GUIA PRÁTICO de AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO
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República <strong>de</strong> Moçambique PROMOÇÃO ECONÓMICA <strong>DE</strong><br />
Viena, Áustria<br />
DPA SOFALA<br />
CAMPONESES - SOFALA<br />
<strong>GUIA</strong> <strong>PRÁTICO</strong><br />
<strong>de</strong><br />
<strong>AGRICULTURA</strong> <strong>DE</strong> <strong>CONSERVAÇÃO</strong><br />
Financiado<br />
pela
República <strong>de</strong> Moçambique PROMOÇÃO ECONÓMICA <strong>DE</strong><br />
Viena, Áustria<br />
DPA SOFALA<br />
CAMPONESES - SOFALA<br />
<strong>GUIA</strong> <strong>PRÁTICO</strong><br />
<strong>de</strong><br />
<strong>AGRICULTURA</strong> <strong>DE</strong> <strong>CONSERVAÇÃO</strong><br />
Autores<br />
Eng. Agr. A<strong>de</strong>mir Calegari<br />
José Paulo Cristiano Taimo<br />
Esta obra foi financiada pela Cooperação Austríaca para o Desenvolvimento e baseia-se principalmente nas<br />
experiências do IAPAR - Instituto Agronómico <strong>de</strong> Paraná, Londrina-Paraná-Brasil, e nos ensaios <strong>de</strong>monstrativos<br />
realizados na Província <strong>de</strong> Sofala, Moçambique, nos anos 2002 até 2005,<br />
no quadro dos projectos PROMEC, APROS, PACDIB (da Cooperação Austríaca) e PRO<strong>DE</strong>R (MINAG - GTZ).<br />
Financiado pela
AGRA<strong>DE</strong>CIMENTOS DOS AUTORES<br />
Os autores agra<strong>de</strong>cem a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar na Província <strong>de</strong> Sofala, Moçambique e,<br />
estar juntamente com os técnicos da Cooperação Austríaca e DPA, com os camponeses dos<br />
diferentes Distritos, <strong>de</strong>senvolvendo o sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação, num processo <strong>de</strong><br />
sensibilização e teste/validação dos componentes tecnológicos a nível <strong>de</strong> machamba. O<br />
trabalho se iniciou em 2001 e resultados muito promissores têm sido alcançado pelos<br />
camponeses, quer no tocante à diminuição <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra, maior aproveitamento da água,<br />
maior estabilida<strong>de</strong> na produção, aumento na produtivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diferentes culturas, etc.<br />
Agra<strong>de</strong>cemos ao Dr. Gerald Tschinkel da H3000 Development Consult em Áustria, pela<br />
confiança, amiza<strong>de</strong> e persistência na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> implementar o sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong><br />
Conservação em Moçambique. À Cooperação Austríaca, que sempre apoiou no<br />
<strong>de</strong>senvolvimento dos trabalhos <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação. Também a equipe do PROMEC,<br />
pela amiza<strong>de</strong>, frutíferas discussões e perseverança nos trabalhos. Ao Bento Freitas e Cecília<br />
pelo apoio durante todas as consultorias. À GTZ, na pessoa do Sr. Nicolas Lama<strong>de</strong>, pela<br />
oportunida<strong>de</strong> e viabilização <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação; ao Mário Norman da<br />
PRO<strong>DE</strong>R –GTZ pela amiza<strong>de</strong> e contribuições durante todo este tempo <strong>de</strong> trabalho; ao Manfred<br />
Schug, que sempre acreditou ser possível implementar o sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong><br />
Conservação junto aos camponeses nas mais diferentes situações; à Direcção Provincial da<br />
Agricultura na pessoa do Dr. Ribeiro que sempre acreditou e apoiou as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
Agricultura <strong>de</strong> Conservação e também ao atual Diretor Provincial, Sr. António Raúl Limbau, que<br />
tem incentivado as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação; ao Eng. Madane pelo contínuo<br />
apoio do SPER em todas as ativida<strong>de</strong>s da Agricultura <strong>de</strong> Conservação. Ao Erasmo Saraiva e<br />
Rui Valadares pelo constante apoio e amiza<strong>de</strong>; a todos os técnicos da DDA dos diferentes<br />
Distritos e colegas das ONGs: Cáritas e FHI que sempre colaboraram nas discussões e nos<br />
trabalhos <strong>de</strong> consolidação da Agricultura <strong>de</strong> Conservação. Aos camponeses <strong>de</strong> toda a<br />
Província, pela paciência e perseverança no acompanhamento e avaliação das ativida<strong>de</strong>s das<br />
UTVs, on<strong>de</strong> sempre colaboraram e também acreditaram ser possível <strong>de</strong>senvolver uma<br />
agricultura sustentável que irá trazer maior segurança alimentar e eliminar <strong>de</strong>finitivamente a<br />
pobreza da Província e do país.
ÍNDICE<br />
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 3<br />
1. O SISTEMA <strong>DE</strong> <strong>AGRICULTURA</strong> <strong>DE</strong> <strong>CONSERVAÇÃO</strong>...................................... 4<br />
1.1 A importância da Agricultura <strong>de</strong> Conservação .........................................................4<br />
1.2 Os fundamentos do sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação...................................5<br />
1.3 Os benefícios do sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação.......................................7<br />
2 A REALIDA<strong>DE</strong> DA PROVÍNCIA <strong>DE</strong> SOFALA ..................................................... 8<br />
2.1 Características regionais (generalida<strong>de</strong>s) ................................................................8<br />
2.2 O uso dos solos agrícolas (generalida<strong>de</strong>s) ..............................................................9<br />
2.3 Tecnologias empregadas no manejo dos solos agrícolas........................................9<br />
2.4 Práticas tradicionais <strong>de</strong> manejo <strong>de</strong> solos ...............................................................12<br />
2.5 Agricultura <strong>de</strong> Conservação: uma alternativa viável...............................................15<br />
3 A IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA <strong>DE</strong> <strong>AGRICULTURA</strong> <strong>DE</strong> <strong>CONSERVAÇÃO</strong> ... 16<br />
3.1 O início: a a<strong>de</strong>quação das áreas............................................................................16<br />
3.2 Passos gerais na implantação da Agricultura <strong>de</strong> Conservação .............................17<br />
3.3 Práticas que po<strong>de</strong>rão fazer parte do sistema.........................................................19<br />
4 A COBERTURA DO SOLO ............................................................................... 23<br />
4.1 As vantagens <strong>de</strong> manter o solo coberto .................................................................23<br />
4.2 Plantas <strong>de</strong> cobertura ..............................................................................................24<br />
4.2.1 Comportamento das diferentes espécies <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura e<br />
contribuição na melhoria das proprieda<strong>de</strong>s físicas, químicas e biológicas do<br />
solo.................................................................................................................24<br />
4.2.2 Formas <strong>de</strong> manejo <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura ...................................................26<br />
4.3 Efeitos das plantas <strong>de</strong> cobertura ............................................................................28<br />
4.3.1 Efeitos na matéria orgânica do solo ...............................................................30<br />
4.3.2 Efeitos no armazenamento <strong>de</strong> água e diminuição das perdas no sistema.....35<br />
4.3.3 Efeitos nos gradientes <strong>de</strong> temperatura do perfil do solo ................................36<br />
4.3.4 Efeitos na composição florística do solo (efeitos alelopáticos e físicos) na<br />
diminuição das populações <strong>de</strong> invasoras (plantas daninhas) .........................37<br />
4.3.5 Efeitos na melhora <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> pousio ..........................................................39<br />
4.4 A produção <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong> cobertura.............................................41<br />
1
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
5 A ROTAÇÃO E CONSORCIAÇÃO NO SISTEMA <strong>DE</strong> <strong>AGRICULTURA</strong> <strong>DE</strong><br />
<strong>CONSERVAÇÃO</strong>............................................................................................... 42<br />
2<br />
5.1 A rotação e consorciação <strong>de</strong> culturas ....................................................................44<br />
5.1.1 Opções <strong>de</strong> rotação para arroz ........................................................................44<br />
5.1.2 Opções <strong>de</strong> rotação para gergelim ..................................................................45<br />
5.1.3 Opções <strong>de</strong> rotação para algodão ...................................................................47<br />
5.1.4 Opções <strong>de</strong> alguns sistemas incluindo o uso <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura............48<br />
5.1.5 Sugestões <strong>de</strong> algumas opções <strong>de</strong> diagrama sequencial <strong>de</strong> culturas.............52<br />
5.1.6 Sistemas <strong>de</strong> consorciação e rotação em diferentes sistemas <strong>de</strong> produção....53<br />
5.1.7 Indicação <strong>de</strong> protocolo para produção <strong>de</strong> batata reno ....................................55<br />
5.1.8 Rotação com espécies hortícolas....................................................................57<br />
5.2 Efeitos da rotação na ocorrência <strong>de</strong> pragas e doenças ..............................................60<br />
6 CONTROLE <strong>DE</strong> PRAGAS E DOENÇAS NO SISTEMA <strong>DE</strong> <strong>AGRICULTURA</strong> <strong>DE</strong><br />
<strong>CONSERVAÇÃO</strong>............................................................................................... 62<br />
7 RESULTADOS OBTIDOS POR PRODUTORES COM O USO <strong>DE</strong> COBERTURA<br />
DO SOLO, ROTAÇÃO E PLANTIO DIRECTO.................................................. 69<br />
7.1 Resultados obtidos na Província <strong>de</strong> Sofala............................................................69<br />
7.2 Resultados obtidos em diferentes países...............................................................78<br />
8 COMO ASSEGURAR O AVANÇO E ESTABELECIMENTO DO SISTEMA <strong>DE</strong><br />
<strong>AGRICULTURA</strong> <strong>DE</strong> <strong>CONSERVAÇÃO</strong> .............................................................. 81<br />
BIBLIOGRAFIA......................................................................................................... 83<br />
ANEXOS................................................................................................................... 86<br />
Anexo 1: Manejo ambiental a<strong>de</strong>quado evitando as queimadas.........................................87<br />
Anexo 2: Plantas <strong>de</strong> cobertura comuns na Província <strong>de</strong> Sofala ........................................89<br />
Anexo 3: Produção <strong>de</strong> massa vegetal <strong>de</strong> diferentes espécies <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura<br />
e % <strong>de</strong> nutrientes na matéria seca......................................................................92<br />
Anexo 4: Características, comportamento e recomendações para o uso <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong><br />
cobertura <strong>de</strong> primavera/verão .............................................................................93<br />
Anexo 5: O sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação no Brasil.........................................103<br />
Anexo 6: Características <strong>de</strong> diferentes espécies <strong>de</strong> plantas melhoradas <strong>de</strong> solos..........105
INTRODUÇÃO<br />
Nas mais diversas regiões do mundo on<strong>de</strong> se pratica a agricultura, um aspecto marcante e<br />
comum à maioria <strong>de</strong>ssas áreas é o uso intensivo e a má gestão dos recursos naturais, o que<br />
tem ao longo dos anos contribuído para o agravamento dos processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação dos<br />
recursos, principalmente solo e água, comprometendo severamente a produção agrícola em<br />
âmbitos compatíveis com as <strong>de</strong>mandas populacionais. Os processos <strong>de</strong> erosão do solo<br />
provocam alteração <strong>de</strong> algumas proprieda<strong>de</strong>s físicas, químicas e biológicas que, somados<br />
ao processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação da matéria orgânica, com consequente diminuição da<br />
fertilida<strong>de</strong>, tem conduzido a uma diminuição crescente do potencial produtivo <strong>de</strong> diferentes<br />
culturas nas mais diversas regiões agroecológicas. Essa situação aliada a outros aspectos<br />
ligados ao clima (temperaturas extremas, ocorrência <strong>de</strong> secas prolongadas, inundações,<br />
ataque severo e inesperado <strong>de</strong> pragas e/ou doenças), tem provocado em maior ou menor<br />
grau, nas mais distintas regiões, sérios riscos <strong>de</strong> insegurança alimentar às populações.<br />
A Província <strong>de</strong> Sofala, com seus diferentes tipos <strong>de</strong> solos, composta basicamente pela<br />
agricultura familiar <strong>de</strong> subsistência, apresenta uma situação semelhante, on<strong>de</strong> o sistema<br />
tradicional <strong>de</strong> manejo <strong>de</strong> solos baseia-se na retirada dos restolhos e capins da área ou<br />
mesmo queima <strong>de</strong> todos esses resíduos no fim da estação seca, antes do preparo do solo<br />
para a próxima campanha. O solo geralmente é preparado intensivamente com enxadas e,<br />
em pequena escala por tracção animal e/ou tractorizada. A <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra é<br />
muito alta e em geral na média uma família possui uma área cultivada em torno <strong>de</strong> 0.5 a 1.0<br />
hectare. A monocultura predominante consiste na sequência <strong>de</strong> cereais: milho-milho ou<br />
milho-mapira.<br />
Após o plantio das culturas, normalmente são necessários 3 sachas até que se complete o<br />
ciclo das culturas anuais (milho, mapira, feijão nhemba, etc.), na maioria dos casos árdua<br />
tarefa incumbida às mulheres.<br />
Assim, a constante <strong>de</strong>gradação dos solos na Província <strong>de</strong> Sofala, consequência da má<br />
gestão dos recursos naturais, quer pelo cultivo contínuo sem reposição dos nutrientes, quer<br />
pelas práticas anuais <strong>de</strong> preparo intensivo e queima dos resíduos orgânicos, monoculturas,<br />
aliado às condições climáticas irregulares e, ataque imprevisto e severo <strong>de</strong> algumas pragas<br />
e doenças, tem como consequência baixas na produtivida<strong>de</strong>, resultando em constante<br />
insegurança alimentar.<br />
Resultados alcançados nos últimos 4 anos a nível <strong>de</strong> campo com o sistema <strong>de</strong> Agricultura<br />
<strong>de</strong> Conservação em diferentes Distritos da Província, mostram que os rendimentos <strong>de</strong><br />
diferentes culturas, tais como milho, mapira, feijões, assim como algumas hortícolas (cebola,<br />
tomate, repolho, couves, pimento, cenoura, alface, etc.), po<strong>de</strong>m ser aumentados <strong>de</strong> 20 até<br />
