</strong> produção sustentável po<strong>de</strong>rá contribuir efectivamente para o<br />

aumento da renda familiar e assim promover a melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos<br />

camponeses da Província <strong>de</strong> Sofala.<br />

15


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

3 A IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA <strong>DE</strong> <strong>AGRICULTURA</strong> <strong>DE</strong><br />

<strong>CONSERVAÇÃO</strong><br />

3.1 O início: a a<strong>de</strong>quação das áreas<br />

Tendo em conta que os produtores vão apresentar solos com situações diferentes, a<br />

entrada para o sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação, <strong>de</strong>ve ter em conta a situação real da<br />

cada machamba.<br />

Existe um período inicial, ou seja uma fase <strong>de</strong> transição do sistema tradicional/convencional<br />

para o novo sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação que ora está sendo implementado.<br />

Tendo em conta as práticas comuns em Sofala, é fundamental o abandono completo das<br />

práticas tradicionais (queima, aração, monoculturas, solo <strong>de</strong>scoberto), e a iniciação <strong>de</strong> uma<br />

re-a<strong>de</strong>quação <strong>de</strong> todo o sistema <strong>de</strong> produção sob o novo enfoque da Agricultura <strong>de</strong><br />

Conservação seguindo as seguintes etapas:<br />

a) Diagnóstico e <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> área<br />

Neste momento, os camponeses auxiliados pelos técnicos da extensão rural realizam uma<br />

avaliação das suas machambas, passando por um diagnóstico e <strong>de</strong>finição específica da<br />

área on<strong>de</strong> será implementado o sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação. Preferentemente<br />

<strong>de</strong>ve-se escolher a melhor área da proprieda<strong>de</strong>, ou seja machambas com potencial <strong>de</strong> se<br />

obter resultados imediatos e, posteriormente quando o camponês dominar a tecnologia,<br />

po<strong>de</strong>rá ir ocupando outras áreas, menos férteis e mais difíceis. Após a escolha/<strong>de</strong>finição da<br />

área, verifica-se “in loco” quais os possíveis componentes que <strong>de</strong>verão ser incluídos<br />

naquela <strong>de</strong>terminada área da machamba.<br />

No tocante à questão tradicional/cultural <strong>de</strong> manter os animais em liberda<strong>de</strong> é necessário<br />

buscar meios para manter os animais em áreas protegidas, evitando que os mesmos<br />

consumam todos os restolhos e resíduos vegetais da superfície do solo. Uma alternativa<br />

viável nesse sentido, quando não se dispõe <strong>de</strong> capital para construção <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> arame, é<br />

a multiplicação <strong>de</strong> mudas <strong>de</strong> árvores que possam ser usadas como “cerca viva”: Dovyalis<br />

abyssinica, Dovyalis caffra, Parkinsonia acculeata, Ziziphus mucronata, Ziziphus spinachristi,<br />

Haematoxylon brasileto, Bauhinia rufescen, Acacia polycantha, Acacia melífera,<br />

Acacia tortuosis, etc., e, posteriormente serem distribuídas aos camponeses para<br />

protegerem as áreas <strong>de</strong> produção agrícola.<br />

b) Definição <strong>de</strong> Componentes iniciais <strong>de</strong> acordo com as condições da machamba<br />

Assim, caminha-se para a operacionalização dos componentes do sistema, ou seja, nas<br />

etapas em que são a<strong>de</strong>quadamente ajustados e implementados os diferentes elementos tais<br />

como: plantas <strong>de</strong> cobertura, locação e execução <strong>de</strong> terraços/cordões vegetados/cordões <strong>de</strong><br />

pedras (quando necessários em áreas mais <strong>de</strong>clivosas), ou amontoa <strong>de</strong> pedras (quando em<br />

número reduzido), distribuição uniforme dos restolhos sobre o solo, escolha da melhor<br />

sequência <strong>de</strong> culturas, consorcio <strong>de</strong> culturas (p. ex. milho + mucuna, mapira + feijão bóer,<br />

etc.), enfim um conjunto <strong>de</strong> componentes que estão sendo implantados e em fase <strong>de</strong><br />

ajustamento e/ou equilíbrio <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada região e sistema <strong>de</strong> produção.<br />

Portanto, os diferentes sistemas <strong>de</strong> produção regional, nas mais variadas zonas agroecológicas<br />

da Província <strong>de</strong> Sofala, quando da implementação do novo sistema <strong>de</strong>verão ser<br />

16


acompanhados <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas sequências <strong>de</strong> culturas, preferentemente que tenham sido<br />

já testados e validados pelos camponeses da região e sofrido os ajustes necessários para a<br />

consolidação dos diferentes componentes a fazerem parte do Sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong><br />

Conservação.<br />

3.2 Passos gerais na implantação da Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

Os passos apresentados com as <strong>de</strong>vidas etapas, constituem um guia geral para uma<br />

a<strong>de</strong>quada implantação do sistema principalmente nas pequenas proprieda<strong>de</strong>s.<br />

Os passos enumerados não necessariamente <strong>de</strong>verão seguir sempre uma sequência<br />

conforme <strong>de</strong>scrita, em muitos casos o sistema é <strong>de</strong>senvolvido já partindo <strong>de</strong> uma situação<br />

ou passo previamente realizado, ou mesmo em alguns casos, on<strong>de</strong> nem todos os passos ou<br />

componentes se aplicam ou serão necessários àquela <strong>de</strong>terminada situação.<br />

1. Treinamento e capacitação <strong>de</strong> técnicos e agricultores<br />

2. Sistematização, limpeza e <strong>de</strong>scompactação do terreno (caso houver necessida<strong>de</strong>)<br />

Áreas que apresentam solos com superfície <strong>de</strong>suniforme ou com excessivos buracos,<br />

torrões, tocos, etc., <strong>de</strong>verão ser, no caso <strong>de</strong> tração tractorizada, preferentemente<br />

uniformizadas através <strong>de</strong> gradagens, etc. Tração humana (uso <strong>de</strong> enxadas, catana,<br />

matraca) po<strong>de</strong>rá ser efetuada mesmo em áreas <strong>de</strong>suniformes ou com presença <strong>de</strong> troncos,<br />

tocos, não havendo necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uniformizar a superfície do terreno.<br />

3. Diminuição do comprimento das pen<strong>de</strong>ntes em áreas <strong>de</strong>clivosas<br />

Inclui construção <strong>de</strong> terraços, muralha/cordões <strong>de</strong> pedras, barreiras vivas – capim vetiver,<br />

capim limão, feijão bóer, Glericidia sepium, Tephrosia vogelli - mutica, etc. Neste caso,<br />

po<strong>de</strong>rá se utilizar simultaneamente <strong>de</strong> camalhão <strong>de</strong> solo ou muralha <strong>de</strong> pedras,<br />

complementada por plantas que se entouceiram (capim vetiver, capim limão, capim elefante,<br />

etc.) e/ou ainda algumas plantas arbustivas e arbóreas que serão oportunamente podadas<br />

para fornecerem biomassa para cobertura/protecção e melhoria do solo.<br />

4. Iniciar em pequenas áreas da machamba e também nas melhores áreas da<br />

proprieda<strong>de</strong><br />

Iniciar nas áreas mais conservadas e com melhor fertilida<strong>de</strong>, ou seja, on<strong>de</strong> o camponês vê<br />

as plantas melhor <strong>de</strong>senvolvidas e, conforme vai conhecendo e através dos resultados<br />

alcançados ir aprimorando o sistema. Posteriormente, ir para outras áreas da machamba, as<br />

mais problemáticas e com solos <strong>de</strong>gradados até que o sistema esteja implantado em toda a<br />

proprieda<strong>de</strong>.<br />

5. Não queimar restolhos das culturas, capins, e outros resíduos <strong>de</strong> invasoras, mas<br />

sim <strong>de</strong>ixá-los sobre a superfície do solo<br />

6. As plantas <strong>de</strong> cobertura/resíduos <strong>de</strong> invasoras ou mesmo os restolhos das<br />

culturas, <strong>de</strong>verão ser manejadas com rolo-faca, catana, foice, herbicidas, etc. e,<br />

<strong>de</strong>ixadas cobrindo o solo<br />

7. Eliminar totalmente a lavoura, isto é, não efetuar mais o preparo do solo, quer seja<br />

com enxadas ou com charrua<br />

17


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

8. Escolher corretamente equipamentos e máquinas (enxada, catana, matraca, rolo<br />

faca, máquina plantio directo; tracção animal, etc.), conforme as condições da<br />

proprieda<strong>de</strong> e da infra-estrutura do produtor<br />

9. Objetivando uma maior proteção e recuperação do solo, <strong>de</strong>ve ser utilizado espécies<br />

nativas e exóticas melhoradoras <strong>de</strong> solo (preferentemente leguminosas), visando a<br />

cobertura da superfície do solo e melhoria das proprieda<strong>de</strong>s do solo<br />

10. Procurar executar a rotação <strong>de</strong> culturas<br />

Procurar mudar a sequência <strong>de</strong> culturas ou mesmo efectuando consórcio <strong>de</strong> culturas com<br />

plantas <strong>de</strong> cobertura (ex. mucuna intercalado ao milho; feijão bóer intercalado entre as<br />

fileiras <strong>de</strong> milho/mapira), isto irá contribuir para uma maior reciclagem <strong>de</strong> nutrientes, um<br />

aumento da biodiversida<strong>de</strong> e diminuição da população <strong>de</strong> plantas invasoras e probabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> pragas e doenças.<br />

11. Manejo a<strong>de</strong>quado da fertilida<strong>de</strong> do solo:<br />

Solos com baixa fertilida<strong>de</strong> ou extremamente <strong>de</strong>gradados <strong>de</strong>verão ser melhorados com<br />

a inclusão <strong>de</strong> leguminosas por 2-3 anos: leguminosas rasteiras ou prostradas: ex.<br />

mucuna pruriens, stylosanthes sp., calopogonio mucunoi<strong>de</strong>s, clitoria ternatea, etc.;<br />

Culturas intercaladas com leguminosas arbustivas: feijão bóer, Sesbania sesban, etc.;<br />

e ainda também com leguminosas arbóreas: Glericidia sepium, Tephrosia vogelli,<br />

Sesbania sp., Calliandra calythersus, Acacia albida, etc.; estas leguminosas <strong>de</strong>verão<br />

preferentemente ser inoculadas (rhizobium específicos) e, quando disponível utilizar<br />

também fungos micorrízicos. Além disso, visando a reposição dos nutrientes a níveis<br />

aceitáveis <strong>de</strong> produção, aplicar fertilizantes (químicos e/ou orgânicos) e na correção <strong>de</strong><br />

solos calcário e/ou gesso, ou mesmo cinzas (se houver disponibilida<strong>de</strong>).<br />

12. Iniciar preferentemente em áreas com menor infestação <strong>de</strong> invasoras (ervas<br />

daninhas) <strong>de</strong> difícil controle, principalmente aquelas perenes, como é o caso <strong>de</strong><br />

vários capins, principalmente em áreas brutas, ou aquelas on<strong>de</strong> haja alta infestação<br />

<strong>de</strong> espécies que se propagam através <strong>de</strong> rizomas, bulbos - Cynodon dactilon,<br />

Cyperus sp. etc.)<br />

Procurar diminuir estas infestações, eliminando os rizomas e/ou bulbos através <strong>de</strong> preparo e<br />

catação, ou mesmo (em alguns casos através <strong>de</strong> herbicidas), para então com presença <strong>de</strong><br />

mulch (produzido no local ou trazido externamente) <strong>de</strong>senvolver o sistema.<br />

18<br />

Solos em recuperação com Glericidia sepium<br />

na Província <strong>de</strong> Sofala


13. Evitar o excessivo pastoreio e pisoteio <strong>de</strong> animais, que irá eliminar a presença<br />

<strong>de</strong> mulch e consequentemente prejudicar o solo e os cultivos<br />

A presença <strong>de</strong> animais nos campos <strong>de</strong>ve ser evitada, <strong>de</strong>vendo-se construir cercas<br />

metálicas, ou cercas vivas, ou seja, arbustos e árvores locais preferentemente com<br />

presença <strong>de</strong> espinhos, tais como: (Dovyalis abyssinica, Dovyalis caffra, Parkinsonia<br />

acculeata, Ziziphus mucronata, Ziziphus spina-christi, Jatopha curcas (pinhão manso),<br />

Agave sisalane (sisal), Haematoxylon brasileto, Bauhinia rufescen, Acacia polycantha,<br />

Acacia melífera, Acacia tortuosis, etc.; usar <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura não comestíveis pelos<br />

animais, tais como: Ricinus communis (ricinus), Tephrosia vogelli (mutica), Tephrosia<br />

tunicata, Tephrosia candida, Senna spectabilis, etc.;<br />

Selecionar pequenas áreas on<strong>de</strong> através <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> fertilizantes orgânicos e/ou<br />

compostagem po<strong>de</strong>rá produzir elevadas quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> forragens, capins (capim elefante,<br />

sudangrass, etc.) e leguminosas (feijão bóer, leucaena, etc.) que serão ministradas aos<br />

animais, evitando a invasão dos mesmos às machambas.<br />

O que Você <strong>de</strong>ve levar em conta na implantação do sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong><br />

Conservação:<br />

Informações regionais disponíveis sobre espécies a comporem uma a<strong>de</strong>quada sequência <strong>de</strong><br />

culturas, época <strong>de</strong> plantio, forma, isolado ou consorciado com milho ou mapira (p. ex.), época e<br />

forma <strong>de</strong> manejo (cortado com catana ou manejado com rolo-faca ou herbicidas) e, ainda a<br />

época a<strong>de</strong>quada para implantação ou transplante da cultura posterior (subsistência ou <strong>de</strong><br />

mercado). Assim, o produtor correrá menores riscos <strong>de</strong> insucesso no início da implantação do<br />

sistema.<br />

Buscar uma a<strong>de</strong>quação da sequência das culturas (subsistência, mercado) e levando em<br />

consi<strong>de</strong>ração a distribuição das chuvas e temperatura durante todo o ano.<br />

3.3 Práticas que po<strong>de</strong>rão fazer parte do sistema<br />

Para <strong>de</strong>senvolver um a<strong>de</strong>quado sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação, é necessário uma<br />

harmoniosa integração <strong>de</strong> alguns componentes do sistema:<br />

a) Plantas <strong>de</strong> cobertura,<br />

corte e distribuição do capim (ou <strong>de</strong>ssecação através <strong>de</strong> herbicidas),<br />

b) Manejo <strong>de</strong> invasoras,<br />

c) Rotação <strong>de</strong> culturas,<br />

d) Construção <strong>de</strong> terraços, etc. que po<strong>de</strong>m variar <strong>de</strong> acordo com a localização <strong>de</strong> uma<br />

<strong>de</strong>terminada área, e alguns atributos:<br />

- zona agro-ecológica<br />

- altitu<strong>de</strong><br />

- local que ocupa na toposequência da paisagem<br />

- as proprieda<strong>de</strong>s do solo (químicas, físicas e biológicas)<br />

- quantida<strong>de</strong> e distribuição <strong>de</strong> chuvas durante o ano<br />

- sistema <strong>de</strong> produção<br />

19


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

20<br />

Área em <strong>de</strong>clive mostrando processo <strong>de</strong> erosão,<br />

<strong>de</strong>ve ser construído terraços (cordão vegetado),<br />

plantas <strong>de</strong> cobertura e rotação <strong>de</strong> diferentes<br />

culturas (Distrito <strong>de</strong> Gorongosa).<br />

Durante o planejamento <strong>de</strong> implantação do sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação, é<br />

importante a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rar a machamba <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma área maior que é a<br />

Microbacia Hidrográfica, consi<strong>de</strong>rando assim a unida<strong>de</strong> física para se efectuar todas as<br />

operações técnicas, possibilitando a integração entre uma proprieda<strong>de</strong> e outra, facilitando<br />

assim todas as possíveis intervenções e procedimentos técnicos favoráveis ao manejo<br />

sustentável do solo.<br />

Conforme a localização das machambas em diferentes zonas agro-ecológicas e altitu<strong>de</strong>s, o<br />

comportamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas culturas será diferenciado e, portanto épocas <strong>de</strong> plantio e<br />

espécies a serem implementadas na sequência (rotação) po<strong>de</strong>rão ser diferentes.<br />

Geralmente os solos que ocorrem em áreas <strong>de</strong> maior altitu<strong>de</strong> (áreas mais montanhosas)<br />

po<strong>de</strong>m apresentar profundida<strong>de</strong> efectiva menor, presença <strong>de</strong> rochas e solos rasos (litólicos)<br />

e, com condições <strong>de</strong> clima <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>, normalmente outras culturas (subsistência e<br />

mercado), além <strong>de</strong> outras espécies <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura, que po<strong>de</strong>rão ser testadas e<br />

validadas para posteriormente fazerem parte dos sistemas <strong>de</strong> rotação regional.<br />

Para alguns procedimentos básicos necessários quanto à <strong>de</strong>finição da área, passos a serem<br />

seguidos, bem como etapas sequenciais a<strong>de</strong>quadas visando uma concreta e efectiva<br />

implantação do sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação, é recomendado a realização <strong>de</strong> um<br />

diagnóstico local das condições físicas, químicas e biológicas do solo:<br />

a) SOLO COMPACTADO:<br />

Caso haja limitação física do solo (por ex. compactação na superfície ou subsuperficie),<br />

<strong>de</strong>verá ser supervisionado pelo técnico e avaliado o real estado <strong>de</strong> compactação do solo.<br />

Caso seja um a<strong>de</strong>nsamento superficial (normal em solos argilosos) ou comumente<br />

chamado <strong>de</strong> compactação leve, po<strong>de</strong>rá ser eliminado facilmente através do uso <strong>de</strong><br />

plantas com sistema radicular bastante vigoroso (feijão bóer, crotalarias (grahaminana,<br />

juncea, mucronata e nativas), nabo pivotante, tephrosias, sesbanias, gergelim, tremoço,<br />

etc. Caso, a compactação verificada seja bastante severa, i<strong>de</strong>ntificando-se camadas<br />

muito compactas on<strong>de</strong> as raízes <strong>de</strong> plantas como o feijão bóer não conseguem<br />

ultrapassar, assim como seja observado o impedimento da infiltração <strong>de</strong> água no perfil,<br />

antes <strong>de</strong> iniciar a implantação do sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação, o solo <strong>de</strong>verá<br />

ser <strong>de</strong>scompactado através do uso <strong>de</strong> escarificadores (tracção animal ou tractorizada).<br />

b) SOLO COM <strong>DE</strong>CLIVE ACENTUADO:<br />

Caso a machamba esteja localizada em áreas com <strong>de</strong>clive acentuado, <strong>de</strong>ve-se efectuar<br />

a diminuição do comprimento das pen<strong>de</strong>ntes em áreas <strong>de</strong>clivosas com marcação e<br />

confecção <strong>de</strong> terraços (cordões vegetados: capim vetiver, capim limão, feijão bóer,<br />

gliricidia sepium, mutica, etc.), muralha <strong>de</strong> pedras, etc., barreiras vivas – neste caso,<br />

po<strong>de</strong>rá se utilizar simultaneamente <strong>de</strong> terraços - camalhão <strong>de</strong> terra, ou <strong>de</strong> pedras; mais


plantas que se entouceiram (capim vetiver, capim limão, capim elefante, etc.) e ainda<br />

algumas plantas arbustivas e arbóreas que serão oportunamente podadas para<br />

fornecerem biomassa para cobertura/protecção e melhoria do solo (glericidia sepium,<br />

tephrosia vogelli, feijão bóer, etc.).<br />

Normalmente nas encostas íngremes predominam solos jovens e rasos, bastante frágeis<br />

do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> manejo (40-80 cm. <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong> efectiva), po<strong>de</strong>ndo em poucos<br />

anos a erosão arrastar todo o solo arável dos horizontes superficiais, com um elevado<br />

afloramento <strong>de</strong> rochas na superfície, po<strong>de</strong>ndo tornar estas áreas totalmente<br />

improdutivas mesmo para pastagens e/ou outras culturas perenes. Dessa forma, a<br />

exploração <strong>de</strong>stas áreas <strong>de</strong>ve acompanhada <strong>de</strong> diferentes componentes da Agricultura<br />

<strong>de</strong> Conservação, harmoniosamente distribuídos conforme as condições específicas <strong>de</strong><br />

cada região: nível <strong>de</strong>clive, profundida<strong>de</strong> efectiva do solo, presença ou não <strong>de</strong> rochas,<br />

etc.<br />

Como proce<strong>de</strong>r no caso <strong>de</strong> solos com <strong>de</strong>clive acentuado:<br />

Demarcar pequenos terraços em nível contra a pen<strong>de</strong>nte para cortar as águas. Po<strong>de</strong>ndo ser<br />

feito com enxadas ou com charruas tracção animal (2 a 3 passadas). Posteriormente abre-se<br />

um pequeno sulco continuo sobre o “topo”, parte mais elevada do terraço e po<strong>de</strong> ser<br />

plantado capim elefante (Pennisetum purpureum), cana-<strong>de</strong>-açucar, capim vetiver ou “vetiver<br />

grass” (Vetiveria zizanioi<strong>de</strong>s). Caso haja disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pedras no local, po<strong>de</strong> ser<br />

complementado com terraço (muro) <strong>de</strong> pedras. Este terraço <strong>de</strong> pedras po<strong>de</strong> ser ajustado<br />

com Capim vetiver ou “Vetiver grass”, (Vetiveria zizanioi<strong>de</strong>s), capim cidreira ou limão (lemon<br />

grass), capim elefante (Pennisetum atropurpureum), etc. (o cordão vegetado com capim<br />

<strong>de</strong>verá ficar acima do terraço/muro <strong>de</strong> pedras).<br />

Após o plantio das espécies é necessário acompanhar o <strong>de</strong>senvolvimento das plantas e<br />

verificar a possível ocorrência <strong>de</strong> falhas na população <strong>de</strong> plantas da faixa contínua da<br />

barreira viva e, também a má disposição das pedras na construção dos terraços, po<strong>de</strong>rá<br />

durante a ocorrência <strong>de</strong> fortes chuvas, facilitar o escorrimento superficial elevado<br />

(enxurradas), carreando água e sedimentos juntamente com nutrientes e a matéria orgânica<br />

das camadas superficiais do solo. Assim, <strong>de</strong>verá se prover <strong>de</strong> um a<strong>de</strong>quado número <strong>de</strong><br />

pedras e a<strong>de</strong>quada distribuição/acomodação na construção das barreiras, <strong>de</strong> forma que as<br />

pedras e o capim estejam bem dispostos e compactos protegendo bem o solo.<br />

A área entre os cordões <strong>de</strong>verão preferentemente permanecer todo o ano coberto com<br />

restolhos ou plantas <strong>de</strong> cobertura durante os intervalos das diversas culturas).<br />

Cordões vegetados ou faixas <strong>de</strong> leguminosas: estratégia recomendada na melhoria da<br />

estrutura do solo e produção <strong>de</strong> biomassa, constando da implantação <strong>de</strong> espécies arbustivas<br />

ou arbóreas preferentemente leguminosas que <strong>de</strong>verão ser podadas esporadicamente e os<br />

resíduos distribuídos sobre o solo para protecção e melhoria da fertilida<strong>de</strong>: mutica (Tephrosia<br />

vogelli), Sesbania sesban, Glericidia sepium, Calliandra calythersus, Acácia albida, feijão<br />

bóer (Cajanus cajan), Leucaena leucocephalla, Tephrosia tunicata e outras sps.); também<br />

po<strong>de</strong>rão ser intercaladas algumas plantas com efeitos insecticidas: mutica, Azadirachta<br />

indica (Nim) , Melia azedarach (siringa), etc.<br />

Algumas situações <strong>de</strong> <strong>de</strong>clives acentuados po<strong>de</strong>rão ser construído canais escoadouros<br />

vegetados, por on<strong>de</strong> o excesso <strong>de</strong> água que não conseguir infiltrar no perfil do solo e não ser<br />

absorvido também nos terraços/cordões po<strong>de</strong>rão seguir por um canal vegetado com grama<br />

local rasteira, ou mesmo com amendoim forrageiro perene (Arakis pintoi ou Indigofera sp.)<br />

sem causar problemas <strong>de</strong> erosão e mínimas perdas <strong>de</strong> solos e nutrientes.<br />

21


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

22<br />

Muralha <strong>de</strong> pedras combinada com cordão<br />

vegetado (Vetiver grass ou Capim Vetiver) no<br />

Distrito <strong>de</strong> Gorongosa<br />

c) SOLO POBRE EM NUTRIENTES:<br />

Caso seja i<strong>de</strong>ntificado que o nível <strong>de</strong> nutrientes presentes no solo é muito baixo, é<br />

recomendável a aplicação <strong>de</strong> fertilizantes (químicos e/ou orgânicos) para a reposição e<br />

criação <strong>de</strong> condições mínimas para uma suficiente produção <strong>de</strong> biomassa.<br />

d) SOLO INFESTADO <strong>DE</strong> INVASORAS:<br />

Havendo elevada infestação <strong>de</strong> invasoras perenes, preferentemente <strong>de</strong>verão ser<br />

controladas antes <strong>de</strong> iniciar o sistema, embora possa ser iniciado, entretanto com riscos<br />

e elevado custo posterior no controle <strong>de</strong>ssas espécies (p. ex. Cynodon dactilon, Cyperus<br />

sp., etc.). O controle integrado po<strong>de</strong> ser realizado através <strong>de</strong> herbicidas (Glyphosate) +<br />

plantas <strong>de</strong> cobertura eficientes tais como:. Mucuna + lablab – * óptimos resultados foram<br />

alcançados na Suazilândia no controle <strong>de</strong> Cynodon com o uso <strong>de</strong> Roundup, seguidos <strong>de</strong><br />

cobertura por plantas <strong>de</strong> mucuna + lablab (FAO, Projecto Swazilandia, 2005).


4 A COBERTURA DO SOLO<br />

4.1 As vantagens <strong>de</strong> manter o solo coberto<br />

As vantagens <strong>de</strong> manter o solo coberto são as seguintes:<br />

1) Promover a formação <strong>de</strong> cobertura vegetal, além <strong>de</strong> evitar <strong>de</strong>ixar o solo <strong>de</strong>sprotegido irá<br />

quebrar a energia cinética da chuva impedindo o impacto directo das gotas <strong>de</strong> chuva no<br />

solo, impedindo com isso, o <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento do processo <strong>de</strong> erosão.<br />

2) A presença da cobertura morta (“mulch”) mantém mais humida<strong>de</strong> no solo, diminuindo<br />

das perdas <strong>de</strong> água por evaporação, além <strong>de</strong> diminuir a oscilação (variação) térmica nas<br />

1 a. s camadas.<br />

3) Os resíduos vegetais, parte aérea e raízes, irão afofar o solo, abrindo também canais no<br />

perfil que irá aumentar a infiltração <strong>de</strong> água no solo, diminuindo o escorrimento<br />

superficial e as perdas <strong>de</strong> água, solo e nutrientes.<br />

4) Buscar uma melhor estruturação do solo: melhor agregação das partículas, maior<br />

aeração, maior porosida<strong>de</strong>, favorecendo o crescimento das raízes dos cultivos<br />

posteriores.<br />

5) Implementar a reciclagem <strong>de</strong> nutrientes no solo, diminuindo a lixiviação dos mesmos,<br />

bem como adicionar o nitrogénio ao sistema, principalmente com o uso <strong>de</strong> leguminosas<br />

minimizando a <strong>de</strong>manda externa <strong>de</strong> fertilizantes.<br />

6) Possibilitar, com o crescimento rápido e agressivo, competição com as invasoras,<br />

diminuindo os custos com o seu controle.<br />

7) Com a utilização das espécies, há uma tendência, ao longo dos anos, do aumento dos<br />

teores <strong>de</strong> matéria orgânica no solo, que irá proporcionar significativas melhorias nas<br />

proprieda<strong>de</strong>s químicas, físicas e biológicas do solo.<br />

8) Aumento da biologia do solo e, consequente aumento da biodiversida<strong>de</strong>, o que irá<br />

contribuir para um maior equilíbrio natural e menores riscos <strong>de</strong> ataque <strong>de</strong> pragas<br />

(insectos, nematoi<strong>de</strong>s, etc.) e doenças.<br />

Leguminosa nativa, potencial <strong>de</strong> uso como<br />

cobertura em rotação com diferentes culturas<br />

(Província <strong>de</strong> Sofala)<br />

Clitoria ternatea: leguminosa adaptada<br />

em algumas regiões da Província como<br />

nos Distritos <strong>de</strong> Búzi e Gorongosa<br />

23


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

4.2 Plantas <strong>de</strong> cobertura<br />

4.2.1 Comportamento das diferentes espécies <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura e<br />

contribuição na melhoria das proprieda<strong>de</strong>s físicas, químicas e<br />

biológicas do solo<br />

As experiências práticas dos camponeses da Província <strong>de</strong> Sofala tem mostrado que o solo<br />

<strong>de</strong>vidamente coberto com restolhos e resíduos <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura (p. ex. mucuna,<br />

feijão bóer, etc.), proporciona um aumento da infiltração <strong>de</strong> água no perfil, diminuindo o<br />

escorrimento superficial e as perdas <strong>de</strong> água, solo e nutrientes. A continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse<br />

sistema, ten<strong>de</strong> a aumentar gradualmente os teores <strong>de</strong> matéria orgânica e nutrientes no solo<br />

ao longo dos anos e, além <strong>de</strong> promover um maior armazenamento <strong>de</strong> água no perfil, irá<br />

trazer inúmeros benefícios às diferentes sequências <strong>de</strong> culturas.<br />

Registros históricos mostram que a milenar prática do uso <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura, foi<br />

<strong>de</strong>senvolvida com sucesso por antigas civilizações: romanos, gregos, chineses, e outros<br />

povos na antiguida<strong>de</strong> e, graças ao intenso uso <strong>de</strong> insumos “mo<strong>de</strong>rnos” esta prática foi<br />

quase esquecida neste século. Felizmente nas últimas 3 décadas, estudos e experiências<br />

<strong>de</strong> agricultores em várias partes do mundo fizeram com que esta eficiente prática<br />

começasse a retomar o seu importante lugar nas diferentes condições agro-ecológicas e<br />

sistemas <strong>de</strong> produção dos diferentes países, contribuindo para a manutenção e melhoria<br />

das proprieda<strong>de</strong>s do solo (físicas, químicas e biológicas).<br />

O estudo das plantas melhoradoras do solo tem <strong>de</strong>monstrado gran<strong>de</strong> potencial na protecção<br />

e recuperação da produtivida<strong>de</strong> do solo. Apesar disso, um constante <strong>de</strong>safio é estabelecer<br />

esquemas <strong>de</strong> uso compatível, das diferentes espécies com os sistemas <strong>de</strong> produção<br />

específicos <strong>de</strong> cada região, e se possível nos limites <strong>de</strong> cada proprieda<strong>de</strong>, levando em<br />

consi<strong>de</strong>ração os aspectos ligados ao clima, solo, infra-estrutura da proprieda<strong>de</strong> e condições<br />

sócio-económicas do agricultor. As possibilida<strong>de</strong>s do emprego <strong>de</strong>ssas plantas, po<strong>de</strong>m visar,<br />

além da conservação e/ou melhoria da fertilida<strong>de</strong>, incremento na produtivida<strong>de</strong> das culturas<br />

comerciais, aproveitamento algumas espécies como fonte <strong>de</strong> alimentos, forragem aos<br />

animais, ou ainda na produção <strong>de</strong> grãos para comercialização.<br />

A temperatura exerce gran<strong>de</strong>s efeitos sobre a fisiologia das plantas, além <strong>de</strong> influenciar<br />

directamente na absorção <strong>de</strong> íons (nutrientes). A amplitu<strong>de</strong> térmica muitas vezes é mais<br />

importante que a temperatura média <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada zona, ou seja as variações nas<br />

temperaturas influem directamente no comportamento das plantas. Também a distribuição<br />

anual das precipitações tem efeitos directos no estabelecimento e <strong>de</strong>senvolvimento das<br />

diferentes espécies. Portanto, quando da escolha da(s) espécie(s) a fazer parte <strong>de</strong><br />

sequências <strong>de</strong> culturas, estes e outros aspectos <strong>de</strong>verão sempre ser levados em<br />

consi<strong>de</strong>ração.<br />

24<br />

Leguminosa rústica (Feijão bóer) que apresenta<br />

múltiplos usos, na fase <strong>de</strong><br />

florescimento/enchimento <strong>de</strong> vagens – Província<br />

<strong>de</strong> Sofala


As plantas <strong>de</strong> cobertura po<strong>de</strong>rão ser implantadas em<br />

cultivo singular ou em associações. Po<strong>de</strong>-se fazer uso<br />

do consórcio <strong>de</strong> gramíneas + leguminosas, ou ainda<br />

misturar 2-3 ou mais espécies, que além <strong>de</strong><br />

apresentarem um importante efeito melhorador das<br />

características físicas do solo (agregação,<br />

estruturação), produzem resíduos com relação C/N<br />

intermediária, favorecendo a mineralização paulatina do<br />

nitrogénio, além <strong>de</strong> promoverem ao longo dos anos um<br />

maior equilíbrio e acúmulo <strong>de</strong> carbono no perfil do solo.<br />

No caso <strong>de</strong> cultivos singulares, a <strong>de</strong>composição<br />

individual das leguminosas resultará em maiores riscos<br />

<strong>de</strong> perdas <strong>de</strong> N (lixiviação, volatilização), quando<br />

comparado às gramíneas. Quando os resíduos <strong>de</strong><br />

gramíneas são mesclados com resíduos <strong>de</strong><br />

leguminosas, normalmente não há problemas com<br />

imobilização do nitrogénio e a mineralização paulatina<br />

favorecerá a disponibilida<strong>de</strong> e absorção dos nutrientes<br />

pelas plantas.<br />

Consórcio <strong>de</strong> milho e feijão<br />

nhemba no sistema <strong>de</strong><br />

Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

(Distrito do Dondo)<br />

Os nutrientes <strong>de</strong>ixados pelas plantas <strong>de</strong> cobertura às culturas posteriores po<strong>de</strong>m ser<br />

aproveitados em quantida<strong>de</strong>s variáveis conforme os seguintes factores:<br />

Espécie <strong>de</strong> planta <strong>de</strong> cobertura:<br />

Plantas mais fibrosas (com maior quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> carbono) <strong>de</strong>moram mais a se <strong>de</strong>compor no<br />

solo, plantas com maior % <strong>de</strong> nitrogénio se <strong>de</strong>compõe mais rápido e liberam os nutrientes<br />

no solo, po<strong>de</strong>ndo então ser absorvidos pelas culturas subsequentes;<br />

Tempo <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição: A relação carbono/nitrogénio (C/N), bem como a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

lignina presente no tecido vegetal, irá governar gran<strong>de</strong> parte do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição<br />

dos resíduos no solo;<br />

Temperatura: Temperaturas elevadas facilitam o aumento <strong>de</strong> população dos<br />

microrganismos do solo e, consequentemente po<strong>de</strong>rá acelerar o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição<br />

dos resíduos vegetais no solo;<br />

Humida<strong>de</strong> do solo: A disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água juntamente com temperatura e presença <strong>de</strong><br />

ar (oxigénio) são fundamentais no aumento dos microrganismos e <strong>de</strong>composição dos<br />

resíduos no solo;<br />

Manejo do solo: O solo ao ser revolvido por enxadas, charrua ou tractor irá misturar os<br />

resíduos na camada superficial do solo acelerando o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição dos<br />

resíduos presentes;<br />

Fertilida<strong>de</strong> do solo : (aspectos químicos, físicos e biológicos)<br />

Maior teor <strong>de</strong> matéria orgânica (geralmente está associado a um incremento biológico no<br />

solo, principalmente os microorganismos), elevado teor <strong>de</strong> nutrientes, melhor aeração do<br />

solo (não problemas <strong>de</strong> compactação), maior acumulo <strong>de</strong> humida<strong>de</strong>; temperaturas elevadas,<br />

ten<strong>de</strong>m a acelerar a <strong>de</strong>composição dos resíduos no solo, assim esses factores tem<br />

influencia directa na disponibilida<strong>de</strong> dos nutrientes as culturas subsequentes.<br />

25


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

O que Você <strong>de</strong>ve levar em conta:<br />

O monitoramento contínuo das áreas com rotação <strong>de</strong> culturas é fundamental para o próprio<br />

sucesso do sistema. Assim, as espécies a serem incluídas na rotação <strong>de</strong>verão ser<br />

criteriosamente seleccionadas, <strong>de</strong> acordo com as condições agro-ecológicas, infra-estrutura do<br />

produtor, e cobertura do solo prevalecentes.<br />

4.2.2 Formas <strong>de</strong> manejo <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura<br />

As plantas <strong>de</strong> cobertura quando atingem o pleno florescimento os nutrientes se encontram<br />

distribuidos em todas as partes da planta, sendo o momento recomendado para se fazer o<br />

manejo. Obviamente, que em algumas situações on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>seja que os resíduos<br />

permaneçam por mais tempo sobre o solo, este manejo po<strong>de</strong>rá ser retardado um pouco.<br />

Dessa forma, quando as plantas atravessam a fase <strong>de</strong> crescimento vegetativos e entram na<br />

fase reprodutiva (flores e enchimento <strong>de</strong> grãos), ocorre uma migração dos nutrientes das<br />

folhas e <strong>de</strong> outras partes da planta para as inflorescências e, com isso principalmente pelo<br />

aumento das ca<strong>de</strong>ias carbônicas, os tecidos das plantas irão se tornando com uma maior<br />

relação C/N e, assim com maior presença <strong>de</strong> lignina torna-se mais difícil e <strong>de</strong>morada a<br />

<strong>de</strong>composição <strong>de</strong>sses resíduos no solo. Por outro lado, caso o manejo das plantas seja<br />

efetuado antes do florescimento, a relação carbono nitrogênio (N) nos tecidos será menor<br />

(ca<strong>de</strong>ias carbônicas menores) e, consequentemente <strong>de</strong>composição no solo será bem<br />

rápida. Isto, principalmente em função da oferta elevada <strong>de</strong> N aos microorganismos, que<br />

assim multiplicam-se muito rapidamente e <strong>de</strong>compõe os resíduos orgânicos em menor<br />

tempo. Neste caso, se tem uma pronta disponibilida<strong>de</strong> principalmente <strong>de</strong> N no solo, que<br />

po<strong>de</strong>rá ser absorvido pelas plantas, ou mesmo correndo riscos <strong>de</strong> perdas (principalmente<br />

lixiviação quando na forma <strong>de</strong> nitrato, NO - 3).<br />

As plantas <strong>de</strong> cobertura po<strong>de</strong>rão ser manejadas através <strong>de</strong> catana, foice, enxadas,<br />

rolo-faca, herbicidas, conforme as condições locais e infra-estrutura do produtor.<br />

O rolo-faca consta basicamente <strong>de</strong> um equipamento que po<strong>de</strong> ser feito <strong>de</strong> um tronco <strong>de</strong><br />

ma<strong>de</strong>ira ou um cilindro metálico, ou mesmo um tambor <strong>de</strong> vazio <strong>de</strong> 200 litros. São<br />

colocadas longitudinais ao cilindro, sendo este cilindro traccionado por trator ou por animais<br />

(bois, cavalos, burros, etc.) sobre os vegetais que se preten<strong>de</strong> acamar e manejar. Caso<br />

haja elevada quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> massa vegetal a ser cortada po<strong>de</strong>rá ser colocada alguns pesos<br />

sobre a estrutura metálica do próprio rolo para que possa ter mais peso, e no caso do<br />

tambor po<strong>de</strong>rá ser cheio com água, para então proce<strong>de</strong>r satisfatoriamente as operações <strong>de</strong><br />

manejo/corte do material vegetal (plantas <strong>de</strong> cobertura, capins e outras invasoras, restolhos<br />

da cultura anterior). Normalmente o rolo-faca não irá cortar todos os resíduos, mas com a<br />

forca do impacto sobre o tecido vegetal ira romper os vasos que carregam a seiva bruta e<br />

elaborada e, assim proporcionando após alguns dias a seca e morte das plantas. É prático,<br />

<strong>de</strong> fácil confecção e um instrumento muito importante no manejo da vegetação para<br />

implantação das culturas em plantio direto sobre o mulch (Agricultura <strong>de</strong> Conservação). Já<br />

foram confeccionados alguns exemplares aqui em Sofala e já vem sendo utilizado com<br />

sucesso pelos camponeses.<br />

26


Rolo-faca e tração animal: usado no maneio <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura, invasoras (plantas daninhas) e<br />

restolhos <strong>de</strong> plantas cultivadas (milho, mapira, girassol, etc.)<br />

Rolo-faca tracção tractorizada – Búzi<br />

No Distrito do Búzi, foi feito uma <strong>de</strong>monstração<br />

com o uso <strong>de</strong> rolo-faca tractorizado sobre capim e<br />

feijão macaco (vegetação <strong>de</strong> uma altura média <strong>de</strong><br />

1,50m.), com um excelente trabalho,<br />

<strong>de</strong>monstrando ser uma ferramenta muito eficiente<br />

no manejo <strong>de</strong> vegetação ou <strong>de</strong> coberturas.<br />

As áreas on<strong>de</strong> se efetuaram os trabalho foram em<br />

Chicumbua, Guara Guara (através <strong>de</strong> tractores) e,<br />

em Bandua com tracção animal (bois), com<br />

trabalho bastante eficiente sobre capins, feijão<br />

macaco e outras plantas e arbustos.<br />

Nas áreas on<strong>de</strong> foram testados o rolo-faca construído pelo PROMEC, observou-se que<br />

passado já 30-40 dias após o manejo do capim, já começa a surgir algumas invasoras,<br />

sendo portanto recomendável que o intervalo entre o manejo com rolo-faca e o plantio direto<br />

da cultura posterior seja em torno <strong>de</strong> 8-21 dias, obviamente variando conforme o tipo <strong>de</strong><br />

cobertura (leguminosas e outras com bastante nitrogênio e rápida <strong>de</strong>composição 8-10 dias<br />

e, caso seja gramíneas e outras bem lignificadas e fibrosas 2-3 semanas após o manejo),<br />

po<strong>de</strong>ndo introduzir a nova cultura em plantio direto.<br />

• Em campos on<strong>de</strong> há predominância <strong>de</strong> capins, o manejo com rolo-faca <strong>de</strong>verá ser<br />

preferencialmente quando o capim esteja ver<strong>de</strong> e, ainda não tenha completado o ciclo,<br />

<strong>de</strong>ssa forma o rolo-faca tem melhor efeito, além <strong>de</strong> impedir que as invasoras continuem<br />

se multiplicando no campo.<br />

• Caso ocorra pequena rebrota, o manejo po<strong>de</strong>rá ser complementado com foices, catanas,<br />

etc.<br />

• Em muitas situações e áreas maiores, o rolo-faca po<strong>de</strong>rá ser complementado com uso<br />

<strong>de</strong> herbicidas específicos para <strong>de</strong>ssecação das invasoras e/ou plantas <strong>de</strong> cobertura.<br />

27


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

4.3 Efeitos das plantas <strong>de</strong> cobertura<br />

As plantas <strong>de</strong> cobertura e seus resíduos, através da formação <strong>de</strong> cobertura morta, e pelos<br />

seus efeitos físicos e químicos (alelopáticos) afectam qualitativa e quantitativamente<br />

distintas infestações <strong>de</strong> espécies invasoras.<br />

Assim são conhecidos os efeitos das mucunas, feijão bóer, mexoeira, crotalaria juncea,<br />

calopogônio, feijão <strong>de</strong> porco, da aveia preta, centeio, azevém, ervilhacas, nabo forrageiro,<br />

etc. no controle <strong>de</strong> diferente espécies <strong>de</strong> plantas invasoras. Sendo importante o uso e<br />

manejo <strong>de</strong>ssas espécies em rotação quando se preten<strong>de</strong> diminuir populações <strong>de</strong> algumas<br />

invasoras.<br />

Com a utilização das diferentes plantas <strong>de</strong> cobertura é possível quantificar o montante <strong>de</strong><br />

um <strong>de</strong>terminado nutriente reciclado e/ou fixado biologicamente pelas leguminosas,<br />

consi<strong>de</strong>rando a biomassa produzida e os nutrientes contidos no tecido foliar.<br />

Tabela 3: Produção <strong>de</strong> massa vegetal <strong>de</strong> diferentes espécies <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura e %<br />

<strong>de</strong> nutrientes na matéria seca .<br />

28<br />

Planta <strong>de</strong> cobertura<br />

Ciclo<br />

Massa<br />

ver<strong>de</strong><br />

(t/ha)<br />

Matéria<br />

seca<br />

(t/ha)<br />

Nitrogénio Fósforo Potássio<br />

(% na matéria seca)<br />

Mexoeira Anual 11 - 90 3.5 - 21 0.34 - 1.46 0.13 - 0.29 1.05 - 3.12<br />

Feijão nhemba Anual 20 - 33 2.5 - 6 1.67 - 2.22 0.25 - 0.50 1.82 - 2.77<br />

Mucuna preta Anual 12-23 2 - 5 2,29 - 2,73 0,11 - 0,17 1,25 - 1,55<br />

Mucuna cinza Anual 10 - 25 2 - 6 1.56 - 2.43 0.46 - 0.57 1.00 - 1.55<br />

Mucuna anã Anual 10- 18 2 - 4 2,85 - 3,35 0,16 - 0,23 4,14 - 4,84<br />

Feijão bóer Bi ou Tri-anual 18 - 45 5 - 12 2,41 - 2,85 0,12 - 0,19 2,40 - 2,84<br />

Feijão bóer anão Anual 14- 22 2 - 6.5 1.02 - 2.04 0.21 - 0.28 0.92 - 1.47<br />

Crotalaria spectabilis Anual 12-23 4 - 7 2,14 - 2,20 0,07 - 0,12 1,40 - 1,78<br />

Feijão <strong>de</strong> porco Anual 14 - 26 3 - 7 3,00 - 3,39 0,12 - 0,18 5,30 - 5,94<br />

Feijão bravo do Ceara Anual 14 - 25 3 - 6.5 2,27 - 2,71 0,11 - 0,15 1,58 - 1,78<br />

Feijão mungo Anual 12 - 22 3 - 5.5 2,00 - 2,18 0,15 - 0,27 4,64 - 5,24<br />

Dolichos lab-lab Anual 14 - 28 4 - 7 2,15 - 2,57 0, 27 - 0,61 2,14 - 2,53<br />

Leucaena leucocephala perene 20 - 50 10 - 16 4, 17 - 4,43 0,17 - 0,28 1,45 - 1,94<br />

Indigofera sp. perene 13 - 24 4 - 7 2,02 - 2,33 0,09 - 0,19 1, 45 - 1,64<br />

Calopogonio mucunoi<strong>de</strong>s perene 14 - 23 4 - 6 2,05 - 2,28 0,08 - 0,17 1,43 - 1,68<br />

Kudzu tropical perene 13 – 25 4 - 7 3,47 -3,88 0,23 - 0,36 2,06 - 2,23<br />

Soja perene perene 12 – 23 4 - 6 2,44 - 2,85 0,17 - 0,30 2,24 - 2,45<br />

Centrosema pubescens perene 14 - 27 4.5 - 6.5 2,21 - 2,48 0,17 - 0,29 1, 03 - 1,34<br />

Mexoeira + nhemba Anual 19 - 40 3.5 - 10 0.61 - 0.82 0.13 - 0.17 1.08 - 1.12<br />

Crotalaria juncea Anual 15 - 35 2.5 - 8.5 1.42 - 1.65 0.19 - 0.21 0.96 - 1.38<br />

Girassol Anual 20 - 46 4 - 8 1. 02 - 1,12 0.18- 0,24 2,50 - 2.78<br />

Fonte: Adaptado <strong>de</strong> Calegari, 1995, 2000, Florentin et al., 2001.<br />

Os valores apresentados <strong>de</strong>monstram o gran<strong>de</strong> potencial que as distintas plantas <strong>de</strong><br />

cobertura possuem em <strong>de</strong>ixar no horizonte superficial dos solo variáveis quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

nutrientes que po<strong>de</strong>riam ser absorvidos pelas raízes dos cultivos posteriores. Além <strong>de</strong>sses<br />

nutrientes, um dos mais importantes aportes das plantas são os compostos <strong>de</strong> carbono


orgânico, ou seja a matéria orgânica, que será responsável, directa ou indirectamente pelas<br />

interacções e reacções químicas, físicas e biológicas no sistema solo-água-planta.<br />

As plantas mencionadas, tem potencial <strong>de</strong> serem utilizadas na Província <strong>de</strong> Sofala,<br />

conforme os diferentes sistemas <strong>de</strong> produção e condições agro-ecológicas especificas.<br />

Para os cultivos <strong>de</strong> Siratro, Stylosanthes, Brachiaria, Setaria e Melinis minutiflora, caso<br />

saturação com bases esteja acima <strong>de</strong> 30% não será necessário elevar até 40%, com<br />

excepção no caso dos materiais que são <strong>de</strong>stinados a corte ou produção <strong>de</strong> feno<br />

Dentre as leguminosas algumas se <strong>de</strong>stacam pela tolerância ao alumínio, como é o caso:<br />

Stylosanthes, Calopogonium mucunoi<strong>de</strong>s, Macroptilium atropurpureum, Galactia striata,<br />

Crotalaria pubescens e outras. Por outro lado, as espécies como Glycine wightii (soja<br />

perene), Medicago sativa (alfafa), são altamente susceptíveis a alumínio, e também pouco<br />

eficientes na absorção <strong>de</strong> fósforo (P) na presença <strong>de</strong> alumínio. Em geral, as exigências em<br />

P das leguminosas adaptadas a solos ácidos não são altas.<br />

Geralmente as leguminosas apresentam gran<strong>de</strong> potencial em fixar nitrogênio através da<br />

acção das bactérias que estão em simbiose com as raízes das plantas assim como também<br />

tem boa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reciclar o nitrogênio e outros nutrientes que foram perdidos por<br />

lixiviação.<br />

Tabela 4: Fixação biológica pelas leguminosas<br />

Leguminosas N(kg/ha -1 /ano)<br />

Feijão bóer (Cajanus cajan) 41 - 280<br />

Feijão nhemba (Vigna unguiculata sin. Vigna sinensis) 73 - 240<br />

Mucuna preta (Mucuna pruriens) 157<br />

Canavalia / Feijão <strong>de</strong> porco (Canavalia ensiformis) 49 - 190<br />

Estilosantes (Stylosanthes sp.) 30 - 196<br />

Amendoim (Arachis hypogaea) 33 - 297<br />

Calopogônio (Calopogonium mucunoi<strong>de</strong>s) 64 - 450<br />

Crotalaria (Crotalaria juncea L.) 150 - 165<br />

Galáctia (Galactia striata) 181<br />

Centrosema (Centrosema pubescens) 93 - 398<br />

Leucaena (Leucena leucocephala) 400 - 600<br />

Kudzu tropical (Pueraria phaseoloi<strong>de</strong>s) 30 - 100<br />

Feijão mungo (Vigna radiata L.) 63 - 342<br />

Desmódio (Desmodium sp.) 70<br />

Siratro (Macroptilium atropurpureum) 70 - 181<br />

Soja (Glycine max) 17 - 369<br />

Soja perene (Glycine wightii Verdc.) 40 - 450<br />

Guar (Cyamopsis psoraloi<strong>de</strong>s) 37 - 196<br />

Lentilha (Lens culinaris) 35 - 77<br />

Lespe<strong>de</strong>za (Lespe<strong>de</strong>za stipulacea) 193<br />

Grão-<strong>de</strong>-bico (Cicer arietinum) 41 - 270<br />

Ervilha (Pisum sativum) 81 - 148<br />

Ervilhaca comum (Vicia sativa) 80 - 120<br />

Ervilhaca peluda (Vicia villosa) 110 - 184<br />

Trevo egípcio (Trifolium alexandrinum) 62 - 235<br />

Trevo vermelho (Trifolium pratense) 17 - 191<br />

Trevo subterrâneo (Trifolium subterraneum) 21 - 207<br />

Feno grego (Trigonella fænum-græcum) 44<br />

Feijão fava (Vicia faba) 88 - 157<br />

Adaptado <strong>de</strong>: Nutman (1969); Buckman & Brady (1979); Malavolta et al. (1986); Boin (1986); Vernetti (1971),<br />

citado por Scotti et al. (1986); Larve, T.A. & Patterson, T.G. (1981); Kluthcousky (1982); Burris & Hardy (1975);<br />

Mello (1978); Rottar, P.P. & Joy, citado por Calegari et al., 1993.<br />

29


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

4.3.1 Efeitos na matéria orgânica do solo<br />

A matéria orgânica é uma mistura complexa das mais essenciais à manutenção e/ou<br />

recuperação da capacida<strong>de</strong> produtiva dos solos agrícolas. Diante <strong>de</strong> tal importância, serão<br />

tratados os principais aspectos a serem consi<strong>de</strong>rados num manejo a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> solos<br />

visando a recuperação e/ou manutenção da matéria orgânica dos solos agrícolas.<br />

A matéria orgânica total <strong>de</strong> um solo inclui todos os organismos vivos do solo, assim como os<br />

resíduos vegetais e animais em <strong>de</strong>composição constante; apesar <strong>de</strong> que quando nos<br />

referimos à matéria orgânica do solo, uma quantificação mais realística é quando nos<br />

referirmos à porção já num estágio final <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição, com a predominância <strong>de</strong> lignina,<br />

celuloses e hemiceluloses, portanto já num complexo <strong>de</strong> maior estabilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> coloração<br />

escura, ou seja, portanto numa fase <strong>de</strong> húmus.<br />

Os diferentes tipos <strong>de</strong> plantas, bem como as diferentes partes da planta, po<strong>de</strong>m apresentar<br />

diferenças quanto aos seus componentes e estruturas e, conforme a organização estrutural<br />

<strong>de</strong> seus tecidos, influenciado pela época e forma <strong>de</strong> manejo dado a estas plantas ou<br />

resíduos, po<strong>de</strong>rão apresentar diferenças quanto ao tempo <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição. Os primeiros<br />

componentes (listados abaixo), que são formado por ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> carbono mais simples, são<br />

quebrados e <strong>de</strong>compostos muito rapidamente, quando alguns resíduos e/ou restolhos são<br />

<strong>de</strong>positados no solo, enquanto os últimos (ca<strong>de</strong>ias complexas) po<strong>de</strong>rão <strong>de</strong>morar meses ou<br />

até muitos anos:<br />

Açucares, amidos e proteínas simples;<br />

Complexos protéicos;<br />

Hemicelulose<br />

Celulose<br />

Gorduras e graxas<br />

Lignina<br />

Assim, o montante <strong>de</strong> matéria orgânica <strong>de</strong> um solo é um complexo formado por inúmeras<br />

fracções em diferentes estágios <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição e, sendo alguns com efeitos marcantes,<br />

duradouros ou não, sobre as proprieda<strong>de</strong>s do solo. Dessa forma, a adição quase que<br />

constante <strong>de</strong> resíduos orgânicos ao solo, principalmente nas regiões tropicais e subtropicais,<br />

são fundamentais para que se possa se beneficiar <strong>de</strong> todos os efeitos favoráveis da matéria<br />

orgânica nos atributos físicos, químicos e biológicos do solo.<br />

Geralmente o balanço entre estas fracções é a resultante da adição dos compostos <strong>de</strong><br />

carbono e dos efeitos do manejo do solo utilizado.<br />

Normalmente nas áreas tropicais e subtropicais on<strong>de</strong> a mineralização/<strong>de</strong>gradação dos<br />

compostos orgânicos é intensa, a forma com que efectuamos o manejo do solo e das<br />

culturas po<strong>de</strong>m influenciar directamente a dinâmica <strong>de</strong>ssa matéria orgânica do solo:<br />

As adições <strong>de</strong> carbono orgânico em áreas agricultáveis normalmente po<strong>de</strong>m ser<br />

menores que nas condições naturais (natureza), isto em razão <strong>de</strong> que as culturas<br />

ocupam um tempo parcial <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento durante o ano, além da colheita <strong>de</strong> grãos,<br />

fibras, forragem, etc. estarem sempre exportando carbono do sistema; apesar disso,<br />

experiências <strong>de</strong> produtores no Brasil e outros países mostram que é possível com um<br />

bom sistema <strong>de</strong> rotação, suplantar a adição <strong>de</strong> carbono anual quando comparado com<br />

uma área <strong>de</strong> vegetação natural;<br />

O revolvimento do solo, queima dos restolhos e/ou invasoras e as praticas <strong>de</strong> condução<br />

(praticas fitotécnicas: limpeza do terreno, etc.), contribuem para a mistura dos restolhos<br />

das culturas e outros resíduos orgânicos com o solo e consequentemente aumentam a<br />

<strong>de</strong>composição do carbono e as perdas em forma <strong>de</strong> CO2 para a atmosfera.<br />

30


Para que o processo seja revertido é fundamental tomar alguns procedimentos urgentes:<br />

Imediatamente cessar com o preparo do solo, quer seja por enxadas, tracção animal,<br />

tractor, etc.;<br />

Não queimar mais os restolhos das culturas, restos <strong>de</strong> invasoras cortadas ou<br />

capinadas, resíduos <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura, <strong>de</strong>ixando todos os compostos <strong>de</strong><br />

carbono sobre a superfície do solo;<br />

Manejar a<strong>de</strong>quadamente todos os resíduos <strong>de</strong> forma que a adição anual <strong>de</strong> carbono<br />

ao sistema, quer pela adição dos resíduos da parte aérea ou das raízes, seja<br />

superior às perdas que ocorre principalmente pela ação dos microorganismos do<br />

solo (balanço anual positivo);<br />

Obviamente que em áreas <strong>de</strong> vegetação nativa os níveis <strong>de</strong> matéria orgânica do solo<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rão diretamente das condições <strong>de</strong> clima (temperatura, precipitação), tipo <strong>de</strong><br />

vegetação, tipo <strong>de</strong> solo, drenagem, etc.<br />

O papel da matéria orgânica nos solos agrícolas<br />

A predominância <strong>de</strong> temperaturas elevadas, ocorrência <strong>de</strong> precipitações com alta<br />

intensida<strong>de</strong>, tem contribuído para que o processo <strong>de</strong> intemperização seja mais intenso nas<br />

regiões tropicais e subtropicais, quando comparados às condições <strong>de</strong> clima temperado.<br />

Nessas condições, as argilas predominantes geralmente são 1:1 ou seja, geralmente <strong>de</strong><br />

baixa activida<strong>de</strong>, significando com baixa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> efectuar a troca catiônica no<br />

complexo solo. Dessa forma, a maioria dos solos apresentam originalmente baixa CTC<br />

(capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> troca <strong>de</strong> cátions), o que indubitavelmente repercutem em baixa fertilida<strong>de</strong><br />

natural. Assim, nessas condições os colói<strong>de</strong>s da matéria orgânica, por ter uma CTC <strong>de</strong> alta<br />

activida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>sempenha um papel fundamental no sentido <strong>de</strong> contribuir para o aumento da<br />

CTC do solo e, consequentemente promover uma maior capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aumento do nível <strong>de</strong><br />

fertilida<strong>de</strong> química do solo. Além disso, gran<strong>de</strong> percentual dos nutrientes são protegidos no<br />

solo ao formarem complexos com a matéria orgânica, po<strong>de</strong>ndo ser paulatinamente<br />

disponibilizados (com menores riscos <strong>de</strong> serem fixados por alumínio ou manganês, como é<br />

o caso do fósforo, ou ainda serem perdidos por lixiviação como é o caso do potássio e<br />

outros) e, aproveitados mais facilmente pelas raízes das culturas em <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

O aumento da matéria orgânica do solo está directamente ligado ao aumento na adição <strong>de</strong><br />

carbono e/ou redução da taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição dos materiais orgânicos frescos (MOF) e<br />

húmus. Uma forma <strong>de</strong> adicionar carbono ao longo dos anos é pela vegetação espontânea<br />

(invasoras), pelo cultivo <strong>de</strong> espécies perenes <strong>de</strong> pastagens ou através da prática or<strong>de</strong>nada<br />

<strong>de</strong> sucessões, rotações e/ou consorciação <strong>de</strong> culturas (sistemas), com elevada capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> produção <strong>de</strong> fitomassa que incluam conjuntamente cultivos comerciais e recuperadores<br />

<strong>de</strong> solos (plantas <strong>de</strong> cobertura).<br />

Material orgânico fresco cobrindo o solo (capim)<br />

e matéria orgânica estabilizada – coloração<br />

escura (húmus )<br />

31


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

A redução na taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição dos MOF e húmus em cultivos anuais é obtida através<br />

<strong>de</strong> redução do revolvimento do solo, quer pela <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> um manejo através do sistema <strong>de</strong><br />

cultivo mínimo ou principalmente através do sistema <strong>de</strong> plantio directo.<br />

Os principais aspectos auferidos pela manutenção e/ou adição da matéria orgânica do solo<br />

são:<br />

32<br />

elevada capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> armazenamento <strong>de</strong> água;<br />

contribui para uma melhoria do estado <strong>de</strong> agregação das partículas <strong>de</strong> solo através da<br />

formação dos complexos organo-minerais;<br />

proporciona um consi<strong>de</strong>rável incremento na vida biológica do solo;<br />

promove uma acentuada redução das perdas <strong>de</strong> nutrientes, favorecendo<br />

sensivelmente o seu suprimento às plantas;<br />

tem a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formar complexos com o alumínio e manganês que encontram-se<br />

em níveis tóxicos no solo;<br />

contribui significativamente para o aumento da CTC (capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> troca <strong>de</strong> cátions)<br />

efetiva do solo;<br />

melhoria do <strong>de</strong>senvolvimento e rendimento final das culturas.<br />

Além dos componentes dos tecidos das plantas, algumas enzimas necessárias à<br />

<strong>de</strong>composição das moléculas orgânicas estão presentes em um maior número <strong>de</strong> espécies<br />

microbianas, outras são sintetizadas apenas por alguns microorganismos específicos. O<br />

amido, proteínas, e celulose, por ex., fazem parte dos vegetais e são moléculas que<br />

facilmente são <strong>de</strong>gradas no solo pelos microorganismos, a maioria <strong>de</strong>les tem enzimas<br />

necessárias para a <strong>de</strong>gradação e posterior utilização como fonte <strong>de</strong> carbono e energia. No<br />

caso da lignina e alguns compostos fenólicos (ca<strong>de</strong>ias carbônicas maiores e mais<br />

complexas), componentes comuns nos tecidos vegetais, são mais difíceis <strong>de</strong> sofrerem o<br />

ataque microbiano, em função <strong>de</strong> sua estrutura e caminhos <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição<br />

permanecendo assim por muito mais tempo no solo até a mineralização ou sofrerem<br />

reacções químicas no solo (Fries & Aita, 1999).<br />

Visando facilitar a <strong>de</strong>composição e liberação <strong>de</strong> nutrientes, em algumas regiões da Europa,<br />

se recomenda adicionar, por cada 100 kg <strong>de</strong> resíduos vegetais (palha <strong>de</strong> gramíneas e/ou<br />

restolhos), <strong>de</strong> 0,7 – 1,3 kg <strong>de</strong> nitrogênio, além da fertilização normal utilizada no cultivo.<br />

Ao selecionarmos plantas para cobertura do solo e acúmulo <strong>de</strong> palha, <strong>de</strong>vemos buscar<br />

aquelas que apresentem maiores concentrações <strong>de</strong> lignina e <strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> fenólicos, pois<br />

seus resíduos são mais resistentes à <strong>de</strong>composição e assim permanecem por mais tempo<br />

protegendo o solo.<br />

Balanço <strong>de</strong> húmus no solo:<br />

O humus, composto final da <strong>de</strong>composição dos resíduos orgânicos do solo apresentam<br />

inúmeros efeitos favoráveis ao solo, assim como as interações solo-água-planta-nutrientes.<br />

No dinâmico processo <strong>de</strong> manejo do solo é importante consi<strong>de</strong>rar se o solo alcançou ou não<br />

ainda seu equilíbrio. Equilíbrio este que é <strong>de</strong>finido como:<br />

Equilíbrio = quando ocorre maior acúmulo em relação às<br />

perdas <strong>de</strong> matéria orgânica (M.O.) no solo


Assim, Fries & Aita, 1999 apresentam um exercício <strong>de</strong> como avaliar este importante balanço<br />

no solo.<br />

Balanço Anual <strong>de</strong> Humus =<br />

Perdas Anuais <strong>de</strong> M.O. ▬ Ganhos <strong>de</strong> M.O.<br />

• Consi<strong>de</strong>rando (p. ex.) um solo com 2.5% M.O.;<br />

• Quilogramas <strong>de</strong> humus em 1 hectare = 2.159.000 kg <strong>de</strong> solo/ha X 2.5/100 = 53.975 kg<br />

/M.O.<br />

• Caso o solo seja manejado ou não, parte do humus do solo é <strong>de</strong>composto pelos microorganismos<br />

para sua manutenção durante o ano;<br />

• Nos USA estudos tem mostrado que a taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição do humus é:<br />

1. solo com 2% <strong>de</strong> M.O. = 2% taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição anual;<br />

2. solo com 4% <strong>de</strong> M.O. <strong>de</strong>composição <strong>de</strong> 2.5%, assim utilizando-se estes valores;<br />

portanto, 2.5% M.O. apresenta uma taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição = 2.125%.<br />

3. Em 1 hectare temos 53.975 kg. <strong>de</strong> M.O. X 2.125% = 1147 kg. <strong>de</strong> humus<br />

anualmente perdido pelo processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição natural;<br />

Estudos regionalizados (possivelmente com “mo<strong>de</strong>lagem”) <strong>de</strong>veriam ser conduzidos para<br />

<strong>de</strong>senvolver uma: Constante <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição da Matéria Orgânica no solo<br />

Estimativas <strong>de</strong> perdas <strong>de</strong> solos:<br />

Resultados obtidos por Sidiras ,1984, citado por Derpsch et al., 1991 em um latossolo roxo<br />

no Norte do Paraná, o preparo convencional do solo (1 aração com discos + 2 gradagens)<br />

mostrou perdas <strong>de</strong> solos <strong>de</strong> 68,2 ton./ha/ano. Ainda no Brasil, Ponta Grossa, Paraná, Araújo<br />

et all.1991, em 4 anos <strong>de</strong> estudos em Cambissolos álicos encontrou perdas médias <strong>de</strong> mais<br />

<strong>de</strong> 113 toneladas <strong>de</strong> perdas <strong>de</strong> solos por hectare/ano. Por outro lado, resultados obtidos por<br />

Venialgo, 1997 em Paraguai, mostraram perdas <strong>de</strong> 46,5 ton./ha/ano <strong>de</strong> solos (área <strong>de</strong><br />

convencional em pousio no inverno). Seguramente nas condições da Província <strong>de</strong> Sofala os<br />

valores não <strong>de</strong>vem ser muito diferentes, ou até em áreas mais <strong>de</strong>clivosas e cultivados<br />

tradicionalmente com perdas ainda maiores que as consi<strong>de</strong>radas anteriormente.<br />

• Assim, para fins <strong>de</strong> cálculos vamos consi<strong>de</strong>rar perdas anuais <strong>de</strong> solos no sistema<br />

convencional <strong>de</strong> 40 toneladas por hectare/ano.<br />

• Perdas <strong>de</strong> Solos = 40.000 kg/ha/ano X 2,5% = 1000 kg/ha/ano <strong>de</strong> humus perdido por<br />

erosão.<br />

• O solo perdido geralmente é mais rico em M.O., visto que a fração orgânica é mais leve<br />

que outras partículas do solo e com mais facilida<strong>de</strong> será levado pela enxurrada;<br />

• Análises realizadas mostram um valor aproximado <strong>de</strong> 1,5% vezes superior para a M.O.;<br />

• Assim, os valores serão estimados em: 1000 kg <strong>de</strong> humus X 1,5 = 1500 kg/ha/ano <strong>de</strong><br />

humus perdidos por erosão (valor corrigido);<br />

• Portanto, a Perda <strong>de</strong> Humus anual é <strong>de</strong>:<br />

• 1147 + 1500 = 2647kgs. <strong>de</strong> Humus são perdidos por ha/ano.<br />

33


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

Cálculo dos ganhos anuais <strong>de</strong> Matéria Orgânica:<br />

• Um cultivo <strong>de</strong> milho com um rendimento por ex. <strong>de</strong> 6000 kg/ha <strong>de</strong> grãos, normalmente<br />

irá produzir uma quantida<strong>de</strong> semelhante <strong>de</strong> palha (restolhos). Além disso, estima-se<br />

que a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> biomassa radicular é em torno <strong>de</strong> 17% da parte aérea, e a<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exudatos produzidos pelas plantas durante seu ciclo é quase semelhante<br />

à biomassa radicular.<br />

• Estima-se que quanto aos restolhos <strong>de</strong> milho, 33% ficam como humus no solo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

1 ano, e em torno <strong>de</strong> 20% permanecem <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 5 anos no solo.<br />

• A conversão em humus para raízes e exudatos é em torno <strong>de</strong> 18%. O restante é liberado<br />

como CO2 (dióxido <strong>de</strong> carbono), principal componente da <strong>de</strong> composição microbiana,<br />

que irá utilizar a energia da palha para seu crescimento e manutenção <strong>de</strong> suas<br />

populações no solo.<br />

• Assim, temos: 6000kg x 33% = 1.980 kg <strong>de</strong> humus provenientes da palha;<br />

• Quantos quilogramas <strong>de</strong> raízes: ⇐ A soma <strong>de</strong> 6000 kg <strong>de</strong> palha + 6000 kg <strong>de</strong> grãos<br />

<strong>de</strong> milho =<br />

12000 kg x 17% = 2040 kg. <strong>de</strong> resíduos <strong>de</strong> raízes.<br />

A mesma quantida<strong>de</strong> para exudatos = 2040 kg. <strong>de</strong> exudatos radiculares.<br />

• Total <strong>de</strong> Raízes + Exudados = 4080 kg somente em torno <strong>de</strong> 18% fica como humus<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1 ano; portanto: 4080 kg. x 18% = 734 kg. <strong>de</strong> humus <strong>de</strong>verão ser<br />

adicionados ao solo pelas raízes e exudatos radiculares.<br />

• Assim, o ganho anual <strong>de</strong> HUMUS, com o cultivo <strong>de</strong> milho será:<br />

1980 kg. (restolhos) + 734 kg. (raízes + exudatos) = 2714 kg. <strong>de</strong> HUMUS.<br />

Balanço do Humus = Ganhos Anuais <strong>de</strong> M.O. – Perdas Anuais <strong>de</strong> M.O.<br />

Balanço do Humus = 2714 – 2647 = + 67 Kg<br />

Obviamente que estes dados não estão consi<strong>de</strong>rando que as perdas <strong>de</strong> solos por erosão<br />

ocorrem principalmente na superfície do solo, região em que existem maiores<br />

concentrações <strong>de</strong> M.O. na superfície, portanto maiores serão as perdas, além do sistema<br />

convencional (solo revolvido) acelerar a <strong>de</strong>composição do húmus, conforme as condições<br />

<strong>de</strong> solos, clima, tipo <strong>de</strong> solo, altitu<strong>de</strong>, etc. e, seguramente nessas condições o BALANÇO<br />

ANUAL REAL é negativo.<br />

Quanto mais efetiva for a rotação <strong>de</strong> culturas maior quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> carbono orgânico será<br />

adicionado ao solo.<br />

Numa análise dos resultados apresentados se conclui que aumentar os níveis <strong>de</strong> matéria<br />

orgânica do solo é um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio, pela dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> adicionar elevadas quantida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> biomassa ao solo (como é o caso dos 2 cultivos apresentados). Visando maior adição <strong>de</strong><br />

carbono orgânico ao solo, é aconselhável seleccionar plantas, com qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

compostos bioquímicos e, que sejam capazes <strong>de</strong> produzir elevadas quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

restolhos, e que o carbono possa assim não ser perdido na atmosfera como CO2, mas sim<br />

ser acumulado na forma <strong>de</strong> humus no solo. Assim, capins e outras gramíneas, além do uso<br />