150%, além <strong>de</strong> outros benefícios, tais como, diminuição <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra (não preparação do<br />
solo, menor número <strong>de</strong> regas e sachas, entre outros), possibilida<strong>de</strong>s reais <strong>de</strong> aumentar a<br />
área da machamba e, ter assegurado rendimentos suficientes para garantir o sustento das<br />
necessida<strong>de</strong>s nutricionais da família e o exce<strong>de</strong>nte ser direccionado ao mercado local e<br />
regional.<br />
Consi<strong>de</strong>rando a situação para os diferentes sistemas regionais <strong>de</strong> produção na Província <strong>de</strong><br />
Sofala, é fundamental o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> agricultura sustentável e,<br />
certamente a Agricultura <strong>de</strong> Conservação oferece esta real possibilida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> são<br />
contemplados a diminuição da pobreza no meio rural, e uma maior garantia <strong>de</strong> segurança<br />
alimentar para todas as comunida<strong>de</strong>s.<br />
3
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
1. O SISTEMA <strong>DE</strong> <strong>AGRICULTURA</strong> <strong>DE</strong> <strong>CONSERVAÇÃO</strong><br />
1.1 A importância da Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
As inúmeras experiências <strong>de</strong> agricultores e resultados obtidos por pesquisas mostram que o<br />
sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação, que inclui o emprego <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura<br />
a<strong>de</strong>quadamente integradas em rotação <strong>de</strong> culturas, após <strong>de</strong>vidamente testadas e validadas<br />
nos sistemas regionais <strong>de</strong> produção, ou seja após serem adaptadas regionalmente, e<br />
distúrbio mínimo do solo, é importante porque:<br />
♦ Promove uma conservação e recuperação dos solos,<br />
♦ Permite uma melhor distribuição do trabalho durante todo o ano, resultando em<br />
economia <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra e menor consumo <strong>de</strong> energia,<br />
♦ Consegue uma diversificação com menores riscos <strong>de</strong> ataques <strong>de</strong> doenças e/ou pragas,<br />
♦ Aproveita melhor a humida<strong>de</strong> com diminuição da frequência <strong>de</strong> regas,<br />
♦ Melhora a redistribuição - aproveitamento e equilíbrio dos nutrientes, melhoria da<br />
capacida<strong>de</strong> produtiva do solo,<br />
♦ Diminui os custos <strong>de</strong> produção,<br />
♦ Contribui para uma maior estabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção,<br />
♦ Existe um tendência <strong>de</strong> aumento dos rendimentos das diferentes culturas e,<br />
consequente tendência <strong>de</strong> aumento da renda líquida da proprieda<strong>de</strong> e melhores<br />
perspectivas <strong>de</strong> diminuição da pobreza no meio rural.<br />
COMO SE CONSEGUE ISSO?<br />
Em áreas com cultivos anuais, a diminuição da taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição dos resíduos<br />
orgânicos frescos que são adicionados ao solo, assim como o próprio húmus é obtida<br />
através da redução do revolvimento do solo, eliminação da queima dos resíduos vegetais,<br />
adição <strong>de</strong> carbono orgânico ao solo, condições estas favorecidas por um manejo<br />
principalmente através da Agricultura <strong>de</strong> Conservação (sistema <strong>de</strong> plantio directo), incluindose<br />
sempre o uso <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura e a<strong>de</strong>quadas rotações entre as culturas.<br />
Normalmente, as áreas que são mantidas sem cobertura são as mais predispostas aos<br />
efeitos <strong>de</strong>sfavoráveis das excessivas precipitações, e com isso, certamente as perdas <strong>de</strong><br />
nutrientes por arraste das partículas (enxurradas) e lixiviação serão bem maiores em relação<br />
a uma área coberta. Além <strong>de</strong>ste agravante, também a prática <strong>de</strong> monocultivos ten<strong>de</strong> a<br />
agravar os problemas <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação do solo e, normalmente predispor os cultivos mais ao<br />
possível ataque <strong>de</strong> pragas e doenças.<br />
A rotação <strong>de</strong> culturas, incluindo diferentes espécies <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura adaptadas<br />
regionalmente, a<strong>de</strong>quadamente distribuídas temporal e espacialmente, contribuirão<br />
sobremaneira para uma maior biodiversida<strong>de</strong> no meio ambiente e consequente maior<br />
equilíbrio do sistema como um todo.<br />
A melhoria dos processos <strong>de</strong> uso e maneio do solo, e manutenção da capacida<strong>de</strong> produtiva<br />
do mesmo, é um meio <strong>de</strong> viabilizar a manutenção da família <strong>de</strong> forma sustentável e<br />
compatível tanto com os recursos naturais sob o ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> ambiental,<br />
quanto aos socio-económicos nos aspectos <strong>de</strong> segurança alimentar e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos<br />
camponeses.<br />
4
As vantagens do sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação po<strong>de</strong>m ser resumidas a seguir:<br />
• Promove a conservação e recuperação dos solos,<br />
• Permite uma melhor distribuição do trabalho durante todo o ano, resultando em economia <strong>de</strong><br />
mão-<strong>de</strong>-obra e menor consumo <strong>de</strong> energia,<br />
• Consegue uma diversificação com menores riscos <strong>de</strong> ataques <strong>de</strong> doenças e/ou pragas,<br />
• Aproveita melhor a humida<strong>de</strong> com diminuição da frequência <strong>de</strong> regas,<br />
• Melhora a redistribuição - aproveitamento e equilíbrio dos nutrientes,<br />
• Melhora a capacida<strong>de</strong> produtiva do solo,<br />
• Diminui os custos <strong>de</strong> produção,<br />
• Contribui para uma maior estabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção,<br />
• Contribui para um aumento dos rendimentos das diferentes culturas.<br />
Sr. Joaquim Mapinda:<br />
Pioneiro do sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong><br />
Conservação no Distrito <strong>de</strong> Dondo, mostrando a<br />
cobertura do solo, elevada produção <strong>de</strong><br />
biomassa da mucuna protegendo e melhorando<br />
a fertilida<strong>de</strong> do solo<br />
1.2 Os fundamentos do sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
O sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação vem sendo <strong>de</strong>senvolvido em diferentes<br />
continentes, nas mais diversas regiões agroecológicas e sistemas <strong>de</strong> produção. Este<br />
sistema, apesar <strong>de</strong> suas especificida<strong>de</strong>s locais e regionais, é governado por alguns<br />
princípios fundamentais.<br />
Os princípios da Agricultura <strong>de</strong> Conservação são os mesmos em praticamente todas as<br />
regiões do mundo on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolve a agricultura, e a sua aplicação ten<strong>de</strong> a promover<br />
benefícios tanto imediatos quanto ao longo dos anos, conduzindo ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />
uma agricultura sustentável e compõe-se basicamente <strong>de</strong>:<br />
1) Não remover o solo – distúrbio mínimo do solo, <strong>de</strong>vendo efectuar o plantio das culturas<br />
directamente sobre o solo,<br />
2) Manter o solo coberto, se possível durante todo o ano,<br />
3) Efectuar uma a<strong>de</strong>quada rotação <strong>de</strong> culturas, incluindo cultivos <strong>de</strong> subsistência e/ou<br />
mercado e também plantas <strong>de</strong> cobertura para se ter sistemas mais complexos, com<br />
maior diversificação e consequentemente mais equilibrados.<br />
5
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
O QUE PRECISA MUDAR NAS ACTUAIS PRÁTICAS TRADICIONAIS DA<br />
<strong>AGRICULTURA</strong> COMUNS EM MOÇAMBIQUE ?<br />
♦ Queima, aração do solo, monoculturas contínuas, solo mantido <strong>de</strong>scoberto, <strong>de</strong>verão ser<br />
evitadas nas machambas. Dessa forma, é recomendável não queimar os restolhos e<br />
resíduos vegetais nas machambas, mas sim manter os restolhos das culturas e <strong>de</strong><br />
plantas invasoras sobre o solo;<br />
♦ Evitar revolver o solo, quer com enxadas, tracção animal ou tractores;<br />
♦ Buscar executar rotação/sequência <strong>de</strong> culturas adaptadas às diferentes condições agroecológicas<br />
predominantes nas diferentes regiões e que promovam melhoria do solo e<br />
aumento <strong>de</strong> rendimento das culturas subsequentes;<br />
♦ O plantio das culturas <strong>de</strong>verá ser efectuado directamente no solo (coberto com capim ou<br />
outros resíduos), quer seja com catana, matraca, pequenos covachos ou através <strong>de</strong><br />
máquinas <strong>de</strong> plantio directo (tracção animal e/ou tractorizada).<br />
Os três princípios da Agricultura <strong>de</strong> Conservação são os seguintes:<br />
• Não remover o solo – distúrbio mínimo do solo,<br />
• Manter o solo coberto, se possível durante todo o ano, e<br />
• Efectuar uma a<strong>de</strong>quada rotação <strong>de</strong> culturas.<br />
6<br />
Feijão em plantio directo sobre capim que será<br />
rotacionado com milho<br />
(Distrito do Dondo).
1.3 Os benefícios do sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
A prática da Agricultura <strong>de</strong> Conservação, traz benefícios a vários níveis:<br />
Ao nível dos Agricultores:<br />
Redução do trabalho (principalmente no tempo para realizar as activida<strong>de</strong>s),<br />
Redução nos custos <strong>de</strong> produção: menor necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> insumos externos (fertilizantes,<br />
pesticidas), menor uso <strong>de</strong> tractores/máquinas/equipamentos e combustível,<br />
Maior controle das invasoras diminuindo ou até eliminando a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
sachas/mondas nas culturas,<br />
Maior armazenamento <strong>de</strong> água no solo e menores perdas <strong>de</strong> água por evaporação:<br />
menor número <strong>de</strong> regas,<br />
Maior estabilida<strong>de</strong> e aumento no rendimento das diferentes culturas (cereais (milho,<br />
mapira), hortícolas (cebola, alho, alface, tomate, etc.), leguminosas (feijões: nhemba,<br />
vulgar, bóer, etc.),<br />
Aumento na lucrativida<strong>de</strong> do sistema agrícola.<br />
Ao nível <strong>de</strong> Comunida<strong>de</strong>s / Ambiente / Bacias Hidrográficas:<br />
Maior constância da água nos leitos dos rios, reaparecimento <strong>de</strong> mananciais que se<br />
secaram,<br />
Menor ocorrência <strong>de</strong> erosão e, consequente mais água limpa nos diferentes ambientes<br />
Menores riscos <strong>de</strong> enchentes,<br />
Diminuição <strong>de</strong> riscos do impacto <strong>de</strong> situações climáticas extremas,<br />
Menores gastos na manutenção <strong>de</strong> estradas e canais <strong>de</strong> escoamento <strong>de</strong> água,<br />
Maior segurança alimentar para as populações da região abrangida pelo sistema <strong>de</strong><br />
Agricultura <strong>de</strong> Conservação.<br />
Ao nível Global:<br />
Maior captura (sequestro) <strong>de</strong> carbono orgânico no solo,<br />
Menores riscos <strong>de</strong> poluição quer seja por poeira, fumo proveniente <strong>de</strong> queimadas, e<br />
diminuição dos riscos do efeito estufa (causado principalmente pela emissão <strong>de</strong> CO2<br />
para a atmosfera),<br />
Menor uso <strong>de</strong> combustíveis (economia <strong>de</strong> 40-60%), no caso <strong>de</strong> tratores,<br />
Menores perdas <strong>de</strong> nutrientes por lixiviação e consequente menos riscos <strong>de</strong><br />
contaminação das águas subterrâneas,<br />
Praticamente um controle quase total do processo erosivo (água, ventos),<br />
Menores perdas <strong>de</strong> água e, consequente maiores recargas dos aquíferos.<br />
A aplicação a<strong>de</strong>quada dos conceitos <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação quanto à Tração<br />
Tractorizada tem as seguintes implicações:<br />
Menos trabalho e menor necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> potência nos tractores,<br />
Economia <strong>de</strong> até 60% no combustível,<br />
Diminuição <strong>de</strong> até 50% da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tractores,<br />
Diminuição <strong>de</strong> até 40% no tamanho dos tractores,<br />
Aumento da vida útil do tractor, po<strong>de</strong> ser triplicada,<br />
Redução significativa no capital a ser investido nos tractores.<br />
7
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
2 A REALIDA<strong>DE</strong> DA PROVÍNCIA <strong>DE</strong> SOFALA<br />
2.1 Características regionais (generalida<strong>de</strong>s)<br />
8<br />
CHIBABAVA<br />
MARINGUE<br />
GORONGOSA<br />
NHAMATANDA<br />
BUZI<br />
CHEMBA<br />
MACHANGA<br />
CAIA<br />
MARROMEU<br />
CHERINGOMA<br />
DONDO<br />
MUANZA<br />
A Província <strong>de</strong> Sofala apresenta diferentes<br />
condições agro-ecológicas:<br />
Solos: arenosos, francos e argilosos (e suas<br />
combinações); com profundida<strong>de</strong> efectiva variável,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> solos rasos (litólicos) bastante jovens,<br />
normalmente nas áreas montanhosas com presença<br />
<strong>de</strong> rochas, até solos mais profundos nas áreas<br />
baixas, com maior acúmulo <strong>de</strong> húmus (matéria<br />
orgânica). Solos arenosos (areia quartzosa), solos<br />
francos (areno-argilosos), até argilosos (teores <strong>de</strong><br />
argila superior a 35%).<br />
Relevo: Variável, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a planície costeira (planos),<br />
até áreas montanhosas como a região <strong>de</strong><br />
Gorongosa e outras, variando portanto os relevos<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> as áreas planas, suave ondulado, ondulado,<br />
<strong>de</strong>clivoso e montanhoso.<br />
Matéria orgânica: <strong>de</strong>sempenha um papel<br />
extremamente importante na manutenção e/ou<br />
recuperação da fertilida<strong>de</strong> e capacida<strong>de</strong> produtiva<br />
<strong>de</strong>ssas áreas, sendo <strong>de</strong>ssa forma fundamental o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um manejo <strong>de</strong> solos e culturas<br />
que privilegiem a manutenção e/ou aumento dos<br />
níveis <strong>de</strong>ssa matéria orgânica nos solos explorados<br />
com agricultura.<br />
Fertilida<strong>de</strong>: a fertilida<strong>de</strong> química natural dos solos também é variável, sendo extremamente<br />
pobre nas áreas on<strong>de</strong> predominam areias quartzosas, aumentando conforme se aumenta<br />
os teores <strong>de</strong> argila; também áreas que tem sido cultivada por maior tempo, além das<br />
perdas <strong>de</strong> solos pela erosão e <strong>de</strong>gradação da matéria orgânica pela queima dos restolhos e<br />
pelo preparo contínuo do solo, aliados a não reposição <strong>de</strong> nutrientes, os solos se<br />
apresentam mais pobres e com menor capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção.<br />
Solo extremamente <strong>de</strong>gradado (Distrito <strong>de</strong> Gorongosa):<br />
mapira com fraco <strong>de</strong>senvolvimento e, tentativa <strong>de</strong><br />
recuperação da área com mucuna. Esta leguminosa não foi<br />
eficiente. Neste caso, é recomendado iniciar com feijão<br />
bóer.