<strong>de</strong> misturas <strong>de</strong> leguminosas são recomendadas para acumular e aumentar o carbono<br />

orgânico do solo.<br />

34


4.3.2 Efeitos no armazenamento <strong>de</strong> água e diminuição das perdas no<br />

sistema<br />

Em visitas a áreas <strong>de</strong> produtores da região <strong>de</strong> Tambarare, Gorongosa, foi efetuado<br />

medições com termômetros <strong>de</strong> solos (geotermômetro) às 9:30´ (Tabela 5 em baixo).<br />

Tabela 5: Efeito da cobertura do solo nos gradientes <strong>de</strong> temperatura do perfil do solo<br />

Área on<strong>de</strong> se instalou os<br />

geotermômetros<br />

Profundida<strong>de</strong> do perfil do<br />

solo (2cm)<br />

Profundida<strong>de</strong> do perfil do<br />

solo (10-12cm)<br />

Solo <strong>de</strong>scoberto 43°C 30°C<br />

Solo coberto com palha 30°C 30°C<br />

Pela análise dos dados, observa-se que o solo <strong>de</strong>scoberto (2 cm. <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong>)<br />

apresentou uma temperatura <strong>de</strong> 13°C superior a área coberta com palha; por outro lado na<br />

profundida<strong>de</strong> 10-12 cm. a temperaturas observadas foram as mesmas (30°C) tanto para o<br />

solo <strong>de</strong>scoberto quanto para o solo com palhada e, também esta mesma temperatura foi<br />

observada na área com palha a 2 cm. <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong>. Numa avaliação dos dados obtidos<br />

nesta região po<strong>de</strong>-se concluir que:<br />

Sabendo-se que quando as temperaturas do solo atingem 32-35°C, as raízes das<br />

plantas nessa condição praticamente cessam quase todo o seu metabolismo (não<br />

absorvendo água e nem nutrientes do solo), portanto as raízes que ocupam a parte<br />

superficial do perfil do solo (primeiros centímetros) da área <strong>de</strong>scoberta está<br />

comprometido o seu trabalho, prejudicando severamente o <strong>de</strong>senvolvimento e<br />

rendimento final das plantas.<br />

Na área on<strong>de</strong> o solo está protegido com palha, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da profundida<strong>de</strong> (2cm. e<br />

12cm.) a temperatura observada foi a mesma: 30°C e, portanto as plantas possuem<br />

ótimas condições <strong>de</strong> terem seu metabolismo normal durante todo o dia, po<strong>de</strong>ndo as<br />

raízes absorverem água e nutrientes.<br />

Na área <strong>de</strong>scoberta, além <strong>de</strong> riscos e perdas <strong>de</strong> solos, nutrientes e água, por enxurradas<br />

e maior lavagem do perfil do solo, também os níveis <strong>de</strong> evaporação e perdas <strong>de</strong> água<br />

para a atmosfera são muito elevados; por outro lado na área com mulch as perdas por<br />

evaporação são quase inexistentes. Portanto, a proteção do solo com palhada e<br />

manutenção constante dos resíduos na superfície, são procedimentos básicos e<br />

fundamentais no manejo a<strong>de</strong>quado dos solos agrícolas.<br />

Erosão acelerada, compasso ina<strong>de</strong>quado e<br />

excessivo numero <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> milho por<br />

covacho: situações comuns em muitas<br />

zonas <strong>de</strong> Sofala<br />

Consórcio <strong>de</strong> milho e feijão nhemba no sistema <strong>de</strong><br />

Agricultura <strong>de</strong> Conservação: eficiente cobertura do<br />

solo, melhoria da fertilida<strong>de</strong>, controle efetivo <strong>de</strong><br />

invasoras<br />

35


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

Ainda em visita à região <strong>de</strong> Gorongosa (área do camponês Sr. Zegria) um grupo <strong>de</strong><br />

camponeses cultiva hortaliças (repolho, tomate, couve flor, etc.), no restante da machamba<br />

o camponês cultiva milho, feijão manteiga, batata doce, etc. Foi efectuado, através <strong>de</strong><br />

geotermômetro, a avaliação da temperatura do solo nos 3 cm. superficiais as 15:00´ horas,<br />

tanto em área <strong>de</strong>scoberta quanto on<strong>de</strong> havia resíduos sobre o solo.<br />

4.3.3 Efeitos nos gradientes <strong>de</strong> temperatura do perfil do solo<br />

36<br />

Área on<strong>de</strong> se instalou<br />

os geotermômetros<br />

Profundida<strong>de</strong> do perfil do<br />

solo (3 cm)<br />

Solo <strong>de</strong>scoberto 52° C<br />

Solo coberto com palha 22° C<br />

A temperatura no solo sem resíduos ou totalmente sem cobertura do solo, o que representa<br />

a gran<strong>de</strong> maioria da situação dos solos cultivados em todo o distrito <strong>de</strong> Gorongosa, atingiu<br />

52°C; enquanto a área que estava com o solo coberto com resíduos apresentou uma<br />

temperatura <strong>de</strong> apenas 22°C, ou seja uma diferença <strong>de</strong> 30°C.<br />

Isto é muito importante e tem repercussão no metabolismo das plantas e no processo <strong>de</strong><br />

crescimento. Dessa forma, mais uma vez, comprova-se que a cobertura do solo é<br />

fundamental para manter o solo sombreado, impedindo a evaporação da água do solo e<br />

também diminuindo o potencial <strong>de</strong> evapotranspiração das plantas, o que contribui para que<br />

a planta sofra menor “stress” e assim tenha um maior tempo e possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> absorver<br />

água e nutrientes e realizar a<strong>de</strong>quadamente a fotosíntese, e assim conseguir um melhor<br />

crescimento e conseqüente maior produção.<br />

Área com ananas e milho em solo com cobertura<br />

no sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação em<br />

Panja (Distrito <strong>de</strong> Chibabava)


4.3.4 Efeitos na composição florística do solo (efeitos alelopáticos e<br />

físicos) na diminuição das populações <strong>de</strong> invasoras (plantas<br />

daninhas)<br />

Popularmente se consi<strong>de</strong>ra uma planta daninha ou invasora, qualquer planta que cresce em<br />

local in<strong>de</strong>sejável no momento in<strong>de</strong>sejável. Assim, é consi<strong>de</strong>rado que as invasoras ao<br />

provocarem alta competição por nutrientes, água, luz com as culturas em crescimento,<br />

po<strong>de</strong>m provocar perdas <strong>de</strong> 5-40% no rendimento final das culturas. Na verda<strong>de</strong>, o controle<br />

das invasoras não promove aumento na produtivida<strong>de</strong> das culturas, mas sim impe<strong>de</strong> que os<br />

factores disponibilizados sejam insuficientes (nutrientes, água, luz), comprometendo um<br />

melhor <strong>de</strong>sempenho das espécies e por consequência levando a menores produtivida<strong>de</strong>s.<br />

Diversas áreas <strong>de</strong> Sofala estão infestadas pela Imperata cylindrica que é uma invasora <strong>de</strong><br />

difícil controle. É uma gramínea perene muito agressiva, que cresce rapidamente se<br />

proliferando por sementes e/ou rizomas. Geralmente muitos camponeses abandonam<br />

algumas áreas <strong>de</strong> suas machambas quando estão tomadas por essa terrível invasora. A<br />

Mucuna pruriens é uma leguminosa rústica, largamente utilizada nos países latinoamericanos<br />

e Oeste da África, quer como melhoradora dos atributos do solo, assim como<br />

pelos seus efeitos alelopáticos e <strong>de</strong> sombreamento, muitas vezes empregada com sucesso<br />

no controle do capim Imperata cylindrica.<br />

Foi ainda relatado por vários camponeses e técnicos da região do Distrito do Dondo e Búzi<br />

e, seguramente também em outros Distritos da Província <strong>de</strong> Sofala, que um dos gran<strong>de</strong><br />

problemas no manejo das machambas é a alta infestação <strong>de</strong> invasoras (plantas daninhas),<br />

principalmente Cyperus rotundus, Cynodon dactilum, etc., o que dificulta bastante os<br />

cultivos, além <strong>de</strong> alta competição com as culturas. Resultados observados com o emprego<br />

<strong>de</strong> Mucuna pruriens (preta, cinza), Calopogonium mucunoi<strong>de</strong>s, Crotalaria juncea, feijão <strong>de</strong><br />

porco (Canavalia ensiformis) e feijão bravo do Ceará (Canavalia brasiliensis), mostraram<br />

que estas espécies foram eficientes no controle <strong>de</strong> Cynodon dactilon e Cyperus sp. na<br />

região do Distrito do Búzi (Sofala- Moçambique), assim como em diversos outros trabalhos<br />

<strong>de</strong> pesquisa e experiência <strong>de</strong> produtores no Brasil e outros países.<br />

Uma das excelentes opções no controle, ou diminuição das populações <strong>de</strong>ssas<br />

invasoras é o uso <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura com características especiais (como é o caso<br />

<strong>de</strong> Canavalia ensiformis – feijão <strong>de</strong> porco e Mucuna pruriens – mucuna que não causa<br />

reação alérgica às pessoas.<br />

O feijão macaco (Mucuna coriacea), planta<br />

embora melhoradora dos solos agrícolas, é<br />

in<strong>de</strong>sejável pelos camponeses em função dos<br />

efeitos <strong>de</strong>sconfortantes causando irritação na pele<br />

através dos efeitos dos pêlos expelidos pelas<br />

vagens quando em maturação ou já secas.<br />

Normalmente esta espécie cresce naturalmente<br />

com outras invasoras e diferentes capins, sendo<br />

recomendável o manejo com rolo-faca quando<br />

esta leguminosa se encontrar na fase final <strong>de</strong><br />

florescimento/enchimento <strong>de</strong> vagens, momento<br />

em que irá ocorrer a maior mortalida<strong>de</strong> das<br />

plantas. Sendo recomendável substituir esta<br />

espécie por Mucuna cultivada (Mucuna pruriens),<br />

que além <strong>de</strong> proteger e melhorar os solos, não<br />

causam os efeitos <strong>de</strong>sconfortáveis às pessoas.<br />

Mucuna em pleno <strong>de</strong>senvolvimento<br />

(Província <strong>de</strong> Sofala)<br />

37


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

Das diferentes espécies <strong>de</strong> invasoras, também uma que tem causado problemas em Sofala,<br />

é a striga (Striga asiatica), que é uma espécie semi-parasita que ao crescer as suas raízes<br />

parasitam as raízes da cultura sugando a seiva <strong>de</strong> espécies gramíneas (mapira, milho,<br />

mexoeira, arroz, etc.) provocando severas perdas nos rendimentos <strong>de</strong>stas culturas.<br />

Geralmente a proliferação <strong>de</strong>ssa invasora está directamente relacionada com a <strong>de</strong>gradação<br />

dos solos: baixos níveis <strong>de</strong> matéria orgânica e nutrientes no solo e, também aliado à<br />

monocultura: mapira - mapira, ou milho – milho. Os herbicidas geralmente são pouco<br />

eficientes no seu controle, sendo a rotação com culturas que apresentam efeitos<br />

alelopáticos o melhor caminho <strong>de</strong> diminuir e até eliminar essa espécie. Algumas espécies<br />

são muito eficientes no controle <strong>de</strong>ssa invasora, <strong>de</strong>stacando-se: kudzu tropical, mucunas,<br />

gergelim, feijões: bóer, nhemba, vulgar, girassol, Calopogonium mucunoi<strong>de</strong>s, etc. Na<br />

verda<strong>de</strong> a gran<strong>de</strong> maioria das leguminosas e outras espécies não gramíneas causam<br />

efeitos favoráveis na diminuição da “Striga”<br />

Efeito <strong>de</strong> diferentes plantas <strong>de</strong> cobertura no controle <strong>de</strong> “STRIGA” – Exemplo da<br />

Costa do Marfim, África<br />

38<br />

Espécies leguminosas<br />

Plantas <strong>de</strong> milho<br />

infestada<br />

com Striga<br />

Rendimento<br />

<strong>de</strong> milho<br />

(kg/ha)<br />

Kudzu tropical Pueraria phseoloi<strong>de</strong>s 2.8 2.540<br />

Calopogonio Calopogonium mucunoi<strong>de</strong>s 3.6 2.260<br />

Cássia Cassia rotundifolia 18.4 2.310<br />

Siratro Macroptilium atropurpureum 98.0 1.250<br />

Centrosema Centrosema pubescens 100 1.120<br />

Tephrosia Tephrosia pedicellata 100 910<br />

TESTEMUNHA 100 730<br />

Fonte: Charpentier et al., 1999.<br />

Pelos resultados obtidos percebe-se que o kudzu, o calopogonio e a cássia foram as<br />

leguminosas mais eficientes em diminuir a infestação <strong>de</strong> Striga, além <strong>de</strong> aumentarem em<br />

mais <strong>de</strong> 200% o rendimento <strong>de</strong> milho em relação à área testemunha.<br />

Na região Norte da Costa do Marfim, o kudzu é a principal espécie empregada no controle<br />

<strong>de</strong> Striga.<br />

Além da competição exercida sobre as culturas, uma outra gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>svantagem da<br />

proliferação das invasoras ou plantas daninhas é o potencial que a gran<strong>de</strong> maioria das<br />

espécies possuem em multiplicar as populações <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s no solo. Dessa forma, uma<br />

das medidas essenciais no controle das invasoras é manejar estas plantas in<strong>de</strong>sejáveis<br />

antes que elas produzam sementes ou seja, não permitindo que as mesmas completem o<br />

seu ciclo e assim não continuem infestando as machambas. No sul do Brasil, Skora (1994)<br />

estudou por vários anos o comportamento <strong>de</strong> diferentes invasoras e mostrou como é<br />

possível diminuir as populações num manejo a<strong>de</strong>quado durante vários anos.


Diminuição da infestação <strong>de</strong><br />

invasoras em plantio directo<br />

não permitindo o ciclo<br />

completo das espécies<br />

600<br />

500<br />

400<br />

300<br />

200<br />

100<br />

0<br />

Fonte: Skora Neto, 1994<br />

Dessa forma, os trabalhos em áreas <strong>de</strong> plantio directo mostraram que as invasoras sendo<br />

manejadas (cortadas ou <strong>de</strong>ssecadas) antes que completem seu ciclo e, ao mesmo tempo<br />

anualmente adicionados “mulch” sobre o solo, as populações <strong>de</strong>crescem ao longo dos anos;<br />

enquanto outros trabalhos <strong>de</strong> pesquisa em áreas com o sistema convencional (solo<br />

revolvido anualmente) mostraram que as invasoras ten<strong>de</strong>m a aumentar as populações e os<br />

custos <strong>de</strong> seu controle.<br />

Algumas espécies que foram consi<strong>de</strong>radas plantas daninhas durante muitos anos em alguns<br />

países, são agora eficientemente utilizadas e manejadas a<strong>de</strong>quadamente como plantas <strong>de</strong><br />

cobertura no sistema <strong>de</strong> plantio direto. Algumas <strong>de</strong>ssas plantas são: Brachiaria plantaginea<br />

no Brasil, Chromoloena odorata na Costa do Marfim, Desmodium intortum na Ilha <strong>de</strong><br />

Bourbon, e Tithonia diversifolia em Honduras, Uganda, Kenya (e outros países).<br />

A Brachiaria plantaginea no sul do Brasil, embora sendo uma espécie invasora nas áreas <strong>de</strong><br />

lavoura (soja, milho, feijão, etc), antes <strong>de</strong> completar seu ciclo normalmente é <strong>de</strong>ssecada<br />

com herbicidas e/ou cortada produzindo boa cobertura protetora do solo no sistema <strong>de</strong><br />

plantio direto e, em algumas situações é cortada e utilizada como feno aos animais.<br />

No caso específico da Tithonia, que pertence à família das compostas, caracteriza-se por<br />

apresentar um forte e rápido crescimento, com efeitos alelopáticos e fisicos (sombreamento)<br />

no controle <strong>de</strong> diferentes invasoras. Em diversas regiões montanhosas Ondurenhas o feijão<br />

é semeado à lanço entre as plantas <strong>de</strong> Thitonia que se encontra no pleno <strong>de</strong>senvolvimento<br />

e, imediatamente é utilizado a catana para cortar essas plantas que irão cobrir o solo e<br />

permitir boa germinação e bom <strong>de</strong>senvolvimento do feijoeiro. Essa planta nativa possui uma<br />

elevada quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ácidos orgânicos em seus tecidos (parte aérea e raízes) os quais<br />

contribuem paras uma maior soluibilização e disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fósforo no sistema. Em<br />

regiões <strong>de</strong> Uganda on<strong>de</strong> são aplicados fosfatos naturais é semeado Thitonia diversifolia com<br />

a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acelerar a solubilização do fósforo no solo e, consequente aproveitamento<br />

pelas culturas posteriores.<br />

4.3.5 Efeitos na melhora <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> pousio<br />

Número <strong>de</strong> invasoras/m 2<br />

88/89 89/90 90/91 91/92 92/93 93/94<br />

Normalmente, os camponeses utilizam intensamente uma <strong>de</strong>terminada área por vários anos<br />

consecutivos levando na maioria dos casos a um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação do solo e<br />

diminuição da capacida<strong>de</strong> produtiva do mesmo. Geralmente mudam <strong>de</strong> área (nomadismo)<br />

<strong>de</strong>ixando por 2 ou mais anos em pousio para posteriormente retornarem a cultivar nestas<br />

áreas. Este período <strong>de</strong>ixado para crescimento expontâneo <strong>de</strong> invasoras rasteiras, e<br />

arbustivas, na maioria das vezes não é suficiente para recompor a fertilida<strong>de</strong> (física, química<br />

e biológica) do solo e, consequentemente a produtivida<strong>de</strong> das culturas continuam assim<br />

num processo continuo e <strong>de</strong>crescente.<br />

39


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

Diante <strong>de</strong>sta comum pratica agrícola entre os diversos Distritos da Província <strong>de</strong> Sofala, é<br />

sugerido um melhoramento do pousio. Obviamente <strong>de</strong>ve ser iniciado com um estudo local<br />

da área <strong>de</strong>gradada e verificar quais espécies po<strong>de</strong>riam ser empregadas para promover um<br />

melhoramento do pousio. Po<strong>de</strong>-se utilizar espécies <strong>de</strong> diferentes famílias, entretanto<br />

normalmente as leguminosas são as mais empregadas pois estas condições <strong>de</strong>gradadas<br />

geralmente a predominância é <strong>de</strong> gramíneas expontâneas e, muitas <strong>de</strong>las com capacida<strong>de</strong><br />

lenta <strong>de</strong> promover uma recuperação das proprieda<strong>de</strong>s do solo.<br />

Espécies anuais ou perenes po<strong>de</strong>m ser empregadas, com preferência as que possuem<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crescer e <strong>de</strong>senvolver bem em solos <strong>de</strong>gradados, que apresentem<br />

resementeira natural, facilitando assim a persistência das plantas <strong>de</strong> cobertura, que além <strong>de</strong><br />

controlar algumas invasoras, irão agregando material orgânico e melhorando as<br />

proprieda<strong>de</strong>s do solo.<br />

Este melhoramento po<strong>de</strong> ser alcançado aos 2 ou mais anos, conforme o nível <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>gradação, po<strong>de</strong>ndo então retornar com culturas (subsistência/mercado).<br />

Para as condições gerais da Província, nos solos arenosos (mais pobres) e também os<br />

<strong>de</strong>mais, po<strong>de</strong>m ser empregados algumas espécies, tais como: Stylosanthes sp., Feijão bóer,<br />

Mucuna pruriens (mucuna preta, cinza) Canavalia ensiformis (feijão <strong>de</strong> porco) Canavalia<br />

brasiliensis (feijão bravo do Ceará) , Clitoria ternatea, Calopogonio mucunoi<strong>de</strong>s,<br />

Macroptilium atropurpureum (siratro); além <strong>de</strong>ssas espécies po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve-se utilizar as<br />

próprias leguminosas nativas (Crotalarias, Vignas, Estilosantes, Calopogonio, Sesbanias,<br />

Tephrosias, etc.).<br />

Po<strong>de</strong> ser utilizado também algumas espécies leguminosas arbóreas no melhoramento do<br />

pousio, tais como: Glericidia sepium, Calliandra calythersus, Cassia Albida, etc., que irão<br />

produzir gran<strong>de</strong> biomassa e, após podadas as folhas e galhos serão distribuídos sobre o<br />

solo protegendo e recuperando a capacida<strong>de</strong> produtiva ao longo dos anos.<br />

Clitoria ternatea: leguminosa rústica tolerante à<br />

seca e boa opção na rotação com milho, mapira,<br />

etc. (Sr. Fernando Chadiwa – Bandua, Distrito do<br />

Búzi)<br />

40<br />

Feijão nhemba: opção alimentar, mercado e<br />

leguminosa protetora e melhoradora do solo<br />

(Grupo <strong>de</strong> Senhoras, Distrito do Búzi).<br />

Dessa forma, a área em pousio ficará enriquecido pela presença das plantas <strong>de</strong> cobertura<br />

e/ou espécies arbóreas, principalmente pela quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fitomassa vegetal produzida,<br />

como também pelo adição <strong>de</strong> nitrogênio ao sistema, além <strong>de</strong> outros efeitos das raízes no<br />

perfil do solo, melhorando-o fisicamente, maior aporte <strong>de</strong> outros nutrientes (reciclagem e<br />

maior solubilização), e também um incremento na biologia do solo pela constante adição <strong>de</strong><br />

material orgânico ao solo. Após <strong>de</strong>terminado tempo, conforme vai ocorrendo a melhoria<br />

gradativa <strong>de</strong> todas as proprieda<strong>de</strong>s do solo, esta área já estará apta a ser novamente<br />

cultivada e, então conduzida num sistema sustentável <strong>de</strong> produção (sistema <strong>de</strong> Agricultura<br />

<strong>de</strong> Conservação).


4.4 A produção <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong> cobertura<br />

Após a <strong>de</strong>vida selecção das espécies <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura, quer sejam nativas ou<br />

exóticas, a fazerem parte dos sistemas <strong>de</strong> produção local/regional, um outro importante<br />

aspecto é o que diz respeito à tecnologia <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> sementes dos referidos materiais.<br />

Esta produção, <strong>de</strong>verá preferentemente ser efectuada pelo camponês na sua própria<br />

machamba.<br />

A produção <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong> cobertura é uma importante activida<strong>de</strong> a ser realizada por parte<br />

dos camponeses no sentido <strong>de</strong> ter a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste tão importante insumo a ser<br />

utilizado nas suas próprias machambas. Normalmente, os diferentes materiais apresentam<br />

alguns <strong>de</strong>talhes específicos sobre o processo <strong>de</strong> multiplicação e produção <strong>de</strong> sementes.<br />

Geralmente as plantas ramadoras, como é o caso das mucunas preta e cinza, normalmente<br />

produzem mais sementes quando possuem um tutoramento natural, que po<strong>de</strong>m ser as<br />

próprias plantas <strong>de</strong> milho, mapira, mandioca, ricinus, ou mesmo pequenos arbustos <strong>de</strong>ntro<br />

da machamba, etc. Neste caso, os ramos irão subir nos tutores e, consequentemente<br />

obtendo maior luminosida<strong>de</strong>, aeração, irão produzir mais sementes.<br />

As sementes <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> colhidas <strong>de</strong>verão ser trilhadas e com teores <strong>de</strong> umida<strong>de</strong> do grão em<br />

torno <strong>de</strong> 12-14%, armazenadas em lugar seco, à sombra e ventilados, para que possam<br />

manter o po<strong>de</strong>r germinativo para futura utilização.<br />

41


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

5 A ROTAÇÃO E CONSORCIAÇÃO NO SISTEMA <strong>DE</strong><br />

<strong>AGRICULTURA</strong> <strong>DE</strong> <strong>CONSERVAÇÃO</strong><br />

A rotação <strong>de</strong> culturas é a alternância <strong>de</strong> espécies vegetais na mesma estação numa<br />

<strong>de</strong>terminada área, observando-se um período mínimo sem o cultivo <strong>de</strong>sta mesma espécie<br />

na mesma área. O a<strong>de</strong>quado planejamento <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> rotação <strong>de</strong> culturas <strong>de</strong>verá<br />

visar não apenas objetivos imediatos mas que, ao longo dos anos, a integração <strong>de</strong> culturas<br />

e muitas vezes a própria integração com animais, produza efeitos favoráveis ao sistema,<br />

proporcionando uma maior estabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção, menores riscos <strong>de</strong> infestação <strong>de</strong><br />

pragas e doenças, melhoria da capacida<strong>de</strong> produtiva do solo e consequente maior<br />

rentabilida<strong>de</strong> líquida na proprieda<strong>de</strong> agrícola como um todo.<br />

Os esquemas <strong>de</strong> rotação <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rão da região em questão, do tipo <strong>de</strong> solo, clima, manejo<br />

empregado, das características das machambas específicas e da infra-estrutura da<br />

proprieda<strong>de</strong>. O uso da rotação <strong>de</strong> culturas em proprieda<strong>de</strong>s diversificadas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá <strong>de</strong><br />

um planejamento or<strong>de</strong>nado e <strong>de</strong> uma criteriosa a<strong>de</strong>quação temporal e espacial das<br />

ativida<strong>de</strong>s.<br />

O conhecimento <strong>de</strong>talhado do histórico da área em questão, geralmente po<strong>de</strong> constar <strong>de</strong><br />

vários aspectos:<br />

quanto tempo que vem sendo cultivado nesta área<br />

quais as principais culturas <strong>de</strong>senvolvidas<br />

caso não haja análise química <strong>de</strong> solos, verificar o crescimento das plantas, produção<br />

alcançada em anos anteriores<br />

o acompanhamento criterioso das ativida<strong>de</strong>s realizadas quer seja quanto aos aspectos<br />

físicos, químicos e biológicos do solo, uso <strong>de</strong> calagem e adubações (química e<br />

orgânica), são fundamentos indispensáveis no estabelecimento <strong>de</strong> um esquema<br />

racional e compatível <strong>de</strong> rotação <strong>de</strong> culturas.<br />

A manutenção e/ou adição da matéria orgânica ao solo através da rotação <strong>de</strong> culturas,<br />

incluindo o a<strong>de</strong>quado emprego das coberturas vegetais e o manejo dos resíduos póscolheita,<br />

ten<strong>de</strong> a promover melhorias significativas no sistema produtivo ao longo dos anos,<br />

por:<br />

Melhorar o estado <strong>de</strong> agregação das partículas, através da formação <strong>de</strong> complexos<br />

organo-minerais.<br />

Aumentar a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> armazenamento <strong>de</strong> água.<br />

Contribui para um aumento da biodiversida<strong>de</strong> do solo, e ao incrementar a biologia do<br />

solo (micro, meso e macro [fauna e flora]), aumenta a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong><br />

organismos e também os inimigos naturais que irão atuar positivamente no controle e<br />

equilíbrio <strong>de</strong> pragas (insetos, nematoi<strong>de</strong>s e outros) e doenças.<br />

Reduzir as perdas <strong>de</strong> nutrientes e melhorar a solubilização <strong>de</strong> nutrientes, facilitando o<br />

seu aproveitamento pelas plantas.<br />

Promover a complexação orgânica do alumínio e manganês que encontram-se em<br />

níveis tóxicos no solo.<br />

Aumentar a CTC efetiva do solo (<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> pH).<br />

Melhorar o <strong>de</strong>senvolvimento das culturas, aumentando a estabilida<strong>de</strong> da produção ao<br />

longo dos anos.<br />

42


A rotação <strong>de</strong> culturas apresenta várias vantagens quando comparada à monoculturas<br />

tradicionais (Cook and Ellis,1987; Unger, 1994; Burton & Burd, 1994; Calegari, 2000, 2003):<br />

1) Melhor distribuição <strong>de</strong> trabalho e economia <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra;<br />

2) Contribuição para um aumento no número e nas espécies <strong>de</strong> organismos do solo,<br />

aumentando a biodiversida<strong>de</strong> e, promovendo um maior equilíbrio entre as espécies<br />

benéficas e as prejudiciais, levando assim a um maior controle biológico <strong>de</strong> pragas e<br />

doenças;<br />

3) Mais eficiente controle <strong>de</strong> invasoras;<br />

4) Promoção <strong>de</strong> uma melhoria geral e uniforme do solo através <strong>de</strong> seus efeitos favoráveis<br />

(físicos, químicos e biológicos);<br />

5) Melhora da estrutura e qualida<strong>de</strong> do solo, facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento das diferentes<br />

culturas;<br />

6) Diferentes espécies <strong>de</strong> plantas usadas na rotação apresentam diferentes habilida<strong>de</strong>s e<br />

exploram diferentes profundida<strong>de</strong>s do perfil, proporcionando assim uma distribuição mais<br />

uniforme, um melhor equilíbrio e uma maior estabilida<strong>de</strong> nos nutrientes do solo;<br />

7) Os diferentes tipos e comprimento <strong>de</strong> raízes alcançam diferentes zonas do perfil,<br />

melhorando o solo em profundida<strong>de</strong>;<br />

8) Uma a<strong>de</strong>quada estratégia <strong>de</strong> rotação irá permitir uma quase permanente cobertura do<br />

solo;<br />

9) A adição anual <strong>de</strong> restolhos e compostos <strong>de</strong> carbono irá aumentar os teores <strong>de</strong> matéria<br />

orgânica do solo;<br />

10) Há uma tendência, ao longo dos anos, <strong>de</strong> diminuição dos custos <strong>de</strong> produção (menores<br />

gastos com fertilizantes, herbicidas e pesticidas em geral), conseqüente maior renda<br />

liquida na proprieda<strong>de</strong>;<br />

11) As diferentes espécies empregadas na seqüência or<strong>de</strong>nada irão causar efeitos<br />

diferenciados no solo e nos cultivos posteriores;<br />

12) Diminuição <strong>de</strong> riscos <strong>de</strong> toxicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> várias substancias no solo, pela sua alta<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação <strong>de</strong> diferentes componentes;<br />

13) Como efeito <strong>de</strong> médio/longo prazo contribui para uma maior estabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção e<br />

aumento <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diferentes culturas.<br />

43


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

5.1 A rotação e consorciação <strong>de</strong> culturas<br />

5.1.1 Opções <strong>de</strong> rotação para arroz<br />

Normalmente nas áreas <strong>de</strong>stinadas ao cultivo <strong>de</strong> arroz, nas diferentes regiões da Província<br />

<strong>de</strong> Sofala, o sistema <strong>de</strong> manejo consiste em revolver o solo em profundida<strong>de</strong> todos os anos<br />

para posterior transplante do arroz. O arroz geralmente é colhido em abril/maio, e a palha é<br />

retirada ou queimada, permanecendo o solo <strong>de</strong>scoberto e, em seguida totalmente revolvido<br />

manualmente com enxadas ou através <strong>de</strong> tratores. Dessa forma, o solo permanece <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

Maio até Setembro sem nenhuma cobertura ou proteção, apenas as invasoras crescendo e<br />

infestando cada vez mais o terreno. Este tipo <strong>de</strong> manejo, on<strong>de</strong> o solo permanece longo<br />

tempo sem cobertura, o impacto direto das gotas <strong>de</strong> chuva ten<strong>de</strong> a contribuir para que<br />

ocorra um selamento superficial diminuindo a infiltração <strong>de</strong> água no perfil. Muitas vezes as<br />

invasoras são controladas através <strong>de</strong> pulverização com herbicidas. O transplante <strong>de</strong> arroz é<br />

efectuado normalmente em Novembro.<br />

Nesta situação comum à uma gran<strong>de</strong> maioria <strong>de</strong> produtores é sugerido que seja localmente<br />

e regionalmente testado e validado pelos produtores, algumas das seguintes inovações<br />

tecnológicas:<br />

1. Após a colheita dos grãos <strong>de</strong> arroz, a palha <strong>de</strong>verá ser distribuída uniformemente sobre<br />

a superfície do solo, contribuindo para uma maior rugosida<strong>de</strong> superficial; o não<br />

revolvimento do solo e os efeitos das raízes em <strong>de</strong>composição irão auxiliar no aumento<br />

<strong>de</strong> infiltração <strong>de</strong> água no solo, maior controle da população <strong>de</strong> invasoras, menor<br />

evaporação <strong>de</strong> água do perfil e consequente maior armazenamento <strong>de</strong> água no perfil do<br />

solo.<br />

2. Algumas plantas <strong>de</strong> cobertura po<strong>de</strong>rão ser implantadas em Maio, sobre os resíduos da<br />

colheita do arroz, sempre permanece alguma humida<strong>de</strong> no solo facilitando a<br />

germinação e crescimento <strong>de</strong>ssas plantas. Além <strong>de</strong> protegerem o solo por longo tempo e<br />

efectuarem uma melhoria nas proprieda<strong>de</strong>s do solo, po<strong>de</strong>rão ser manejadas com rolofaca<br />

e, caso haja necessida<strong>de</strong> complementar com <strong>de</strong>ssecação, para novamente sobre<br />

os resíduos vegetais (palhada <strong>de</strong> arroz e resíduos das coberturas ver<strong>de</strong>s) na superfície<br />

do solo, se implantar o arroz em plantio direto, ou o próprio transplante diretamente no<br />

solo sem revolvimento.<br />

3. Algumas plantas <strong>de</strong> cobertura são sugeridas,<br />

tais como: mucunas, crotalarias, feijão<br />

nhemba (já existem resultados favoráveis<br />

tanto na colheita dos grãos <strong>de</strong> nhemba quanto<br />

nos restolhos que aumentaram o rendimento<br />

posterior <strong>de</strong> arroz), feijão bóer, e, também<br />

algumas espécies <strong>de</strong> inverno <strong>de</strong>vem ser<br />

testadas: ervilhaca peluda (Vicia villosa), nabo<br />

forrageiro (Raphanus sativus), tremoço branco<br />

(Lupinus albus), ou mesmo algumas<br />

gramíneas como moha (Setaria italica), sorgo<br />

forrageiro, Murumbi (Eleusine coracana),<br />

mexoeira, ou mesmo algumas mesclas <strong>de</strong><br />

gramíneas + leguminosas (crotalaria juncea +<br />

mapira ou crotalaria juncea + mexoeira; feijão<br />

bóer + mapira ou feijão bóer + mexoeira, etc.).<br />

Estas espécies po<strong>de</strong>rão ser semeadas para<br />

protegerem e melhorarem as proprieda<strong>de</strong>s do<br />

solo e posteriormente manejadas e/ou<br />

44<br />

Arroz <strong>de</strong> sequeiro consorciado com<br />

Calopogonio mucunoi<strong>de</strong>s (leguminosa<br />

perene). Após a colheita do arroz, a<br />

leguminosa continua crescendo, cobrindo<br />

e produzindo elevada quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

biomassa vegetal e melhoria das<br />

proprieda<strong>de</strong>s do solo


colhidos os grãos para posterior implantação do arroz e assim viabilizar a Agricultura <strong>de</strong><br />

Conservação nos campos <strong>de</strong> arroz.<br />

Sesbania + Arroz<br />

As sementes da leguminosa nativa Sesbania spp <strong>de</strong>vem ser coletadas no campo,<br />

juntamente com os camponeses e, será semeada em outubro (logo no inicio das 1as.<br />

chuvas), aí então no inicio <strong>de</strong> Dezembro esta leguminosa será cortada com catana/rolo-faca<br />

e <strong>de</strong>ixado os resíduos sobre a superfície do solo e, posteriormente será transplantado<br />

diretamente o arroz sem nenhum preparo do solo. Os passos necessários são os seguintes:<br />

Passo 1 Passo 2 Passo 3 Passo 4 Passo 5<br />

Sesbania<br />

(coleta <strong>de</strong><br />

sementes em<br />

Julho)<br />

Sesbania<br />

(semeadura no<br />

inicio <strong>de</strong><br />

Outubro)<br />

Sesbania (corte<br />

com catana rente<br />

ao solo, ou com<br />

rolo-faca e <strong>de</strong>ixar<br />

os resíduos sobre<br />

o solo no inicio <strong>de</strong><br />

Dezembro)<br />

5.1.2 Opções <strong>de</strong> rotação para gergelim<br />

Arroz (semeadura<br />

direta sobre os<br />

resíduos da<br />

Sesbania em<br />

Dezembro).<br />

Arroz (colheita<br />

em Maio/Junho<br />

do próximo<br />

ano).<br />

Por ser o gergelim uma cultura <strong>de</strong> renda importante aos camponeses, é necessário ainda<br />

testar e validar sequências a<strong>de</strong>quadas que possam viabilizar o sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong><br />

Conservação on<strong>de</strong> esteja incluído esta espécie.<br />

O gergelim é uma cultura que nas condições <strong>de</strong> Moçambique, geralmente tem sido cultivado<br />

consorciado com milho ou mapira ou isoladamente, entretanto algumas opções <strong>de</strong> plantas<br />

<strong>de</strong> cobertura po<strong>de</strong>rão ser associados ou rotacionadas com este cultivo.<br />

Uma rotação interessante é aquela <strong>de</strong> entrar com mucuna em Junho/Julho e <strong>de</strong>pois em fins<br />

<strong>de</strong> Outubro manejar com rolo-faca, po<strong>de</strong>ndo plantar milho em novembro e entrar com<br />

gergelim entre as fileiras <strong>de</strong> milho (em fevereiro), o milho será colhido em março e os<br />

restolhos do milho po<strong>de</strong>m ser cortados e <strong>de</strong>ixados sobre o solo (entre as fileiras <strong>de</strong><br />

gergelim). Em seguida po<strong>de</strong> se entrar com feijão nhemba ou feijão manteiga, ou crotalaria<br />

spectabilis/crotalaria breviflora, crotalaria nativa ou mesmo feijão bóer anão em plantio<br />

directo sobre os restolhos do milho. A seguir são apresentados esta e outras sugestões <strong>de</strong><br />

opções <strong>de</strong> sequência <strong>de</strong> cultivos:<br />

Sistema 1:<br />

Cultura<br />

a ser<br />

implantada<br />

Mucuna<br />

preta<br />

plantada em<br />

Junho/Julho<br />

Manejo<br />

Rolofaca<br />

em<br />

fins <strong>de</strong><br />

Outubro<br />

Nova cultura<br />

a ser<br />

implantada<br />

Plantio directo<br />

<strong>de</strong> Milho em<br />

Novembro<br />

Cultura<br />

a ser<br />

consorciada<br />

Gergelim<br />

consorciado<br />

plantado em<br />

fevereiro entre<br />

as fileiras <strong>de</strong><br />

milho<br />

Milho em Marco; em<br />

seguida entrar com<br />

feijão manteiga, ou<br />

feijão <strong>de</strong> porco, ou<br />

crotalaria<br />

spectabilis,<br />

crotalaria breviflora,<br />

crotalaria nativa<br />

e/ou feijão bóer<br />

anão<br />

Colheita<br />

Gergelim em Junho;<br />

Também em Junho /<br />

Julho po<strong>de</strong> ser<br />

colhido o feijão<br />

manteiga, ou ainda<br />

ser manejada as<br />

crotalarias, feijão <strong>de</strong><br />

porco, feijão bóer<br />

anão para posterior<br />

continuida<strong>de</strong> do<br />

sistema<br />

45


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

Sistema 2:<br />

Cultura<br />

a ser<br />

implantada<br />

Gergelim<br />

em<br />

Fevereiro<br />

46<br />

Cultura <strong>de</strong><br />

cobertura<br />

Após 30-45 dias da<br />

semeadura do<br />

gergelim, entrar com<br />

planta <strong>de</strong> cobertura<br />

entre as linhas <strong>de</strong><br />

gergelim: feijão <strong>de</strong><br />

porco, feijão bóer<br />

anão, feijão<br />

manteiga, Crotalarias<br />

(spectabilis /<br />

breviflora ou nativa),<br />

feijão mungo (mung<br />

beans)<br />

Colheita<br />

Gergelim será colhido<br />

em Junho; enquanto<br />

o feijão manteiga,<br />

nhemba, mung beans<br />

em julho; enquanto<br />

as plantas <strong>de</strong><br />

cobertura po<strong>de</strong>rão<br />

ser manejadas com<br />

rolo-faca também em<br />

Julho<br />

Nova<br />

cultura<br />

a ser<br />

implantada<br />

Em fins <strong>de</strong><br />

Julho se po<strong>de</strong><br />

entrar com<br />

Mucuna preta<br />

ou ainda com<br />

uma<br />

gramínea:<br />

Murumbi,<br />

Eragrostis teff,<br />

etc.<br />

Manejo<br />

ou colheita<br />

Em fins <strong>de</strong><br />

Outubro-<br />

Novembro: A<br />

mucuna<br />

po<strong>de</strong>rá ser<br />

manejada com<br />

rolo-faca; as<br />

gramíneas<br />

po<strong>de</strong>rão ser<br />

colhidas<br />

também nesta<br />

época<br />

Nova<br />

cultura<br />

Em Novembro<br />

po<strong>de</strong>-se entrar<br />

com milho em<br />

plantio directo<br />

e <strong>de</strong>pois dar a<br />

continuida<strong>de</strong><br />

no sistema<br />

(Como segue<br />

no Sistema<br />

01)<br />

Os sistemas 01 e 02 são sugestões baseadas em sequência <strong>de</strong> cultivos da região, assim<br />

como resultados que obviamente necessitam ser testados e validados pelos camponeses e<br />

técnicos, para então serem ajustados e difundidos massivamente aos <strong>de</strong>mais camponeses.<br />

• Deve ser evitado o uso excessivo <strong>de</strong> leguminosas na rotação, principalmente o consórcio<br />

com nhemba (pragas comuns), assim como o uso <strong>de</strong> cucurbitáceas (melancia, abóbora,<br />

pepinos, melão, etc.) na rotação com gergelim, haja visto que foram encontrados<br />

algumas doenças comuns e também virosis que po<strong>de</strong>rão prejudicar o gergelim.<br />

• O gergelim (Sesamum indicum) apresenta um sistema radicular bem <strong>de</strong>senvolvido e com<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> afofar solos a<strong>de</strong>nsados ou com camadas compactadas. Em áreas on<strong>de</strong><br />

ocorre alta infestação <strong>de</strong> striga sp., normalmente consequência <strong>de</strong> monoculturas e<br />

<strong>de</strong>gradação <strong>de</strong> solos, o gergelim é uma boa alternativa na rotação, pois o mesmo não<br />

favorece o <strong>de</strong>senvolvimento da striga. O feijão nhemba adapta-se bem à consorciação<br />

com gergelim, principalmente varieda<strong>de</strong>s não ramadoras, bem como o feijão bóer anão,<br />

feijão manteiga, caupi, mucuna anã, feijão arroz, feijão mungo, etc.<br />

Cultivo <strong>de</strong> gergelim no sistema <strong>de</strong><br />

Agricultura <strong>de</strong> Conservação em<br />

Chibuabuabua (Distrito <strong>de</strong> Dondo)


5.1.3 Opções <strong>de</strong> rotação para algodão<br />

Cultura<br />

a ser<br />

implantada<br />

Algodão<br />

(Out./Nov.)<br />

plantado<br />

diretamente<br />

sobre<br />

restolhos <strong>de</strong><br />

culturas<br />

anteriores<br />

(milho,<br />

nhemba,<br />

mapira,<br />

etc.), sem<br />

efetuar<br />

preparo do<br />

solo<br />

Cobertura<br />

consorciada<br />

Caso houver<br />

necessida<strong>de</strong><br />

executar sacha<br />

(40-50 dias <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento)<br />

e plantar 1 fileira<br />

<strong>de</strong> mucuna entre<br />

as fileiras <strong>de</strong><br />

algodão<br />

Manejo<br />

ou colheita<br />

Após a colheita do<br />

algodão, a mucuna que<br />

terá crescido<br />

consorciado ao<br />

algodão irá promover<br />

uma proteção do solo e<br />

evitar o crescimento <strong>de</strong><br />

invasoras. Po<strong>de</strong>rá ser<br />

manejada no<br />

florescimento /<br />

enchimento <strong>de</strong> vagens<br />

com rolo-faca ou<br />

catana. Ou ser <strong>de</strong>ixada<br />

para colheita <strong>de</strong><br />

sementes. Po<strong>de</strong>rá ser<br />

semeado/transplantado<br />

diferentes espécies<br />

horticolas (repolho,<br />

couve, tomate,<br />

pimento, etc.)<br />

Nova cultura Colheita<br />

Novamente<br />

nos meses<br />

<strong>de</strong> Outubro-<br />

Dezembro<br />

po<strong>de</strong>rá ser<br />

semado na<br />

sequênia<br />

milho ou<br />

mapira que<br />

<strong>de</strong>verá ser<br />

consorciado<br />

com<br />

nnhemba ou<br />

feijão bóer ou<br />

mesmo<br />

mucuna para<br />

<strong>de</strong>pois no<br />

ano seguinte<br />

voltar com<br />

algodão<br />

Após a colheita do milho<br />

ou mapira a cobertura<br />

ver<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r continuar<br />

crescendo até o<br />

florescimento/enchimento<br />

<strong>de</strong> vagens para ser<br />

manejada (rolo-faca ou<br />

catana) ou ainda ser<br />

<strong>de</strong>ixada para produção<br />

<strong>de</strong> sementes.<br />

Posteriormente pod-se<br />

novamente voltar com o<br />

algodão sendo semeado<br />

directamente sobre os<br />

residuos, sem preparo do<br />

solo<br />

No caso do algodão po<strong>de</strong>rá ainda ser semeado feijão nhemba ou lablab entre as fileiras <strong>de</strong><br />

algodão (40-50 dias após a semeadura do algodão).<br />

47


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

5.1.4 Opções <strong>de</strong> alguns sistemas incluindo o uso <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong><br />

cobertura<br />

1. Feijão bóer + Ananaseira<br />

O ananás (A) po<strong>de</strong>rá ter um compasso <strong>de</strong> 1.5m. entre fileiras, e 1m. entre plantas na linha.<br />

O feijão bóer (FB) será semeado 1 fileira a cada 3 fileiras <strong>de</strong> ananaseiras e, terá um<br />

compasso <strong>de</strong> 0.5m. entre covachos (2-3 sementes/covacho).<br />

48<br />

A A A FB A A A FB A A A FB A A A FB<br />

A A A FB A A A FB A A A FB A A A FB<br />

A A A FB A A A FB A A A FB A A A FB<br />

A A A FB A A A FB A A A FB A A A FB<br />

Também se conseguem bons efeitos <strong>de</strong> cobertura plantando feijão nhemba entre as fileiras<br />

dos ananaseiros.<br />

2. Mandioca + Feijão nhemba + Feijão bóer<br />

O compasso da mandioca (M) será <strong>de</strong> 2m. entre fileiras e 1m. entre plantas;<br />

O compasso do feijão nhemba (NH) será 2 fileiras intercalada entre cada fileira <strong>de</strong> mandioca<br />

(0.5m. um covacho <strong>de</strong> nhemba do outro);<br />

O feijão bóer (FB) será plantado a cada 3 fileiras <strong>de</strong> mandioca ou seja a cada 4m. será<br />

plantado 1 fileira da outra, espaçados em 0.5m. entre covachos (2-3 sementes/covacho).<br />

M NH NH M NH NH M FB NH M NH NH M FB<br />

M NH NH M NH NH M FB NH M NH NH M FB<br />

M NH NH M NH NH M FB NH M NH NH M FB<br />

M NH NH M NH NH M FB NH M NH NH M FB<br />

3. Mandioca + Mucuna<br />

A mandioca (M) po<strong>de</strong>rá ter o compasso <strong>de</strong> 2m. entre fileiras e 1m. entre plantas;<br />

A mucuna (MUC) será intercalada 2 fileiras entre cada fileira <strong>de</strong> mandioca, espaçadas a<br />

0.5m. entre fileiras e também entre covachos (2-3 sementes/covacho).<br />

M MUC MUC M MUC MUC M MUC MUC M<br />

M MUC MUC M MUC MUC M MUC MUC M<br />

M MUC MUC M MUC MUC M MUC MUC M<br />

M MUC MUC M MUC MUC M MUC MUC M


4. Feijão bóer para recuperação <strong>de</strong> solo extremamente <strong>de</strong>gradado<br />

O compasso do feijão bóer será <strong>de</strong> 1m. entre fileiras e 0.5m. entre covachos<br />

(2-3 sementes/covacho).<br />

5. Milho + Feijão bóer<br />

O milho (MI) terá o compasso <strong>de</strong> 1m. entre fileiras e 0.20m. entre covachos<br />

(2-3 sementes/covacho → efetuar <strong>de</strong>sbaste e <strong>de</strong>ixar com uma população final em torno <strong>de</strong><br />

50.000 plantas/hectare).<br />

O feijão bóer (FB) será intercalado 1 fileira ente cada fileira <strong>de</strong> milho, espaçados em 0.5 –<br />

0.6m. entre cada covacho (2-3 sementes/covacho).<br />

O milho <strong>de</strong>verá ser semeado primeiro e 30-40 dias após plantar o feijão bóer.<br />

MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB<br />

MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB<br />

MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB<br />

MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB<br />

6. Ricinus + Mucuna<br />

(para áreas altamente infestadas com nematói<strong>de</strong>s)<br />

O Ricinus (Ricinus communis) terá um compasso <strong>de</strong> 2m. entre fileiras e 1m. entre covachos<br />

(2 sementes/covacho).<br />

A mucuna (MUC) será semeada 2 fileiras intercaladas entre cada fileira <strong>de</strong> Ricinus, e<br />

espaçadas em 0.5m. entre cada covacho (2-3 sementes/covacho).<br />

R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R<br />

R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R<br />

R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R<br />

R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R<br />

49


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

7. Milho + Feijão nhemba + feijão bóer<br />

O feijão bóer (FB) terá um compasso <strong>de</strong> 2.4m. entre fileiras e 0.5m. entre covachos (2-3<br />

sementes/covacho);<br />

O milho (MI) terá um compasso <strong>de</strong> 0.8m. entre fileiras e, 0.30m. entre covachos (2-3<br />

sementes/covacho); e será semeado no meio das fileiras <strong>de</strong> feijão bóer (* vi<strong>de</strong> diagrama em<br />

anexo);<br />

O feijão nhemba (NH) será semeado 3 fileiras entre as fileiras <strong>de</strong> feijão bôer e milho,<br />

espaçados em 0.8m. entre as fileiras e 0.5m. entre covachos (2-3 sementes/covacho).<br />

O milho <strong>de</strong>verá ser semeado primeiro, 30-40 dias após <strong>de</strong>verá se plantar o feijão bóer e<br />

feijão nhemba.<br />

50<br />

FB NH MI NH MI NH FB NH MI NH MI NH FB<br />

FB NH MI NH MI NH FB NH MI NH MI NH FB<br />

FB NH MI NH MI NH FB NH MI NH MI NH FB<br />

FB NH MI NH MI NH FB NH MI NH MI NH FB<br />

8. Feijão bóer + Mucuna (ou Stylosanthes sp.)<br />

(para áreas com solos <strong>de</strong>gradados)<br />

O feijão bóer (FB) terá o compasso <strong>de</strong> 1.5m. entre fileiras e 0.5m. entre covachos (2-3<br />

sementes/covacho).<br />

A mucuna (ou stylosanthes) será semeado 2 fileiras intercalada entre cada fileira <strong>de</strong> bóer;<br />

sendo espaçado em 0.5m. entre fileiras e 0.5m. entre covachos (2-3 sementes/covacho<br />

para a mucuna e 5-8 sementes para o stylosanthes).<br />

FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC<br />

FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC<br />

FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC<br />

FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC<br />

O diagrama po<strong>de</strong>rá ser também para o stylosanthes consorciado com o feijão bóer (FB).<br />

9. Milho + Feijão bóer + Mapira<br />

No consórcio <strong>de</strong> plantas abaixo distribuídas, o milho é recomendado o plantio em fins <strong>de</strong><br />

outubro, a mapira em novembro/<strong>de</strong>zembro e o feijão bóer aos 30-40 dias após a semeadura<br />

do milho (* diagrama <strong>de</strong> distribuição das plantas).<br />

0.80m 0.80m 0.80m 0.80m 0.80m 0.80m 0.80m 0.80m 0.80m<br />

M M FB MAP FB M M FB MAP FB<br />

M M FB MAP FB M M FB MAP FB<br />

M M FB MAP FB M M FB MAP FB<br />

M M FB MAP FB M M FB MAP FB<br />

M M FB MAP FB M M FB MAP FB<br />

M M FB MAP FB M M FB MAP FB<br />

M: milho; FB: feijão bóer; MAP: mapira


Conforme vai se efetuando a colheita das diferentes espécies irá se proce<strong>de</strong>ndo a<br />

seqüência abaixo indicada:<br />

Julho – Ano 1 Outubro – Ano 2 Fevereiro – Ano 3 Julho/Agosto – Ano4<br />

FB (colheita <strong>de</strong> grãos)<br />

Pós-colheita <strong>de</strong> mapira<br />

Feijão bóer (FB)<br />

(colheita <strong>de</strong> grãos)<br />

Milho (colheita)<br />

FB (poda a 0.40m.<strong>de</strong><br />

altura)<br />

Girassol (plantio)<br />

Amendoim (plantio)<br />

FB (poda a 0.40m.<strong>de</strong><br />

altura)<br />

NH (plantio)<br />

NH (plantio)<br />

Milho (colheita) NH (plantio)<br />

FB (colheita <strong>de</strong> grãos)<br />

FB (poda a 0.40m.<strong>de</strong><br />

altura)<br />

FB em crescimento Colheita <strong>de</strong> FB<br />

Colheita e plantio <strong>de</strong><br />

lablab (2 fileiras)<br />

Colheita lablab<br />

FB em crescimento Colheita <strong>de</strong> FB<br />

Colheita do feijão<br />

nhemba (NH)<br />

Feijão manteiga<br />

(plantio)<br />

Feijão manteiga<br />

(plantio)<br />

Feijão manteiga<br />

(plantio)<br />

FB em crescimento Colheita <strong>de</strong> FB<br />

Com esta integração e seqüência <strong>de</strong> culturas, se utiliza plantas usadas na alimentação<br />

humana e ao mesmo tempo melhoradoras <strong>de</strong> solos: nhemba, lablab, girassol, amendoim,<br />

feijão bóer, etc. O lablab, girassol e amendoim contribuem para melhorar os atributos<br />

químicos do solo (adição <strong>de</strong> nitrogênio e outros nutrientes reciclados), além <strong>de</strong> contribuírem<br />

juntamente com feijão bóer e nhemba na diminuição da striga e no aumento da matéria<br />

orgânica do solo. O girassol é uma alternativa na produção <strong>de</strong> óleo vegetal (alimentação<br />

humana e biodiesel). O lablab é uma leguminosa rústica e com alta capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tolerar<br />

secas prolongadas e, portanto com potencial <strong>de</strong> continuar produzindo biomassa e grãos<br />

mesmo na época seca (outono/inverno).<br />

51


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

5.1.5 Sugestões <strong>de</strong> algumas opções <strong>de</strong> diagrama sequencial <strong>de</strong> culturas<br />

A seguir são feitas algumas sugestões <strong>de</strong> diferentes possíveis seqüências <strong>de</strong> culturas<br />

incluindo cultura (subsistência/mercado) e plantas <strong>de</strong> cobertura (recuperadora <strong>de</strong> solos).<br />

Obviamente são apenas sugestões, não há receitas prontas e acabadas para se aplicar<br />

diretamente a uma <strong>de</strong>terminada região da Província <strong>de</strong> Sofala, mas a rotação a<strong>de</strong>quada<br />

<strong>de</strong>ve ser planejada e executada conforme as condições locais, solo, clima, interesses do<br />

produtor e acima <strong>de</strong> tudo após um bom diagnostico <strong>de</strong> toda a área da machamba. Visando<br />

um uso e manejo a<strong>de</strong>quado e produção sustentável ao longo dos anos.<br />

CAMPANHAS (por exemplo: ano 1, 2, 3, 4 e 5)<br />

52<br />

1/2 2/2 2/3 3/4 4/5<br />

Plantio Outubro<br />

Milho +<br />

Plantio ou<br />

transplante<br />

Abril / Maio<br />

Batata doce ou<br />

Feijão manteiga<br />

Plantio<br />

Out. / Nov.<br />

Mapira +<br />

Plantio<br />

Abril / Julho /<br />

Out.<br />

Mandioca<br />

(Julho/Out.)<br />

Plantio<br />

Out. / Nov.<br />

Milho +<br />

Mucuna Feijão bóer Mucuna<br />

Milho + Cebola Milho +<br />

Feijão bóer Mucuna<br />

Milho +<br />

Ervilha –<br />

(regiões <strong>de</strong><br />

altitu<strong>de</strong>, clima<br />

mais fresco)<br />

Mapira +<br />

Nhemba Feijão bóer<br />

Alho<br />

(Abril)<br />

Sugar beans<br />

(Maio)<br />

Mapira<br />

Mexoeira


5.1.6 Sistemas <strong>de</strong> consorciação e rotação em diferentes sistemas <strong>de</strong><br />

produção<br />

O manejo <strong>de</strong> diferentes agro-ecosistemas, quer seja em sistemas <strong>de</strong> cultivos anuais ou<br />

mesmo em sistemas com cultivos perenes, <strong>de</strong>vem ser observados as condições específicas<br />

do local (clima, solo, etc.), para que se possa fazer uso <strong>de</strong> algumas opções <strong>de</strong> plantas<br />

protetoras e melhoradoras das proprieda<strong>de</strong>s do solo, entre as quais são sugeridas:<br />

Banana em cultivo isolado: Po<strong>de</strong>rá ser intercalada com mucunas, guandu, feijão <strong>de</strong><br />

porco, feijão bravo do Ceará, Indigofera sp., amendoim forrageiro perene (Arachis<br />

pintoi).<br />

Banana consorciada com milho e feijão (vulgar, nhemba): após a colheita do feijão,<br />

diversas opções po<strong>de</strong>m ocupar este espaço entre as fileiras <strong>de</strong> milho: mucuna preta ou<br />

cinza, mucura anã, feijão bóer anão, crotalaria juncea, crotalaria grahamiana, crotalaria<br />

spectabilis, clitoria ternatea, etc.<br />

Feijão (vulgar ou nhemba) po<strong>de</strong> ser rotacionado com mexoeira, mapira, capim moha<br />

(Setaria italica), marumbi (Eleusine corocana), e também com leguminosas (Crotalaria<br />

juncea ou guandu em mistura com gramíneas: mexoeira, setaria, mapira, murumbi, etc.).<br />

Mandioca (individual ou intercalada com milho, mapira, girassol, amendoim, mexoeira,<br />

feijão (vulgar ou nhemba), feijão mungo, feijão bóer, etc.): após a colheita das culturas<br />

<strong>de</strong> ciclo curto, a mandioca po<strong>de</strong>rá ainda, caso haja disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> umida<strong>de</strong>, ser<br />

consorciada com guandu anão, Crotalaria spectabilis, feijão <strong>de</strong> porco, etc. Portanto, no<br />

plantio <strong>de</strong> mandioca sobre restolhos e/ou plantas <strong>de</strong> cobertura, não há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

confecção <strong>de</strong> camalhões. Resultados obtidos no Paraguai com mandioca sobre<br />

restolhos <strong>de</strong> milho + mucuna alcançaram até 53 ton./ha <strong>de</strong> raízes <strong>de</strong> mandioca.<br />

Milho ou mapira consorciado com feijão (vulgar, nhemba, mungo): após a colheita do<br />

feijão, estes cereais po<strong>de</strong>rão ainda ser intercalados com mucunas, feijão bóer, feijão <strong>de</strong><br />

porco, crotalaria juncea intercalada com gramíneas (mexoeira, Setaria italica, ou<br />

murumbi). Camponeses que possuem áreas <strong>de</strong> milho, mexoeira ou mapira consorciado<br />

com feijão bóer, é recomendado que após a colheita do cereal, espere-se o momento<br />

a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> colheita do feijão bóer, on<strong>de</strong> os grãos po<strong>de</strong>rão ser usados na alimentação<br />

humana e mercado e, após isso com catana se proceda a poda das plantas <strong>de</strong> bóer<br />

(aos 40-60 cm. da superfície do solo). A poda nessa altura irá proporcionar melhores<br />

índices <strong>de</strong> rebrote; e também oferecendo outras opções <strong>de</strong> cultivos intercalados ao feijão<br />

bóer (feijão manteiga, mapira, nhemba, murumbi, etc.,) <strong>de</strong>ssa forma promovendo a<br />

rotação <strong>de</strong> culturas, ao invés da monocultura do milho.<br />

Batata doce: po<strong>de</strong>rá ser implantada sobre mulch <strong>de</strong> amendoim forrageiro perene<br />

(Arachis pintoi), Centrosema pubescens, mucunas + restolhos <strong>de</strong> milho e/ou mapira,<br />

Calopogonio mucunoi<strong>de</strong>s, soja perene ( Glycine wightii), Indigofera sp.. Portanto, não ha<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se efetuar camalhões para transplante <strong>de</strong> batata doce, principalmente<br />

em solos arenosos e/ou francos, sendo a partir do 2 o . ano os resultados bastante<br />

favoráveis no aumento da produção da batata doce e, principalmente na facilida<strong>de</strong> e<br />

diminuição do uso <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra.<br />

Algodão isolado ou consorciado com nhemba (varieda<strong>de</strong>s não ramadoras), po<strong>de</strong>rá ser<br />

rotacionado com:<br />

1) Milho/mapira (intercalado com diferentes combinações <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura<br />

listadas);<br />

2) Leguminosas: feijão (nhemba, vulgar, mungo), mucunas;<br />

3) Mandioca (solteira ou consorciada).<br />

53


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

54<br />

BATATA<br />

RENO<br />

FEIJÃO<br />

MANTEIGA<br />

SUGAR<br />

BEANS<br />

MANDIOCA<br />

Po<strong>de</strong>rá ser plantada em Março/Abril sobre Milho (mapira) + Mucuna; ou<br />

ainda sobre Milho (mapira) + Nhemba.<br />

O milho/mapira após ser colhido, a mucuna <strong>de</strong>verá ser manejada com<br />

catana e/ou rolo-faca e posteriormente plantado a batata.<br />

No caso do consórcio com Nhemba, também tanto o milho/mapira quanto o<br />

Nhemba <strong>de</strong>verão ser colhidos e posteriormente manejados os resíduos e<br />

implantado a cultura <strong>de</strong> batata.<br />

A amontoa da batata (35-50 dias após plantio) <strong>de</strong>ve ser com enxadas e,<br />

posteriormente o solo coberto novamente com restolhos.<br />

A colheita da Batata Reno <strong>de</strong>verá ser em Agosto/Setembro.<br />

O plantio po<strong>de</strong>rá ser efectuado em Maio sobre os resíduos <strong>de</strong> Milho +<br />

Mucuna.<br />

O milho que foi previamente plantado em Outubro/Novembro,<br />

posteriormente a Mucuna <strong>de</strong>verá ser plantada intercaladamente em torno<br />

45 dias após; após a colheita do milho a mucuna <strong>de</strong>verá ser manejada com<br />

catana e/ou rolo-faca.<br />

A colheita do feijão manteiga <strong>de</strong>verá ser feita em Julho/Agosto.<br />

Po<strong>de</strong>rá ser plantado sobre os resíduos <strong>de</strong> “MURUMBI” ou “ruquesa” ou<br />

“milho miúdo” (Eleusine coracana) que foi previamente semeado em<br />

Novembro/Dezembro e colhido em Abril, sendo manejado os resíduos para<br />

posteriormente em Maio ser plantado Sugar Beans (para consumo e<br />

principalmente para o mercado). Ou mesmo sobre milho/mapira + mucuna.<br />

Neste caso, o milho que foi previamente plantado em Outubro/Novembro,<br />

posteriormente a Mucuna <strong>de</strong>verá ser plantada intercaladamente em torno<br />

45 dias após; após a colheita do milho a mucuna <strong>de</strong>verá ser manejada com<br />

catana e/ou rolo-faca e plantado o sugar beans.<br />

A colheita do Sugar beans <strong>de</strong>ve ser em Julho/Agosto.<br />

O plantio da mandioca po<strong>de</strong>rá ser em Agosto/outubro (<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo das<br />

chuvas), sobre os resíduos <strong>de</strong> Milho + Mucuna ou ainda sobre os resíduos<br />

<strong>de</strong> Mapira + Mucuna. Neste caso, após a colheita dos grãos <strong>de</strong> Milho e <strong>de</strong><br />

Mapira, os resíduos <strong>de</strong>ssas gramíneas juntamente com a mucuna <strong>de</strong>verão<br />

ser manejados com catana e/ou rolo-faca e posteriormente implantado a<br />

Mandioca.<br />

Após 45 dias do plantio da mandioca, diferentes leguminosas po<strong>de</strong>rão ser<br />

consorciadas entre as fileiras <strong>de</strong> mandioca: nhemba, feijão bóer anão,<br />

crotalarias, mucuna anã, feijão <strong>de</strong> porco, feijão Mungo (Vigna radiata), etc.<br />

Caso houver umida<strong>de</strong> disponível, após a colheita/manejo da leguminosa,<br />

existe a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se implantar sobre estes resíduos, ainda uma<br />

outra espécie <strong>de</strong> cobertura protetora e melhoradora <strong>de</strong> solos.<br />

No cultivo <strong>de</strong> mandioca não é recomendável rotacionar com nabo forrageiro<br />

por aumentar os problemas <strong>de</strong> podridões radiculares (Fusarium sp.,<br />

Rhizoctonia sp., etc.), mas preferentemente após milho + mucuna, ou<br />

mapira + mucuna, ou ainda milho + nhemba ou mapira }+ nhemba, ou em<br />

áreas <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong> rotacionar com espécies <strong>de</strong> outono/inverno (ervilhacas,<br />

ervilha forrageira, aveia preta etc.).<br />

A colheita da mandioca <strong>de</strong>verá ser em Maio/Julho do ano seguinte.


5.1.7 Indicação <strong>de</strong> protocolo para produção <strong>de</strong> batata reno<br />

Propostas para 2 situações:<br />

1) Batata sobre plantas <strong>de</strong> cobertura: mucuna, feijão bóer, feijão nhemba,<br />

leguminosas nativas, etc.<br />

Na seleção das áreas, procurar escolher as áreas que possuam maior fertilida<strong>de</strong> natural<br />

e maiores teores <strong>de</strong> matéria orgânica do solo.<br />

Manejo das plantas <strong>de</strong> cobertura: catana, foice, rolo-faca, herbicidas.<br />

Efetuar sacha e/ou capina das invasoras (se necessário).<br />

Abertura do sulco (enxada, tração animal, tração tractorizada).<br />

Aplicar fertilizante orgânico (estrumes, compostagem) e/ou mineral <strong>de</strong>ntro do sulco,<br />

misturar com solo no fundo do sulco.<br />

Seleção/Escolha <strong>de</strong> batatas uniformes <strong>de</strong> tamanho médio (preferentemente), ou caso<br />

haja pouca disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sementes, fraccionar/colocar cinzas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira/<strong>de</strong>ixar em<br />

camadas intercaladas por capim (0.10m.), para provocar/acelerar o brotamento:<br />

Capim<br />

Batatas<br />

Capim<br />

batatas<br />

Quando em torno <strong>de</strong> 70% das batatas estiverem brotando, efetuar o plantio da batata<br />

reno <strong>de</strong>ntro do sulco.<br />

Aos 35-50 dias (início das tuberização) proce<strong>de</strong>r a sacha e amontoa com enxadas<br />

(chegada <strong>de</strong> terra aos pés da batata, sem revolver excessivamente o solo).<br />

Cortar capim e cobrir o solo próximo às plantas (sobre o solo adicionado aos pés da<br />

batata).<br />

Colheita manual através <strong>de</strong> enxadas ou tração animal (normalmente em<br />

setembro/outubro).<br />

Pós-colheita: proce<strong>de</strong>r um nivelamento do terreno (enxadas).<br />

Implantar milho ou mapira (Novembro/<strong>de</strong>zembro).<br />

Em torno <strong>de</strong> 45 dias após consorciar com mucuna e/ou feijão nhemba.<br />

Caso houver incidência <strong>de</strong> doenças proce<strong>de</strong>r controle conforme recomendação<br />

local/regional. Em caso <strong>de</strong> ataque <strong>de</strong> pragas → utilizar preferentemente medidas <strong>de</strong><br />

controle através <strong>de</strong> produtos biológicos com plantas insecticidas e outros (mutica,<br />

siringa, tabaco, Nim, folhas e sementes <strong>de</strong> papaia, etc.).<br />

55


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

2) Batata sobre restolhos <strong>de</strong> milho, mapira e mexoeira<br />

Na seleção das áreas, procurar escolher as áreas que possuam maior fertilida<strong>de</strong> natural<br />

e maiores teores <strong>de</strong> matéria orgânica do solo.<br />

Manejo dos restolhos: após a colheita <strong>de</strong> milho, mapira ou mexoeira, procurar distribuir<br />

uniformemente os restolhos sobre o solo (sachar as invasoras e necessário).<br />

Efetuar sacha e/ou capina das invasoras (se necessário).<br />

Abertura do sulco (enxada, tração animal, tração tractorizada).<br />

Aplicar fertilizante orgânico (estrumes, compostagem) e/ou mineral <strong>de</strong>ntro do sulco,<br />

misturar com solo no fundo do sulco.<br />

Seleção/Escolha <strong>de</strong> batatas uniformes <strong>de</strong> tamanho médio (preferentemente), ou caso<br />

haja pouca disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sementes, fraccionar/colocar cinzas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira/<strong>de</strong>ixar em<br />

camadas intercaladas por capim (0.10m.), para provocar/acelerar o brotamento:<br />

56<br />

Capim<br />

Batatas<br />

Capim<br />

Batatas<br />

Quando em torno <strong>de</strong> 70% das batatas estiverem brotando, efetuar o plantio da batata<br />

reno <strong>de</strong>ntro do sulco.<br />

Aos 35-50 dias (início das tuberização) proce<strong>de</strong>r a sacha e amontoa com enxadas<br />

(chegada <strong>de</strong> terra aos pés da batata, sem revolver excessivamente o solo).<br />

Cortar capim e cobrir o solo próximo às plantas (sobre o solo adicionado aos pés da<br />

batata).<br />

Colheita manual através <strong>de</strong> enxadas ou tração animal (normalmente em<br />

setembro/outubro).<br />

Pós-colheita: proce<strong>de</strong>r um nivelamento do terreno (enxadas).<br />

Efetuar plantio <strong>de</strong> mucuna ou feijão nhemba ou faixas <strong>de</strong> 3 metros com mucuna (5-6<br />

fileiras <strong>de</strong> mucuna espaçadas em 0.50m.) intercaladas com nhemba (5 fileiras <strong>de</strong><br />

nhemba espaçadas em 0.50m.) . Isto irá promover a possibilida<strong>de</strong> da colheita dos grãos<br />

e, também auxiliar no aumento da cobertura, proteção e melhoria das proprieda<strong>de</strong>s do<br />

solo, além <strong>de</strong> diminuir os riscos <strong>de</strong> proliferação <strong>de</strong> pragas e/ou doenças.<br />

Caso seja optado por este cultivo em faixas (mucuna e feijão nhemba):<br />

1º. Passo – colheita dos grãos <strong>de</strong> nhemba<br />

2º. Passo – Mucuna <strong>de</strong>verá ser manejada com catana, foice, rolo-faca no<br />

florescimento/enchimento <strong>de</strong> vagens.<br />

Após este manejo, a área já estará apta para receber novas culturas (cereais, hortícolas<br />

ou mesmo batata).<br />

Caso houver incidência <strong>de</strong> doenças proce<strong>de</strong>r controle conforme recomendação<br />

local/regional. Em caso <strong>de</strong> ataque <strong>de</strong> pragas → utilizar preferentemente medidas <strong>de</strong><br />

controle através <strong>de</strong> produtos biológicos com plantas insecticidas e outros (mutica,<br />

siringa, tabaco, Nim, folhas e sementes <strong>de</strong> papaia, etc.).