2.2 O uso dos solos agrícolas (generalida<strong>de</strong>s)<br />
Áreas <strong>de</strong> baixadas <strong>de</strong> relevo plano, inundáveis na estação chuvosa (solos<br />
hidromórficos), normalmente exploradas com o cultivo <strong>de</strong> arroz inundado e, geralmente<br />
apresentam teores <strong>de</strong> matéria orgânica mais elevados.<br />
Parte das áreas <strong>de</strong> baixadas são ocupadas na entre-safra do arroz (outono/inverno) com<br />
cultivos hortícolas (cebola, alho, tomate, repolho, couves, cenoura, alface, etc.;<br />
geralmente empregando regas periódicas (bombas pe<strong>de</strong>stais, manual com regadores,<br />
inundação). As áreas mais altas, on<strong>de</strong> os solos apresentam menor acúmulo <strong>de</strong> água,<br />
são ocupadas por milho, mapira, feijões (nhemba, bóer, vulgar), gergelim, mandioca,<br />
algodão, etc. As culturas <strong>de</strong> subsistência normalmente são o milho, arroz, mapira,<br />
mandioca, cujo exce<strong>de</strong>nte é colocado no mercado. Por outro lado, o gergelim, algodão,<br />
hortaliças (subsistência e mercado) são produzidos com finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mercado.<br />
Áreas <strong>de</strong> meia encosta, predominam outras culturas <strong>de</strong> subsistência e mercado: milho,<br />
mapira, gergelim, feijões (nhemba, bóer, vulgar), algodão, mandioca, etc.; hortaliças:<br />
cebola, alho, repolho, couves, etc. (baixadas e meia encosta), enquanto algumas<br />
frutíferas, tais como: ananás, banana, caju, papaia, manga, etc., ocupam normalmente<br />
as áreas mais altas.<br />
As pastagens cultivadas são raras, ficando os animais em geral confinados a pequenas<br />
áreas e após as colheitas gran<strong>de</strong> parte é liberado para se alimentar dos restolhos e,<br />
algumas gramíneas que crescem nos campos. Assim, a existência <strong>de</strong> áreas controladas<br />
para abrigo dos animais é importante no sentido <strong>de</strong> evitar que os animais tenham acesso<br />
aos campos cultivados e, consequentemente eliminem os restolhos, que é um<br />
componente básico e fundamental para o sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação.<br />
Muitas áreas são ocupadas por vegetação arbustiva e florestas, que além <strong>de</strong> ser<br />
importante para gerar fontes <strong>de</strong> água, manutenção da flora e fauna, também contribui<br />
para o abrigo e procriação <strong>de</strong> diferentes insectos e outros organismos, muito dos quais<br />
são inimigos naturais <strong>de</strong> pragas promovendo assim um maior equilíbrio ambiental.<br />
2.3 Tecnologias empregadas no manejo dos solos agrícolas<br />
Geralmente na maioria das áreas é praticado uma agricultura puramente <strong>de</strong> extrativismo,<br />
sem a reposição <strong>de</strong> nutrientes (a maioria não utiliza fertilizantes químicos e o uso <strong>de</strong><br />
adubos orgânicos nos diferentes sistemas <strong>de</strong> produção é mínimo. Gran<strong>de</strong> parte das<br />
machambas se caracterizam por uma agricultura migratória (nomadismo), on<strong>de</strong> geralmente<br />
após alguns anos <strong>de</strong> cultivo intenso, quando os rendimentos baixam, o campo é<br />
abandonado e <strong>de</strong>ixado em pousio por 2-3 anos, para então posteriormente se retornar a<br />
cultivar nessas áreas.<br />
Praticamente não existe trabalhos <strong>de</strong> melhoramento <strong>de</strong> pousio e tampouco uma reposição<br />
dos nutrientes extraídos pelos cultivos. Além disso, a cada campanha on<strong>de</strong> serão<br />
implantadas novas culturas no terreno, a tradicional e predominante queima dos restolhos<br />
das culturas e/ou muitas vezes a sua retirada das machambas, somado ao preparo intensivo<br />
dos solos através <strong>de</strong> arações (enxadas ou tractores, ou ainda por tracção animal), tem<br />
acelerado a mineralização/<strong>de</strong>composição da matéria orgânica dos solos. Isso, tem<br />
provocado um aumento nas perdas <strong>de</strong> solos, água e nutrientes pelo processo da erosão; e,<br />
também, o comumente emprego <strong>de</strong> monoculturas, ou seja a repetição das mesmas culturas<br />
nos anos subsequentes, tem contribuído para o aumento das populações <strong>de</strong> invasoras<br />
(plantas daninhas), aumento da ocorrência <strong>de</strong> pragas e doenças, promovendo queda dos<br />
níveis <strong>de</strong> matéria orgânica dos solos e empobrecimento dos sistemas e, por consequência<br />
9
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
provocando uma drástica diminuição da capacida<strong>de</strong> produtiva das terras, manifestada<br />
através das quedas anuais <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> das diferentes culturas e, consequentemente<br />
uma menor segurança alimentar.<br />
Além dos aspectos negativos, também o uso <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra para a execução <strong>de</strong>stas<br />
práticas tradicionais é muito elevada, exaustiva e, por consumir um gran<strong>de</strong> tempo para sua<br />
execução, impe<strong>de</strong> a possibilida<strong>de</strong> e/ou chances <strong>de</strong> aumento da área da machamba,<br />
inviabilizando <strong>de</strong>ssa forma, maiores possibilida<strong>de</strong>s/oportunida<strong>de</strong>s do aumento da entrada <strong>de</strong><br />
ingressos e, consequente aumento da renda liquida das famílias.<br />
10<br />
Expansão <strong>de</strong> áreas ou abertura <strong>de</strong> novas machambas<br />
utilizando a prática tradicional <strong>de</strong>strutiva da queima<br />
(Distrito <strong>de</strong> Cheringoma)<br />
Paisagens típicas <strong>de</strong> região<br />
montanhosa (Distrito <strong>de</strong><br />
Gorongosa): preparo intensivo,<br />
plantio morro abaixo e erosão do<br />
solo com o resultado dum<br />
empobrecimento constante com o<br />
sistema tradicional<br />
Numa avaliação generalizada da situação dos solos agricultáveis das diferentes regiões <strong>de</strong><br />
Sofala, é muito preocupante o nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação das terras, comprovado pela observação<br />
em diversas machambas, nos diferentes Distritos, a visível <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> nutrientes por<br />
diferentes culturas (milho, mapira, feijão nhemba, etc.), assim como os baixos níveis <strong>de</strong><br />
nutrientes no solo, além da diminuição quase constante da matéria orgânica dos solos.<br />
Numa área <strong>de</strong> solo areia quartzosa, com mais <strong>de</strong> 80% <strong>de</strong> areia, sem cultivo atual., os<br />
resultados da análise <strong>de</strong> solos (Tabela 1) mostram o grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação e baixo nível <strong>de</strong><br />
nutrientes.<br />
Tabela 1: Composição química <strong>de</strong> solo (areia quartzosa, 0-20cm) no Distrito do Dondo<br />
Solo<br />
Areia<br />
quartzosa<br />
mg /<br />
dm 3<br />
(ppm)<br />
g /<br />
kg<br />
solo<br />
P C<br />
(%)<br />
Mat.<br />
Org.<br />
pH<br />
cmolc / dm 3 <strong>de</strong> solo (meq./100g <strong>de</strong> solo) (%)<br />
Al H+Al Ca Mg K S T V Al<br />
4.20 0.44 0.76 6.10 0.00 2.18 2.02 0.37 0.05 2.44 4.62 52.81 0.00<br />
P= fósforo; C= carbono; pH= pH do solo; Al= alumínio; H+Al= hidrogénio + alumínio;<br />
Ca= cálcio; Mg= magnésio; K= potássio; S= soma <strong>de</strong> bases; T= CTC;<br />
V= Saturação das bases; Al (%) = saturação <strong>de</strong> alumínio.
Pelos dados da análise química do solo, os níveis <strong>de</strong> matéria orgânica, cálcio, magnésio,<br />
potássio, assim como a soma <strong>de</strong> bases e CTC (Capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Troca <strong>de</strong> Cátions) , são<br />
bastante baixos, sendo apenas o fósforo com um teor levemente maior (possivelmente<br />
resíduos <strong>de</strong> queima <strong>de</strong> restolhos). Assim, solos semelhantes a este, que são gran<strong>de</strong> parte<br />
das áreas cultivadas na Província <strong>de</strong> Sofala, necessitam urgente interferência no manejo no<br />
sentido <strong>de</strong> aumentar os níveis <strong>de</strong> matéria orgânica, aumentando assim a CTC, para então<br />
promover uma a<strong>de</strong>quada reposição dos nutrientes (aliado à adubarão química e/ou<br />
orgânica) e recuperação da capacida<strong>de</strong> produtiva <strong>de</strong>ssas terras. Caso contrário, com a<br />
continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação dos solos, não será possível caminhar em direcção à<br />
sustentabilida<strong>de</strong> e garantia <strong>de</strong> segurança alimentar.<br />
Prova disso, é a baixa produtivida<strong>de</strong> das diferentes culturas (milho, mapira, arroz, gergelim,<br />
nhemba, etc.) relatadas pela maioria dos produtores consultados dos distintos Distritos.<br />
Por exemplo no Distrito do Búzi em reunião com técnicos e camponeses foi relatado a<br />
produtivida<strong>de</strong> média dos diferentes cultivos:<br />
Arroz: 2,0 toneladas/hectare<br />
Milho: 0,8 - 1,0 toneladas/hectare<br />
Estas produtivida<strong>de</strong> relatadas são muito baixas e, indubitavelmente pela alta <strong>de</strong>manda <strong>de</strong><br />
mão-<strong>de</strong>-obra envolvida, caso fossem efectuados estudos <strong>de</strong> balanço energético nos<br />
distintos sistemas <strong>de</strong> produção, possivelmente na maioria dos casos o balanço energético<br />
seria negativo, ou seja o montante total <strong>de</strong> energia consumida em todas as etapas da<br />
produção é muito maior do que aquela obtida através dos valores energéticos <strong>de</strong> produção<br />
das diferentes culturas (milho, mapira, arroz, etc.). Os rendimentos médios <strong>de</strong> diversas<br />
culturas em Moçambique são muito baixos (Tabela 2), certamente representam os<br />
rendimentos da gran<strong>de</strong> maioria dos camponeses da Província <strong>de</strong> Sofala.<br />
Tabela 2: Rendimento estimado e potencial (t/ha)<br />
Cultura<br />
Média <strong>de</strong> rendimento em<br />
Moçambique<br />
Rendimento<br />
actual<br />
Rendimento<br />
potencial<br />
Rendimentos no<br />
Zimbabwe<br />
Rendimentos em<br />
África (geral)<br />
Milho 0.1 - 2.3 1.0 - 3.0 1.4 1.2<br />
Mapira 0.3 - 0.6 0.5 - 1.5 0.6 0.8<br />
Arroz 0.5 - 1.8 1.0 - 2.5 2.8 1.6<br />
Feijão 0.3 - 0.6 0.4 - 0.6 0.7 0.7<br />
Mandioca 4.0 - 5.0 5.0 - 10.0 4.0 7.5<br />
Castanha <strong>de</strong><br />
caju<br />
Fonte: Taimo et al., 2005.<br />
0.1 - 0.2 0.4 -- --<br />
Os dados relatados mostram que há um gran<strong>de</strong> potencial em aumentar os rendimentos,<br />
necessitando a adaptação <strong>de</strong> tecnologias viáveis, utilização racional <strong>de</strong> insumos para atingir<br />
níveis sustentáveis <strong>de</strong> produção.<br />
Alguns resultados já alcançados pelos camponeses assistidos pelo Projecto PROMEC<br />
mostram que é possível em curto prazo, em algumas situações, com a implantação<br />
a<strong>de</strong>quada do sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação, aumentar imediatamente os<br />
rendimentos <strong>de</strong> diversas culturas.<br />
11
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
2.4 Práticas tradicionais <strong>de</strong> manejo <strong>de</strong> solos<br />
1. A mais comum e tradicional prática empregada pela maioria dos camponeses na<br />
Província <strong>de</strong> Sofala consiste na queima dos restolhos das culturas e/ou retirada dos<br />
mesmos da machamba; a cada implantação <strong>de</strong> nova cultura, preparo intensivo do solo<br />
com enxadas ou tracção animal; a prática repetida <strong>de</strong> monoculturas (milho-milho,<br />
mapira-mapira, etc.), tem proporcionado um excessivo uso <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra, além <strong>de</strong><br />
limitar a área a ser explorada na machamba, ou seja a actual área cultivada por cada<br />
família é bastante limitada, em geral ¼ a ½ hectare <strong>de</strong> plantio, em razão da alta<br />
<strong>de</strong>manda <strong>de</strong> trabalho, principalmente nas operações <strong>de</strong> preparo do solo e limpeza das<br />
ervas invasoras (sachas e monda), trabalho este na maioria dos casos efectuado por<br />
mulheres. Dessa forma, sempre estão à tona os riscos <strong>de</strong> segurança alimentar, ou seja<br />
com apenas uma pequena área <strong>de</strong> cultivo, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> perdas quer por secas<br />
ocasionais, excesso <strong>de</strong> chuvas ou mesmo ataques imprevistos e severos <strong>de</strong> pragas e/ou<br />
doenças é bastante gran<strong>de</strong> e, po<strong>de</strong>rão em diversas situações colocar as famílias em<br />