5.1.8 Rotação com espécies hortícolas<br />

As diferentes espécies hortícolas normalmente apresentam melhor <strong>de</strong>senvolvimento quando<br />

<strong>de</strong>vidamente sequenciadas por outras espécies. Resultados promissores tem sido<br />

alcançados quando em um mesmo solo sejam cultivados hortícolas <strong>de</strong> formas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento e necessida<strong>de</strong>s nutricionais diferentes. As hortícolas que produzem folhas<br />

consomem mais nitrogênio, as hortícolas que produzem bulbos, raízes, tubérculos, rizomas,<br />

geralmente necessitam maiores quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> potássio, enquanto as leguminosas<br />

geralmente extraem maiores quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fósforo do solo.<br />

Dessa forma, para que ocorra um maior equilíbrio no solo, não se <strong>de</strong>ve repetir na mesma<br />

área hortícolas da mesma família e com características semelhantes, mas sim buscar<br />

seqüências alternadas (espécies e hábitos).<br />

Quando empregamos espécies como couve flor e outras hortícolas ver<strong>de</strong>s (alface,<br />

espinafre, acelga, couves, etc.) exigentes em nitrogênio, o solo <strong>de</strong>verá ter um suplemento<br />

com fertilização orgânica e, no próximo ano fazer cultivos <strong>de</strong> leguminosas como ervilhas,<br />

feijões, etc. que irão reconstituir e melhorar o solo, po<strong>de</strong>ndo também estas hortícolas ver<strong>de</strong>s<br />

serem seguidas do cultivo <strong>de</strong> hortícolas <strong>de</strong> raízes, bulbos, etc. (beterraba, cenoura, cebola,<br />

alho, batata, etc.) (Calegari & Peñalva, 1999). As leguminosas normalmente são mais<br />

exigentes em fósforo e, as hortícolas <strong>de</strong> raízes, bulbos, tubérculos, são espécies que<br />

extraem elevadas quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> potássio e fósforo. Dessa forma, a rotação é fundamental<br />

para um melhor aproveitamento e equilíbrio dos nutrientes do solo, não correndo riscos, com<br />

a repetição <strong>de</strong> espécies do mesmo tipo, <strong>de</strong> ocorrer esgotamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado nutriente,<br />

além dos maiores riscos <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> doenças e/ou pragas comuns.<br />

Num a<strong>de</strong>quado cultivo <strong>de</strong> hortícolas, <strong>de</strong>ve-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o inicio, ter como regra geral, quando<br />

se efetuar o cultivo <strong>de</strong> uma espécie exigente em nutrientes, em seguida, seguir com uma<br />

espécie menos exigente em nutrientes e que aproveite os resíduos da cultura anterior.<br />

A rotação <strong>de</strong> culturas é fundamental para um cultivo sustentável <strong>de</strong> hortícolas, ou seja,<br />

estabelecer seqüências <strong>de</strong> diferentes famílias intercaladas por plantas <strong>de</strong> cobertura<br />

(mucunas, crotalarias, feijão nhemba, murumbi, mapira, etc.), que terão efeitos favoráveis,<br />

tais como:<br />

Melhoria das proprieda<strong>de</strong>s do solo e reciclagem <strong>de</strong> nutrientes;<br />

Quebra <strong>de</strong> ciclo <strong>de</strong> pragas e/ou doenças (nematói<strong>de</strong>s), contribuindo para a diminuição<br />

do potencial <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong>sses organismos;<br />

Aumento no rendimento das diferentes espécies hortícolas.<br />

Cebola transplantada sobre capim no sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

(Grupo Batista – Guara Guara- Búzi)<br />

57


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

Não é aconselhável o plantio sucessivo durante vários anos <strong>de</strong> plantas da mesma família,<br />

como p. ex. as solanáceas (tomate, batata, berinjela, pimentão), o das cucurbitáceas<br />

(pepino, melancia, abóbora, melão, etc.), isto, em razão <strong>de</strong> pertencer a mesma família e,<br />

consequentemente po<strong>de</strong>rem apresentar pragas e doenças comuns.<br />

58<br />

Produção <strong>de</strong> alface e pimento<br />

no sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

Na produção <strong>de</strong> hortícolas, um dos fatores <strong>de</strong>cisivos no <strong>de</strong>senvolvimento e produção final<br />

das diferentes espécies é o viveiro <strong>de</strong> mudas. Portanto, é recomendável que o solo do<br />

viveiro <strong>de</strong>va ter uma cobertura com resíduos vegetais, emprego <strong>de</strong> estrumes, compostagem,<br />

cinzas, restolhos <strong>de</strong> leguminosas nativas e utilização <strong>de</strong> rotação <strong>de</strong> culturas.<br />

As hortícolas na área <strong>de</strong> cultivo, além <strong>de</strong> se utilizar <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura e/ou espécies<br />

gramíneas (ruquesa, mexoeira, capim moha – Setaria italica) normalmente, ten<strong>de</strong>m a<br />

eliminar a fonte <strong>de</strong> inóculos e diminuir a ocorrência <strong>de</strong> podridões radiculares e outras<br />

doenças. Também o uso <strong>de</strong> alguns produtos biológicos no manejo <strong>de</strong> pragas e/ou doenças<br />

(podridões radiculares e outras), tem mostrado resultados muito satisfatórios quando as<br />

pequenas mudas <strong>de</strong> plantas ainda se encontram na fase inicial <strong>de</strong> crescimento. Dentre as<br />

diferentes alternativas, uma <strong>de</strong>las é a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se utilizar 300gramas <strong>de</strong> sementes<br />

<strong>de</strong> siringa (mfuta, mquina) – Ricinus communis, misturada com 3 folhas ver<strong>de</strong>s <strong>de</strong> papaia,<br />

esmagada e misturada com 5 litros <strong>de</strong> água (<strong>de</strong>ixar em repouso por 72 horas). Após a<br />

filtragem, a solução po<strong>de</strong> ser usada para pulverizar sobre o viveiro <strong>de</strong> mudas, controlando<br />

algumas pragas e também o “Dumping off” (Fusarium spp.) que é um fungo que ataca novas<br />

plantas no viveiro.<br />

A cebola é uma cultura bastante comum na Província <strong>de</strong> Sofala, sendo bastante comum o<br />

aparecimento <strong>de</strong> doenças, principalmente Alternaria spp. Gran<strong>de</strong> parte da ocorrência <strong>de</strong><br />

doenças em hortícolas e outras culturas são <strong>de</strong>vido à monocultura contínua por vários anos,<br />

o que provoca a perpetuação dos inóculos no solo e nos resíduos culturais <strong>de</strong>ixados na<br />

área. O tratamento <strong>de</strong> sementes é uma medida <strong>de</strong> prevenção, que po<strong>de</strong> ser efetuada com<br />

fungicidas (Captan, Thiran, Benomil, etc.) ou mesmo com o uso <strong>de</strong> água quente no<br />

tratamento das sementes (*vi<strong>de</strong> em anexo). E um outro importante aspecto, é a mudança do<br />

viveiro <strong>de</strong> área, ou seja, quando o viveiro utiliza repetidamente o mesmo local para produção<br />

das mudas, os inóculos também ten<strong>de</strong>m a permanecer na área e contaminar as plantas.<br />

Um dos pioneiros da Agricultura <strong>de</strong><br />

Conservação no Distrito <strong>de</strong> Dondo:<br />

Sr. Sithole - mostrando campo <strong>de</strong><br />

cebola iniciado em 2002<br />

Experiências positivas comprovadas por<br />

camponeses no cultivo <strong>de</strong> tomate aplicando<br />

o sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação –<br />

Província Sofala


BATATA DOCE<br />

CEBOLA<br />

ALHO<br />

REPOLHO<br />

TOMATE /<br />

PIMENTO<br />

Po<strong>de</strong> ser implantada em Abril/Maio sobre Milho + Mucuna ou mesmo<br />

após mapira + mucuna, ou sobre resíduos <strong>de</strong> Indigofera sp., <strong>de</strong> Arachis<br />

pintoi (amendoim forrageiro perene). Após a colheita do cereal, o uso <strong>de</strong><br />

catana e/ou rolo-faca serão importantes no manejo e, 8-10 dias após o<br />

manejo po<strong>de</strong>-se efetuar o transplante da batata doce.<br />

Não há necessida<strong>de</strong> da construção <strong>de</strong> camalhões para transplante da<br />

batata doce. Decorridos 2-3 anos com uso a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> rotação o solo<br />

ficará cada vez mais macio e apto para um bom <strong>de</strong>senvolvimento e<br />

produção da batata.<br />

A colheita da batata doce <strong>de</strong>verá ser em Setembro/Outubro.<br />

Po<strong>de</strong> ser transplantada em Março/Junho sobre Milho + Mucuna, milho +<br />

mapira, etc.<br />

A colheita da cebola <strong>de</strong>verá ser em Agosto/Setembro.<br />

Po<strong>de</strong>rá ser plantado em Março/Abril sobre Milho + Mucuna, mapira +<br />

mucuna. Atentar para o momento da diferenciação, época em que se<br />

inicia a formação <strong>de</strong> “<strong>de</strong>ntes” do alho (diferenciação), <strong>de</strong>ve-se cessar a<br />

rega por 15-20 dias, para que ocorra um stress na planta e, então possa<br />

<strong>de</strong>stinar mais nutrientes aos <strong>de</strong>ntes e aumentar o crescimento e<br />

produtivida<strong>de</strong>.<br />

O alho <strong>de</strong>verá ser colhido em Agosto/Setembro.<br />

Po<strong>de</strong>rá ser transplantado em Março/Abril sobre resíduos <strong>de</strong> Mexoeira +<br />

Mucuna (que <strong>de</strong>ve ser plantado em Outubro/Novembro; material <strong>de</strong> ciclo<br />

curto): 3-4 meses; ou mesmo após milho + mucuna.<br />

A mucuna nessa condição <strong>de</strong>ve ser plantada intercaladamente em torno<br />

<strong>de</strong> 45 dias após a semeadura do cereal; sendo que após a colheita do<br />

milho/mapira, juntamente com os resíduos da gramínea ser manejado<br />

com catana e/ou rolo-faca e, posteriormente transplantado o repolho.<br />

A colheita do repolho <strong>de</strong>verá ser efectuado em Julho/Agosto.<br />

Po<strong>de</strong>rá ser transplantado em Marco/Junho sobre resíduos <strong>de</strong> mexoeira +<br />

mucuna, ou mesmo milho + mucuna (que <strong>de</strong>veriam ter sido plantados<br />

em Outubro/Dezembro do ano anterior).<br />

A mucuna <strong>de</strong>ve ser plantada aos 35-45 dias após o plantio do cereal e,<br />

após a colheita do milho/mapira, manejar com rolo-faca 5-10 dias antes<br />

do transplante do tomate/pimento. Caso não houver bom acúmulo <strong>de</strong><br />

mulch, aconselha-se adicionar mais capim cortado externamente sobre a<br />

superfície do solo, para que as culturas possam aproveitar <strong>de</strong> todos os<br />

benefícios <strong>de</strong>ste sistema.<br />

A colheita do tomate geralmente ocorre em torno <strong>de</strong> 3 meses após o<br />

transplante.<br />

59


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

5.2 Efeitos da rotação na ocorrência <strong>de</strong> pragas e doenças<br />

A rotação <strong>de</strong> culturas incluindo plantas <strong>de</strong> diferentes famílias é uma importante forma <strong>de</strong><br />

diminuir os efeitos das pragas e doenças, principalmente pela <strong>de</strong>struição do habitat e<br />

interrupção do ciclo <strong>de</strong>stes organismos no solo. Geralmente o ataque <strong>de</strong> pragas e doenças<br />

ocorre mais sobre plantas mal nutridas e/ou com níveis <strong>de</strong> nutrientes <strong>de</strong>sequilibrados.<br />

Assim, o bom suprimento <strong>de</strong> nutrientes propiciando um bom vigor às plantas é fundamental<br />

para conferir maior resistência às plantas.<br />

Diversas espécies <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura po<strong>de</strong>m ser cultivadas, além <strong>de</strong> melhorar as<br />

proprieda<strong>de</strong>s do solo, também minimizar a incidência dos efeitos prejudiciais das pragas e<br />

doenças no solo e nas culturas. Outras espécies, através dos exudados radiculares ou<br />

ácidos orgânicos <strong>de</strong> seus tecidos tem efeito nematicida no solo. No caso da mandioca,<br />

quando processada para a preparação <strong>de</strong> farinha, o resíduo liquido que possui alta<br />

concentração <strong>de</strong> HCN (ácido cianídrico), quando aplicado sobre o solo terá efeitos<br />

favoráveis no controle <strong>de</strong> várias espécies <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s.<br />

Conforme Sharma et al., 1982; Santos & Ruano, 1987 a utilização a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> diversas<br />

espécies <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura, po<strong>de</strong>m representar um dos meios mais valiosos e<br />

econômicos no controle <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s, além <strong>de</strong> inúmeros outros benefícios ao sistema<br />

solo-água-planta.<br />

Trabalhos realizados em Londrina, Paraná, Brasil por Kryzanowski & Calegari,1997 (dados<br />

não publicados) tem mostrado que a moha (Setaria italica L.) é uma espécie que tem<br />

<strong>de</strong>monstrado bons resultados no campo, não multiplicando nematói<strong>de</strong>s (Meloydogine<br />

incognita), constituindo uma opção importante a fazer parte <strong>de</strong> seqüência <strong>de</strong> culturas,<br />

principalmente hortícolas, haja visto o seu ciclo precoce (aos 35-50 dias após a semeadura<br />

já se po<strong>de</strong> manejar). Além disso, existe um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s (ovos e larvas)<br />

nos tecidos <strong>de</strong> algumas espécies <strong>de</strong> plantas, sendo possível que estas, quando em<br />

<strong>de</strong>composição no solo liberem diferentes ácidos e substancias aleloquimicas, dos tecidos e<br />

raízes que irão influenciar nas populações <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s. Assim, espécies como feijão<br />

bóer (Cajanus cajan), amendoim cavalo (Arachis hypogaea), Leucaena leucocephala,<br />

mexoeira, (Pennisetum americanum), capim elefante (Pennisetum atropurpureum), Ricinus<br />

communis, amendoim forrageiro (Arachis pintoi), e também outras gramíneas usadas como<br />

pastagens (diversas espécies <strong>de</strong> Brachiaria sp.) são bastante eficientes, quer pela alteração<br />

do pH da rizosfera (área circundante das raízes) das plantas, contribuindo para a diminuição<br />

das populações <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s no solo, além <strong>de</strong> outros fungos (Fusarium sp., Rhizoctonia<br />

sp., Sclerotinia sp.), que po<strong>de</strong>m causar danos às culturas. No caso <strong>de</strong> Sclerotinia sp., os<br />

resíduos <strong>de</strong> brachiaria e outras gramíneas agem como barreira física à fecundação e<br />

multiplicação do fungo no solo. O aumento da matéria orgânica do solo, principalmente pelo<br />

acúmulo <strong>de</strong> restolhos e outros resíduos adicionados na superfície do solo, incrementam a<br />

ativida<strong>de</strong> biológica, aumentando o numero e espécies <strong>de</strong> organismos, o que conduz a um<br />

maior equilíbrio natural, evitando que ocorra a predominância <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada (s) espécie (s)<br />

<strong>de</strong> organismo (s) sobre outra (s), e assim em algum momento resultar em prejuízo para<br />

<strong>de</strong>terminado cultivo.<br />

Resultados obtidos por Santos & Ruano, 1987 comprovam a eficiência <strong>de</strong>: crotalárias,<br />

mucunas , feijão bóer, alfafa, e gramíneas como aveia preta (Avena strigosa), centeio<br />

(Secale cereale), azevem (Lollium multiflorum) e cevada (Hor<strong>de</strong>um vulgare) no controle <strong>de</strong><br />

populações <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s ( Meloydogine incognita raça 3 e Meloydogine javanica).<br />

A diversificação no emprego alternado <strong>de</strong> diferentes espécies <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura em<br />

seqüências or<strong>de</strong>nadas com culturas <strong>de</strong> subsistência e comercial irá favorecer o crescimento<br />

<strong>de</strong> uma maior diversida<strong>de</strong> possível <strong>de</strong> organismos (conforme as condições ambientais: solo,<br />

clima, tipo <strong>de</strong> solo, fertilida<strong>de</strong> natura, etc.), entre os quais os inimigos naturais, ou seja, os<br />

60


insectos e organismos benéficos. Dessa forma, as plantas oferecem habitat natural para os<br />

insectos benéficos e, também o uso <strong>de</strong> faixas <strong>de</strong> vegetação natural próximo às áreas <strong>de</strong><br />

cultivo irá favorecer a reprodução <strong>de</strong>ssas espécies e, aumentar as populações <strong>de</strong><br />

organismos antagônicos às pragas, contribuindo para uma maior biodiversida<strong>de</strong> e maior<br />

controle biológico natural.<br />

Observações <strong>de</strong> campo e comprovação por parte <strong>de</strong> agricultores do Brasil mostram que<br />

restolhos <strong>de</strong> milho, girassol, mexoeira, quando cultivados em rotação, são muito eficientes<br />

na redução do potencial <strong>de</strong> inóculos <strong>de</strong> diversas doenças (fungos) no solo.<br />

Diversas espécies hortícolas, como por exemplo: tomate, pimento, batata, pepino, abóbora,<br />

repolho, couves, feijão, alface, melão, melancia, etc. po<strong>de</strong>m sofrer ataque <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s,<br />

principalmente do gênero Meloydogine. Além <strong>de</strong>ssa espécie <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>, também outras<br />

como Ditylenchus dipsaci, po<strong>de</strong> causar danos ao alho; Helycotylenchus sp. é normalmente<br />

controlado pelo uso <strong>de</strong> Mucunas, crotalaria juncea, Ricinus communis; enquanto<br />

Pratylenchus sp., po<strong>de</strong> ser suprimido pelo uso na rotação <strong>de</strong> leguminosas, tais como:<br />

Stylosanthes guianensis, Kudzu (Pueraria phaseoloi<strong>de</strong>s), Centrosema pubescens,<br />

Psophocarpus palustris e, algumas gramíneas, tais como: mexoeira, Eragrostis teff, Setaria<br />

italica, sudangrás, aveia preta, etc.<br />

Quando se cultiva por vários anos espécies que são susceptíveis a nematói<strong>de</strong>s, há uma<br />

tendência <strong>de</strong> aumento populacional dos mesmos, po<strong>de</strong>ndo causar danos econômicos às<br />

culturas comerciais. Geralmente quando isto ocorre está associado à <strong>de</strong>gradação do solo<br />

(principalmente com a diminuição dos níveis <strong>de</strong> matéria orgânica do solo), sendo necessário<br />

tomar medidas que procurem baixar as populações <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s fitoparasitas do solo e,<br />

assim tornar viável o plantio <strong>de</strong> culturas comerciais/subsistência. Dessa forma, as plantas <strong>de</strong><br />

cobertura têm uma gran<strong>de</strong> importância, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> estratégias que se associam a outras<br />

medidas <strong>de</strong> controle (rotação com outras culturas <strong>de</strong> baixa susceptibilida<strong>de</strong>, varieda<strong>de</strong>s<br />

resistentes, etc.).<br />

As condições <strong>de</strong> seca e alta temperatura po<strong>de</strong>m influir negativamente no aumento<br />

populacional <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s, enquanto a maioria das plantas invasoras são multiplicadoras<br />

<strong>de</strong> diferentes espécies <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s.<br />

Conforme relatos <strong>de</strong> Peñalva & Calegari, 1999; trabalhos <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> diferentes<br />

espécies <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura na rotação em relação à população <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s no<br />

Uruguai, mostraram o seguinte:<br />

Tratamentos com mucuna cinza, mexoeira, feijão bóer e mexoeira + feijão nhemba foram as<br />

que apresentaram a maior diminuição do numero <strong>de</strong> Xiphinema rivesi.<br />

As espécies: mucuna cinza, crotalaria juncea, mexoeira, feijão bóer, mexoeira + feijão<br />

nhemba não permitiram o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> Tylenchus.<br />

O consórcio entre mexoeira + feijão nhemba foi o que mais diminuiu a população <strong>de</strong><br />

nematói<strong>de</strong>s fitoparasitas.<br />

61


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

6 CONTROLE <strong>DE</strong> PRAGAS E DOENÇAS NO SISTEMA <strong>DE</strong><br />

<strong>AGRICULTURA</strong> <strong>DE</strong> <strong>CONSERVAÇÃO</strong><br />

À continuação são apresentadas medidas e aplicação <strong>de</strong> alguns produtos biológicos para o<br />

controle <strong>de</strong> pragas e doenças, principalmente recomendados para pequenos produtores<br />

agrícolas:<br />

1. Controle <strong>de</strong> doenças através imersão em água quente:<br />

Uma gran<strong>de</strong> variabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> doenças po<strong>de</strong> acometer as mais diversas espécies <strong>de</strong><br />

hortícolas a nível <strong>de</strong> campo. Dentre alguns procedimentos a serem tomados por parte dos<br />

produtores, visando diminuir este potencial risco <strong>de</strong> infeção por patógenos, <strong>de</strong> baixo custo e<br />

acessível a todos os produtores, é o tratamento das sementes<br />

Tabela 6: Doenças em hortícolas controladas pelo tratamento térmico das sementes<br />

62<br />

Cultura<br />

Tempo <strong>de</strong><br />

tratamento<br />

(minutos)<br />

Temperatura<br />

da água<br />

( o C)<br />

Aipo 30 48<br />

Doença<br />

controlada<br />

Septoria ssp<br />

C. apii<br />

Berinjela 25 50 P. vexans<br />

Couve brócolis 20 50<br />

Xanthomonas<br />

campestris<br />

Cenoura 15/20 50 X carotae<br />

Cenoura 15/20 50 A dauci<br />

Couve <strong>de</strong> Bruxelas 25 50 X. campestris<br />

Couve flor 20/25 50 X. campestris<br />

Espinafre 25 50 C. <strong>de</strong>rnatium<br />

Mostarda 15 50 C. campestris<br />

Rabanete 20 50 C. gloesporioi<strong>de</strong>s<br />

Pimenta doce 25 50 C. gloesporiói<strong>de</strong>s<br />

Pimenta doce 30 52 X. vesicatoris<br />

Pimenta doce 15 50 X campestris<br />

Nabo 25/30 50 X campestris<br />

Repolho 25 50 C. gloesporioi<strong>de</strong>s<br />

Tomate 25 50 X vesicatoria<br />

Tomate 25 50 A. solani<br />

Com este tempo <strong>de</strong> imersão das sementes em água (po<strong>de</strong>rão estar acondicionadas em<br />

pequenos sacos <strong>de</strong> aniagem) os patógenos indicados são controlados, <strong>de</strong>vendo as<br />

sementes serem secas à sombra e, preferentemente semeadas o mais rápido possível.


2. Nim (Azadirachta indica):<br />

Árvore em que po<strong>de</strong>m ser utilizados os extratos das folhas ou <strong>de</strong> sementes que po<strong>de</strong>rão ser<br />

utilizados como inseticidas para controle <strong>de</strong> diversas pragas.<br />

Sementes secas: 340 g/litro <strong>de</strong> água;<br />

Folhas secas: 40 g/litro;<br />

Óleo emulsionável (produto comercial): 5ml/litro;<br />

Torta <strong>de</strong> Nim: 5g/litro.<br />

A Azadirachta indica é largamente usada nas regiões costeiras dos Países do Leste<br />

Africano e nas terras áridas do Leste da Etiópia. Foi trazido da Ásia on<strong>de</strong> é comumente<br />

utilizado pelas suas proprieda<strong>de</strong>s medicinais e repelentes <strong>de</strong> pragas.<br />

As folhas po<strong>de</strong>m ser confundida com as folhas <strong>de</strong> “Siringa”, que é uma espécie muito<br />

próxima e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> semelhança. Po<strong>de</strong> ser facilmente diferenciada através dos frutos: os<br />

frutos <strong>de</strong> Nim caem ao solo quando maduros, enquanto os frutos <strong>de</strong> siringa ficam na árvore<br />

mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> maduros ou até secos. A casca da árvore <strong>de</strong> Nim é grosseira, enquanto a<br />

da siringa é bem lisa e <strong>de</strong> coloração escura.<br />

Algumas pragas que o Nim po<strong>de</strong> controlar:<br />

lagarta do repolho e outras hortícolas<br />

gafanhotos adultos<br />

diferentes espécies <strong>de</strong> pulgões<br />

pequenos insetos que atacam feijões, nhemba, e outros cultivos<br />

trips que atacam diferentes cultivos<br />

diferentes insetos ou lagartas que atacam plantas no inicio <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

po<strong>de</strong> ainda ser repelente <strong>de</strong> térmitas e muitas espécies <strong>de</strong> formigas por mais <strong>de</strong> 1 mês.<br />

Resíduos das sementes <strong>de</strong> Nim<br />

Após a retirada do óleo das sementes <strong>de</strong> Nim (Azadirachta indica), esses resíduos po<strong>de</strong>m<br />

ser utilizados como fertilizantes orgânicos no solo, embora pela alta relação C:N, po<strong>de</strong>rá<br />

ocorrer imobilização do nitrogênio do solo e, também po<strong>de</strong>rá interferir diretamente na<br />

população <strong>de</strong> alguns fungos fitopatogênicos.<br />

Os resíduos <strong>de</strong> Nim po<strong>de</strong>m ser aplicados em viveiros para eliminar problemas <strong>de</strong> fungos <strong>de</strong><br />

solo em cebola, e outras hortícolas.<br />

63


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

Tabela 7: Efeitos dos resíduos das sementes (após extração do óleo) <strong>de</strong> Nim em<br />

fungos patogênicos do solo<br />

64<br />

Cultura Fungo Efeitos<br />

Tomate<br />

Berinjela<br />

Arroz R. solani<br />

Algodão<br />

Rhizoctonia solani,<br />

Fusarium oxysporum<br />

R. solani, Fusarium<br />

spp., Colletotrichum<br />

atramentarium<br />

Doenças da<br />

sementeira<br />

Podridão <strong>de</strong> raízes<br />

<strong>de</strong>vido ao ataque <strong>de</strong><br />

Soja<br />

Macrophomina<br />

phaseolina<br />

Fonte: Adaptado <strong>de</strong> Steinhauer, 1999<br />

3. Sementes <strong>de</strong> “Siringa” (Melia azedarach)<br />

Sementes ver<strong>de</strong>s ......1 kg.<br />

Sementes secas ........0,5 kg.<br />

Supressão em 30 dias após a<br />

aplicação<br />

Supressão rápida<br />

Redução da infestação na<br />

sementeira<br />

Melhoria na germinação,<br />

menores danos nas plantas<br />

emergidas<br />

Redução da infecção<br />

Modo <strong>de</strong> preparar<br />

Adicionar folhas <strong>de</strong> siringa, folhas <strong>de</strong> tomateiro, folhas <strong>de</strong> pessegueiro, folhas <strong>de</strong> tabacofumo<br />

(Nicotiana tabacum), folhas <strong>de</strong> Cassia tora, e ainda se disponível folhas <strong>de</strong> assapeixe<br />

(Vernonia sp.) numa proporção <strong>de</strong> 300-400 gramas <strong>de</strong> cada.<br />

Tomar esta massa vegetal e esmagar ou quebrar em pedaços menores e colocar <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong> um recipiente com álcool etílico, e <strong>de</strong>ixar por 2 dias em imersão.<br />

Caso não se tenha álcool po<strong>de</strong>-se também cozinhar em água estes ingredientes durante<br />

3-4 horas. Este sumo concentrado po<strong>de</strong>rá ser guardado por até 1 ano.<br />

Modo <strong>de</strong> aplicação:<br />

Usar 5 litros da solução acima misturado com 100 litros <strong>de</strong> água e pulverizar contra pulgões,<br />

ácaros, pequenas lagartas e brocas <strong>de</strong> solo.


4. Tephrosia (Tephrosia vogelli):<br />

Esta leguminosa arbustiva é também<br />

recomendável no controle <strong>de</strong> diversas<br />

pragas, com o uso <strong>de</strong> macerado <strong>de</strong> folhas,<br />

ramos, raízes e sementes.<br />

Tephrosia vogelli e Piretro (Pyrethrum<br />

sp). (vários componentes da planta).<br />

O uso <strong>de</strong> Tephrosia vogelli “mutica” (folhas<br />

esmagadas, ramos, raízes, e sementes)<br />

po<strong>de</strong> ser misturado com água e cozido ou<br />

misturado com álcool (esperar por 2 dias)<br />

e, <strong>de</strong>pois misturar este concentrado (5%)<br />

com água (95%) e pulverizar sobre as<br />

plantas pra controlar diferentes pragas<br />

(insetos e outras). Também o extrato <strong>de</strong><br />

Pyrethrum po<strong>de</strong> ser utilizado com similar<br />

emprego da Tephrosia vogelli (lagartas,<br />

pulgões, trips, Diabrotica sp., gafanhotos,<br />

etc.).<br />

Mutica (Tephrosia vogelli) – alternativa no controle biológico <strong>de</strong> pragas.<br />

5. Pyrethrum<br />

Em 10 litros <strong>de</strong> água fervendo colocar 2 xícaras <strong>de</strong> flores <strong>de</strong> Piretro. Esperar esfriar, filtrar o<br />

líquido e diluir em 2-5 partes <strong>de</strong> água. Adicionar 60 g <strong>de</strong> sabão macio em cada 10 litros,<br />

posteriormente pulverizar as plantas.<br />

6. Papaia<br />

É possível o uso <strong>de</strong> sementes e folhas secas <strong>de</strong> papaia, as quais são moídas para tratar<br />

sementes <strong>de</strong> hortaliças e outros grãos, e também po<strong>de</strong> controlar muitos insetos, pulgões,<br />

trips, <strong>de</strong> diferentes culturas. Produto biológico que consta da coleta e repouso por 30 dias<br />

num recipiente totalmente fechado (fermentação anaeróbica).<br />

7. Controle <strong>de</strong> Fusarium sp. (dumping off)<br />

Po<strong>de</strong> se utilizar 300gramas <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong> siringa (mfuta) – Ricinus communis, misturada<br />

com 3 folhas ver<strong>de</strong>s <strong>de</strong> papaia, que após esmagadas são misturadas com 5 litros <strong>de</strong> água<br />

(<strong>de</strong>ixar em repouso por 72 horas). Após a filtragem, a solução po<strong>de</strong> ser usada para<br />

pulverizar as mudas do viveiro (usar este concentrado diluído em água: 1/10), a qual irá<br />

controlar algumas pragas e também o “Dumping off” (Fusarium sp.) que é um fungo que<br />

ataca novas plantas no viveiro.<br />

8. Urina <strong>de</strong> vaca<br />

Po<strong>de</strong>-se misturar 3 litros do sumo <strong>de</strong> plantas + 5 litros da urina fermentada + 100 litros <strong>de</strong><br />

água e pulverizar em 1 hectare. Esta mistura irá controlar pragas (lagartas, ácaros,<br />

gafanhotos, trips, brocas, cigarrinhas, vaquinhas e mesmo a lagarta do cartucho do milho<br />

(Spodoptera frugiperda) e outras pragas, e também irá funcionar como fungicida e<br />

65


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

biofertilizante (presença e nutrientes e substancias que ativam enzimas ativando o<br />

metabolismo das plantas e, promovem um rápido crescimento das plantas.<br />

A urina após coletada dos animais é <strong>de</strong>ixada em meio aeróbico, recipiente fechado sem a<br />

presença <strong>de</strong> oxigênio, em torno <strong>de</strong> 20-30 dias. Após isso é retirada e utilizada na mistura<br />

acima.<br />

É recomendável a aplicação sobre milho, feijão e outras culturas logo após a germinação<br />

<strong>de</strong>stas plantas, e uma nova aplicação aos 20 dias da semeadura, o que irá favorecer o<br />

controle das pragas e o rápido crescimento das plantas.<br />

9. Repelentes<br />

Em um pequeno container 2/3 é cheio com folhas e flores picadas (esmagadas) <strong>de</strong> cravo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>funto (Tagetes taget ou Tagetes patula) - Mexican marigolds, Ocimum suave, ou<br />

pimentas ver<strong>de</strong>s ou vermelhas. O restante do container será cheio por água limpa e <strong>de</strong>ixado<br />

em <strong>de</strong>scanso por 5-7 dias. Após isso, tomar o sumo (após ser filtrado) e adicionar 30 g <strong>de</strong><br />

sabão macio para cada 5 litros <strong>de</strong> água. Para plantas jovens, po<strong>de</strong> diluir 1 parte da solução<br />

para cada 5 partes <strong>de</strong> água. Para plantas adultas e/ou velhas, diluir 1 parte da solução<br />

para 1 parte <strong>de</strong> água.<br />

O cravo <strong>de</strong> <strong>de</strong>funto em geral age como repelente <strong>de</strong> pequenos insetos e nematói<strong>de</strong>s.<br />

Pimentas (chilly) é bastante efetivo na proteção <strong>de</strong> pequenos e gran<strong>de</strong>s insetos. Ocimum<br />

suave po<strong>de</strong> ser usado para diferentes tipos <strong>de</strong> insetos.<br />

Plantas com efeitos repelentes a insetos e doenças:<br />

Inúmeras plantas possuem esta característica, tais como: malmequer (Tagetes minuta) ou<br />

também cravo <strong>de</strong> <strong>de</strong>funto (Tagetes patula), pimentas (Capsicum annuum), alho (Allium<br />

cepa), Ocimun suave, Tephrosia vogelli, Tithonia diversifolia, po<strong>de</strong>m ser utilizadas como<br />

repelentes ou também extraído soluções que po<strong>de</strong>rão ser diluídas em água e pulverizadas<br />

sobre as plantas, prevenindo ou reduzindo o ataque <strong>de</strong> vários insetos e doenças.<br />

10. Tabaco (Fumo)<br />

Ferver uma xícara <strong>de</strong> restos <strong>de</strong> cigarros (após serem fumados) ou 250 g <strong>de</strong> tabaco em 4<br />

litros <strong>de</strong> água. Esfriar, filtrar, e diluir em mesma quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água limpa. Misturar com 30<br />

g <strong>de</strong> sabão macio em cada 5 litros <strong>de</strong> líquido antes <strong>de</strong> pulverizar. Esta solução <strong>de</strong> tabaco é<br />

muito tóxica e <strong>de</strong>ve ser usada apenas em emergência. É efetiva contra lagarta do cartucho<br />

do milho (Spodoptera frugiperda), lagartas, térmitas, e outros insetos e pragas do solo.<br />

11. Controle <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Galhas<br />

O pó <strong>de</strong> Nim po<strong>de</strong> ser usado para controlar nematói<strong>de</strong>s nos viveiros <strong>de</strong> mudas. Misturar 2<br />

kg <strong>de</strong> pó (8 mãos cheias) com 10 litros <strong>de</strong> água e <strong>de</strong>ixe por 1 noite (não necessita adicionar<br />

sabão na água). No próximo dia, tome a mistura e aplique diretamente no solo usando um<br />

pequeno pulverizador. Esta quantida<strong>de</strong> é suficiente para uma área <strong>de</strong> 8m quadrados (2m X<br />

4m). É recomendável aplicar 10-15 dias antes da semeadura ou transplante. Contra alguns<br />

parasitas <strong>de</strong> animais, é possível controlar através das folhas <strong>de</strong> Nim que são comidas pelos<br />

animais.<br />

66


12. Controle <strong>de</strong> Ratos<br />

Um agricultor <strong>de</strong> Ghana usa um interessante meio <strong>de</strong> controlar ratos usando folhas <strong>de</strong><br />

plantas com espinhos (Obetia radula), conhecida em algumas áreas como hila hila ou<br />

thabai. Também outras plantas que tenham espinhos em suas folhas ou ramos po<strong>de</strong> ser<br />

utilizada. Ratos geralmente não gostam <strong>de</strong> fazer seus ninhos em locais com espinhos que<br />

os incomodam e, assim mudam para outros locais.<br />

Moer 100 gramas <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong> Gliricidia sepium, misture com 100 gramas <strong>de</strong> milho<br />

moído. É aconselhável adicionar um pouco <strong>de</strong> água, manteiga ou açúcar para melhorar o<br />

cheiro e o sabor. Po<strong>de</strong>m ser preparadas algumas pequenas bolas e <strong>de</strong>ixados em locais<br />

visitados pelos ratos, principalmente à tar<strong>de</strong> ou noite, e principalmente em épocas <strong>de</strong> menor<br />

oferta <strong>de</strong> alimentos no campo. As sementes <strong>de</strong> G. sepium têm um forte efeito na<br />

mortalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ratos.<br />

13. Controle <strong>de</strong> Formigas 2<br />

Algumas formigas gran<strong>de</strong>s (Atta capiguara e outras espécies) que po<strong>de</strong>m causar danos às<br />

culturas po<strong>de</strong>m ser tomadas algumas medidas <strong>de</strong> controle:<br />

Algumas culturas e árvores po<strong>de</strong>m ser mais bem nutridas com molibdênio, que irá contribuir<br />

para as plantas sintetizarem mais proteínas e diminuir a atrativida<strong>de</strong> pelas formigas. Po<strong>de</strong><br />

ser aplicado 0,5% <strong>de</strong> molibdênio (uma única vez).<br />

Utilizar um extrato <strong>de</strong> sisal (5 folhas em 5 litros <strong>de</strong> água). Moer as folhas e <strong>de</strong>ixar por 2 dias<br />

com água. Retirar o sumo e aplicar 2 litros no principal buraco das formigas e feche os<br />

outros buracos.<br />

O plantio <strong>de</strong> gergelim ao redor <strong>de</strong> outras culturas sensíveis ao ataque <strong>de</strong> formigas, ou<br />

mesmo consorciar o gergelim com culturas susceptíveis, ele age como repelente. As<br />

sementes <strong>de</strong> gergelim po<strong>de</strong>m ser esmagadas e usadas como iscas. Também as sementes<br />

<strong>de</strong> mamona/Ricinus (castor beans) po<strong>de</strong>m ser esmagadas e o fermentado po<strong>de</strong> ser aplicado<br />

nos formigueiros.<br />

Pedaços <strong>de</strong> pães velhos misturados com vinagre po<strong>de</strong>m ser aplicados nos buracos das<br />

formigas. As formigas irão manter isto <strong>de</strong>ntro do buraco e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> fermentado irá ser<br />

tóxico às formigas.<br />

Adicionar cal virgem <strong>de</strong>ntro do buraco das formigas, <strong>de</strong>pois adicione alguma água e feche o<br />

buraco o que irá criar alguns gases que irão afetar as formigas. Po<strong>de</strong> ser adicionado 2<br />

kilogramas <strong>de</strong> cal para 100 litros <strong>de</strong> água.<br />

Próximo às plantas atacadas po<strong>de</strong> ser aplicado cinzas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, ou cascas <strong>de</strong> ovos<br />

moída, farinha <strong>de</strong> ossos ou carvão vegetal moído, todos vão impedir a ação das formigas.<br />

Para baixas populações <strong>de</strong> formigas po<strong>de</strong> ser usado plantas repelentes: menta, batata doce,<br />

salsa, cenoura, mamona e gergelim.<br />

Algumas plantas po<strong>de</strong>m ser usadas como iscas: Leucaena leucocephalla, cana-<strong>de</strong>-açúcar, e<br />

gergelim preto.<br />

Água quente também po<strong>de</strong> ser usada no controle <strong>de</strong> formigas.<br />

Po<strong>de</strong> ser aplicado Boro (500g) misturado com 500g <strong>de</strong> açúcar e água, coloque no caminho<br />

on<strong>de</strong> as formigas costumam passar (po<strong>de</strong> também controlar baratas).<br />

Inseticida natural: Misturar 50 litros <strong>de</strong> água + 10 quilogramas <strong>de</strong> esterco fresco bovino + 1<br />

quilograma <strong>de</strong> extrato <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar ou açúcar mascavo. Misture todos os ingredientes,<br />

<strong>de</strong>ixe para fermentar durante 1 semana. Passe por um tecido ou por uma peneira <strong>de</strong> malhas<br />

2 Experiência <strong>de</strong> agricultores brasileiros<br />

67


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

muito fina e, aplique <strong>de</strong>ntro do buraco das formigas (1 litro da mistura com 10 litros <strong>de</strong> água)<br />

até que o buraco se encha totalmente.<br />

Caso os produtos a serem aplicados sejam tóxicos aos pássaros, inimigos naturais e outros<br />

animais <strong>de</strong>verá ser evitado, pois po<strong>de</strong> contribuir para o <strong>de</strong>sequilíbrio no ambiente.<br />

14. Utilizar cordões vegetados ou quebra ventos<br />

A presença <strong>de</strong> árvores ou quebra ventos, não apenas impe<strong>de</strong> a formação <strong>de</strong> ventos, assim<br />

como auxiliam na mo<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> temperaturas, redução da evaporação, e cria um habitat<br />

favorável para a proliferação <strong>de</strong> insetos benéficos; Alguns exemplos <strong>de</strong> árvores como:<br />

Grevillea robusta, e espécies arbóreas <strong>de</strong> médio porte tais como, sesbania (Sesbania<br />

sesban), Tephrosia tunicata, or Leucaena leucocephalla fornece um habitat favorável e<br />

também ajuda na proteção contra ventos excessivos. Também espécies como Tephrosia<br />

vogelli e Tithonia diversifolia além <strong>de</strong> agir como repelente <strong>de</strong> insetos, suas raízes e seus<br />

resíduos quando cortados melhora as proprieda<strong>de</strong>s do solo.<br />

Algumas faixas <strong>de</strong> plantas com espécies tais como: girassol, Crotalaria grantiana, Crotalaria<br />

ochroleuca, Crotalaria spectabilis, finger millet, e também algumas espécies nativas, as<br />

quais produzem inúmeras inflorescências, são muito atrativas a pássaros e insetos. Esta<br />

diversificação <strong>de</strong> espécies ajudam a evitar o ataque das pragas nas culturas específicas.<br />

68


7 RESULTADOS OBTIDOS POR PRODUTORES COM O<br />

USO <strong>DE</strong> COBERTURA DO SOLO, ROTAÇÃO E PLANTIO<br />

DIRECTO<br />

7.1 Resultados obtidos na Província <strong>de</strong> Sofala<br />

Experiência 1: Cebola no sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

(Guara Guara e Bandua)<br />

Um grupo <strong>de</strong> camponeses <strong>de</strong> Guara Guara vem <strong>de</strong>senvolvendo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2001 o cultivo <strong>de</strong><br />

cebola em Agricultura <strong>de</strong> Conservação. Também em Bandua o Sr. Fernando Chadiwa,<br />

iniciou nesta mesma época e, tem alcançado resultados muito favoráveis com o solo coberto<br />

com restolhos no rendimento <strong>de</strong> cebola e outras hortícolas. Os resultados promissores<br />

alcançados têm incentivado estes e outros camponeses a seguirem este sistema <strong>de</strong><br />

agricultura (Tabela 8 em baixo).<br />

Tabela 8: Sistema <strong>de</strong> comparação: Consumo <strong>de</strong> água, mão-<strong>de</strong>-obra e rendimento <strong>de</strong><br />

cebola em Guara Guara e Bandua, Distrito do Búzi<br />

Sistema<br />

<strong>de</strong> cultivo<br />

Mão-<strong>de</strong>obra<br />

consumida<br />

até a<br />

semeadura<br />

da cebola<br />

(homens<br />

dia/ha)<br />

No. <strong>de</strong><br />

irrigação<br />

por<br />

semana<br />

No. <strong>de</strong><br />

sachas<br />

(todo o<br />

ciclo da<br />

cebola)<br />

Rendimento <strong>de</strong><br />

cebola/bulbos<br />

(kg/ha)<br />

Ano<br />

(2002)<br />

Ano<br />

(2003)<br />

Solo coberto<br />

com capim<br />

Sistema<br />

tradicional<br />

7 1 0 35,000 39,000<br />

(solo<br />

preparado com<br />

enxadas)<br />

45 3 14 15,000 23,000<br />

Irrigação em<br />

sulcos<br />

– 2 8 ─ 25,000<br />

Fonte: Calegari, 2003, 2004. PACDIB / PROMEC, Distrito do Búzi<br />

A mão-<strong>de</strong>-obra requerida pelo Sr. Chadiwa em Bandua para cortar o capim, carregar e<br />

distribuir sobre o solo para posterior transplante da cebola foi <strong>de</strong> apenas sete dias/hectare;<br />

enquanto na área tradicional foram necessários 45 dias <strong>de</strong> trabalho. Dessa forma, o tempo<br />

gasto no sistema tradicional foi seis vezes superior ao da Agricultura <strong>de</strong> Conservação.<br />

Avaliando o rendimento <strong>de</strong> cebola no 1 o . Ano (2002) pelo grupo <strong>de</strong> camponeses <strong>de</strong> Guara<br />

Guara, no sistema tradicional, sobre solo preparado com enxadas e sem capim, apresentou<br />

rendimentos <strong>de</strong> 1,5 kg/m 2 (15ton./ha) e, 3,5 kg/m 2 (35ton./ha) no solo sem preparo e coberto<br />

com capim. Portanto, o sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação apresentou um rendimento<br />

superior ao tradicional <strong>de</strong> 20ton./ha <strong>de</strong> bulbos. Isto encorajou e incentivou os camponeses a<br />

continuarem no <strong>de</strong>senvolvimento do sistema.<br />

Já no segundo ano consecutivo (2003), a cebola no sistema tradicional ren<strong>de</strong>u 2,3 kg/m 2 (23<br />

ton./ha <strong>de</strong> bulbos);um outro sistema com sulcos irrigado ren<strong>de</strong>u 2,5kg/m 2 (23 ton./ha) por<br />

outro lado o sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação ren<strong>de</strong>u em torno <strong>de</strong> 2,3 kg/m 2 (23<br />

ton./ha <strong>de</strong> bulbos); no sistema com sulcos irrigado produziu 2,5kg/m 2 (25ton./ha <strong>de</strong> bulbos),<br />

69


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

enquanto no sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação, on<strong>de</strong> a cebola é transplantada no solo<br />

sem preparo e coberto com capim, o rendimento obtido foi <strong>de</strong> 3,9kg/m 2 (39ton./ha <strong>de</strong><br />

bulbos). Neste caso, o solo foi anteriormente coberto com mucuna + capim, o que<br />

certamente contribuiu para uma maior disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nitrogênio e outros nutrientes<br />

absorvidos pela cebola. Os resultados alcançados <strong>de</strong>monstram pela segunda vez<br />

consecutiva nesta área o <strong>de</strong>sempenho superior da cebola no sistema com solo coberto com<br />

capim e sem nenhum revolvimento em relação aos <strong>de</strong>mais. Em comparação ao sistema<br />

tradicional, on<strong>de</strong> o solo é revolvido com enxadas e não efetuado a cobertura do solo com<br />

capim, a cebola apresentou uma menor necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra e água, além <strong>de</strong> um<br />

rendimento superior <strong>de</strong> 16 ton./ha (quase 70% a mais).<br />

Os resultados positivos alcançados por este grupo <strong>de</strong> camponeses, aliados ao entusiasmo<br />

em assessorar alguns vizinhos, tem influenciado na formação <strong>de</strong> outros grupos que estão<br />

implementando a Agricultura <strong>de</strong> Conservação, quer seja em hortícolas (cebola, tomate,<br />

pimento, repolho, couves) e também em cereais (milho, mapira), feijões, e produção <strong>de</strong><br />

sementes <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura.<br />

Experiência 2: Sr. Fernando Chadiwa em Agricultura <strong>de</strong> Conservação (Bandua)<br />

O Sr. Fernando Chadiwa é um camponês que iniciou a Agricultura <strong>de</strong> Conservação em<br />

2001, aon<strong>de</strong> vem testando e validando o sistema em produção <strong>de</strong> hortícolas. Ele também<br />

tem apoiado vários vizinhos e atualmente vem colaborando com oito grupos <strong>de</strong> camponeses<br />

na localida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bandua, on<strong>de</strong> estão alcançando resultados promissores com o cultivo <strong>de</strong><br />

diferentes hortícolas (Tabela 9).<br />

Tabela 9: Hortícolas no sistema tradicional e no sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong><br />

Conservação<br />

70<br />

Hortícola Sistema tradicional<br />

(kg/ha)<br />

Agric. conservação<br />

(kg/ha)<br />

Alho 7.500 13.000<br />

Repolho 22.500 29.000<br />

Cebola<br />

23.000<br />

38 irrigações durante<br />

todo o ciclo<br />

15 sachas durante<br />

todo o ciclo<br />

32.500<br />

15 irrigações durante<br />

todo o ciclo<br />

3 sachas durante todo o<br />

ciclo<br />

Os dados mostram as vantagens da Agricultura <strong>de</strong> Conservação em menor necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

irrigações (maior armazenamento e conservação <strong>de</strong> água), menos mão-<strong>de</strong>-obra para<br />

sachas e, principalmente maior rendimento na Agricultura <strong>de</strong> Conservação (conseqüências<br />

<strong>de</strong> uma maior disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nutrientes, água e maior equilíbrio biológico no solo)<br />

quando comparado ao sistema tradicional, possibilitando o aumento da área das<br />

machambas.<br />

Exemplo claro <strong>de</strong>ssa realida<strong>de</strong>, é o Sr. Chadiwa que normalmente cultivava 0.5ha e,<br />

atualmente está cultivando mais que 3 hectares, vem utilizando rolo-faca tração animal com<br />

sucesso no manejo do capim e outras invasoras e, tem empregado temporariamente 3<br />

outros camponeses.


Experiência 3: Cobertura com leguminosa nativa<br />

Na machamba do produtor Sr. Fernando Meque, Estaquinha – Zona <strong>de</strong> Begaja, uma<br />

<strong>de</strong>terminada área on<strong>de</strong> estava com uma alta infestação <strong>de</strong> capim, foi manejado através do<br />

corte com catana e <strong>de</strong>ixado sobre a superfície sendo posteriormente semeado à lanço a<br />

Sesbania sp. nativa, que havia sido colhida em outras machambas da região. A sesbania<br />

teve boa germinação, rápido crescimento e, encontrava-se com uma altura em torno <strong>de</strong><br />

1,50-2,00m., em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> altas precipitações e o solo muito encharcado, ao invés <strong>de</strong> rolofaca<br />

foi manejada com catana. Mostrou um ótimo controle sobre o capim e, o arroz foi<br />

implantado diretamente sobre esses resíduos <strong>de</strong>ixados na superfície do solo. As plantas<br />

apresentavam muito boa nodulação tanto nas raízes quanto no caule (nódulos<br />

róseos/avermelhados – sinais <strong>de</strong> que as bactérias fixadoras do nitrogênio atmosférico estão<br />

em plena ativida<strong>de</strong>).<br />

Seguramente espera-se que o aproveitamento <strong>de</strong> espécies leguminosas nativas, como é a<br />

experiência do Sr. Meque, seja cada vez mais intensificado nos diferentes Distritos <strong>de</strong><br />

Sofala e, consequentemente todos os benefícios do uso <strong>de</strong>sse componente do sistema <strong>de</strong><br />

Agricultura <strong>de</strong> Conservação seja alcançado por um maior número <strong>de</strong> camponeses. Assim,<br />

estas parcelas validadas pelos camponeses servirão como base real, ou como “Unida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>monstrativas” para outros grupos <strong>de</strong> produtores locais ou <strong>de</strong> outras regiões que ao<br />

visitarem, discutirem com o camponês ou seu grupo envolvido, serão mais sensibilizados e<br />

aptos a iniciarem o processo <strong>de</strong> adoção <strong>de</strong> inovações tecnológicas. O camponês, apesar <strong>de</strong><br />

problemas com excesso <strong>de</strong> chuvas dificultando o manejo da Sesbania, consegui<br />

transplantar uma parte do arroz e alcançou ótimos rendimentos. O sistema está em<br />

continuida<strong>de</strong> e, mais Sesbania sp. nativa já foi semeada e será oportunamente<br />

(setembro/outubro) manejada com rolo-faca para imediato transplante ou plantio direto <strong>de</strong><br />

arroz sobre estes restolhos.<br />

Experiência 4: Produção <strong>de</strong> hortícolas no Distrito do Dondo<br />

Leguminosa nativa (Sesbania spp.) que tem<br />

gran<strong>de</strong> potencial em rotacionar com arroz e<br />

outras culturas (Zona <strong>de</strong> Begaja – Distrito do<br />

Búzi)<br />

No vale do Mandruzi, as experiências do camponês Sr. Joaquim Mapinda, que vem<br />

praticando Agricultura <strong>de</strong> Conservação <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2001, são bastante relevantes. Ele tem<br />

utilizado mucuna e cortado o capim para cobrir o solo e, tem realizado várias experiências<br />

com diferentes culturas: milho, mapira, feijão nhemba, feijão vulgar, repolho transplantado e<br />

mais recentemente tomate. Os resultados obtidos são muito encorajadores e, conforme<br />

relata o camponês, tem aumentado a produção, diminuído o uso <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra e,<br />

aumentado a área da machamba. Conta-nos ainda que obteve alta produção <strong>de</strong> repolho<br />

sobre resíduos <strong>de</strong> mucuna (pós-colheita), o que lhe proporcionou elevados lucros. Este<br />

camponês está aumentando as áreas com cobertura <strong>de</strong> solo e implementando o sistema <strong>de</strong><br />

Agricultura <strong>de</strong> Conservação.<br />

71


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

O Sr. Sithole, também um camponês do vale do Mandruzi iniciou no sistema <strong>de</strong> Agricultura<br />

<strong>de</strong> Conservação em 2001 e, vem obtendo resultados muito satisfatórios. O camponês nos<br />

relatou que no inicio não acreditava muito neste sistema <strong>de</strong> plantar sobre o solo coberto com<br />

mulch (capim ou outra cobertura vegetal), mas os resultados obtidos com rendimentos <strong>de</strong><br />

cebola, feijão ver<strong>de</strong>, milho convenceram plenamente o camponês que vem aumentando a<br />

área <strong>de</strong> sua machamba com este sistema.<br />

• Um camponês <strong>de</strong> Chibuabuabua após cortar o capim e <strong>de</strong>positar sobre o solo,<br />

transplantou cebola (red creola) sobre esses resíduos; enquanto numa parcela ao lado<br />

efetuou o sistema convencional (queima dos restolhos, aração com enxadas) e,<br />

posteriormente também efetuou o transplante da cebola (red creola). Os rendimentos<br />

<strong>de</strong> bulbos <strong>de</strong> cebola obtidos foram <strong>de</strong> 3,5Kg/m 2 (35 ton./ha) na área <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong><br />

Conservação, rendimentos estes superiores em 20% ao obtidos na área convencional<br />

(solo preparado e sem cobertura).<br />

• Uma outra experiência <strong>de</strong> um camponês com cebola branca (Texas Grano), alcançou<br />

rendimentos <strong>de</strong> 3 kg/m 2 e bulbos e folhas. Com os efeitos favoráveis da cobertura do<br />

solo, o camponês reduziu drasticamente a irrigação e quase não houve problema com<br />

invasoras. Na área sem mulch, ele irrigou 2-3 vezes/semana e sachas a cada 2<br />

semanas.<br />

• O camponês Sr. João Alberto Torcida efetuou o plantio <strong>de</strong> cebola em diferentes<br />

situações <strong>de</strong> manejo para possível implantação/Teste/Validação do sistema com a<br />

cultura da cebola em canteiros:<br />

72<br />

• Cebola com uréia solo <strong>de</strong>scoberto / sem mulch,<br />

• Cebola com uréia com cobertura/capim;<br />

• Cebola sem uréia solo <strong>de</strong>scoberto / sem mulch,<br />

• Cebola sem uréia com cobertura/capim<br />

Foram avaliados os efeitos do capim e também da adubação nitrogenada, bem como a<br />

necessida<strong>de</strong> do número <strong>de</strong> regas e monda nas diferentes situações e, através da avaliação<br />

dos rendimentos da cebola comprovar a eficiência do uso da cobertura <strong>de</strong> solo no cultivo da<br />

cebola.<br />

Conforme o relato do camponês, os resultados obtidos no solo coberto com capim foi bem<br />

superior àqueles on<strong>de</strong> o solo estava <strong>de</strong>scoberto; e os rendimentos <strong>de</strong> cebola no tratamento<br />

com uréia foi quase semelhante àquele obtido com o solo coberto com capim. Foi ainda<br />

marcante a diminuição <strong>de</strong> regas e monda, nos tratamentos com capim em relação à área<br />

<strong>de</strong>scoberta, mostrando assim as inúmeras vantagens do solo coberto, on<strong>de</strong> praticamente se<br />

obteve alto rendimento <strong>de</strong> cebola mesmo sem a aplicação <strong>de</strong> nitrogênio (uréia).<br />

O produtor <strong>de</strong>monstrou um gran<strong>de</strong> convencimento quanto ao solo coberto com mulch<br />

(capim), mencionando que parte <strong>de</strong> sua machamba já se encontra coberta com capim on<strong>de</strong><br />

será oportunamente transplantado tomate.


Experiência 5: Produção <strong>de</strong> ananás no Distrito do Búzi<br />

Caso 1: Área do Sr. Pedro Chicaruge<br />

Numa área visitada do Sr. Pedro Chicaruge (Estaquinha), o campo apresentava-se com um<br />

plantio <strong>de</strong> ananás, em fase <strong>de</strong> maturação, em excelente qualida<strong>de</strong>, 1.5 a 3.0kg. cada fruto.<br />

A área possui um solo bastante arenoso que foi anteriormente preparado pelo sistema<br />

tradicional, preparo <strong>de</strong> solo com enxadas, estando o mesmo bastante <strong>de</strong>scoberto com riscos<br />

<strong>de</strong> erosão e perda <strong>de</strong> matéria orgânica e nutrientes. Foi avaliado, discutido com o grupo <strong>de</strong><br />

camponeses e técnicos presentes e, recomendado o uso <strong>de</strong> cobertura do solo com algumas<br />

das seguintes espécies: Arachis pintoi, Mucuna sp., Indigofera sp., Calopogonium<br />

mucunoi<strong>de</strong>s, para proteger e melhorar a qualida<strong>de</strong> do solo durante o cultivo do ananás.<br />

Foi verificado que os frutos <strong>de</strong> ananás recebem insolação direta quase constante,<br />

provocando queima parcial do fruto, sendo nestas condições recomendado, num cultivo<br />

posterior que a cada 2 linhas <strong>de</strong> ananás, sejam semeadas 1 fileira <strong>de</strong> feijão bóer, ou uma<br />

outra espécie que possa fornecer um sombreamento parcial ao ananás (Crotalaria juncea,<br />

Crotalaria paulina, Crotalaria grahamiana, ou ainda Crotalarias nativas da região e/ou<br />

Sesbania sp. Nativa. Além <strong>de</strong>ssas espécies, é possível optar pelo cultivo <strong>de</strong> milho ou mapira<br />

(1 fileira), plantados numa época em que coincida o seu pleno <strong>de</strong>senvolvimento com o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento e maturação dos frutos <strong>de</strong> ananás.<br />

Quanto ao manejo do ananás, foi ainda informado da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se melhorar a<br />

fertilida<strong>de</strong> da sementeira através do emprego da compostagem, restos <strong>de</strong> leguminosas<br />

nativas encontradas na área e outros resíduos orgânicos disponíveis na machamba, sendo<br />

então distribuídos na área da sementeira que <strong>de</strong>verá também ser finalmente protegida com<br />

capim. Caso os brotos sejam vigorosos e com bastante substancias <strong>de</strong> reserva po<strong>de</strong>rá ser<br />

subdividido em 2 ou 4 partes. Posteriormente po<strong>de</strong>rá se implantar os rebentos e os brotos<br />

do ananás no solo, cobrir parcialmente com capim e utilizar rega para facilitar o<br />

enraízamento do material vegetativo <strong>de</strong> propagação. Após enraízamento, na época<br />

oportuna, efetuar transplante <strong>de</strong>finitivo ao campo.<br />

Área Sr. Paulo Chicaruge mostrando ananás<br />

em solo coberto com capim –<br />

zona <strong>de</strong> Begaja Distrito do Búzi<br />

Ananás consorciado com feijão nhemba:<br />

excelente cobertura do solo, controle <strong>de</strong><br />

invasoras, e maior humida<strong>de</strong> disponível<br />

(Província <strong>de</strong> Sofala).<br />

O ananás cultivado tinha uma <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1 x 1m., sendo possível caso o solo tenha boa<br />

fertilida<strong>de</strong>, utilizar uma maior <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> (0,6 x 0,6m.) e, assim aumentar o rendimento <strong>de</strong><br />

frutos por área.<br />

O camponês efetuou plantio <strong>de</strong> feijão nhemba consorciado com ananás e obteve excelentes<br />

resultados com a produção <strong>de</strong> nhemba e, também com ananás, ainda em fase final <strong>de</strong><br />

colheita. Foi recomendado ao camponês que além <strong>de</strong> adicionar capim e o feijão nhemba<br />

entre as fileiras do ananaseiro, seja ainda intercalado covachos com murumbi (ruquesa)<br />

73


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

entre as plantas <strong>de</strong> feijão nhemba, <strong>de</strong> forma que tenhamos um consórcio<br />

leguminosa/gramínea e, consequentemente após a colheita do feijão nhemba e murumbi,<br />

mais resíduos permaneceram sobre o solo cobrindo, protegendo e melhorando as<br />

proprieda<strong>de</strong>s do solo.<br />

Este produtor é um exemplo <strong>de</strong> como é possível e viável a diversificação na proprieda<strong>de</strong>.<br />

No ano <strong>de</strong> 2005 o produtor relatou que, com ajuda <strong>de</strong> trabalhadores, cultiva atualmente um<br />

total <strong>de</strong> 7 hectares, incluindo arroz, milho, mapira, ananás, hortícolas, criação <strong>de</strong> gado<br />

bovino (14 cabeças), galinhas, patos, cabritos e porcos. Está implementando a Agricultura<br />

<strong>de</strong> Conservação com muito sucesso.<br />

Caso 2: Área do Sr. Albino João (Chicumbua)<br />

Observou-se um campo <strong>de</strong> ananás em fase <strong>de</strong> crescimento/ maturação <strong>de</strong> frutos<br />

consorciado com feijão nhemba em fase <strong>de</strong> enchimento <strong>de</strong> grãos/colheita em excelentes<br />

condições. A área se apresentava com baixa infestação <strong>de</strong> invasoras pois o nhemba cobria<br />

quase que totalmente o solo, num consorcio bem apropriado.<br />

Foram sugeridos algumas outras opções <strong>de</strong> consorcio com ananás:<br />

Crotalaria spectabilis, feijão bóer anão, amendoim forrageiro perene (Arachis pintoi), Njugo<br />

beans (feijão jugo), Indigofera sp., etc. No caso do feijão bóer comum (porte alto), para que<br />

o sombreamento excessivo não prejudique o <strong>de</strong>senvolvimento do ananás, é recomendado<br />

que seja plantado 1 linha (10-15 plantas por metro linear) a cada 3 linhas <strong>de</strong> ananás.<br />

Além <strong>de</strong>ssas espécies, se faz necessário a introdução <strong>de</strong> alguma gramínea como por ex. a<br />

ruquesa ou (Eleusine coracana) que po<strong>de</strong> produzir elevada quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> biomassa,<br />

apenas o sistema radicular po<strong>de</strong> produzir ao redor <strong>de</strong> 6 ton./ha, que auxilia na diminuição <strong>de</strong><br />

algumas doenças do solo (Fusarium sp.) e também alguns nematói<strong>de</strong>s. Uma outra espécie,<br />

a Eragrostis teff (sin. Eragrostis abyssinica), que é uma gramínea muito resistente à seca<br />

prolongada, além <strong>de</strong> cobrir bem o solo é uma alternativa <strong>de</strong> alimentação humana muito<br />

comum na Eritrea e Etiópia (mais <strong>de</strong> 2,5 milhões <strong>de</strong> hectares). Outra espécie que po<strong>de</strong>ria<br />

ser testada é a Setaria itálica, gramínea anual <strong>de</strong> crescimento rápido, que contribui também<br />

para melhoria das proprieda<strong>de</strong>s do solo.<br />

Experiência 6: Distrito <strong>de</strong> Gorongosa<br />

Neste Distrito, com apoio da GTZ (Cooperação Alemã) e DDA, há quase uma década se<br />

iniciou o uso <strong>de</strong> alguns componentes do sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação.<br />

Entretanto, o novo enfoque <strong>de</strong> se colocar juntos os diferentes componentes na Agricultura<br />

<strong>de</strong> Conservação se iniciou há 4 anos pelo PRO<strong>DE</strong>R – GTZ e DDA <strong>de</strong> Gorongosa.<br />

Algumas UTVs (Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> teste e validação) no sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

foram implantadas em representativas machambas das diferentes Zonas do Distrito. Foram<br />

discutidos com técnicos e camponeses e implementados o uso <strong>de</strong> diferentes plantas <strong>de</strong><br />

cobertura, rotação <strong>de</strong> culturas, e plantio direto das culturas (covachos, matraca, máquina<br />

plantio direto tração animal), conforme as condições <strong>de</strong> solo, e interesses dos camponeses<br />

(Tabela 10).<br />

74


Tabela 10: Rendimento <strong>de</strong> grãos (t/ha) em Agricultura <strong>de</strong> Conservação em diferentes<br />

áreas <strong>de</strong> Gorongosa<br />

Culturas<br />

1o. ano<br />

(2002-03)<br />

2o. ano<br />

(2003-04)<br />

Milho + mucuna 2.6 ton. 3.1 ton.<br />

Milho + nhemba 1.9 ton. 3.0 ton.<br />

Milho + feijão bóer 1.8 ton. 2.9 ton.<br />

Milho + feijão vulgar 1.7 ton. 3.1 ton.<br />

Mapira + mucuna 0.9 ton. 2.3 ton.<br />

Mapira + nhemba – 1.5 ton.<br />

* Milho + feijão soroco – 4.5 ton.<br />

Mapira + amendoim<br />

Fonte: DDA, Gorongosa<br />

– 2.3 ton.<br />

Estes dados foram coletados durante 2 anos nas machambas dos camponeses em<br />

diferentes localida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Gorongosa (em solos arenosos, argilosos e franco), em UTVs com<br />

uma área <strong>de</strong> no mínimo 1000m 2 .<br />

Na quase totalida<strong>de</strong> das áreas não foi aplicado nenhum fertilizante, e foi também<br />

rotacionado os cultivos havendo uma tendência <strong>de</strong> aumento <strong>de</strong> rendimentos a cada ano no<br />

sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação.<br />

Em geral o milho apresentou um aumento <strong>de</strong> rendimento <strong>de</strong> 55%, enquanto a mapira com<br />

apenas uma área do mesmo cultivo no ano anterior, teve um aumento <strong>de</strong> rendimento <strong>de</strong> 1.4<br />

ton./ha.<br />

Na parcela on<strong>de</strong> se utilizou fertilizante químico foi aplicado: 100 kg/ha (N-P-K) (12-24-12) +<br />

uréia (100 kg/ha), e o milho + feijão soroco alcançou 4.5ton./ha. Os dados mostram que com<br />

o uso <strong>de</strong> fertilizantes, nesta situação, foi possível rapidamente atingir altos rendimentos,<br />

embora neste caso, o aumento alcançado foi praticamente para cobrir os custos com<br />

fertilizantes. Certamente <strong>de</strong>ve ter ficado algum resíduo <strong>de</strong> fertilizante para a próxima<br />

campanha, embora seja fundamental a avaliação econômica e sustentável para todas as<br />

tecnologias implementadas no processo.<br />

Área do grupo <strong>de</strong> camponeses – Localida<strong>de</strong> Madibe<br />

A Coor<strong>de</strong>nadora do grupo é a Sra. Fariana Gemusse, que juntamente com os outros<br />

membros do grupo, assessorados pelos técnicos montaram uma UTV <strong>de</strong> 1000m 2 no ano <strong>de</strong><br />

2001, numa machamba abandonada, pois o solo se encontrava totalmente <strong>de</strong>gradado pelo<br />

contínuo preparo do solo, queima dos restolhos, e on<strong>de</strong> praticamente não havia mais<br />

nenhuma produção.<br />

• Após a avaliação (diagnóstico breve das condições do terreno), foram recomendadas as<br />

seqüências <strong>de</strong> culturas a seguir:<br />

• (1o. ano) iniciou-se com milho + nhemba;<br />

• (2º. Ano) milho + feijão bóer + mucuna;<br />

• (3º. Ano) mapira + feijão bóer + mucuna.<br />

75


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

76<br />

Área com solo recuperado e produtivo<br />

novamente, mostrando rebrote do feijão bóer<br />

(Madibe – Gorongosa)<br />

Para se iniciar o i<strong>de</strong>al seria com feijão bóer pela sua rusticida<strong>de</strong>, entretanto por interesse da<br />

camponesa no feijão nhemba, foi iniciado com esta leguminosa + milho.<br />

Esta área é um solo franco arenoso, que durante quase 4 anos, o solo não foi mais arado e<br />

nem efetuado queima, e sempre recebendo culturas consorciadas (renda, subsistência e<br />

recuperadora <strong>de</strong> solos), adicionando resíduos na superfície, reciclando nutrientes e, embora<br />

não se tenha aplicado nenhum fertilizante, agora o solo já se encontra totalmente<br />

recuperado e, com alta capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção.<br />

Atualmente o campo se encontra com os resíduos da colheita <strong>de</strong> mapira, e restolhos <strong>de</strong><br />

mucuna e feijão bóer. Em poucos dias ocorrerá nova semeadura com a seguinte distribuição<br />

das plantas:<br />

80 cm 80 cm 80 cm<br />

FB NH M NH M NH FB<br />

FB NH M NH M NH FB<br />

FB NH M NH M NH FB<br />

FB NH M NH M NH FB<br />

FB= feijão bóer, NH= feijão nhemba, M= milho<br />

O feijão bóer será semeado simultâneo ao milho, enquanto o feijão nhemba, <strong>de</strong>verá ser<br />

semeado quando o milho estiver com 6-8 pares <strong>de</strong> folhas (aos 30-40 dias <strong>de</strong>pois).<br />

O feijão bóer (FB) terá um compasso <strong>de</strong> 2.4m. entre as fileiras, com 0.40m entre covachos<br />

(2-3 sementes cada); enquanto as <strong>de</strong>mais fileiras internas <strong>de</strong> milho (M) serão distanciadas<br />

em 0.80m. uma da outra, com 5 plantas por metro; enquanto feijão nhemba terá um<br />

compasso <strong>de</strong> 0.40m distanciado da linha <strong>de</strong> feijão bóer e 0.40m da linha <strong>de</strong> milho, com<br />

0.40m entre covachos (2-3 sementes cada).<br />

Quando o feijão nhemba estiver amarelecendo ao lado <strong>de</strong>stas se entra com mucuna<br />

intercalar, ou seja as fileiras <strong>de</strong> mucuna irão substituir as <strong>de</strong> nhemba e após a colheita <strong>de</strong><br />

nhemba e milho, a mucuna continuará cobrindo e protegendo o solo, diminuindo as<br />

invasoras e melhorando as proprieda<strong>de</strong>s do solo. No próximo ano em outubro/novembro, as<br />

sementes da mucuna po<strong>de</strong>rão ser colhidas e novamente mapira ou milho em combinações<br />

po<strong>de</strong>rá ser semeado.<br />

Foi relatado que a mucuna no ano <strong>de</strong> 2004, produziu em torno <strong>de</strong> 200kg. e 50kgs. <strong>de</strong> feijão<br />

bóer numa área <strong>de</strong> 1000 m 2 .