situação <strong>de</strong> emergência e riscos <strong>de</strong> não conseguirem alcançar os rendimentos<br />
suficientes para auto sustento. Assim, é preciso encontrar meios <strong>de</strong> aumentar a área da<br />
machamba a ser cultivada, pois a maioria dos camponeses raramente consegue suprir<br />
as necessida<strong>de</strong>s básicas <strong>de</strong> alimentação <strong>de</strong> uma família.<br />
2. A lavra manual, consiste num trabalho extremamente árduo e gran<strong>de</strong> consumidor <strong>de</strong><br />
tempo e energia junto aos camponeses. É necessário mudar os meios <strong>de</strong> produção (“é<br />
preciso sair da lavra com enxada todos os anos, pois é muito árduo”). Um trabalhador no<br />
campo, com uma carga <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> 8 horas diárias, consome em torno <strong>de</strong> 30-45 dias<br />
em média para lavrar uma área <strong>de</strong> 1 hectare, em áreas secas. Em áreas húmidas ou<br />
com bastante água (típica das áreas <strong>de</strong> baixada para cultivo <strong>de</strong> arroz em Búzi, Dondo e<br />
outros Distritos), o tempo <strong>de</strong>mandado po<strong>de</strong>rá ainda ser maior.<br />
3. Além da lavra, também a sacha (milho) e a monda (arroz), são práticas comuns nestes<br />
sistemas <strong>de</strong> produção e, também consomem bastante tempo e trabalho árduo aos<br />
camponeses; a prática da monocultura é a mais comum, ou seja normalmente os<br />
camponeses plantam arroz sobre arroz ou ainda milho sobre milho nos anos<br />
sequenciais.<br />
4. A gran<strong>de</strong> maioria dos camponeses não utilizam herbicidas e/ou fertilizantes químicos.<br />
5. Há uma necessida<strong>de</strong> muito elevada <strong>de</strong> apoio e assistência técnica à maioria dos<br />
camponeses, ou seja, é marcante a carência <strong>de</strong> informações técnicas e meios <strong>de</strong><br />
implementação no que diz respeito a um a<strong>de</strong>quado manejo <strong>de</strong> solo e das diferentes<br />
culturas exploradas.<br />
6. A actual área cultivada por cada família é bastante limitada, em geral ¼ a ½ hectare <strong>de</strong><br />
plantio, não suficiente para aten<strong>de</strong>r as necessida<strong>de</strong>s da família. É necessário encontrar<br />
uma forma URGENTE <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r aumentar a área <strong>de</strong> machamba, aumentar a produção/<br />
produtivida<strong>de</strong> e conseguir assim diminuir os riscos <strong>de</strong> intempéries às vezes imprevistas<br />
(seca, excesso <strong>de</strong> chuvas), ou mesmo um forte e inesperado ataque <strong>de</strong> pragas/doenças<br />
que possam comprometer o rendimento final das culturas e a garantia do suprimento <strong>de</strong><br />
alimentos durante todo o ano às famílias.<br />
7. A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> herbicidas, po<strong>de</strong>rá indirectamente proporcionar menos<br />
trabalho e consequentemente chances <strong>de</strong> aumentar a área <strong>de</strong> cultivo da machamba;<br />
entretanto po<strong>de</strong>rá trazer riscos <strong>de</strong> contaminação aos usuários e ao ambiente, caso não<br />
12
sejam seguidas as normas a<strong>de</strong>quadas <strong>de</strong> manuseio e aplicação, assim como<br />
produtos/dosagens menos tóxicos possíveis.<br />
8. A prática do consórcio ou associação <strong>de</strong> cultivos é praticado por muito poucos<br />
camponeses: milho + mandioca + hortaliças (quiabo, abóbora, melancia, etc.).<br />
9. Apesar da assistência técnica estar há vários anos tentando convencer os camponeses<br />
sobre a importância <strong>de</strong> observar atentamente alguns componentes técnicos (como por<br />
exemplo o uso a<strong>de</strong>quado dos compassos (espaçamento e <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> plantas) <strong>de</strong><br />
diferentes cultivos, principalmente o milho, as recomendações por parte da maioria dos<br />
camponeses não vem sendo seguido. Isto, como foi observado em várias machambas,<br />
<strong>de</strong> diferentes Distritos visitados, em alguns casos com 5-7 plantas <strong>de</strong> milho num mesmo<br />
covacho e, espaçamentos <strong>de</strong> 1.20m ou mais entre os covachos. Isto, além <strong>de</strong> provocar<br />
uma elevada competição entre as plantas, por água, luz e nutrientes, interfere<br />
negativamente e provoca diminuição acentuada na produtivida<strong>de</strong> das culturas (milho,<br />
mapira, principalmente, haja visto que estas plantas respon<strong>de</strong>m em rendimento quando<br />
em população i<strong>de</strong>al).<br />
10. Um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> camponeses da região do Búzi e outros distritos <strong>de</strong> Sofala,<br />
utilizam a prática <strong>de</strong> retirar os resíduos para fora da machamba e, a gran<strong>de</strong> maioria<br />
utilizam também a queima <strong>de</strong> todos os restolhos da machamba (restos culturais <strong>de</strong><br />
milho, arroz, mapira, etc., e também todos os capins e outras invasoras (plantas<br />
daninhas) que crescem nos campos). Estas práticas eliminam quase toda a adição anual<br />
<strong>de</strong> carbono orgânico (material orgânico) ao solo e, consequentemente após as colheitas,<br />
um montante <strong>de</strong> nutrientes também é retirado anualmente, <strong>de</strong>ssa forma o solo vai<br />
ficando mais empobrecido a cada ano, ou seja o balanço anual do carbono orgânico<br />
passa a ser negativo (sai mais carbono do que entra no sistema), além da diminuição<br />
contínua dos nutrientes, sendo portanto estas práticas in<strong>de</strong>sejáveis ao bom manejo do<br />
solo agrícola e, portanto não compatíveis com a “Sustentabilida<strong>de</strong> dos Sistemas <strong>de</strong><br />
Produção”.<br />
11. Um elevado número <strong>de</strong> camponeses em <strong>de</strong>terminadas áreas utilizam uma agricultura<br />
itinerante, ou seja após vários anos <strong>de</strong> cultivo (queima, preparo do solo, e monocultura<br />
quase que constante), quando o solo encontra-se <strong>de</strong>gradado e com baixa produção nos<br />
cultivos, abandonam estas áreas indo cultivar em outros campos e, assim após 3-4 anos<br />
<strong>de</strong> pousio, retornam a cultivar nestas áreas.<br />
Po<strong>de</strong>riam nestas áreas promover o ”melhoramento do pousio” com a inclusão<br />
principalmente <strong>de</strong> leguminosas nativas da região que irão aumentar os teores <strong>de</strong> matéria<br />
orgânica, nitrogénio através da fixação biológica no solo, além <strong>de</strong> contribuírem na<br />
reciclagem <strong>de</strong> outros nutrientes. Po<strong>de</strong>m ainda utilizar algumas leguminosas arbóreas,<br />
tais como: Glericidia sepium, Sesbania sp., Tephrosia sp., etc., ou arbustivas: feijão bóer<br />
(Cajanus cajan), ou mesmo com algumas leguminosas anuais: Mucuna sp., Clitoria<br />
ternatea, e perenes: Stylosanthes sp., Calopogonium mucunoi<strong>de</strong>s, etc.<br />
12. Alguns grupos <strong>de</strong> camponeses trabalham com tracção animal e, com uma possível<br />
implementação/adaptação no uso a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> equipamentos e máquinas (rolo-faca<br />
para manejo <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura e resíduos, máquina <strong>de</strong> plantio directo), po<strong>de</strong>rão<br />
além <strong>de</strong> aumentar a área da machamba, também proporcionar aumento na<br />
produtivida<strong>de</strong> e produção final, com uma maior renda líquida na proprieda<strong>de</strong>.<br />
13. O armazenamento <strong>de</strong> grãos apresenta problemas quanto a manutenção da qualida<strong>de</strong><br />
dos grãos, principalmente milho, mapira, mexoeira, que po<strong>de</strong>m sofrer ataques severos<br />
<strong>de</strong> gorgulhos, que ao <strong>de</strong>struírem os grãos inviabilizam o seu consumo. Faz-se<br />
necessário utilizar <strong>de</strong> técnicas que permitam uma melhor conservação <strong>de</strong>sses grãos e a<br />
sua manutenção por um maior tempo em condições aptas <strong>de</strong> consumo. Neste caso, a<br />
13
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
14<br />
construção <strong>de</strong> celeiros melhorados seria uma óptima alternativa e, caso não seja<br />
possível po<strong>de</strong>-se empregar alguns tratamentos (agro-ecológicas) e sem riscos aos<br />
camponeses:<br />
Em um silo <strong>de</strong> armazenagem colocar uma camada <strong>de</strong> folhas <strong>de</strong> Eucalyptus sp. (30-40<br />
cm) em cada camada em torno <strong>de</strong> 1 metro <strong>de</strong> altura (formada por grãos <strong>de</strong> milho,<br />
mapira, ou mesmo em espigas, ou feijão. É importante também manter o fundo do local,<br />
e também a parte superior (sobre os grãos) cobertos por esta camada <strong>de</strong> folhas <strong>de</strong><br />
eucalyptus.<br />
Em caso da não disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> eucalyptus, po<strong>de</strong> também ser utilizado folhas e<br />
ramos <strong>de</strong> mucuna (ver<strong>de</strong>).<br />
É também possível a utilização <strong>de</strong> cinzas obtida através da queima <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira ou<br />
queima <strong>de</strong> cascas <strong>de</strong> arroz, ou ainda o uso <strong>de</strong> areia que <strong>de</strong>verão ser misturadas com os<br />
grãos dos cereais ou ainda <strong>de</strong> feijão: nhemba, bóer ou vulgar, a qual evitará o ataque <strong>de</strong><br />
gorgulhos, po<strong>de</strong>ndo assim permanecer armazenados por um longo tempo sem perda da<br />
qualida<strong>de</strong> dos grãos.<br />
14. Existem os CDR (Campos <strong>de</strong> Demonstração <strong>de</strong> Resultados) que servem para os<br />
camponeses observarem os resultados disponíveis e optarem por alguma nova<br />
tecnologia a ser implementada na machamba: novos híbridos disponíveis, compassos,<br />
controle <strong>de</strong> pragas e doenças, etc., também po<strong>de</strong>rão ser utilizados na difusão da<br />
Agricultura <strong>de</strong> Conservação. Ou seja, a Agricultura <strong>de</strong> Conservação não é um fim, mas<br />
sim um meio, no qual se po<strong>de</strong> conduzir diferentes culturas anuais e, no mesmo enfoque<br />
também culturas perenes (solo coberto, não queimar e não revolver o solo).<br />
15. O actual processo <strong>de</strong> difusão, normalmente levado a cabo pelos extensionistas, e a<br />
adopção <strong>de</strong> tecnologias por parte dos camponeses necessita melhor implementação,<br />
inclusive com o emprego <strong>de</strong> “promotores” que irão difundir tecnologias já validadas em<br />
seus campos, fazendo com que novas e promissoras tecnologias possam ser melhor<br />
testadas/validadas por outros camponeses e, efectivamente possam ser expandidas e<br />
adoptadas por um maior número <strong>de</strong> famílias <strong>de</strong> camponeses.<br />
16. Existem algumas pequenas experiências com o uso <strong>de</strong> controle biológico <strong>de</strong> pragas por<br />
parte <strong>de</strong> alguns camponeses, utilizando-se <strong>de</strong>: cebola, alho, coentro plantados junto aos<br />
canteiros das hortaliças em direcção ao vento para que o odor <strong>de</strong>stas plantas possam<br />
afugentar insectos e outras pragas; e também cinzas são aplicados sobre algumas<br />
pragas; no controle <strong>de</strong> lesmas e caracóis também são aplicados cinzas ao redor dos<br />
canteiros ou das plantas que irão impedir a passagem e ataque <strong>de</strong>stes moluscos às<br />
plantas. 1<br />
17. Sistema <strong>de</strong> Camalhões<br />
Em algumas regiões <strong>de</strong> Sofala é comum a prática da construção <strong>de</strong> camalhões no solo,<br />
visando um melhor manejo do solo explorado com agricultura. Esta prática é uma<br />
medida <strong>de</strong> conservação do solo e armazenamento <strong>de</strong> água que vem sendo empregada<br />
na região <strong>de</strong> Gorongosa e outras regiões, e se caracteriza:<br />
Normalmente, o solo é revolvido a cada estação, provocando uma aceleração no<br />
processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição da matéria orgânica ;<br />
A disposição <strong>de</strong>sses camalhões promove um maior controle da erosão em áreas<br />
<strong>de</strong> encosta, em virtu<strong>de</strong> dos mesmos serem aloucados perpendicularmente ao<br />
sentido do <strong>de</strong>clive e, portanto cortam o sentido das águas, diminuindo a<br />
velocida<strong>de</strong> e armazenando mais água nos camalhões; apesar disso o solo é<br />
revolvido periodicamente após cada colheita e manejado para implantação <strong>de</strong><br />