Dessa forma se recuperou esta área, po<strong>de</strong>ndo a mesma já estar sendo cultivada com bons<br />

rendimentos, <strong>de</strong>vendo-se sempre proce<strong>de</strong>r a rotação com culturas melhoradora <strong>de</strong> solos e a<br />

adição constante <strong>de</strong> material orgânico ao solo. Obviamente, com boas colheitas, po<strong>de</strong>rá ser<br />

disponibilizado alguns recursos para aquisição <strong>de</strong> fertilizantes e, consequentemente a<br />

reposição dos nutrientes ao solo irá ainda aumentar mais os rendimentos das culturas,<br />

promovendo a SUSTENTABILIDA<strong>DE</strong>: técnica, social, ecológica e econômica.<br />

Esta parcela já saiu da fase <strong>de</strong> UTV e agora está na fase <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Demonstração:<br />

<strong>de</strong>vendo entrar numa fase <strong>de</strong> difusão massal, ou massificação do sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong><br />

Conservação para essas condições. Assim, as informações aqui geradas <strong>de</strong>verão ser<br />

repassadas aos <strong>de</strong>mais camponeses do Distrito. Assim, para estas condições <strong>de</strong> clima e<br />

solo <strong>de</strong>gradado, este sistema <strong>de</strong>ve entrar no processo <strong>de</strong> difusão e adoção por parte dos<br />

camponeses <strong>de</strong> outras localida<strong>de</strong>s.<br />

Experiência 7: Distrito <strong>de</strong> Caia<br />

As experiências com Agricultura <strong>de</strong> Conservação no Distrito estão com menos <strong>de</strong> 2 anos,<br />

entretanto já foi alcançado resultados bastante promissores.<br />

Numa área em Caia Se<strong>de</strong>, próximo a um braço do Rio Zambezi, num solo areno-argiloso<br />

altamente infestado com tiririca o milho foi semeado diretamente no solo sem preparo e,<br />

consorciado com mucuna. O rendimento <strong>de</strong> milho atingiu 3,77t/ha <strong>de</strong> grãos, além da<br />

mucuna proporcionar um controle quase que total da tiririca.<br />

Foi recomendado na rotação, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se entrar com feijão lablab imediatamente,<br />

haja visto a gran<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> que esta espécie possui em tolerar a seca prolongada.<br />

Assim, após a colheita dos grãos, po<strong>de</strong>ria se entrar em outubro/novembro com milho + feijão<br />

nhemba.<br />

Diversas parcelas e experiências <strong>de</strong> camponeses com hortícolas: tomate, repolho, couves,<br />

pepino, etc. em Agricultura <strong>de</strong> Conservação vem sendo conduzidas em diferentes partes do<br />

Distrito e, certamente a curto prazo são esperados resultados favoráveis com o sistema e<br />

uma adoção rápida por parte dos camponeses.<br />

Na Zona <strong>de</strong> Chipen<strong>de</strong>, o produtor Sr. Zacarias, foi beneficiado por crédito através do<br />

Consórcio Italiano (Cooperação Italiana da Província <strong>de</strong> Trento) para compra <strong>de</strong> uma junta<br />

<strong>de</strong> bois. Na campanha <strong>de</strong> 2004-05 ele semeou 3 hectares <strong>de</strong> milho utilizando a semeadora<br />

<strong>de</strong> plantio direto Fitarelli tração animal e, conseguiu uma produção média <strong>de</strong> 1,7 ton/ha <strong>de</strong><br />

grãos <strong>de</strong> milho. O produtor <strong>de</strong>monstrou estar muito contente com a Agricultura <strong>de</strong><br />

Conservação e preten<strong>de</strong> semear 6 hectares nesta nova campanha. Os vizinhos também<br />

estão acompanhando atentamente os resultados e prometem também testar este sistema<br />

em suas machambas.<br />

Experiência 8: Distrito <strong>de</strong> Cheringoma<br />

As experiências com Agricultura <strong>de</strong> Conservação no Distrito começaram em 2003,<br />

alcançando resultados muito favoráveis com hortícolas: cebola, tomate, couves, repolho,<br />

etc.<br />

Também experiências com mapira, milho, consorciados com feijão bóer, nhemba e mucuna<br />

vem sendo testadas e validadas por vários camponeses em diferentes localida<strong>de</strong>s.<br />

77


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

Um camponês da localida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mazamba na campanha 2004-2005 semeou em Agricultura<br />

<strong>de</strong> Conservação (plantio direto sem preparo do solo, nem queima dos restolhos) um total <strong>de</strong><br />

4,5 hectares <strong>de</strong> milho consorciado com feijão vulgar. Os resultados, apesar da seca foram<br />

muito favoráveis e o agricultor <strong>de</strong>verá continuar ainda mais com o sistema, buscando<br />

<strong>de</strong>senvolver rotações a<strong>de</strong>quadas <strong>de</strong> cultura. Neste distrito já existem resultados promissores<br />

alcançados com mapira, milho consorciados com feijão bóer, mucuna, nhemba e, portanto<br />

pelos resultados favoráveis qe vem sendo alcançados é <strong>de</strong> se esperar que cada vez mais o<br />

sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação ten<strong>de</strong> a se expandir a outros camponeses.<br />

Experiência 9: Outros Distritos<br />

Os <strong>de</strong>mais Distritos da Província <strong>de</strong> Sofala, tais como: Maringue, Chemba, Marromeu,<br />

Muanza, Nhamatanda, Chibababava e Machanga iniciaram há 2 anos, com algumas UTVs<br />

em Agricultura <strong>de</strong> Conservação. Já foram alcançados resultados encorajadores junto aos<br />

diferentes campos, o que certamente irá influenciar positivamente os camponeses a<br />

continuarem com a Agricultura <strong>de</strong> Conservação, num constante processo <strong>de</strong> testar/validar<br />

diferentes consórcios incluindo plantas <strong>de</strong> cobertura (leguminosas e outras) e rotação com<br />

culturas <strong>de</strong> subsistência e mercado (milho, mapira, feijões, amendoim, gergelim, algodão,<br />

etc.). Em pouco tempo, é esperado, nestes Distritos, uma maior implementação e avanço<br />

<strong>de</strong>sta nova tecnologia e, consequentemente um maior número <strong>de</strong> camponeses a adotarem<br />

este sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento agrícola sustentável que é a Agricultura <strong>de</strong> Conservação.<br />

7.2 Resultados obtidos em diferentes países<br />

Inúmeros resultados favoráveis com o emprego da rotação <strong>de</strong> culturas têm sido relatados<br />

em diferentes regiões do mundo.<br />

No Zimbabwe, os rendimentos <strong>de</strong> milho após amendoim foram <strong>de</strong> 6.2 e 7.6t/ha <strong>de</strong> grãos,<br />

conforme as varieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> amendoim, por outro lado sobre pousio os rendimentos foram <strong>de</strong><br />

apenas 4.3t/ha <strong>de</strong> milho (Mukurumbira, 1985).<br />

No Norte da Nigéria, os rendimentos <strong>de</strong> milho foram superiores quando semeados<br />

posteriormente a amendoim, em relação a milho semeado após feijão nhemba, algodão e<br />

mapira. O aumento <strong>de</strong> rendimento está diretamente relacionado com a maior disponibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> nitrogênio no solo após amendoim (Jones, 1974).<br />

As áreas ocupadas por amendoim e soja estão aumentando rapidamente no Norte da<br />

Tailândia. Estas espécies são cultivadas em rotação com arroz, milho e mandioca. A<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> incluir outras leguminosas no sistema <strong>de</strong> rotação, principalmente plantas <strong>de</strong><br />

cobertura é viável para oferecer outras opções <strong>de</strong> seqüência <strong>de</strong> culturas. Resultados nas<br />

terras altas (elevada altitu<strong>de</strong>) <strong>de</strong>sta região, em experimentos com amendoim seguido <strong>de</strong><br />

milho alcançaram um aumento <strong>de</strong> 65% no rendimento <strong>de</strong> milho. Apesar disso, conforme os<br />

autores caso o plantio do milho fosse um pouco mais atrasado, seria suficiente para uma<br />

maior <strong>de</strong>composição dos restolhos do amendoim, seguramente os rendimentos <strong>de</strong> milho<br />

seriam ainda maiores (Toomsan et al. 1993).<br />

Ainda na Tailândia, trabalhos incluindo leguminosas na seqüência apresentaram aumentos<br />

substanciais <strong>de</strong> rendimentos do arroz. Os efeitos <strong>de</strong> feijão nhemba (Vigna unguiculata L.)<br />

antes <strong>de</strong> arroz contribuíram para um aumento <strong>de</strong> 100% no rendimento do arroz (2.2t/ha),<br />

quando comparado com pousio. Eles concluíram que na região Norte (terras altas) <strong>de</strong><br />

Tailândia a limpeza e queima <strong>de</strong> novas áreas levaram a uma diminuição da matéria orgânica<br />

do solo, que po<strong>de</strong>rá ser restaurada com um a<strong>de</strong>quado manejo que inclua a rotação <strong>de</strong><br />

78


culturas com leguminosas, retorno dos restolhos pós-colheita, e manutenção do solo coberto<br />

com mulch na superfície.<br />

Segundo dados do Banco Mundial, o avanço das áreas com plantio direto no Brasil<br />

(Agricultura <strong>de</strong> Conservação), não são por acaso, mas sim frutos da <strong>de</strong>dicação e<br />

persistência por parte dos agricultores e auxilio dos técnicos da pesquisa, extensão rural,<br />

cooperativas e Universida<strong>de</strong>s que juntos se aplicaram nos últimos 33 anos e o Brasil chega<br />

atualmente (Setembro 2005) a ocupar uma área aproximada <strong>de</strong> 22-23 milhões <strong>de</strong> hectares<br />

com este sistema. As diferenças favoráveis ao sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

quando comparado ao sistema convencional (preparo do solo) po<strong>de</strong>m ser observados por<br />

estes dados compilados no Sul do Brasil (Tabela 11).<br />

Tabela 11: Benefícios directos na comparação entre Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

(plantio directo) e sistema convencional (solo preparado)<br />

Sistema <strong>de</strong><br />

manejo do solo e<br />

cultura<br />

Agricultura<br />

convencional<br />

Rendimentos<br />

(kg/ha)<br />

Agricultura <strong>de</strong><br />

Conservação<br />

Aumento do<br />

rendimento<br />

(%) Trabalho<br />

Diminuição em horas/ha/ano<br />

(%)<br />

Uso <strong>de</strong><br />

equipamentos<br />

Consumo <strong>de</strong><br />

combustível<br />

Mecanizado<br />

Soja 2440 3100 27 - 10 - 27 - 27<br />

Milho 4500 5850 30 - 51 - 19 - 19<br />

Tracção animal<br />

Milho 4000 4800 20 - 55 - 66 -<br />

Soja 1460 2000 37 - 59 - 46 -<br />

Fonte: World Bank, 1998a, 1998b<br />

Percebe-se claramente pelos dados que a Agricultura <strong>de</strong> Conservação além <strong>de</strong> proteger o<br />

solo, aumentar os rendimentos das culturas, ainda diminui a mão-<strong>de</strong>-obra, necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

uso <strong>de</strong> equipamentos e menor consumo <strong>de</strong> energia (combustível), <strong>de</strong>monstrando o potencial<br />

<strong>de</strong> ser uma agricultura sustentável.<br />

Numa amostragem efetuada com 477 agricultores do estado do Paraná, Brasil, Bragagnolo<br />

et al. (1997) verificou que a renda liquida média <strong>de</strong> todos estes agricultores que estão<br />

adotando o sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação há alguns anos, aumentou em 59%.<br />

Este aumento da rentabilida<strong>de</strong> é refletido por vários indicadores, tais como: compras <strong>de</strong><br />

bens <strong>de</strong> uso para a casa, um aumento <strong>de</strong> 8% com gastos em produtos elétricos/eletrônicos,<br />

10% mais em investimentos em equipamentos para uso na agricultura e, também no<br />

aumento do número <strong>de</strong> bovinos e aves. Portanto, além <strong>de</strong> melhorar as condições ambientais<br />

com a adoção <strong>de</strong>ste sistema, também a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>stes agricultores teve uma<br />

melhoria substancial.<br />

No Distrito <strong>de</strong> Obligado- Departamento <strong>de</strong> Itapúa, Paraguai, numa área <strong>de</strong> solos argilosos,<br />

Harter (1998) selecionou várias parcelas <strong>de</strong> agricultores com distintos anos <strong>de</strong> plantio direto<br />

e, obteve resultados diferenciados conforme os níveis <strong>de</strong> matéria orgânica, e <strong>de</strong> acordo aos<br />

sistemas <strong>de</strong> produção e anos <strong>de</strong> cultivo. Foram selecionadas as seguintes áreas:<br />

proprieda<strong>de</strong>s com sistema convencional (solo preparado anualmente com aração e<br />

gradagens – tratorizado);<br />

proprieda<strong>de</strong>s com 4 anos <strong>de</strong> plantio direto (não preparo do solo e plantio sobre mulch);<br />

79


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

2 proprieda<strong>de</strong>s com 7 anos <strong>de</strong> plantio direto (não preparo do solo e plantio sobre mulch);<br />

2 proprieda<strong>de</strong>s com 10 anos <strong>de</strong> plantio direto (não preparo do solo e plantio sobre<br />

mulch);<br />

Os aumentos dos níveis <strong>de</strong> matéria orgânica do solo estão diretamente relacionados com os<br />

anos <strong>de</strong> plantio direto e rotação, comparado com a área convencional (solo preparado a<br />

cada ano). Assim, a adição anual <strong>de</strong> resíduos sobre a superfície do solo e o não preparo do<br />

solo promoveu uma melhoria no sistema repercutindo num acumulo <strong>de</strong> crescente <strong>de</strong> matéria<br />

orgânica e condições ambientais favoráveis ao <strong>de</strong>senvolvimento das culturas (Tabela xx).<br />

Tabela 12: Rendimento médio <strong>de</strong> soja (kg/ha) e % <strong>de</strong> matéria orgânica<br />

em plantio directo e convencional<br />

Distrito <strong>de</strong> Obligado, Itapúa, Paraguai (1998)<br />

80<br />

SISTEMA<br />

Produção <strong>de</strong> soja<br />

(kg/ha)<br />

Rendimento<br />

(%)<br />

Matéria orgânica<br />

(%) (0-20 cm)<br />

Preparo convencional<br />

(média <strong>de</strong> 10 anos)<br />

2.050 100,00 2,52<br />

Plantio directo (4 anos) 2.956 144,19 2,71<br />

Plantio directo (7 anos) 3.199 156,05 2,92<br />

Plantio directo (10 anos) 3.188 155,51 3,12<br />

Os resultados alcançados pelos produtores <strong>de</strong> Obligado mostram bem que com o <strong>de</strong>correr<br />

dos anos, o sistema <strong>de</strong> plantio direto além <strong>de</strong> promover uma melhoria no sistema com<br />

aumento dos teores <strong>de</strong> matéria orgânica do solo, ocorreu também um aumento na média<br />

dos rendimentos <strong>de</strong> soja, levando a uma maior rentabilida<strong>de</strong> econômica quando comparada<br />

ao convencional.<br />

O convencional, provoca maiores perdas <strong>de</strong> solos por erosão, diminuição dos níveis <strong>de</strong><br />

matéria orgânica e nutrientes levando a uma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong> fertilizantes<br />

químicos e/ou orgânicos ao longo dos anos. Além <strong>de</strong> uma maior infestação com invasoras e<br />

maior uso <strong>de</strong> herbicidas, e assim um aumento substancial nos custos <strong>de</strong> produção. Quando<br />

comparado aos sistemas <strong>de</strong> plantio direto (4, 7 e 10 anos), os resultados obtidos pelos<br />

produtores mostram que o plantio direto, em termo <strong>de</strong> rendimentos médios <strong>de</strong> soja, foi<br />

superior em 44, 56 e 55% em relação ao sistema convencional (aração e gradagens).<br />

Também nas savanas brasileiras (Região dos Cerrados), on<strong>de</strong> predominam solos <strong>de</strong> textura<br />

franca ou arenosa em algumas regiões e, também com estação <strong>de</strong> chuvas <strong>de</strong>finidas e<br />

menor precipitação que no Sul do Brasil, o sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação tem<br />

<strong>de</strong>monstrado que a renda liquida da proprieda<strong>de</strong> po<strong>de</strong> duplicar em poucos anos (Séguy et<br />

al., 2001).<br />

Estimativas mostram que o Brasil possui uma área superior a 22 milhões <strong>de</strong> hectares<br />

ocupado pelo sistema <strong>de</strong> plantio directo (Agricultura <strong>de</strong> Conservação), enquanto que a nível<br />

Mundial a área ocupada por este sistema é superior a 80 milhões <strong>de</strong> hectares ( III CA<br />

World Congress, 2005). Isto <strong>de</strong>monstra claramente a importância e vantagens <strong>de</strong>ste<br />

sistema, bem como o crescente interesse dos mais diferentes países <strong>de</strong> diversas regiões do<br />

mundo, que tem encontrado na Agricultura <strong>de</strong> Conservação um meio viável <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver<br />

uma agricultura sustentável.


8 COMO ASSEGURAR O AVANÇO E ESTABELECIMENTO<br />

DO SISTEMA <strong>DE</strong> <strong>AGRICULTURA</strong> <strong>DE</strong> <strong>CONSERVAÇÃO</strong><br />

As vantagens do sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação nos mais diversos países, mostram<br />

a viabilida<strong>de</strong> técnica, econômica e social <strong>de</strong>ste sistema quando a<strong>de</strong>quadamente inserido<br />

nos diferentes sistemas <strong>de</strong> produção regionais.<br />

Para que haja uma constante sensibilização principalmente por parte dos camponeses e<br />

técnicos, é necessário <strong>de</strong>senvolver estratégias técnicas e operacionais no sentido <strong>de</strong> atingir<br />

e sensibilizar um maior numero <strong>de</strong> camponeses possível, e buscar meios efetivos <strong>de</strong> se<br />

reproduzir as experiências já validadas em algumas regiões para outras regiões vizinhas.<br />

Para tal, são sugeridas algumas alternativas:<br />

Promover troca <strong>de</strong> experiências entre camponeses locais ou <strong>de</strong> diferentes regiões/Distritos<br />

(ex. camponês/camponês, dias <strong>de</strong> campo, viagens <strong>de</strong> estudo treino/visita, machamba<br />

escola, grupo <strong>de</strong> camponeses, cursos <strong>de</strong> treinamento práctico (manejo <strong>de</strong> coberturas, ajuste<br />

<strong>de</strong> máquinas, equipamentos, etc.)<br />

Através do envolvimento dos grupos <strong>de</strong> camponeses na condução dos trabalhos à campo:<br />

Instalação; acompanhamento, avaliação e validação das UTVs (Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Teste e<br />

Validação) <strong>de</strong> algumas tecnologias preconizadas para aquela <strong>de</strong>terminada região e sistema<br />

<strong>de</strong> produção. Assim, após um período <strong>de</strong> estudos e comprovação das tecnologias ou do<br />

sistema testado e, após alguns resultados já validados em machambas representativas;<br />

esforços <strong>de</strong>verão ser empregados no sentido <strong>de</strong> buscar estratégias <strong>de</strong> disseminação <strong>de</strong>ssas<br />

inovações tecnológicas, <strong>de</strong> forma que outros grupos <strong>de</strong> camponeses possam ter acesso e<br />

conhecê-las, assim como levar às suas machambas e implementá-las em pequenas áreas<br />

para uma comprovação local, e posteriormente já num processo <strong>de</strong> adoção incrementar<br />

em áreas maiores das machambas.<br />

Deverão ser buscadas estratégias para <strong>de</strong>senvolver uma melhor difusão do sistema <strong>de</strong><br />

Agricultura <strong>de</strong> Conservação, planificando dias-<strong>de</strong>-campo, visitas camponês/camponês,<br />

documentários, jornais, folhetos, manuais, rádio, procurando envolver os diferentes atores<br />

na divulgação das vantagens e benefícios <strong>de</strong>ste Sistema.<br />

Na seleção <strong>de</strong> novas espécies <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura, o potencial <strong>de</strong> uso na alimentação<br />

humana, também <strong>de</strong>verá ser consi<strong>de</strong>rado, haja visto que plantas com múltiplos usos<br />

oferecem melhores chances <strong>de</strong> serem validados e preferidas pelos camponeses. Assim,<br />

espécies potenciais <strong>de</strong>verão ser testadas no sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação: lablab,<br />

feijão arroz, ruquesa, feijão bóer anão (verão), e lentilha, ervilhas, chicharo, tremoço, canola<br />

(inverno/regiões <strong>de</strong> elevada altitu<strong>de</strong>), etc. os quais irão facilitar a adoção por parte dos<br />

camponeses; além <strong>de</strong> se buscar a inclusão <strong>de</strong> espécies oleaginosas nas rotações, tais<br />

como: girassol, nabo forrageiro, ricinus (mfuta), etc.(potencial <strong>de</strong> uso na produção <strong>de</strong><br />

biodiesel).<br />

Para que seja dado um salto em termos <strong>de</strong> aumento <strong>de</strong> áreas com o cultivo <strong>de</strong> grãos em<br />

Agricultura <strong>de</strong> Conservação: milho, mapira, feijões, mexoeira, amendoim, etc., faz-se<br />

necessário a viabilização dalgumas máquinas <strong>de</strong> plantio direto: plantio direto tração animal<br />

<strong>de</strong> 2 linhas e, também tractorizadas sejam disponibilizadas aos camponeses;<br />

Maior disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> matracas e rolo-faca para que mais camponeses possam ter<br />

acesso à estas ferramentas da Agricultura <strong>de</strong> Conservação;<br />

81


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

Viabilização <strong>de</strong> animais <strong>de</strong> tração, como no caso <strong>de</strong> Gorongosa, para que possam ser<br />

treinados e disponibilizados aos pequenos camponeses;<br />

A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso por parte dos camponeses irá certamente contribuir para que um<br />

maior numero <strong>de</strong> camponeses possam conhecer o sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação,<br />

po<strong>de</strong>ndo abranger uma maior área no processo <strong>de</strong> teste/validação e, consequentemente<br />

maior difusão e adoção do sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação.<br />

Pela dinâmida<strong>de</strong> que apresenta o sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação, cursos e<br />

treinamento/capacitação contínua <strong>de</strong>verão sempre ser contemplados, tanto para técnicos<br />

como para camponeses, versados principalmente em ativida<strong>de</strong>s e experiências <strong>de</strong> campo.<br />

Os resultados obtidos ao longo dos anos com o sistema <strong>de</strong> plantio direto pelos produtores<br />

brasileiros e outros países tropicais, tem mostrado:<br />

aumento nos teores <strong>de</strong> carbono orgânico do solo<br />

maior armazenamento e diminuição <strong>de</strong> perdas <strong>de</strong> água no solo<br />

manutenção e melhoria da fertilida<strong>de</strong> do solo (proprieda<strong>de</strong>s químicas, físicas e<br />

biológicas)<br />

redução dos custos <strong>de</strong> produção: menos trabalho, menor infestação <strong>de</strong> invasoras,<br />

diminuição da ocorrência <strong>de</strong> pragas e doenças<br />

maior estabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção das culturas<br />

aumento no rendimento das culturas<br />

aumento na renda líquida da família através da redução da mão-<strong>de</strong>-obra, e diminuição<br />

da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia.<br />

Por outro lado, os principais sistemas <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> Moçambique <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m<br />

sobremaneira da tração humana, principalmente o uso <strong>de</strong> enxadas, no qual o preparo do<br />

solo e a sacha/monda consistem nos maiores <strong>de</strong>safios e penosida<strong>de</strong> do trabalho,<br />

principalmente para as mulheres que normalmente contribuem com a maior mão-<strong>de</strong>-obra<br />

nas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> campo. Dessa forma, qualquer tecnologia ou sistema que permita uma<br />

redução na mão-<strong>de</strong>-obra ou diminuição da penosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho tem gran<strong>de</strong> chance <strong>de</strong><br />

ter sucesso no meio rural. A Agricultura <strong>de</strong> Conservação já esta validada em vários Distritos<br />

por vários camponeses que estão obtendo resultados muito favoráveis e encorajadores a<br />

continuar aumentar e difundir este Sustentável Sistema <strong>de</strong> Produção Agropecuária para<br />

outros camponeses <strong>de</strong> toda a Província <strong>de</strong> Sofala.<br />

É necessário que o processo <strong>de</strong> validação continue avançando a outros camponeses em<br />

diferentes regiões, on<strong>de</strong> ainda não foram validados os componentes do sistema e, ao<br />

mesmo tempo se fazem necessário <strong>de</strong>senvolver estratégias eficientes <strong>de</strong> sensibilização e<br />

difusão <strong>de</strong>ste processo a todos os <strong>de</strong>mais camponeses da Província <strong>de</strong> Sofala.<br />

82


BIBLIOGRAFIA<br />

Alcântara , P. B. & Bufarah, G. Plantas forrageiras: gramíneas e leguminosas. São Paulo,<br />

Nobel, 150p. 1980.<br />

Araújo, A. G.; Casão, Jr. R.; Skora Neto, F.; Merten, G.; Fernan<strong>de</strong>s, F.F.; Siqueira, M.<br />

Pesquisa do IAPAR: O plantio direto na pequena proprieda<strong>de</strong>. Jornal do Plantio Direto, 3(1).<br />

p.3. 1991.<br />

Bragagnolo, N., W. Pan, and L.C. Thomas. Solo: uma experiência em manejo e<br />

conservação. Ed. do autor, Curitiba, Paraná, Brazil, 102 pp. 1997.<br />

Burton, R. L. & Burd, J. D. Effects of surface residues on insect dynamics. In “ Managing<br />

Agricultural residues. Edited by Paul W. Unger. 1994. CRC Press. Boca Raton, Florida,<br />

USA. P.245-260.<br />

Calegari, A.; Mondardo, A.; Bulisani, E. A..; Wildner, L. do P.; Costa, M. B.B. ; Alcântara,<br />

P.B.: Miyasaka, S. & Amado, T. J. C. Adubação ver<strong>de</strong> no sul do Brasil. 3 a .ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

RJ, AS-PTA, 346p. 1993.<br />

Calegari, A. Espécies para cobertura do solo. In: Plantio direto- Pequena Proprieda<strong>de</strong><br />

Sustentável. Edited by Moacir Roberto Darolt. Londrina, (Iapar, Circular, 101). p.65-94. 1998.<br />

Calegari, A. Agricultura <strong>de</strong> Conservação - Implementação do maneio a<strong>de</strong>quado do solo e<br />

práticas culturais rumo à sustentabilida<strong>de</strong> económica e ambiental (quarta missão). Missão<br />

Relatório 6-14 Junho 2003. Cooperação Austríaca (PROMEC), Sofala – Moçambique. 2003.<br />

Calegari, A. Agricultura <strong>de</strong> Conservação - Relatório <strong>de</strong> Consultoria. Missão Relatório 16-29<br />

Janeiro 2005 – AGEG/H3000 - GTZ-PRO<strong>DE</strong>R, Moçambique. 2005<br />

Calegari, A., Ashburner, J.. Some experiences with conservation agriculture in Africa. In “ III<br />

World Congress on Conservation Agriculture”. Linking production, Livelihoods and<br />

Conservation. 3– 7 October, Nairobi, CD-ROM. 2005<br />

Calegari, A.; Ashburner, J. and Fowler, R. Conservation Agriculture in Africa FAO, Regional<br />

Office for Africa, Accra, Ghana. ISBN: 9988-627-04. 91p. 2005.<br />

Calegari, A. Agricultura <strong>de</strong> Conservação - Implementação do maneio a<strong>de</strong>quado do solo e<br />

práticas culturais rumo à sustentabilida<strong>de</strong> económica e ambiental (quarta missão). Missão<br />

Relatório 09 -15 Janeiro 2005 – Cooperação Austríaca (PROMEC – APROS – PACDIB) –<br />

Sofala, Moçambique. 2005.<br />

Calegari, A. Leguminosas para adubação ver<strong>de</strong> <strong>de</strong> verão no Paraná. Londrina, (Iapar,<br />

Circular, 80), 118p. 1995.<br />

Calegari, A. The spread and benefits of no-till Agriculture in Paraná State, Brazil. In:<br />

UPHOFF N. Agroecological Innovations: Increasing food production with participatory<br />

<strong>de</strong>velopment, London, Earthscan, 2002, p.187-202.<br />

Charpentier, H. , S. Doumbia, Z. Coulibaly, and O. Zana. Fixation <strong>de</strong> l’agriculture au nord <strong>de</strong><br />

la Côte d’Ivoire : quels nouveaux systèmes <strong>de</strong> culture? in Agriculture et développement, No.<br />

21, p. 4-70, 1999. CIRAD, Montpellier, France.<br />

83


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

Cook, R. L. and Ellis, B.G. Soil management a World view of conservation and production.<br />

John Wiley & Sons. USA. 1987.<br />

Derpsch, R.; Roth, C.H.; Sidiras, N. & Köpke, U.. Controle da erosão no Paraná, Brasil:<br />

Sistemas <strong>de</strong> cobertura do solo, plantio direto e preparo conservacionista do solo. Eschborn:<br />

GTZ/IAPAR,. 1991. 272p.<br />

Florentin, M. A.; Peñalva, M. ; Calegari A. & Derpsch, R. Abonos ver<strong>de</strong>s e rotacao <strong>de</strong><br />

culturas no sistema <strong>de</strong> plantio direto. Pequenas proprieda<strong>de</strong>s. Proyecto Conservación <strong>de</strong><br />

Suelos MAG-GTZ. San Lorenzo. Edited by Artes Gráficas, Asunción Paraguay. 2001. 83<br />

páginas.<br />

Fries, M. R. & Aita. C. Aspectos básicos sobre a importância dos microorganismos em<br />

plantio direto. In “III Curso sobre aspectos básicos <strong>de</strong> fertilida<strong>de</strong> e microbiologia do solo em<br />

plantio direto. Cruz Alta, RS, 1999. RESUMOS. Ed. Al<strong>de</strong>ia Norte, Passo Fundo-RS. P. 90-<br />

110.<br />

Herter, L. I. T. Avaliação da produtivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um latossolo, sob plantio direto. In: Revista<br />

Plantio direto, Edição no. 44, Março/Abril <strong>de</strong> 1998. Passo Fundo, RS. P. 20-25.<br />

Jones, M.J. Effects of previous maize crop on yield and nitrogen response of maize at<br />

Samaru, Nigeria. Experimental Agriculture, 10, 273-279. 1974.<br />

Mukurumbira, L. M. Effects of rate of fertiliser nitrogen and previous grain legume crop on<br />

maize yields. Zimbabwe Agricultural Journal, 82, 177-179. 1985.<br />

Peñalva, M. & Calegari, A.. Integración <strong>de</strong> abonos ver<strong>de</strong>s em sistemas hortícolas y<br />

frutícolas. Canelones, Uruguay, MGAP, (JUNAGRA)-GTZ, April, 154p. 1999.<br />

Pieri, C.; Evers, G.; Lan<strong>de</strong>rs, J.; O´Connell, P. & Terry E. No-till farming for sustainable rural<br />

<strong>de</strong>velopment. Agriculture & Rural <strong>de</strong>velopment working paper. The International Bank for<br />

Reconstruction and Development Rural Development Department. Washington, DC, USA.<br />

65p. 2002.<br />

Pru<strong>de</strong>ncio, Yves, C.; Kaumbutho, P. G., Calegari, A., Bwalya, M. Conservation Agriculture<br />

For Sustainable Land Management, Food Security and Improved Livelihood in Africa.<br />

Extension & Training ManualA Publication of the Soil Fertility Initiative (World<br />

Bank/AFR/ESSD), and the Africa Conservation Tillage Initiative (ACT). CD-ROM. 2004.<br />

Rue<strong>de</strong>ll, J. Plantio direto na Região <strong>de</strong> Cruz Alta. Conv. Fundacep/Basf.<br />

Fundacep/Fecotrigo, Crus Alta, RS, 1995. 134 p.<br />

Santos, M. A. & Ruano, O. Reação <strong>de</strong> plantas usadas como adubos ver<strong>de</strong>s a Meloidogyne<br />

incognita; Raça 3 e M. javanica. Nematologia brasileira,S.I, (11):184-97,1987.<br />

Séguy, L..; S. Bouzinac; and Maronezzi, A. C. Dossier du Semis Direct. 1) Dossier Systèmes<br />

<strong>de</strong> culture et dynamique <strong>de</strong> la matière organique. 2) Dossier Concept, méthodologie et<br />

impact. 3) Dossier Figures et photos. CIRAD, in collaboration with Agro Norte/Brazil, ANAE,<br />

TAFA and FOFIFA/Madagascar, MAEDA. CIRAD/CA. 2001. Gestion <strong>de</strong>s Ecosystèmes<br />

Cultivés, Montpellier France.<br />

Sharma, R.D.; Pereira, J. & Resck, D.V.S. Eficiência <strong>de</strong> adubos ver<strong>de</strong>s no controle <strong>de</strong><br />

nematói<strong>de</strong>s associados à soja nos cerrados. Planaltina, EMBRAPA/CPAC. 30p. (Boletim <strong>de</strong><br />

Pesquisa, 13). 1982.<br />

84


Skora Neto, F. Controle <strong>de</strong> Plantas Daninhas nas Pequenas Proprieda<strong>de</strong>s. In: Anais do I<br />

Encontro Latino Americano <strong>de</strong> Plantio Direto na Pequena Proprieda<strong>de</strong>. 22-26 novembro.<br />

Ponta Grossa, PR. p.73-88. 1993.<br />

Skora Neto, F. Efeito da prevenção <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> sementes pelas plantas daninhas e da<br />

aplicação <strong>de</strong> herbicida em jato dirigido na <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> infestação na cultura do milho em<br />

anos sucessivos. Planta Daninha, v.19,<br />

n.1, p.1-10. 2001.<br />

Sustainable Agriculture Extension Manual for Eastern and Southern Africa. International<br />

Institute of Rural Reconstruction”, Nairobi, Kenya. 241p., IIRR, 1998.<br />

Taimo, J. P. C.; Calegari, A. and Schug, M. Conservation agriculture approach for poverty<br />

reduction and food security in Sofala Province, Mozambique. In “ III World Congress on<br />

Conservation Agriculture”. Linking production, Livelihoods and Conservation. 3– 7 October,<br />

Nairobi, CD-ROOM. 2005.<br />

Tecnologias para o Desenvolvimento Rural – Descrição breve <strong>de</strong> Tecnologias<br />

recomendadas. Direcção Provincial <strong>de</strong> Agricultura e Desenvolvimento Rural <strong>de</strong> Sofala –<br />

Serviços Provinciais <strong>de</strong> Extensão Rural. PRO<strong>DE</strong>R / PISA, GTZ, Província <strong>de</strong> Sofala,<br />

Outubro 2002, Moçambique, 42p. 2002.<br />

Toomsan, B., et al. Residual effects of grain legumes on following crops in north-eastern<br />

Thailand. In Soil Org. matter dynamics and sustain. of tropical agriculture.Edited by K.<br />

Mulongoy and R. Merckx. IITA/K.U. Leuven. A Wiley-Sayce Co- Publication pp. 361-366.<br />

1993.<br />

Unger, P. W. Managing Agricultural residues. Edited by Paul W. Unger. CRC Press. Boca<br />

Raton, Florida, USA. 448 p. 1994.<br />

Venialgo, N. Efecto <strong>de</strong> los sistemas <strong>de</strong> labranza en el control <strong>de</strong> la pérdida <strong>de</strong> suelo por<br />

erosión hídrica. Anales, “ II Encuentro Latinoamericano <strong>de</strong> Siembra Directa en Pequeñas<br />

Propieda<strong>de</strong>s” , E<strong>de</strong>lira, Paraguay, 11-14. 3. 1996.<br />

World Bank,. Implementation Completion Report; Brazil, Land Management I Project,<br />

Paraná. ESSD, Sector Management Unit, LAC, Washington D.C., 1998a. World Bank.<br />

World Bank, Implementation Completion Report; Brazil, Land Management II Santa Catarina<br />

Project, ESSD, Sector Management Unit, LAC, Washington D.C., 1998b. World Bank.<br />

85


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

ANEXOS<br />

Anexo 1: Manejo ambiental a<strong>de</strong>quado evitando as queimadas.............................................87<br />

Anexo 2: Plantas <strong>de</strong> cobertura comuns na Província <strong>de</strong> Sofala ............................................89<br />