uma nova cultura;<br />
1 Vi<strong>de</strong> informações/recomendações no capitulo sobre Controle <strong>de</strong> pragas e doenças.
Todos os anos os novos restolhos dos cultivos são incorporados ao solo,<br />
mudando a localização do novo camalhão e, assim novamente o solo é revolvido<br />
com perdas nas suas proprieda<strong>de</strong>s físicas, químicas e biológicas do solo;<br />
Além da penosida<strong>de</strong> do trabalho, ocorre um elevado emprego <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra na<br />
execução das operações <strong>de</strong> reconstrução total e manutenção dos camalhões a<br />
cada ano;<br />
Apesar dos resíduos serem amontoados nos camalhões e uma maior quantida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> água armazenada, a constância anual no revolvimento do solo, provocará<br />
uma <strong>de</strong>gradação ao longo do tempo, principalmente da matéria orgânica e<br />
fatalmente mostrando ser um sistema que po<strong>de</strong>rá comprometer a<br />
sustentabilida<strong>de</strong> ao longo dos anos.<br />
Diante <strong>de</strong>sses inconvenientes, é sugerido que em áreas muito <strong>de</strong>clivosas sejam<br />
construídos pequenos terraços/ cordões vegetados, on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rão ser protegidos por<br />
barreiras vivas com Vetiver, cana-<strong>de</strong>-açucar, ou também com a inclusão <strong>de</strong><br />
leguminosas: feijão bóer (arbustiva), ou mutica - arbustiva) ou outras espécies (*citadas<br />
em práticas complementares <strong>de</strong> conservação), para que estas espécies ao serem<br />
podadas os resíduos possam ser <strong>de</strong>ixados sobre a superfície do terreno. Além disso, o<br />
solo não <strong>de</strong>verá ser revolvido e tampouco queimado os resíduos. Após as colheitas, os<br />
restolhos <strong>de</strong>verão ser distribuidos sobre o solo e, posteriormente a implantação das<br />
novas culturas <strong>de</strong>verá ser através do plantio directo (tracção humana – matracas,<br />
tracção animal ou tracção tractorizada), conforme a infra-estrutura local.<br />
2.5 Agricultura <strong>de</strong> Conservação: uma alternativa viável<br />
Entretanto, existem alternativas ao alcance do agricultor familiar, capazes <strong>de</strong> provocar<br />
aumento significativo dos rendimentos, diminuir a carga <strong>de</strong> trabalho, promovendo maiores<br />
entradas/ingressos e, consequentemente se conseguir uma produção capaz <strong>de</strong> gerar<br />
exce<strong>de</strong>ntes. Para isso, serão necessários mudar radicalmente os sistemas <strong>de</strong> manejo <strong>de</strong><br />
solos e culturas, tradicionalmente empregados e, por consequência, os camponeses com<br />
maior disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tempo e energia (maior disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra) e, assim<br />
po<strong>de</strong>r aumentar a área da machamba a ser explorada e, consequentemente com maiores<br />
chances <strong>de</strong> aumento da produção, com uma maior oferta <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong> subsistência e <strong>de</strong><br />
mercado. Este sistema <strong>de</strong> produção sustentável po<strong>de</strong>rá contribuir efectivamente para o<br />
aumento da renda familiar e assim promover a melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos<br />
camponeses da Província <strong>de</strong> Sofala.<br />
15
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
3 A IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA <strong>DE</strong> <strong>AGRICULTURA</strong> <strong>DE</strong><br />
<strong>CONSERVAÇÃO</strong><br />
3.1 O início: a a<strong>de</strong>quação das áreas<br />
Tendo em conta que os produtores vão apresentar solos com situações diferentes, a<br />
entrada para o sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação, <strong>de</strong>ve ter em conta a situação real da<br />
cada machamba.<br />
Existe um período inicial, ou seja uma fase <strong>de</strong> transição do sistema tradicional/convencional<br />
para o novo sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação que ora está sendo implementado.<br />
Tendo em conta as práticas comuns em Sofala, é fundamental o abandono completo das<br />
práticas tradicionais (queima, aração, monoculturas, solo <strong>de</strong>scoberto), e a iniciação <strong>de</strong> uma<br />
re-a<strong>de</strong>quação <strong>de</strong> todo o sistema <strong>de</strong> produção sob o novo enfoque da Agricultura <strong>de</strong><br />
Conservação seguindo as seguintes etapas:<br />
a) Diagnóstico e <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> área<br />
Neste momento, os camponeses auxiliados pelos técnicos da extensão rural realizam uma<br />
avaliação das suas machambas, passando por um diagnóstico e <strong>de</strong>finição específica da<br />
área on<strong>de</strong> será implementado o sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação. Preferentemente<br />
<strong>de</strong>ve-se escolher a melhor área da proprieda<strong>de</strong>, ou seja machambas com potencial <strong>de</strong> se<br />
obter resultados imediatos e, posteriormente quando o camponês dominar a tecnologia,<br />
po<strong>de</strong>rá ir ocupando outras áreas, menos férteis e mais difíceis. Após a escolha/<strong>de</strong>finição da<br />
área, verifica-se “in loco” quais os possíveis componentes que <strong>de</strong>verão ser incluídos<br />
naquela <strong>de</strong>terminada área da machamba.<br />
No tocante à questão tradicional/cultural <strong>de</strong> manter os animais em liberda<strong>de</strong> é necessário<br />
buscar meios para manter os animais em áreas protegidas, evitando que os mesmos<br />
consumam todos os restolhos e resíduos vegetais da superfície do solo. Uma alternativa<br />
viável nesse sentido, quando não se dispõe <strong>de</strong> capital para construção <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> arame, é<br />
a multiplicação <strong>de</strong> mudas <strong>de</strong> árvores que possam ser usadas como “cerca viva”: Dovyalis<br />
abyssinica, Dovyalis caffra, Parkinsonia acculeata, Ziziphus mucronata, Ziziphus spinachristi,<br />
Haematoxylon brasileto, Bauhinia rufescen, Acacia polycantha, Acacia melífera,<br />
Acacia tortuosis, etc., e, posteriormente serem distribuídas aos camponeses para<br />
protegerem as áreas <strong>de</strong> produção agrícola.<br />
b) Definição <strong>de</strong> Componentes iniciais <strong>de</strong> acordo com as condições da machamba<br />
Assim, caminha-se para a operacionalização dos componentes do sistema, ou seja, nas<br />
etapas em que são a<strong>de</strong>quadamente ajustados e implementados os diferentes elementos tais<br />
como: plantas <strong>de</strong> cobertura, locação e execução <strong>de</strong> terraços/cordões vegetados/cordões <strong>de</strong><br />
pedras (quando necessários em áreas mais <strong>de</strong>clivosas), ou amontoa <strong>de</strong> pedras (quando em<br />
número reduzido), distribuição uniforme dos restolhos sobre o solo, escolha da melhor<br />
sequência <strong>de</strong> culturas, consorcio <strong>de</strong> culturas (p. ex. milho + mucuna, mapira + feijão bóer,<br />
etc.), enfim um conjunto <strong>de</strong> componentes que estão sendo implantados e em fase <strong>de</strong><br />
ajustamento e/ou equilíbrio <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada região e sistema <strong>de</strong> produção.<br />
Portanto, os diferentes sistemas <strong>de</strong> produção regional, nas mais variadas zonas agroecológicas<br />
da Província <strong>de</strong> Sofala, quando da implementação do novo sistema <strong>de</strong>verão ser<br />
16
acompanhados <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas sequências <strong>de</strong> culturas, preferentemente que tenham sido<br />
já testados e validados pelos camponeses da região e sofrido os ajustes necessários para a<br />
consolidação dos diferentes componentes a fazerem parte do Sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong><br />
Conservação.<br />
3.2 Passos gerais na implantação da Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
Os passos apresentados com as <strong>de</strong>vidas etapas, constituem um guia geral para uma<br />
a<strong>de</strong>quada implantação do sistema principalmente nas pequenas proprieda<strong>de</strong>s.<br />
Os passos enumerados não necessariamente <strong>de</strong>verão seguir sempre uma sequência<br />
conforme <strong>de</strong>scrita, em muitos casos o sistema é <strong>de</strong>senvolvido já partindo <strong>de</strong> uma situação<br />
ou passo previamente realizado, ou mesmo em alguns casos, on<strong>de</strong> nem todos os passos ou<br />
componentes se aplicam ou serão necessários àquela <strong>de</strong>terminada situação.<br />
1. Treinamento e capacitação <strong>de</strong> técnicos e agricultores<br />
2. Sistematização, limpeza e <strong>de</strong>scompactação do terreno (caso houver necessida<strong>de</strong>)<br />
Áreas que apresentam solos com superfície <strong>de</strong>suniforme ou com excessivos buracos,<br />
torrões, tocos, etc., <strong>de</strong>verão ser, no caso <strong>de</strong> tração tractorizada, preferentemente<br />
uniformizadas através <strong>de</strong> gradagens, etc. Tração humana (uso <strong>de</strong> enxadas, catana,<br />
matraca) po<strong>de</strong>rá ser efetuada mesmo em áreas <strong>de</strong>suniformes ou com presença <strong>de</strong> troncos,<br />
tocos, não havendo necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uniformizar a superfície do terreno.<br />
3. Diminuição do comprimento das pen<strong>de</strong>ntes em áreas <strong>de</strong>clivosas<br />
Inclui construção <strong>de</strong> terraços, muralha/cordões <strong>de</strong> pedras, barreiras vivas – capim vetiver,<br />
capim limão, feijão bóer, Glericidia sepium, Tephrosia vogelli - mutica, etc. Neste caso,<br />
po<strong>de</strong>rá se utilizar simultaneamente <strong>de</strong> camalhão <strong>de</strong> solo ou muralha <strong>de</strong> pedras,<br />
complementada por plantas que se entouceiram (capim vetiver, capim limão, capim elefante,<br />
etc.) e/ou ainda algumas plantas arbustivas e arbóreas que serão oportunamente podadas<br />
para fornecerem biomassa para cobertura/protecção e melhoria do solo.<br />
4. Iniciar em pequenas áreas da machamba e também nas melhores áreas da<br />
proprieda<strong>de</strong><br />
Iniciar nas áreas mais conservadas e com melhor fertilida<strong>de</strong>, ou seja, on<strong>de</strong> o camponês vê<br />
as plantas melhor <strong>de</strong>senvolvidas e, conforme vai conhecendo e através dos resultados<br />
alcançados ir aprimorando o sistema. Posteriormente, ir para outras áreas da machamba, as<br />
mais problemáticas e com solos <strong>de</strong>gradados até que o sistema esteja implantado em toda a<br />
proprieda<strong>de</strong>.<br />
5. Não queimar restolhos das culturas, capins, e outros resíduos <strong>de</strong> invasoras, mas<br />
sim <strong>de</strong>ixá-los sobre a superfície do solo<br />
6. As plantas <strong>de</strong> cobertura/resíduos <strong>de</strong> invasoras ou mesmo os restolhos das<br />
culturas, <strong>de</strong>verão ser manejadas com rolo-faca, catana, foice, herbicidas, etc. e,<br />
<strong>de</strong>ixadas cobrindo o solo<br />
7. Eliminar totalmente a lavoura, isto é, não efetuar mais o preparo do solo, quer seja<br />
com enxadas ou com charrua<br />
17
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
8. Escolher corretamente equipamentos e máquinas (enxada, catana, matraca, rolo<br />
faca, máquina plantio directo; tracção animal, etc.), conforme as condições da<br />
proprieda<strong>de</strong> e da infra-estrutura do produtor<br />
9. Objetivando uma maior proteção e recuperação do solo, <strong>de</strong>ve ser utilizado espécies<br />
nativas e exóticas melhoradoras <strong>de</strong> solo (preferentemente leguminosas), visando a<br />
cobertura da superfície do solo e melhoria das proprieda<strong>de</strong>s do solo<br />
10. Procurar executar a rotação <strong>de</strong> culturas<br />
Procurar mudar a sequência <strong>de</strong> culturas ou mesmo efectuando consórcio <strong>de</strong> culturas com<br />
plantas <strong>de</strong> cobertura (ex. mucuna intercalado ao milho; feijão bóer intercalado entre as<br />
fileiras <strong>de</strong> milho/mapira), isto irá contribuir para uma maior reciclagem <strong>de</strong> nutrientes, um<br />
aumento da biodiversida<strong>de</strong> e diminuição da população <strong>de</strong> plantas invasoras e probabilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> pragas e doenças.<br />
11. Manejo a<strong>de</strong>quado da fertilida<strong>de</strong> do solo:<br />
Solos com baixa fertilida<strong>de</strong> ou extremamente <strong>de</strong>gradados <strong>de</strong>verão ser melhorados com<br />
a inclusão <strong>de</strong> leguminosas por 2-3 anos: leguminosas rasteiras ou prostradas: ex.<br />
mucuna pruriens, stylosanthes sp., calopogonio mucunoi<strong>de</strong>s, clitoria ternatea, etc.;<br />
Culturas intercaladas com leguminosas arbustivas: feijão bóer, Sesbania sesban, etc.;<br />
e ainda também com leguminosas arbóreas: Glericidia sepium, Tephrosia vogelli,<br />
Sesbania sp., Calliandra calythersus, Acacia albida, etc.; estas leguminosas <strong>de</strong>verão<br />
preferentemente ser inoculadas (rhizobium específicos) e, quando disponível utilizar<br />
também fungos micorrízicos. Além disso, visando a reposição dos nutrientes a níveis<br />
aceitáveis <strong>de</strong> produção, aplicar fertilizantes (químicos e/ou orgânicos) e na correção <strong>de</strong><br />
solos calcário e/ou gesso, ou mesmo cinzas (se houver disponibilida<strong>de</strong>).<br />
12. Iniciar preferentemente em áreas com menor infestação <strong>de</strong> invasoras (ervas<br />
daninhas) <strong>de</strong> difícil controle, principalmente aquelas perenes, como é o caso <strong>de</strong><br />
vários capins, principalmente em áreas brutas, ou aquelas on<strong>de</strong> haja alta infestação<br />
<strong>de</strong> espécies que se propagam através <strong>de</strong> rizomas, bulbos - Cynodon dactilon,<br />
Cyperus sp. etc.)<br />
Procurar diminuir estas infestações, eliminando os rizomas e/ou bulbos através <strong>de</strong> preparo e<br />
catação, ou mesmo (em alguns casos através <strong>de</strong> herbicidas), para então com presença <strong>de</strong><br />
mulch (produzido no local ou trazido externamente) <strong>de</strong>senvolver o sistema.<br />
18<br />
Solos em recuperação com Glericidia sepium<br />
na Província <strong>de</strong> Sofala
13. Evitar o excessivo pastoreio e pisoteio <strong>de</strong> animais, que irá eliminar a presença<br />
<strong>de</strong> mulch e consequentemente prejudicar o solo e os cultivos<br />
A presença <strong>de</strong> animais nos campos <strong>de</strong>ve ser evitada, <strong>de</strong>vendo-se construir cercas<br />
metálicas, ou cercas vivas, ou seja, arbustos e árvores locais preferentemente com<br />
presença <strong>de</strong> espinhos, tais como: (Dovyalis abyssinica, Dovyalis caffra, Parkinsonia<br />
acculeata, Ziziphus mucronata, Ziziphus spina-christi, Jatopha curcas (pinhão manso),<br />
Agave sisalane (sisal), Haematoxylon brasileto, Bauhinia rufescen, Acacia polycantha,<br />
Acacia melífera, Acacia tortuosis, etc.; usar <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura não comestíveis pelos<br />
animais, tais como: Ricinus communis (ricinus), Tephrosia vogelli (mutica), Tephrosia<br />
tunicata, Tephrosia candida, Senna spectabilis, etc.;<br />
Selecionar pequenas áreas on<strong>de</strong> através <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> fertilizantes orgânicos e/ou<br />
compostagem po<strong>de</strong>rá produzir elevadas quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> forragens, capins (capim elefante,<br />
sudangrass, etc.) e leguminosas (feijão bóer, leucaena, etc.) que serão ministradas aos<br />
animais, evitando a invasão dos mesmos às machambas.<br />
O que Você <strong>de</strong>ve levar em conta na implantação do sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong><br />
Conservação:<br />
Informações regionais disponíveis sobre espécies a comporem uma a<strong>de</strong>quada sequência <strong>de</strong><br />
culturas, época <strong>de</strong> plantio, forma, isolado ou consorciado com milho ou mapira (p. ex.), época e<br />
forma <strong>de</strong> manejo (cortado com catana ou manejado com rolo-faca ou herbicidas) e, ainda a<br />
época a<strong>de</strong>quada para implantação ou transplante da cultura posterior (subsistência ou <strong>de</strong><br />
mercado). Assim, o produtor correrá menores riscos <strong>de</strong> insucesso no início da implantação do<br />
sistema.<br />
Buscar uma a<strong>de</strong>quação da sequência das culturas (subsistência, mercado) e levando em<br />
consi<strong>de</strong>ração a distribuição das chuvas e temperatura durante todo o ano.<br />
3.3 Práticas que po<strong>de</strong>rão fazer parte do sistema<br />
Para <strong>de</strong>senvolver um a<strong>de</strong>quado sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação, é necessário uma<br />
harmoniosa integração <strong>de</strong> alguns componentes do sistema:<br />
a) Plantas <strong>de</strong> cobertura,<br />
corte e distribuição do capim (ou <strong>de</strong>ssecação através <strong>de</strong> herbicidas),<br />
b) Manejo <strong>de</strong> invasoras,<br />
c) Rotação <strong>de</strong> culturas,<br />
d) Construção <strong>de</strong> terraços, etc. que po<strong>de</strong>m variar <strong>de</strong> acordo com a localização <strong>de</strong> uma<br />
<strong>de</strong>terminada área, e alguns atributos:<br />
- zona agro-ecológica<br />
- altitu<strong>de</strong><br />
- local que ocupa na toposequência da paisagem<br />
- as proprieda<strong>de</strong>s do solo (químicas, físicas e biológicas)<br />
- quantida<strong>de</strong> e distribuição <strong>de</strong> chuvas durante o ano<br />
- sistema <strong>de</strong> produção<br />
19
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
20<br />
Área em <strong>de</strong>clive mostrando processo <strong>de</strong> erosão,<br />
<strong>de</strong>ve ser construído terraços (cordão vegetado),<br />
plantas <strong>de</strong> cobertura e rotação <strong>de</strong> diferentes<br />
culturas (Distrito <strong>de</strong> Gorongosa).<br />
Durante o planejamento <strong>de</strong> implantação do sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação, é<br />
importante a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rar a machamba <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma área maior que é a<br />
Microbacia Hidrográfica, consi<strong>de</strong>rando assim a unida<strong>de</strong> física para se efectuar todas as<br />
operações técnicas, possibilitando a integração entre uma proprieda<strong>de</strong> e outra, facilitando<br />
assim todas as possíveis intervenções e procedimentos técnicos favoráveis ao manejo<br />
sustentável do solo.<br />
Conforme a localização das machambas em diferentes zonas agro-ecológicas e altitu<strong>de</strong>s, o<br />
comportamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas culturas será diferenciado e, portanto épocas <strong>de</strong> plantio e<br />
espécies a serem implementadas na sequência (rotação) po<strong>de</strong>rão ser diferentes.<br />
Geralmente os solos que ocorrem em áreas <strong>de</strong> maior altitu<strong>de</strong> (áreas mais montanhosas)<br />
po<strong>de</strong>m apresentar profundida<strong>de</strong> efectiva menor, presença <strong>de</strong> rochas e solos rasos (litólicos)<br />
e, com condições <strong>de</strong> clima <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>, normalmente outras culturas (subsistência e<br />
mercado), além <strong>de</strong> outras espécies <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura, que po<strong>de</strong>rão ser testadas e<br />
validadas para posteriormente fazerem parte dos sistemas <strong>de</strong> rotação regional.<br />
Para alguns procedimentos básicos necessários quanto à <strong>de</strong>finição da área, passos a serem<br />
seguidos, bem como etapas sequenciais a<strong>de</strong>quadas visando uma concreta e efectiva<br />
implantação do sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação, é recomendado a realização <strong>de</strong> um<br />
diagnóstico local das condições físicas, químicas e biológicas do solo:<br />
a) SOLO COMPACTADO:<br />
Caso haja limitação física do solo (por ex. compactação na superfície ou subsuperficie),<br />
<strong>de</strong>verá ser supervisionado pelo técnico e avaliado o real estado <strong>de</strong> compactação do solo.<br />
Caso seja um a<strong>de</strong>nsamento superficial (normal em solos argilosos) ou comumente<br />
chamado <strong>de</strong> compactação leve, po<strong>de</strong>rá ser eliminado facilmente através do uso <strong>de</strong><br />
plantas com sistema radicular bastante vigoroso (feijão bóer, crotalarias (grahaminana,<br />
juncea, mucronata e nativas), nabo pivotante, tephrosias, sesbanias, gergelim, tremoço,<br />
etc. Caso, a compactação verificada seja bastante severa, i<strong>de</strong>ntificando-se camadas<br />
muito compactas on<strong>de</strong> as raízes <strong>de</strong> plantas como o feijão bóer não conseguem<br />
ultrapassar, assim como seja observado o impedimento da infiltração <strong>de</strong> água no perfil,<br />
antes <strong>de</strong> iniciar a implantação do sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação, o solo <strong>de</strong>verá<br />
ser <strong>de</strong>scompactado através do uso <strong>de</strong> escarificadores (tracção animal ou tractorizada).<br />
b) SOLO COM <strong>DE</strong>CLIVE ACENTUADO:<br />
Caso a machamba esteja localizada em áreas com <strong>de</strong>clive acentuado, <strong>de</strong>ve-se efectuar<br />
a diminuição do comprimento das pen<strong>de</strong>ntes em áreas <strong>de</strong>clivosas com marcação e<br />
confecção <strong>de</strong> terraços (cordões vegetados: capim vetiver, capim limão, feijão bóer,<br />
gliricidia sepium, mutica, etc.), muralha <strong>de</strong> pedras, etc., barreiras vivas – neste caso,<br />
po<strong>de</strong>rá se utilizar simultaneamente <strong>de</strong> terraços - camalhão <strong>de</strong> terra, ou <strong>de</strong> pedras; mais
plantas que se entouceiram (capim vetiver, capim limão, capim elefante, etc.) e ainda<br />
algumas plantas arbustivas e arbóreas que serão oportunamente podadas para<br />
fornecerem biomassa para cobertura/protecção e melhoria do solo (glericidia sepium,<br />
tephrosia vogelli, feijão bóer, etc.).<br />
Normalmente nas encostas íngremes predominam solos jovens e rasos, bastante frágeis<br />
do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> manejo (40-80 cm. <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong> efectiva), po<strong>de</strong>ndo em poucos<br />
anos a erosão arrastar todo o solo arável dos horizontes superficiais, com um elevado<br />
afloramento <strong>de</strong> rochas na superfície, po<strong>de</strong>ndo tornar estas áreas totalmente<br />
improdutivas mesmo para pastagens e/ou outras culturas perenes. Dessa forma, a<br />
exploração <strong>de</strong>stas áreas <strong>de</strong>ve acompanhada <strong>de</strong> diferentes componentes da Agricultura<br />
<strong>de</strong> Conservação, harmoniosamente distribuídos conforme as condições específicas <strong>de</strong><br />
cada região: nível <strong>de</strong>clive, profundida<strong>de</strong> efectiva do solo, presença ou não <strong>de</strong> rochas,<br />
etc.<br />
Como proce<strong>de</strong>r no caso <strong>de</strong> solos com <strong>de</strong>clive acentuado:<br />
Demarcar pequenos terraços em nível contra a pen<strong>de</strong>nte para cortar as águas. Po<strong>de</strong>ndo ser<br />
feito com enxadas ou com charruas tracção animal (2 a 3 passadas). Posteriormente abre-se<br />
um pequeno sulco continuo sobre o “topo”, parte mais elevada do terraço e po<strong>de</strong> ser<br />
plantado capim elefante (Pennisetum purpureum), cana-<strong>de</strong>-açucar, capim vetiver ou “vetiver<br />
grass” (Vetiveria zizanioi<strong>de</strong>s). Caso haja disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pedras no local, po<strong>de</strong> ser<br />
complementado com terraço (muro) <strong>de</strong> pedras. Este terraço <strong>de</strong> pedras po<strong>de</strong> ser ajustado<br />
com Capim vetiver ou “Vetiver grass”, (Vetiveria zizanioi<strong>de</strong>s), capim cidreira ou limão (lemon<br />
grass), capim elefante (Pennisetum atropurpureum), etc. (o cordão vegetado com capim<br />
<strong>de</strong>verá ficar acima do terraço/muro <strong>de</strong> pedras).<br />
Após o plantio das espécies é necessário acompanhar o <strong>de</strong>senvolvimento das plantas e<br />
verificar a possível ocorrência <strong>de</strong> falhas na população <strong>de</strong> plantas da faixa contínua da<br />
barreira viva e, também a má disposição das pedras na construção dos terraços, po<strong>de</strong>rá<br />
durante a ocorrência <strong>de</strong> fortes chuvas, facilitar o escorrimento superficial elevado<br />
(enxurradas), carreando água e sedimentos juntamente com nutrientes e a matéria orgânica<br />
das camadas superficiais do solo. Assim, <strong>de</strong>verá se prover <strong>de</strong> um a<strong>de</strong>quado número <strong>de</strong><br />
pedras e a<strong>de</strong>quada distribuição/acomodação na construção das barreiras, <strong>de</strong> forma que as<br />
pedras e o capim estejam bem dispostos e compactos protegendo bem o solo.<br />
A área entre os cordões <strong>de</strong>verão preferentemente permanecer todo o ano coberto com<br />
restolhos ou plantas <strong>de</strong> cobertura durante os intervalos das diversas culturas).<br />
Cordões vegetados ou faixas <strong>de</strong> leguminosas: estratégia recomendada na melhoria da<br />
estrutura do solo e produção <strong>de</strong> biomassa, constando da implantação <strong>de</strong> espécies arbustivas<br />
ou arbóreas preferentemente leguminosas que <strong>de</strong>verão ser podadas esporadicamente e os<br />
resíduos distribuídos sobre o solo para protecção e melhoria da fertilida<strong>de</strong>: mutica (Tephrosia<br />
vogelli), Sesbania sesban, Glericidia sepium, Calliandra calythersus, Acácia albida, feijão<br />
bóer (Cajanus cajan), Leucaena leucocephalla, Tephrosia tunicata e outras sps.); também<br />
po<strong>de</strong>rão ser intercaladas algumas plantas com efeitos insecticidas: mutica, Azadirachta<br />
indica (Nim) , Melia azedarach (siringa), etc.<br />
Algumas situações <strong>de</strong> <strong>de</strong>clives acentuados po<strong>de</strong>rão ser construído canais escoadouros<br />
vegetados, por on<strong>de</strong> o excesso <strong>de</strong> água que não conseguir infiltrar no perfil do solo e não ser<br />
absorvido também nos terraços/cordões po<strong>de</strong>rão seguir por um canal vegetado com grama<br />
local rasteira, ou mesmo com amendoim forrageiro perene (Arakis pintoi ou Indigofera sp.)<br />
sem causar problemas <strong>de</strong> erosão e mínimas perdas <strong>de</strong> solos e nutrientes.<br />
21
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
22<br />
Muralha <strong>de</strong> pedras combinada com cordão<br />
vegetado (Vetiver grass ou Capim Vetiver) no<br />
Distrito <strong>de</strong> Gorongosa<br />
c) SOLO POBRE EM NUTRIENTES:<br />
Caso seja i<strong>de</strong>ntificado que o nível <strong>de</strong> nutrientes presentes no solo é muito baixo, é<br />
recomendável a aplicação <strong>de</strong> fertilizantes (químicos e/ou orgânicos) para a reposição e<br />
criação <strong>de</strong> condições mínimas para uma suficiente produção <strong>de</strong> biomassa.<br />
d) SOLO INFESTADO <strong>DE</strong> INVASORAS:<br />
Havendo elevada infestação <strong>de</strong> invasoras perenes, preferentemente <strong>de</strong>verão ser<br />
controladas antes <strong>de</strong> iniciar o sistema, embora possa ser iniciado, entretanto com riscos<br />
e elevado custo posterior no controle <strong>de</strong>ssas espécies (p. ex. Cynodon dactilon, Cyperus<br />
sp., etc.). O controle integrado po<strong>de</strong> ser realizado através <strong>de</strong> herbicidas (Glyphosate) +<br />
plantas <strong>de</strong> cobertura eficientes tais como:. Mucuna + lablab – * óptimos resultados foram<br />
alcançados na Suazilândia no controle <strong>de</strong> Cynodon com o uso <strong>de</strong> Roundup, seguidos <strong>de</strong><br />
cobertura por plantas <strong>de</strong> mucuna + lablab (FAO, Projecto Swazilandia, 2005).