Anexo 3: Produção <strong>de</strong> massa vegetal <strong>de</strong> diferentes espécies <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura<br />

e % <strong>de</strong> nutrientes na matéria seca..........................................................................92<br />

Anexo 4: Características, comportamento e recomendações para o uso <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong><br />

cobertura <strong>de</strong> primavera/verão .................................................................................93<br />

Anexo 5: O sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação no Brasil.............................................103<br />

Anexo 6: Características <strong>de</strong> diferentes espécies <strong>de</strong> plantas melhoradas <strong>de</strong> solos .............105<br />

86


Anexo 1: Manejo ambiental a<strong>de</strong>quado evitando as queimadas<br />

Inúmeros são os fatores que po<strong>de</strong>m provocar as queimadas: restos <strong>de</strong> cigarros,<br />

agricultura itinerante, caça, apicultura, <strong>de</strong>scuido <strong>de</strong> muitas pessoas, pratica cultural <strong>de</strong><br />

queimar resíduos pós-colheita, inexistência <strong>de</strong> aceiros ou barreiras <strong>de</strong> controle do fogo,<br />

etc. Além disso, outros aspectos <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>rados quanto ao processo contínuo<br />

<strong>de</strong> sensibilização das comunida<strong>de</strong>s: medidas <strong>de</strong> sensibilização acompanhadas <strong>de</strong><br />

medidas administrativas, divulgação <strong>de</strong> pacote legal (Lei da terra, Lei das Florestas),<br />

promoção <strong>de</strong> tecnologias simples e <strong>de</strong> baixo custo <strong>de</strong> implantação, incrementar meios<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver uma agricultura não extrativista e esgotante dos recursos naturais mas<br />

sim <strong>de</strong> preservação e aumento da capacida<strong>de</strong> produtiva dos recursos, viabilizando a<br />

exploração racional dos recursos naturais.<br />

Diversos aspectos relevantes quanto ao combate/controle das queimadas e,<br />

simultaneamente métodos e/ou práticas agrícolas po<strong>de</strong>m contribuir para uma maior<br />

diversificação e proteção da água, da floresta e do solo agrícola, ou seja, métodos e<br />

procedimentos que permitam uma exploração racional e sustentável do meio com um<br />

mínimo <strong>de</strong> interferência no equilíbrio ambiental, são procedimentos a serem buscados<br />

no sentido <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver um manejo sustentável do ambiente.<br />

Muitas situações são relatadas por técnicos e mesmo camponeses: “a maioria utiliza o<br />

fogo porque não possuem outro meio <strong>de</strong> limpar as machambas”; <strong>de</strong>monstrando assim<br />

que os campos cultivados estão na maioria dos casos completamente tomados por<br />

plantas invasoras, ou seja, a maior parte do tempo consumido pelos camponeses nas<br />

machambas é para a limpeza e controle da alta infestação <strong>de</strong> plantas in<strong>de</strong>sejáveis.<br />

Nesse sentido é também fundamental <strong>de</strong>senvolver o sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong><br />

Conservação (SAC) on<strong>de</strong> o mulch (capins, restolhos dos cultivos, etc.) <strong>de</strong>ve permanecer<br />

cobrindo o solo quase que todo o ano, promovendo um controle bastante eficiente das<br />

invasoras e, consequentemente o camponês terá um maior tempo disponível para outras<br />

ativida<strong>de</strong>s e, inclusive para aumentar a área <strong>de</strong> cultivo <strong>de</strong> suas machambas. Portanto,<br />

indirectamente o SAC também irá contribuir para diminuir os riscos <strong>de</strong> queimadas, e<br />

maior protecção <strong>de</strong> todo o meio ambiente.<br />

A experiência brasileira e, também a <strong>de</strong> outros países sobre Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

tem reforçado a importância <strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolver sistemas racionais e sustentáveis <strong>de</strong><br />

manejo do solo e <strong>de</strong> cultivos. Assim, a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> espécies nativas locais<br />

(leguminosas e outras), com potencial <strong>de</strong> serem introduzidas nos sistemas <strong>de</strong> produção<br />

regional, e posteriormente validadas pelos camponeses em suas machambas, também a<br />

avaliação <strong>de</strong> espécies exóticas potenciais (algumas inclusive já vem sendo empregadas<br />

em algumas regiões (mucunas, lablab, feijão bóer, nhemba, etc.), o uso integrado <strong>de</strong><br />

outras práticas complementares conservacionistas do solo e da água (barreiras vivas,<br />

muralha <strong>de</strong> pedras, cordões vegetados, canal escoadouro vegetado, cultivos<br />

associados/intercalados por ex. milho + mucuna, mapira + feijão bóer, etc.,) <strong>de</strong>vem ser<br />

intensificadas e <strong>de</strong> uma forma racional e harmônica integradas tanto a nível <strong>de</strong><br />

proprieda<strong>de</strong> agrícola como a nível <strong>de</strong> microbacia hidrográfica.<br />

A constante busca <strong>de</strong> manutenção e aumento da melhoria da capacida<strong>de</strong> produtiva dos<br />

solos, aliado a uma menor necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra, com diminuição nos custos <strong>de</strong><br />

produção e aumento da produção e da produtivida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>senvolvidos <strong>de</strong> uma forma<br />

equilibrada e com protecção ambiental, são etapas a serem atingidas quando o SAC for<br />

<strong>de</strong>vidamente implementado nas diferentes regiões agrícolas <strong>de</strong> todo o País.<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> Projetos, alguns com activida<strong>de</strong>s em andamento, on<strong>de</strong> são<br />

<strong>de</strong>senvolvidos estratégias no sentido <strong>de</strong> promover mudanças junto aos camponeses,<br />

87


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

88<br />

levando-os a pensar e agirem com um espírito empreen<strong>de</strong>dor e com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

tornarem-se empresários agrícolas, não apenas com a produção familiar (subsistência),<br />

mas com a implementação do SAC, os ganhos e melhoria da qualida<strong>de</strong> do solo irá<br />

seguramente incorrer num aumento da produção e da produtivida<strong>de</strong> e<br />

consequentemente um maior exce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> produtos que po<strong>de</strong>rão serão direccionados<br />

ao mercado (local e externo). Dessa forma, certamente ocorrerá um acréscimo da renda<br />

líquida das famílias, repercutindo numa melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e, principalmente com<br />

preservação ambiental e exploração sustentável (econômica, agro-ecológica e social).<br />

Seguramente os princípios e conceitos da Agricultura <strong>de</strong> Conservação, necessitam ser<br />

internalizados por todos os técnicos e produtores “chaves” nos Distritos trabalhados.<br />

Buscando meios práticos e factíveis <strong>de</strong> aplicação prática nos diferentes sistemas <strong>de</strong><br />

produção regionais com vistas a economizar mão-<strong>de</strong>-obra, com a não necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

lavrar o solo e não queimar os resíduos, libera maior tempo para aumentar a área da<br />

machamba (aumentando a área <strong>de</strong> produção) e, com o SAC certamente com o tempo<br />

ocorrerá um aumento da produção e da produtivida<strong>de</strong> dos diferentes cultivos,<br />

incrementando a renda familiar, e a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos camponeses.<br />

Devem ser oferecidos e divulgados aos camponeses, sistemas alternativos à queimadas no<br />

sentido <strong>de</strong> se evitar a queima <strong>de</strong> florestas, restolhos dos cultivos, <strong>de</strong>composição e perdas da<br />

matéria orgânica e <strong>de</strong>gradação das proprieda<strong>de</strong>s do solo (químicas, físicas e biológicas),<br />

evitando-se danos ambientais e diminuição do potencial produtivo das terras agricultáveis.<br />

A continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhos junto a grupos <strong>de</strong> camponeses previamente seleccionados<br />

<strong>de</strong>verão ser priorizados, fazendo-se oportunamente os ajustes necessários, e a coleta das<br />

informações e dados gerados no processo <strong>de</strong> teste/validação efectuados pelos camponeses<br />

nas diferentes regiões, em direcção a uma Agricultura mais racional e Sustentável.<br />

Explorando o ambiente <strong>de</strong> forma racional e equilibrada, mantendo/aumentando a<br />

capacida<strong>de</strong> produtiva dos solos, com um mínimo <strong>de</strong> riscos ambientais e <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação dos<br />

recursos naturais, diminuindo a penosida<strong>de</strong> dos trabalhos <strong>de</strong> campo e, oferecendo meios <strong>de</strong><br />

domínio <strong>de</strong> tecnologias simples e <strong>de</strong> fácil adaptação aos meios produtivos,<br />

consequentemente abrindo oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aumento da área cultivada, com a elevação<br />

dos níveis <strong>de</strong> renda familiar dos camponeses.


Anexo 2: Plantas <strong>de</strong> cobertura comuns na Província <strong>de</strong> Sofala<br />

Comportamento e características gerais – Exemplos da região do Distrito do Búzi<br />

Foi implantado um “screening” (colecção) <strong>de</strong> diferentes espécies <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura<br />

activida<strong>de</strong> esta conduzida e sob a responsabilida<strong>de</strong> da DADR local.<br />

Este campo <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> diferentes espécies <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura foi implantado no<br />

Distrito do Búzi no ano <strong>de</strong> 2002, sendo o solo bastante arenoso e <strong>de</strong> fertilida<strong>de</strong> muito baixa.<br />

Algumas plantas que se <strong>de</strong>stacaram nestas condições:<br />

Feijão bóer anão: completou o ciclo aos 120-130 dias da semeadura;<br />

Mucunas (ver<strong>de</strong>, preta): já completaram o ciclo; sendo que as folhas já estão em fase<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>composição sobre solo<br />

Clitoria ternatea: excelente vigor, boa produção <strong>de</strong> biomassa, em fase <strong>de</strong><br />

florescimento, com algumas vagens já secas (po<strong>de</strong>ndo ser colhidas)<br />

Crotalaria juncea: já completou o ciclo<br />

Crotalaria spectabilis: parte das plantas já completaram o ciclo, e parte estão com<br />

vagens<br />

Calopogonio mucunoi<strong>de</strong>s: apresenta um excelente <strong>de</strong>senvolvimento e vagens em fase<br />

final <strong>de</strong> maturação<br />

O feijão <strong>de</strong> porco (Canavalia ensiformis) apresentou um bom <strong>de</strong>senvolvimento e<br />

praticamente já havia completado o ciclo<br />

Percebe-se que há vários materiais com gran<strong>de</strong> potencial <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e, inclusive<br />

vários <strong>de</strong>les já com experiências regionais comprovadas e validadas pelos camponeses.<br />

Como é o caso <strong>de</strong>: Mucunas, feijão bóer, o feijão bóer anão, crotalarias (principalmente<br />

juncea e spectabilis), Clitoria ternatea, Calopogonio mucunoi<strong>de</strong>s, lablab, feijão mungo (Vigna<br />

radiata) que além <strong>de</strong> melhorar o solo é uma gran<strong>de</strong> opção na alimentação humana.<br />

Ainda alguns materiais como: Setaria italica (ciclo curto: 50-75 dias), finger millet – Eleusine<br />

coracana (marumbi ou ruquesa ou milho miúdo), Feijão arroz (Vigna umbelata), se faz<br />

necessário continuar com as avaliações em razão do gran<strong>de</strong> potencial que possuem estas<br />

espécies (protecção do solo, alimentação humana e animal – excepto setaria).<br />

Deve-se continuar com as colecções com outras espécies <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura, inclusive<br />

algumas espécies nativas com potencial, no sentido <strong>de</strong> melhor avaliar e se ter mais opções<br />

para incluir nas rotações dos diferentes sistemas <strong>de</strong> produção regional.<br />

Um dos gran<strong>de</strong> problemas comum à maioria dos camponeses dos diferentes Distritos é a<br />

alta infestação <strong>de</strong> invasoras (plantas daninhas), principalmente Cyperus spp., Cynodon<br />

dactilum (sp.), etc., o que dificulta bastante os cultivos, alta competição com as culturas, alta<br />

utilização <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra em razão da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> várias operações <strong>de</strong> sacha e<br />

monda.<br />

Portanto, perante estas condições, a <strong>de</strong>finição do uso a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas espécies<br />

<strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura <strong>de</strong>vidamente adaptados aos sistemas <strong>de</strong> produção regional (o que<br />

<strong>de</strong>verá ser realizado previamente através dos processos <strong>de</strong> Teste / Validação efectuado<br />

pelos camponeses), consiste em uma das ferramentas essenciais (componente essencial),<br />

que a ser integrado com outros componentes, tais como não queimar os resíduos; não arar<br />

o solo; efectuar a rotação <strong>de</strong> culturas – fundamentos básicos do sistema da Agricultura <strong>de</strong><br />

Conservação e outros como procurar <strong>de</strong>senvolver preferentemente processos biológicos no<br />

manejo <strong>de</strong> pragas / doenças e invasoras , assim como procurar usar biofertilizantes; realizar<br />

o plantio direto <strong>de</strong> culturas <strong>de</strong> grãos ou hortaliças (sementes ou transplante <strong>de</strong> mudas) sobre<br />

palhada; po<strong>de</strong> promover uma agricultura sustentável para o produtor familiar.<br />

89


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

Numa nova visita, foi verificado que algumas coberturas ainda estavam na área:<br />

• Mucuna cinza e preta<br />

• Calopogonium mucunoi<strong>de</strong>s<br />

• Feijão bravo do Ceará (Canavalia brasiliensis)<br />

• Clitoria ternatea<br />

Todas estas plantas <strong>de</strong> cobertura haviam produzido sementes e, embora tenham sido<br />

colhidas, muitas sementes caíram no solo e ressemearam naturalmente. A quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

biomassa <strong>de</strong> todos os materiais era muito boa, sendo que a mucuna cinza e Calopogonium<br />

mucunoi<strong>de</strong>s controlaram totalmente o capim que vegetava na área (Cynodon dactilon).<br />

Portanto, estas plantas mostraram-se muito eficientes no uso <strong>de</strong> melhoramento <strong>de</strong> pousio<br />

(áreas <strong>de</strong>gradadas).<br />

Seguramente através dos trabalhos realizados em áreas <strong>de</strong> camponeses, on<strong>de</strong> seja<br />

possível a integração <strong>de</strong>stes componentes e os ajustes necessários efectuado<br />

oportunamente, os rumos <strong>de</strong> uma Agricultura Sustentável estarão sendo trilhados em<br />

condições reais e factíveis <strong>de</strong> realização a nível <strong>de</strong> pequenos camponeses na Província <strong>de</strong><br />

Sofala. Dessa forma, o ambiente estará cada vez mais preservado; a capacida<strong>de</strong> produtiva<br />

dos solos elevada; os riscos <strong>de</strong> contaminação ambiental diminuídos; seguramente haverá<br />

menor penosida<strong>de</strong> dos trabalhos e maior disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra com consequente<br />

maior área <strong>de</strong> cultivo, maior produção e maior renda aos camponeses; isto indirectamente<br />

irá proporcionar uma maior qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida àqueles que estão cultivando a terra.<br />

Portanto, se tem experiências e bons resultados nos diferentes Distritos com algumas<br />

espécies <strong>de</strong> cobertura, como é o caso das Mucunas, lablab, Crotalaria juncea e, também<br />

algumas com múltiplos fins: alimentação humana e animal, proteção e recuperação <strong>de</strong><br />

solos: feijão bóer, feijão nhemba, mexoeira, murumbi, e outras; além das espécies<br />

leguminosas nativas encontradas naturalmente vegetando as diferentes regiões da<br />

Província <strong>de</strong> Sofala: Crotalarias, Sesbanias, Vignas, Indigoferas, Canavalias, Calopogonium<br />

sp., Pueraria sp., Stylosanthes sp., Arachis sp., Centrosema sp., Macroptilium sp. e diversas<br />

outras espécies com gran<strong>de</strong> potencial <strong>de</strong> fazerem parte <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> rotação <strong>de</strong> culturas<br />

com outras culturas (subsistência e <strong>de</strong> renda). Necessitando regionalmente testar e validar<br />

nas machambas estas espécies potenciais e importante componente do Sistema <strong>de</strong><br />

Agricultura <strong>de</strong> Conservação.<br />

Alternativas <strong>de</strong> plantas para áreas com elevada altitu<strong>de</strong> e temperaturas baixas no<br />

inverno:<br />

Em regiões <strong>de</strong> elevada altitu<strong>de</strong> (800-1000m., ou mais), como por exemplo na região <strong>de</strong><br />

Gorongosa (Canda-Nhabirira), muitos camponeses nessas condições estão cultivando<br />

hortícolas em geral: alho, batata, repolho, milho, etc.<br />

No inverno geralmente po<strong>de</strong> ocorrer baixas temperaturas, po<strong>de</strong>ndo apresentar mínimas <strong>de</strong><br />

11-12°C nos meses <strong>de</strong> abril, maio, junho e julho; portanto oferecendo potencial <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> culturas tais como: ervilha (Pisum sativum), lentilha (Lens culinaris),<br />

grão <strong>de</strong> bico (Cicer arietinum), tremoços doces (Lupinus sp.), canola (Brassica napus), trigo<br />

(Triticum aestivum), cevada (Hor<strong>de</strong>um vulgare), centeio (Secale cereale), aveias (Avena<br />

sp.), triticale (X triticosecale), trigo sarraceno (trigo mourisco) (Fagopirum esculentum), etc.,<br />

com elevado potencial <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Também algumas forrageiras e melhoradoras <strong>de</strong> solos po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senvolver: trevos (Trifolium<br />

sp.), cornichão (Lotus corniculatus), serra<strong>de</strong>la (Ornithopus sativus), azevém (Lollium<br />

90


multiflorum), etc. Além da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crescer algumas frutíferas perenes: vi<strong>de</strong>ira,<br />

pessegueiro, figueiras, nectarinas, etc.<br />

Assim, existe um potencial em aumentar a diversificação <strong>de</strong> culturas nessas áreas, <strong>de</strong>vendo<br />

os sistemas <strong>de</strong> produção serem testados e validados pelos camponeses e, com a geração<br />

<strong>de</strong> novas alternativas para o mercado e melhoria da dieta alimentar, com incremento da<br />

rentabilida<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos camponeses locais.<br />

91


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

Anexo 3: Produção <strong>de</strong> massa vegetal <strong>de</strong> diferentes espécies <strong>de</strong><br />

plantas <strong>de</strong> cobertura e % <strong>de</strong> nutrientes na matéria seca<br />

92<br />

ESPÉCIES<br />

Massa<br />

ver<strong>de</strong><br />

(t/ha)<br />

Matéria<br />

seca<br />

(t/ha)<br />

Nitrogénio Fósforo Potássio<br />

(% na matéria seca)<br />

Mexoeira 11 - 90 3.5 - 21 0.34 - 1.46 0.13 - 0.29 1.05 - 3.12<br />

Feijão nhemba 20 - 33 2.5 - 6 1.67 - 2.22 0.25 - 0.50 1.82 - 2.77<br />

Mucuna cinza 10 - 25 2 - 6 1.56 - 2.43 0.46 - 0.57 1.00 - 1.55<br />

Feijão bóer 18 - 45 5 - 12 2,41 - 2,85 0,12 - 0,19 2,40 - 2,84<br />

Feijão bóer anão 14- 22 2 - 6.5 1.02 - 2.04 0.21 - 0.28 0.92 - 1.47<br />

Mucuna preta 12-23 2 - 5 2,29 - 2,73 0,11 - 0,17 1,25 - 1,55<br />

Mucuna ana 10- 18 2 - 4 2,85 - 3,35 0,16 - 0,23 4,14 - 4,84<br />

Crotalaria spectabilis 12-23 4 - 7 2,14 - 2,20 0,07 - 0,12 1,40 - 1,78<br />

Feijão <strong>de</strong> porco 14 - 26 3 - 7 3,00 - 3,39 0,12 - 0,18 5,30 - 5,94<br />

Feijão bravo do Ceara 14 - 25 3 - 6.5 2,27 - 2,71 0,11 - 0,15 1,58 - 1,78<br />

Feijão mungo 12 - 22 3 - 5.5 2,00 - 2,18 0,15 - 0,27 4,64 - 5,24<br />

Dolichos lab-lab 14 - 28 4 - 7 2,15 - 2,57 0, 27 - 0,61 2,14 - 2,53<br />

Leucaena leucocephala 20 - 50 10 - 16 4, 17 - 4,43 0,17 - 0,28 1,45 - 1,94<br />

Indigofera sp. 13 - 24 4 - 7 2,02 - 2,33 0,09 - 0,19 1, 45 - 1,64<br />

Calopogonio mucunoi<strong>de</strong>s 14 - 23 4 - 6 2,05 - 2,28 0,08 - 0,17 1,43 - 1,68<br />

Kudzu 13 – 25 4 - 7 3,47 -3,88 0,23 - 0,36 2,06 - 2,23<br />

Soja perene 12 – 23 4 - 6 2,44 - 2,85 0,17 - 0,30 2,24 - 2,45<br />

Centrosema pubescens 14 - 27 4.5 - 6.5 2,21 - 2,48 0,17 - 0,29 1, 03 - 1,34<br />

Mexoeira + nhemba 19 - 40 3.5 - 10 0.61 - 0.82 0.13 - 0.17 1.08 - 1.12<br />

Crotalaria juncea 15 - 35 2.5 - 8.5 1.42 - 1.65 0.19 - 0.21 0.96 - 1.38<br />

Girassol 20 - 46 4 - 8 1. 02 - 1,12 0.18- 0,24 2,50 - 2.78<br />

Aveia preta 15 - 40 2 - 11 0.70 - 1.68 0.14 - 0.42 1.08 - 3.08<br />

Centeio 30 - 35 4 - 8 0.58 - 0.66 0.16 - 0.29 0.75 - 1.45<br />

Ervilhaca peluda 20 - 37 3 - 5 2.51 - 4.36 0.25 - 0.41 2.41 - 4.26<br />

ervilhaca comum 20 - 30 3 - 5 2.74 - 3.47 0.27 - 0.38 2.33 - 2.56<br />

Ervilha forrageira 15 - 40 2.5 - 7 1.77 - 3.36 0.14 - 0.41 0.67 - 3.31<br />

nabo forrageiro 20 - 65 3 - 9 0.92 - 1.37 0.18 - 0.33 2.02 - 2.65<br />

Tremoço branco 30 - 40 3.5 - 5 1.22 - 1.97 0.25 - 0.29 1.00 - 1.77<br />

Tremoço azul 25 - 40 3 - 6 0.85 - 2.15 0.12 - 0.29 1.36 - 1.49<br />

Aveia preta +<br />

ervilhaca comum<br />

15 – 50 2 - 10 0.93 - 1.39 0.15 - 0.16 1.23 - 1.47<br />

Ervilhaca comum + aveia<br />

preta + tremoço branco<br />

18– 26 3,5 - 6 1,99 - 2,99 0,16 - 0,26 2,86 - 3,86<br />

Ervilha forrageira +<br />

aveia preta<br />

27– 34 4 - 10 1,62 - 2,22 0,13 - 0,18 2,55 - 3,35<br />

Fonte: Adaptado <strong>de</strong> Calegari, 1995, 2000, Florentin et al., 2001


Anexo 5: O sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação no Brasil<br />

O sucesso do sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação (plantio direto) no Brasil, não po<strong>de</strong> ser<br />

atribuído à exclusiva adoção <strong>de</strong> parâmetros técnicos. Aliado aos aspectos técnicos, um<br />

enfoque participativo em adaptar resultados da pesquisa e transferência <strong>de</strong> tecnologia foi<br />

adotado buscando respon<strong>de</strong>r aos anseios dos produtores em seus diferentes sistemas <strong>de</strong><br />

produção. Um forte suporte das políticas governamentais foi concentrado em treinamentos<br />

e educação das diferentes comunida<strong>de</strong>s rurais com suas representações (grupos,<br />

associações, cooperativas, etc.) no sentido <strong>de</strong> melhor capacitá-las e assim, levando em<br />

consi<strong>de</strong>ração os diferentes componente do sistema (plantas <strong>de</strong> cobertura, rotação <strong>de</strong><br />

culturas, construção <strong>de</strong> terraços, etc.), as pessoas po<strong>de</strong>rem adotar a<strong>de</strong>quadamente a<br />

Agricultura <strong>de</strong> Conservação.<br />

Na década <strong>de</strong> 70 praticamente os produtores brasileiros não utilizavam o plantio direto, com<br />

exceção <strong>de</strong> alguns pioneiros no sistema, como é caso dos Srs. Herbert Bartz (Rolândia-PR),<br />

Manoel Henrique Pereira (Ponta Grossa-PR) e Frank Dijkstra (Castro-PR), que foram<br />

exemplos <strong>de</strong> perseverança e forte influencia a muitos produtores brasileiros no processo <strong>de</strong><br />

adoção. No ano 2000, em torno <strong>de</strong> 14 milhões <strong>de</strong> hectares já era ocupado por este sistema.<br />

Essa mudança foi lenta no inicio, e foi muito mais que uma simples mudança <strong>de</strong> um pacote<br />

tecnológico: convencional ou tradicional para um on<strong>de</strong> não se prepara mais o solo. Durante<br />

um período <strong>de</strong> 25 anos, a adoção foi <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um enfoque integrado, incluindo esforços e<br />

mobilização social, educação e treinamento constante, marketing e diversificação, e<br />

preocupação com questões ambientais; com repercussão direta na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos<br />

agricultores e na gestão ambiental.<br />

Uma completa estratégia <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da Agricultura <strong>de</strong> Conservação criou as<br />

condições <strong>de</strong> expansão da experiência conseguida com os primeiros agentes <strong>de</strong> mudança:<br />

agricultores, especialistas técnicos, input do setor privado e extensionistas, através <strong>de</strong> uma<br />

re<strong>de</strong> <strong>de</strong> organização <strong>de</strong> produtores a nível local (comunida<strong>de</strong>), estadual, fe<strong>de</strong>ral e,<br />

atualmente a nível Internacional.<br />

As estratégias <strong>de</strong> apoio ao <strong>de</strong>senvolvimento da Agricultura <strong>de</strong> Conservação no Brasil<br />

foi alicerçada basicamente em:<br />

Estreita colaboração entre pesquisadores, extensionistas, sector privado e agricultores<br />

para o <strong>de</strong>senvolvimento, adoção e melhoria do sistema <strong>de</strong> plantio direto (Agricultura <strong>de</strong><br />

Conservação);<br />

UTVs nos campos dos agricultores e <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico participativo;<br />

Fortalecimento da organizações dos agricultores. Criação dos clubes locais: “Clube<br />

amigos da Terra”, on<strong>de</strong> os agricultores podiam trocar informações e experiências,<br />

facilitando o acesso à informações e outros serviços tais como, aquisição <strong>de</strong> insumos e<br />

opções <strong>de</strong> mercado para seus produtos;<br />

Estreitamento <strong>de</strong> parcerias com cooperativas existentes e novas opções <strong>de</strong> mercado, na<br />

transformação e processamento <strong>de</strong> produtos primários, visando adicionar valores aos<br />

seus produtos básicos, assim como na própria integração agricultura/pecuária;<br />

Estratégia agressiva <strong>de</strong> disseminação técnica, econômica e informações ambientais<br />

através da mídia, rádio, jornais, TV, documentos, reuniões, conferências, controlada e<br />

manejada principalmente por organizações <strong>de</strong> produtores com ênfase nas experiências<br />

produtor x produtor;<br />

A FEBRAPDP (Fe<strong>de</strong>ração Brasileira <strong>de</strong> Plantio Direto na Palha) <strong>de</strong>sempenhou um papel<br />

fundamental <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo e apoiando a promoção do plantio direto (Agricultura <strong>de</strong><br />

Conservação) tanto aos gran<strong>de</strong>s produtores como aos <strong>de</strong> pequena escala, nas mais<br />

103


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

104<br />

diferentes regiões brasileiras. Por ser um sistema complexo a Agricultura <strong>de</strong><br />

Conservação requer um eficiente manejo e integração <strong>de</strong> todos os componentes a nível<br />

<strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> rural, <strong>de</strong> forma a ter uma visão holística e dinâmica <strong>de</strong> todo o sistema, e<br />

a a<strong>de</strong>quada interação entre esses componentes <strong>de</strong> forma a aten<strong>de</strong>r aos princípios da<br />

Agricultura <strong>de</strong> Conservação: manter o solo coberto, se possível todo o ano, não preparar<br />

o solo, utilizar plantas <strong>de</strong> cobertura e efetuar rotação <strong>de</strong> culturas;<br />

Parceria entre o setor público e setor privado: algumas empresas <strong>de</strong> agrotóxicos<br />

contribuíram com Projetos <strong>de</strong> validação/<strong>de</strong>monstração em pequenas e gran<strong>de</strong>s<br />

proprieda<strong>de</strong>s disponibilizando insumos e serviços <strong>de</strong> extensão;<br />

Na adoção por parte dos pequenos agricultores os subsídios a curto prazo facilitaram a<br />

adoção do sistema. Muitos dos equipamentos tração animal utilizados pelos pequenos<br />

produtores do estado do Paraná foi adquirido com suporte financeiro do estado através<br />

<strong>de</strong> Programa <strong>de</strong> Desenvolvimento, principalmente do Banco Mundial;<br />

Integração agricultura/pecuária: muitos sistemas <strong>de</strong>senvolvidos em diversas regiões<br />

contemplam a exploração com cultura <strong>de</strong> grãos: milho, soja, trigo, com a integração na<br />

criação <strong>de</strong> bovinos, aves (galinhas), suínos, e peixes. Sempre consi<strong>de</strong>rando a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>, além <strong>de</strong> ter disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forragem no campo aos animais, <strong>de</strong>ixar<br />

resíduos sobre o solo suficientes para se ter uma boa cobertura e proteção do solo e,<br />

condições da Agricultura <strong>de</strong> Conservação ter sua continuida<strong>de</strong> em condições<br />

a<strong>de</strong>quadas;<br />

Gestão ambiental: algumas <strong>de</strong>gradações observadas a nível <strong>de</strong> microbacia hidrográfica,<br />

por ex. erosão do solo, poluição <strong>de</strong> lagos e rios, danificação em estradas, etc., foram<br />

completamente corrigidas com as práticas da Agricultura <strong>de</strong> Conservação e, isto<br />

contribuiu fortemente na adoção <strong>de</strong> todo o sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação.<br />

Preocupação crescente com o ambiente, foi também facilitado com a criação <strong>de</strong> setores<br />

coletivos <strong>de</strong> coleta e armazenamento <strong>de</strong> “containers” perigosos às pessoas e ao<br />

ambiente, locais a<strong>de</strong>quados para abastecimento <strong>de</strong> pulverizadores (evitando-se assim o<br />

contacto direto com riachos e riscos <strong>de</strong> contaminação) e, melhoria <strong>de</strong> galerias nas<br />

florestas (facilitando o escoamento <strong>de</strong> águas).


Anexo 6: Características <strong>de</strong> diferentes espécies <strong>de</strong> plantas<br />

melhoradas <strong>de</strong> solos<br />

A seguir são apresentados diferentes espécies leguminosas, que apresentam<br />

comportamento diferenciado conforme os distintos ambientes ( Alcântara & Bufarah ,1980;<br />

Calegari et al. 1993; Calegari & Peñalva, 1999):<br />

Características Tipo <strong>de</strong> leguminosa<br />

Dolichos lablab<br />

Canavalia ensiformis<br />

Canavalia brasiliensis<br />

Stizolobium sp.<br />

Cajanus cajan<br />

Vigna unguiculata<br />

Desmanthus virgatus<br />

Desmodium uncinatum<br />

Galactia striata<br />

Glycine wightii Verdc. Cooper<br />

Nome Vulgar<br />

Tolerância à seca<br />

(sin. Neonotonia wightii<br />

Lackey)<br />

Indigofera en<strong>de</strong>caphylla<br />

Leucaena en<strong>de</strong>caphylla<br />

Macrotyloma axillare<br />

Stylosanthes hamata cv.<br />

Verano<br />

Stylosanthes guyanensis<br />

Stylosanthes humilis<br />

Tolerância a solos <strong>de</strong> baixa<br />

fertilida<strong>de</strong>:<br />

Lupinus albus L.<br />

Pisum sativum subesp.<br />

Arvense<br />

Cajanus cajan<br />

Canavalia ensiformis<br />

Canavalia brasiliensis L.<br />

Vigna unguiculata<br />

Stizolobium aterrimum Piper<br />

& Tracy<br />

Stizolobium cinereum<br />

O gênero Stylosanthes (em<br />

geral)<br />

Calopogonium mucunoi<strong>de</strong>s<br />

Desmodium spp.<br />

Indigofera spp.<br />

Leucaena leucocephala<br />

Teramus uncinatus<br />

Centrosema sp.<br />

Galactia striata<br />

Macroptilium atropurpureum<br />

Zornia diphylla<br />

Vicia villosa<br />

Lupinus luteus L.<br />

Lotus corniculatus L.<br />

Ornithopus sativus L.<br />

105


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

106<br />

Características Tipo <strong>de</strong> leguminosa Nome Vulgar<br />

Arachis pintoi<br />

Canavalia ensiformis<br />

Leucaena leucocephala<br />

Pueraria phaseoloi<strong>de</strong>s<br />

Leguminosas adaptadas a<br />

condições <strong>de</strong><br />

sombreamento:<br />

Leguminosas adaptadas a<br />

solos <strong>de</strong> média fertilida<strong>de</strong><br />

química:<br />

Leguminosas adaptadas a<br />

solos férteis:<br />

Leguminosas mais<br />

adaptadas a áreas baixas e<br />

húmidas:<br />

Leguminosas adaptadas às<br />

condições <strong>de</strong> frio:<br />

Trifolium repens<br />

Calopogonium caereleum<br />

Calopogonium mucunoi<strong>de</strong>s (<br />

somb. Parcial)<br />

Centrosema macrocarpum<br />

Desmodium heterophylum<br />

Desmodium ovalifolium<br />

Indigofera en<strong>de</strong>caphyla<br />

(somb. Parcial)<br />

Centrosema pubescens<br />

Galactia striata<br />

Macroptilium atropurpureum<br />

Raphanus sativus L. (crucif.)<br />

Lupinus albus L.<br />

Lupinus angustifolius L.<br />

Lathyrus sativus L.<br />

Crotalaria juncea L.<br />

Glycine wightii Verdc. (sin.<br />

Neonotonia wightii Lackey)<br />

Medicago sativa<br />

Trifolium spp.<br />

Vicia sativa L.<br />

Stizolobium <strong>de</strong>eringianum<br />

Steph & Bart<br />

Vigna umbelata L<br />

Centrosema pubescens<br />

Phaseolus mungo<br />

Pueraria phaseoloi<strong>de</strong>s<br />

Sesbania sp.<br />

Clitoria ternatea<br />

Desmodium intortum cv.<br />

Greenleaf<br />

Desmodium incinatum cv.<br />

Silverleaf<br />

Glycine wightii Verdc. cv.<br />

Tinaroo (sin. Neonotonia<br />

wigthii Lackey)<br />

Lotononis bainesii<br />

Phaseolus lathyroi<strong>de</strong>s<br />

Medicago sativa<br />

Trifolium spp.<br />

Lupinus angustifolius L.<br />

Vicia villosa<br />

Vicia sativa


Características Tipo <strong>de</strong> leguminosa Nome Vulgar<br />

Leguminosas mais<br />

adaptadas a áreas com<br />

períodos <strong>de</strong> inundação<br />

Leguminosas adaptadas às<br />

condições <strong>de</strong> fogo (po<strong>de</strong>m<br />

rebrotar):<br />

Sesbania sp.<br />

Lotononis bainesii<br />

Phaseolus lathyroi<strong>de</strong>s<br />

Vigna luteola<br />

Vigna umbelata L.<br />

Pueraria phaseoloi<strong>de</strong>s<br />

Glycine wightii Verdc. (sin.<br />

Neonotonia wightii Lackey)<br />

Centrosema pubescens<br />

- Desmodium adscen<strong>de</strong>ns<br />

Macroptilium atropurpureum<br />

107


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

NOTAS<br />

108


NOTAS<br />

109


Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />

NOTAS<br />

110


NOTAS<br />

111

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!