4 A COBERTURA DO SOLO<br />
4.1 As vantagens <strong>de</strong> manter o solo coberto<br />
As vantagens <strong>de</strong> manter o solo coberto são as seguintes:<br />
1) Promover a formação <strong>de</strong> cobertura vegetal, além <strong>de</strong> evitar <strong>de</strong>ixar o solo <strong>de</strong>sprotegido irá<br />
quebrar a energia cinética da chuva impedindo o impacto directo das gotas <strong>de</strong> chuva no<br />
solo, impedindo com isso, o <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento do processo <strong>de</strong> erosão.<br />
2) A presença da cobertura morta (“mulch”) mantém mais humida<strong>de</strong> no solo, diminuindo<br />
das perdas <strong>de</strong> água por evaporação, além <strong>de</strong> diminuir a oscilação (variação) térmica nas<br />
1 a. s camadas.<br />
3) Os resíduos vegetais, parte aérea e raízes, irão afofar o solo, abrindo também canais no<br />
perfil que irá aumentar a infiltração <strong>de</strong> água no solo, diminuindo o escorrimento<br />
superficial e as perdas <strong>de</strong> água, solo e nutrientes.<br />
4) Buscar uma melhor estruturação do solo: melhor agregação das partículas, maior<br />
aeração, maior porosida<strong>de</strong>, favorecendo o crescimento das raízes dos cultivos<br />
posteriores.<br />
5) Implementar a reciclagem <strong>de</strong> nutrientes no solo, diminuindo a lixiviação dos mesmos,<br />
bem como adicionar o nitrogénio ao sistema, principalmente com o uso <strong>de</strong> leguminosas<br />
minimizando a <strong>de</strong>manda externa <strong>de</strong> fertilizantes.<br />
6) Possibilitar, com o crescimento rápido e agressivo, competição com as invasoras,<br />
diminuindo os custos com o seu controle.<br />
7) Com a utilização das espécies, há uma tendência, ao longo dos anos, do aumento dos<br />
teores <strong>de</strong> matéria orgânica no solo, que irá proporcionar significativas melhorias nas<br />
proprieda<strong>de</strong>s químicas, físicas e biológicas do solo.<br />
8) Aumento da biologia do solo e, consequente aumento da biodiversida<strong>de</strong>, o que irá<br />
contribuir para um maior equilíbrio natural e menores riscos <strong>de</strong> ataque <strong>de</strong> pragas<br />
(insectos, nematoi<strong>de</strong>s, etc.) e doenças.<br />
Leguminosa nativa, potencial <strong>de</strong> uso como<br />
cobertura em rotação com diferentes culturas<br />
(Província <strong>de</strong> Sofala)<br />
Clitoria ternatea: leguminosa adaptada<br />
em algumas regiões da Província como<br />
nos Distritos <strong>de</strong> Búzi e Gorongosa<br />
23
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
4.2 Plantas <strong>de</strong> cobertura<br />
4.2.1 Comportamento das diferentes espécies <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura e<br />
contribuição na melhoria das proprieda<strong>de</strong>s físicas, químicas e<br />
biológicas do solo<br />
As experiências práticas dos camponeses da Província <strong>de</strong> Sofala tem mostrado que o solo<br />
<strong>de</strong>vidamente coberto com restolhos e resíduos <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura (p. ex. mucuna,<br />
feijão bóer, etc.), proporciona um aumento da infiltração <strong>de</strong> água no perfil, diminuindo o<br />
escorrimento superficial e as perdas <strong>de</strong> água, solo e nutrientes. A continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse<br />
sistema, ten<strong>de</strong> a aumentar gradualmente os teores <strong>de</strong> matéria orgânica e nutrientes no solo<br />
ao longo dos anos e, além <strong>de</strong> promover um maior armazenamento <strong>de</strong> água no perfil, irá<br />
trazer inúmeros benefícios às diferentes sequências <strong>de</strong> culturas.<br />
Registros históricos mostram que a milenar prática do uso <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura, foi<br />
<strong>de</strong>senvolvida com sucesso por antigas civilizações: romanos, gregos, chineses, e outros<br />
povos na antiguida<strong>de</strong> e, graças ao intenso uso <strong>de</strong> insumos “mo<strong>de</strong>rnos” esta prática foi<br />
quase esquecida neste século. Felizmente nas últimas 3 décadas, estudos e experiências<br />
<strong>de</strong> agricultores em várias partes do mundo fizeram com que esta eficiente prática<br />
começasse a retomar o seu importante lugar nas diferentes condições agro-ecológicas e<br />
sistemas <strong>de</strong> produção dos diferentes países, contribuindo para a manutenção e melhoria<br />
das proprieda<strong>de</strong>s do solo (físicas, químicas e biológicas).<br />
O estudo das plantas melhoradoras do solo tem <strong>de</strong>monstrado gran<strong>de</strong> potencial na protecção<br />
e recuperação da produtivida<strong>de</strong> do solo. Apesar disso, um constante <strong>de</strong>safio é estabelecer<br />
esquemas <strong>de</strong> uso compatível, das diferentes espécies com os sistemas <strong>de</strong> produção<br />
específicos <strong>de</strong> cada região, e se possível nos limites <strong>de</strong> cada proprieda<strong>de</strong>, levando em<br />
consi<strong>de</strong>ração os aspectos ligados ao clima, solo, infra-estrutura da proprieda<strong>de</strong> e condições<br />
sócio-económicas do agricultor. As possibilida<strong>de</strong>s do emprego <strong>de</strong>ssas plantas, po<strong>de</strong>m visar,<br />
além da conservação e/ou melhoria da fertilida<strong>de</strong>, incremento na produtivida<strong>de</strong> das culturas<br />
comerciais, aproveitamento algumas espécies como fonte <strong>de</strong> alimentos, forragem aos<br />
animais, ou ainda na produção <strong>de</strong> grãos para comercialização.<br />
A temperatura exerce gran<strong>de</strong>s efeitos sobre a fisiologia das plantas, além <strong>de</strong> influenciar<br />
directamente na absorção <strong>de</strong> íons (nutrientes). A amplitu<strong>de</strong> térmica muitas vezes é mais<br />
importante que a temperatura média <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada zona, ou seja as variações nas<br />
temperaturas influem directamente no comportamento das plantas. Também a distribuição<br />
anual das precipitações tem efeitos directos no estabelecimento e <strong>de</strong>senvolvimento das<br />
diferentes espécies. Portanto, quando da escolha da(s) espécie(s) a fazer parte <strong>de</strong><br />
sequências <strong>de</strong> culturas, estes e outros aspectos <strong>de</strong>verão sempre ser levados em<br />
consi<strong>de</strong>ração.<br />
24<br />
Leguminosa rústica (Feijão bóer) que apresenta<br />
múltiplos usos, na fase <strong>de</strong><br />
florescimento/enchimento <strong>de</strong> vagens – Província<br />
<strong>de</strong> Sofala
As plantas <strong>de</strong> cobertura po<strong>de</strong>rão ser implantadas em<br />
cultivo singular ou em associações. Po<strong>de</strong>-se fazer uso<br />
do consórcio <strong>de</strong> gramíneas + leguminosas, ou ainda<br />
misturar 2-3 ou mais espécies, que além <strong>de</strong><br />
apresentarem um importante efeito melhorador das<br />
características físicas do solo (agregação,<br />
estruturação), produzem resíduos com relação C/N<br />
intermediária, favorecendo a mineralização paulatina do<br />
nitrogénio, além <strong>de</strong> promoverem ao longo dos anos um<br />
maior equilíbrio e acúmulo <strong>de</strong> carbono no perfil do solo.<br />
No caso <strong>de</strong> cultivos singulares, a <strong>de</strong>composição<br />
individual das leguminosas resultará em maiores riscos<br />
<strong>de</strong> perdas <strong>de</strong> N (lixiviação, volatilização), quando<br />
comparado às gramíneas. Quando os resíduos <strong>de</strong><br />
gramíneas são mesclados com resíduos <strong>de</strong><br />
leguminosas, normalmente não há problemas com<br />
imobilização do nitrogénio e a mineralização paulatina<br />
favorecerá a disponibilida<strong>de</strong> e absorção dos nutrientes<br />
pelas plantas.<br />
Consórcio <strong>de</strong> milho e feijão<br />
nhemba no sistema <strong>de</strong><br />
Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
(Distrito do Dondo)<br />
Os nutrientes <strong>de</strong>ixados pelas plantas <strong>de</strong> cobertura às culturas posteriores po<strong>de</strong>m ser<br />
aproveitados em quantida<strong>de</strong>s variáveis conforme os seguintes factores:<br />
Espécie <strong>de</strong> planta <strong>de</strong> cobertura:<br />
Plantas mais fibrosas (com maior quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> carbono) <strong>de</strong>moram mais a se <strong>de</strong>compor no<br />
solo, plantas com maior % <strong>de</strong> nitrogénio se <strong>de</strong>compõe mais rápido e liberam os nutrientes<br />
no solo, po<strong>de</strong>ndo então ser absorvidos pelas culturas subsequentes;<br />
Tempo <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição: A relação carbono/nitrogénio (C/N), bem como a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
lignina presente no tecido vegetal, irá governar gran<strong>de</strong> parte do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição<br />
dos resíduos no solo;<br />
Temperatura: Temperaturas elevadas facilitam o aumento <strong>de</strong> população dos<br />
microrganismos do solo e, consequentemente po<strong>de</strong>rá acelerar o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição<br />
dos resíduos vegetais no solo;<br />
Humida<strong>de</strong> do solo: A disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água juntamente com temperatura e presença <strong>de</strong><br />
ar (oxigénio) são fundamentais no aumento dos microrganismos e <strong>de</strong>composição dos<br />
resíduos no solo;<br />
Manejo do solo: O solo ao ser revolvido por enxadas, charrua ou tractor irá misturar os<br />
resíduos na camada superficial do solo acelerando o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição dos<br />
resíduos presentes;<br />
Fertilida<strong>de</strong> do solo : (aspectos químicos, físicos e biológicos)<br />
Maior teor <strong>de</strong> matéria orgânica (geralmente está associado a um incremento biológico no<br />
solo, principalmente os microorganismos), elevado teor <strong>de</strong> nutrientes, melhor aeração do<br />
solo (não problemas <strong>de</strong> compactação), maior acumulo <strong>de</strong> humida<strong>de</strong>; temperaturas elevadas,<br />
ten<strong>de</strong>m a acelerar a <strong>de</strong>composição dos resíduos no solo, assim esses factores tem<br />
influencia directa na disponibilida<strong>de</strong> dos nutrientes as culturas subsequentes.<br />
25
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
O que Você <strong>de</strong>ve levar em conta:<br />
O monitoramento contínuo das áreas com rotação <strong>de</strong> culturas é fundamental para o próprio<br />
sucesso do sistema. Assim, as espécies a serem incluídas na rotação <strong>de</strong>verão ser<br />
criteriosamente seleccionadas, <strong>de</strong> acordo com as condições agro-ecológicas, infra-estrutura do<br />
produtor, e cobertura do solo prevalecentes.<br />
4.2.2 Formas <strong>de</strong> manejo <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura<br />
As plantas <strong>de</strong> cobertura quando atingem o pleno florescimento os nutrientes se encontram<br />
distribuidos em todas as partes da planta, sendo o momento recomendado para se fazer o<br />
manejo. Obviamente, que em algumas situações on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>seja que os resíduos<br />
permaneçam por mais tempo sobre o solo, este manejo po<strong>de</strong>rá ser retardado um pouco.<br />
Dessa forma, quando as plantas atravessam a fase <strong>de</strong> crescimento vegetativos e entram na<br />
fase reprodutiva (flores e enchimento <strong>de</strong> grãos), ocorre uma migração dos nutrientes das<br />
folhas e <strong>de</strong> outras partes da planta para as inflorescências e, com isso principalmente pelo<br />
aumento das ca<strong>de</strong>ias carbônicas, os tecidos das plantas irão se tornando com uma maior<br />
relação C/N e, assim com maior presença <strong>de</strong> lignina torna-se mais difícil e <strong>de</strong>morada a<br />
<strong>de</strong>composição <strong>de</strong>sses resíduos no solo. Por outro lado, caso o manejo das plantas seja<br />
efetuado antes do florescimento, a relação carbono nitrogênio (N) nos tecidos será menor<br />
(ca<strong>de</strong>ias carbônicas menores) e, consequentemente <strong>de</strong>composição no solo será bem<br />
rápida. Isto, principalmente em função da oferta elevada <strong>de</strong> N aos microorganismos, que<br />
assim multiplicam-se muito rapidamente e <strong>de</strong>compõe os resíduos orgânicos em menor<br />
tempo. Neste caso, se tem uma pronta disponibilida<strong>de</strong> principalmente <strong>de</strong> N no solo, que<br />
po<strong>de</strong>rá ser absorvido pelas plantas, ou mesmo correndo riscos <strong>de</strong> perdas (principalmente<br />
lixiviação quando na forma <strong>de</strong> nitrato, NO - 3).<br />
As plantas <strong>de</strong> cobertura po<strong>de</strong>rão ser manejadas através <strong>de</strong> catana, foice, enxadas,<br />
rolo-faca, herbicidas, conforme as condições locais e infra-estrutura do produtor.<br />
O rolo-faca consta basicamente <strong>de</strong> um equipamento que po<strong>de</strong> ser feito <strong>de</strong> um tronco <strong>de</strong><br />
ma<strong>de</strong>ira ou um cilindro metálico, ou mesmo um tambor <strong>de</strong> vazio <strong>de</strong> 200 litros. São<br />
colocadas longitudinais ao cilindro, sendo este cilindro traccionado por trator ou por animais<br />
(bois, cavalos, burros, etc.) sobre os vegetais que se preten<strong>de</strong> acamar e manejar. Caso<br />
haja elevada quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> massa vegetal a ser cortada po<strong>de</strong>rá ser colocada alguns pesos<br />
sobre a estrutura metálica do próprio rolo para que possa ter mais peso, e no caso do<br />
tambor po<strong>de</strong>rá ser cheio com água, para então proce<strong>de</strong>r satisfatoriamente as operações <strong>de</strong><br />
manejo/corte do material vegetal (plantas <strong>de</strong> cobertura, capins e outras invasoras, restolhos<br />
da cultura anterior). Normalmente o rolo-faca não irá cortar todos os resíduos, mas com a<br />
forca do impacto sobre o tecido vegetal ira romper os vasos que carregam a seiva bruta e<br />
elaborada e, assim proporcionando após alguns dias a seca e morte das plantas. É prático,<br />
<strong>de</strong> fácil confecção e um instrumento muito importante no manejo da vegetação para<br />
implantação das culturas em plantio direto sobre o mulch (Agricultura <strong>de</strong> Conservação). Já<br />
foram confeccionados alguns exemplares aqui em Sofala e já vem sendo utilizado com<br />
sucesso pelos camponeses.<br />
26
Rolo-faca e tração animal: usado no maneio <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura, invasoras (plantas daninhas) e<br />
restolhos <strong>de</strong> plantas cultivadas (milho, mapira, girassol, etc.)<br />
Rolo-faca tracção tractorizada – Búzi<br />
No Distrito do Búzi, foi feito uma <strong>de</strong>monstração<br />
com o uso <strong>de</strong> rolo-faca tractorizado sobre capim e<br />
feijão macaco (vegetação <strong>de</strong> uma altura média <strong>de</strong><br />
1,50m.), com um excelente trabalho,<br />
<strong>de</strong>monstrando ser uma ferramenta muito eficiente<br />
no manejo <strong>de</strong> vegetação ou <strong>de</strong> coberturas.<br />
As áreas on<strong>de</strong> se efetuaram os trabalho foram em<br />
Chicumbua, Guara Guara (através <strong>de</strong> tractores) e,<br />
em Bandua com tracção animal (bois), com<br />
trabalho bastante eficiente sobre capins, feijão<br />
macaco e outras plantas e arbustos.<br />
Nas áreas on<strong>de</strong> foram testados o rolo-faca construído pelo PROMEC, observou-se que<br />
passado já 30-40 dias após o manejo do capim, já começa a surgir algumas invasoras,<br />
sendo portanto recomendável que o intervalo entre o manejo com rolo-faca e o plantio direto<br />
da cultura posterior seja em torno <strong>de</strong> 8-21 dias, obviamente variando conforme o tipo <strong>de</strong><br />
cobertura (leguminosas e outras com bastante nitrogênio e rápida <strong>de</strong>composição 8-10 dias<br />
e, caso seja gramíneas e outras bem lignificadas e fibrosas 2-3 semanas após o manejo),<br />
po<strong>de</strong>ndo introduzir a nova cultura em plantio direto.<br />
• Em campos on<strong>de</strong> há predominância <strong>de</strong> capins, o manejo com rolo-faca <strong>de</strong>verá ser<br />
preferencialmente quando o capim esteja ver<strong>de</strong> e, ainda não tenha completado o ciclo,<br />
<strong>de</strong>ssa forma o rolo-faca tem melhor efeito, além <strong>de</strong> impedir que as invasoras continuem<br />
se multiplicando no campo.<br />
• Caso ocorra pequena rebrota, o manejo po<strong>de</strong>rá ser complementado com foices, catanas,<br />
etc.<br />
• Em muitas situações e áreas maiores, o rolo-faca po<strong>de</strong>rá ser complementado com uso<br />
<strong>de</strong> herbicidas específicos para <strong>de</strong>ssecação das invasoras e/ou plantas <strong>de</strong> cobertura.<br />
27
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
4.3 Efeitos das plantas <strong>de</strong> cobertura<br />
As plantas <strong>de</strong> cobertura e seus resíduos, através da formação <strong>de</strong> cobertura morta, e pelos<br />
seus efeitos físicos e químicos (alelopáticos) afectam qualitativa e quantitativamente<br />
distintas infestações <strong>de</strong> espécies invasoras.<br />
Assim são conhecidos os efeitos das mucunas, feijão bóer, mexoeira, crotalaria juncea,<br />
calopogônio, feijão <strong>de</strong> porco, da aveia preta, centeio, azevém, ervilhacas, nabo forrageiro,<br />
etc. no controle <strong>de</strong> diferente espécies <strong>de</strong> plantas invasoras. Sendo importante o uso e<br />
manejo <strong>de</strong>ssas espécies em rotação quando se preten<strong>de</strong> diminuir populações <strong>de</strong> algumas<br />
invasoras.<br />
Com a utilização das diferentes plantas <strong>de</strong> cobertura é possível quantificar o montante <strong>de</strong><br />
um <strong>de</strong>terminado nutriente reciclado e/ou fixado biologicamente pelas leguminosas,<br />
consi<strong>de</strong>rando a biomassa produzida e os nutrientes contidos no tecido foliar.<br />
Tabela 3: Produção <strong>de</strong> massa vegetal <strong>de</strong> diferentes espécies <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura e %<br />
<strong>de</strong> nutrientes na matéria seca .<br />
28<br />
Planta <strong>de</strong> cobertura<br />
Ciclo<br />
Massa<br />
ver<strong>de</strong><br />
(t/ha)<br />
Matéria<br />
seca<br />
(t/ha)<br />
Nitrogénio Fósforo Potássio<br />
(% na matéria seca)<br />
Mexoeira Anual 11 - 90 3.5 - 21 0.34 - 1.46 0.13 - 0.29 1.05 - 3.12<br />
Feijão nhemba Anual 20 - 33 2.5 - 6 1.67 - 2.22 0.25 - 0.50 1.82 - 2.77<br />
Mucuna preta Anual 12-23 2 - 5 2,29 - 2,73 0,11 - 0,17 1,25 - 1,55<br />
Mucuna cinza Anual 10 - 25 2 - 6 1.56 - 2.43 0.46 - 0.57 1.00 - 1.55<br />
Mucuna anã Anual 10- 18 2 - 4 2,85 - 3,35 0,16 - 0,23 4,14 - 4,84<br />
Feijão bóer Bi ou Tri-anual 18 - 45 5 - 12 2,41 - 2,85 0,12 - 0,19 2,40 - 2,84<br />
Feijão bóer anão Anual 14- 22 2 - 6.5 1.02 - 2.04 0.21 - 0.28 0.92 - 1.47<br />
Crotalaria spectabilis Anual 12-23 4 - 7 2,14 - 2,20 0,07 - 0,12 1,40 - 1,78<br />
Feijão <strong>de</strong> porco Anual 14 - 26 3 - 7 3,00 - 3,39 0,12 - 0,18 5,30 - 5,94<br />
Feijão bravo do Ceara Anual 14 - 25 3 - 6.5 2,27 - 2,71 0,11 - 0,15 1,58 - 1,78<br />
Feijão mungo Anual 12 - 22 3 - 5.5 2,00 - 2,18 0,15 - 0,27 4,64 - 5,24<br />
Dolichos lab-lab Anual 14 - 28 4 - 7 2,15 - 2,57 0, 27 - 0,61 2,14 - 2,53<br />
Leucaena leucocephala perene 20 - 50 10 - 16 4, 17 - 4,43 0,17 - 0,28 1,45 - 1,94<br />
Indigofera sp. perene 13 - 24 4 - 7 2,02 - 2,33 0,09 - 0,19 1, 45 - 1,64<br />
Calopogonio mucunoi<strong>de</strong>s perene 14 - 23 4 - 6 2,05 - 2,28 0,08 - 0,17 1,43 - 1,68<br />
Kudzu tropical perene 13 – 25 4 - 7 3,47 -3,88 0,23 - 0,36 2,06 - 2,23<br />
Soja perene perene 12 – 23 4 - 6 2,44 - 2,85 0,17 - 0,30 2,24 - 2,45<br />
Centrosema pubescens perene 14 - 27 4.5 - 6.5 2,21 - 2,48 0,17 - 0,29 1, 03 - 1,34<br />
Mexoeira + nhemba Anual 19 - 40 3.5 - 10 0.61 - 0.82 0.13 - 0.17 1.08 - 1.12<br />
Crotalaria juncea Anual 15 - 35 2.5 - 8.5 1.42 - 1.65 0.19 - 0.21 0.96 - 1.38<br />
Girassol Anual 20 - 46 4 - 8 1. 02 - 1,12 0.18- 0,24 2,50 - 2.78<br />
Fonte: Adaptado <strong>de</strong> Calegari, 1995, 2000, Florentin et al., 2001.<br />
Os valores apresentados <strong>de</strong>monstram o gran<strong>de</strong> potencial que as distintas plantas <strong>de</strong><br />
cobertura possuem em <strong>de</strong>ixar no horizonte superficial dos solo variáveis quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
nutrientes que po<strong>de</strong>riam ser absorvidos pelas raízes dos cultivos posteriores. Além <strong>de</strong>sses<br />
nutrientes, um dos mais importantes aportes das plantas são os compostos <strong>de</strong> carbono
orgânico, ou seja a matéria orgânica, que será responsável, directa ou indirectamente pelas<br />
interacções e reacções químicas, físicas e biológicas no sistema solo-água-planta.<br />
As plantas mencionadas, tem potencial <strong>de</strong> serem utilizadas na Província <strong>de</strong> Sofala,<br />
conforme os diferentes sistemas <strong>de</strong> produção e condições agro-ecológicas especificas.<br />
Para os cultivos <strong>de</strong> Siratro, Stylosanthes, Brachiaria, Setaria e Melinis minutiflora, caso<br />
saturação com bases esteja acima <strong>de</strong> 30% não será necessário elevar até 40%, com<br />
excepção no caso dos materiais que são <strong>de</strong>stinados a corte ou produção <strong>de</strong> feno<br />
Dentre as leguminosas algumas se <strong>de</strong>stacam pela tolerância ao alumínio, como é o caso:<br />
Stylosanthes, Calopogonium mucunoi<strong>de</strong>s, Macroptilium atropurpureum, Galactia striata,<br />
Crotalaria pubescens e outras. Por outro lado, as espécies como Glycine wightii (soja<br />
perene), Medicago sativa (alfafa), são altamente susceptíveis a alumínio, e também pouco<br />
eficientes na absorção <strong>de</strong> fósforo (P) na presença <strong>de</strong> alumínio. Em geral, as exigências em<br />
P das leguminosas adaptadas a solos ácidos não são altas.<br />
Geralmente as leguminosas apresentam gran<strong>de</strong> potencial em fixar nitrogênio através da<br />
acção das bactérias que estão em simbiose com as raízes das plantas assim como também<br />
tem boa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reciclar o nitrogênio e outros nutrientes que foram perdidos por<br />
lixiviação.<br />
Tabela 4: Fixação biológica pelas leguminosas<br />
Leguminosas N(kg/ha -1 /ano)<br />
Feijão bóer (Cajanus cajan) 41 - 280<br />
Feijão nhemba (Vigna unguiculata sin. Vigna sinensis) 73 - 240<br />
Mucuna preta (Mucuna pruriens) 157<br />
Canavalia / Feijão <strong>de</strong> porco (Canavalia ensiformis) 49 - 190<br />
Estilosantes (Stylosanthes sp.) 30 - 196<br />
Amendoim (Arachis hypogaea) 33 - 297<br />
Calopogônio (Calopogonium mucunoi<strong>de</strong>s) 64 - 450<br />
Crotalaria (Crotalaria juncea L.) 150 - 165<br />
Galáctia (Galactia striata) 181<br />
Centrosema (Centrosema pubescens) 93 - 398<br />
Leucaena (Leucena leucocephala) 400 - 600<br />
Kudzu tropical (Pueraria phaseoloi<strong>de</strong>s) 30 - 100<br />
Feijão mungo (Vigna radiata L.) 63 - 342<br />
Desmódio (Desmodium sp.) 70<br />
Siratro (Macroptilium atropurpureum) 70 - 181<br />
Soja (Glycine max) 17 - 369<br />
Soja perene (Glycine wightii Verdc.) 40 - 450<br />
Guar (Cyamopsis psoraloi<strong>de</strong>s) 37 - 196<br />
Lentilha (Lens culinaris) 35 - 77<br />
Lespe<strong>de</strong>za (Lespe<strong>de</strong>za stipulacea) 193<br />
Grão-<strong>de</strong>-bico (Cicer arietinum) 41 - 270<br />
Ervilha (Pisum sativum) 81 - 148<br />
Ervilhaca comum (Vicia sativa) 80 - 120<br />
Ervilhaca peluda (Vicia villosa) 110 - 184<br />
Trevo egípcio (Trifolium alexandrinum) 62 - 235<br />
Trevo vermelho (Trifolium pratense) 17 - 191<br />
Trevo subterrâneo (Trifolium subterraneum) 21 - 207<br />
Feno grego (Trigonella fænum-græcum) 44<br />
Feijão fava (Vicia faba) 88 - 157<br />
Adaptado <strong>de</strong>: Nutman (1969); Buckman & Brady (1979); Malavolta et al. (1986); Boin (1986); Vernetti (1971),<br />
citado por Scotti et al. (1986); Larve, T.A. & Patterson, T.G. (1981); Kluthcousky (1982); Burris & Hardy (1975);<br />
Mello (1978); Rottar, P.P. & Joy, citado por Calegari et al., 1993.<br />
29
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
4.3.1 Efeitos na matéria orgânica do solo<br />
A matéria orgânica é uma mistura complexa das mais essenciais à manutenção e/ou<br />
recuperação da capacida<strong>de</strong> produtiva dos solos agrícolas. Diante <strong>de</strong> tal importância, serão<br />
tratados os principais aspectos a serem consi<strong>de</strong>rados num manejo a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> solos<br />
visando a recuperação e/ou manutenção da matéria orgânica dos solos agrícolas.<br />
A matéria orgânica total <strong>de</strong> um solo inclui todos os organismos vivos do solo, assim como os<br />
resíduos vegetais e animais em <strong>de</strong>composição constante; apesar <strong>de</strong> que quando nos<br />
referimos à matéria orgânica do solo, uma quantificação mais realística é quando nos<br />
referirmos à porção já num estágio final <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição, com a predominância <strong>de</strong> lignina,<br />
celuloses e hemiceluloses, portanto já num complexo <strong>de</strong> maior estabilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> coloração<br />
escura, ou seja, portanto numa fase <strong>de</strong> húmus.<br />
Os diferentes tipos <strong>de</strong> plantas, bem como as diferentes partes da planta, po<strong>de</strong>m apresentar<br />
diferenças quanto aos seus componentes e estruturas e, conforme a organização estrutural<br />
<strong>de</strong> seus tecidos, influenciado pela época e forma <strong>de</strong> manejo dado a estas plantas ou<br />
resíduos, po<strong>de</strong>rão apresentar diferenças quanto ao tempo <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição. Os primeiros<br />
componentes (listados abaixo), que são formado por ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> carbono mais simples, são<br />
quebrados e <strong>de</strong>compostos muito rapidamente, quando alguns resíduos e/ou restolhos são<br />
<strong>de</strong>positados no solo, enquanto os últimos (ca<strong>de</strong>ias complexas) po<strong>de</strong>rão <strong>de</strong>morar meses ou<br />
até muitos anos:<br />
Açucares, amidos e proteínas simples;<br />
Complexos protéicos;<br />
Hemicelulose<br />
Celulose<br />
Gorduras e graxas<br />
Lignina<br />
Assim, o montante <strong>de</strong> matéria orgânica <strong>de</strong> um solo é um complexo formado por inúmeras<br />
fracções em diferentes estágios <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição e, sendo alguns com efeitos marcantes,<br />
duradouros ou não, sobre as proprieda<strong>de</strong>s do solo. Dessa forma, a adição quase que<br />
constante <strong>de</strong> resíduos orgânicos ao solo, principalmente nas regiões tropicais e subtropicais,<br />
são fundamentais para que se possa se beneficiar <strong>de</strong> todos os efeitos favoráveis da matéria<br />
orgânica nos atributos físicos, químicos e biológicos do solo.<br />
Geralmente o balanço entre estas fracções é a resultante da adição dos compostos <strong>de</strong><br />
carbono e dos efeitos do manejo do solo utilizado.<br />
Normalmente nas áreas tropicais e subtropicais on<strong>de</strong> a mineralização/<strong>de</strong>gradação dos<br />
compostos orgânicos é intensa, a forma com que efectuamos o manejo do solo e das<br />
culturas po<strong>de</strong>m influenciar directamente a dinâmica <strong>de</strong>ssa matéria orgânica do solo:<br />
As adições <strong>de</strong> carbono orgânico em áreas agricultáveis normalmente po<strong>de</strong>m ser<br />
menores que nas condições naturais (natureza), isto em razão <strong>de</strong> que as culturas<br />
ocupam um tempo parcial <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento durante o ano, além da colheita <strong>de</strong> grãos,<br />
fibras, forragem, etc. estarem sempre exportando carbono do sistema; apesar disso,<br />
experiências <strong>de</strong> produtores no Brasil e outros países mostram que é possível com um<br />
bom sistema <strong>de</strong> rotação, suplantar a adição <strong>de</strong> carbono anual quando comparado com<br />
uma área <strong>de</strong> vegetação natural;<br />
O revolvimento do solo, queima dos restolhos e/ou invasoras e as praticas <strong>de</strong> condução<br />
(praticas fitotécnicas: limpeza do terreno, etc.), contribuem para a mistura dos restolhos<br />
das culturas e outros resíduos orgânicos com o solo e consequentemente aumentam a<br />
<strong>de</strong>composição do carbono e as perdas em forma <strong>de</strong> CO2 para a atmosfera.<br />
30
Para que o processo seja revertido é fundamental tomar alguns procedimentos urgentes:<br />
Imediatamente cessar com o preparo do solo, quer seja por enxadas, tracção animal,<br />
tractor, etc.;<br />
Não queimar mais os restolhos das culturas, restos <strong>de</strong> invasoras cortadas ou<br />
capinadas, resíduos <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura, <strong>de</strong>ixando todos os compostos <strong>de</strong><br />
carbono sobre a superfície do solo;<br />
Manejar a<strong>de</strong>quadamente todos os resíduos <strong>de</strong> forma que a adição anual <strong>de</strong> carbono<br />
ao sistema, quer pela adição dos resíduos da parte aérea ou das raízes, seja<br />
superior às perdas que ocorre principalmente pela ação dos microorganismos do<br />
solo (balanço anual positivo);<br />
Obviamente que em áreas <strong>de</strong> vegetação nativa os níveis <strong>de</strong> matéria orgânica do solo<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rão diretamente das condições <strong>de</strong> clima (temperatura, precipitação), tipo <strong>de</strong><br />
vegetação, tipo <strong>de</strong> solo, drenagem, etc.<br />
O papel da matéria orgânica nos solos agrícolas<br />
A predominância <strong>de</strong> temperaturas elevadas, ocorrência <strong>de</strong> precipitações com alta<br />
intensida<strong>de</strong>, tem contribuído para que o processo <strong>de</strong> intemperização seja mais intenso nas<br />
regiões tropicais e subtropicais, quando comparados às condições <strong>de</strong> clima temperado.<br />
Nessas condições, as argilas predominantes geralmente são 1:1 ou seja, geralmente <strong>de</strong><br />
baixa activida<strong>de</strong>, significando com baixa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> efectuar a troca catiônica no<br />
complexo solo. Dessa forma, a maioria dos solos apresentam originalmente baixa CTC<br />
(capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> troca <strong>de</strong> cátions), o que indubitavelmente repercutem em baixa fertilida<strong>de</strong><br />
natural. Assim, nessas condições os colói<strong>de</strong>s da matéria orgânica, por ter uma CTC <strong>de</strong> alta<br />
activida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>sempenha um papel fundamental no sentido <strong>de</strong> contribuir para o aumento da<br />
CTC do solo e, consequentemente promover uma maior capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aumento do nível <strong>de</strong><br />
fertilida<strong>de</strong> química do solo. Além disso, gran<strong>de</strong> percentual dos nutrientes são protegidos no<br />
solo ao formarem complexos com a matéria orgânica, po<strong>de</strong>ndo ser paulatinamente<br />
disponibilizados (com menores riscos <strong>de</strong> serem fixados por alumínio ou manganês, como é<br />
o caso do fósforo, ou ainda serem perdidos por lixiviação como é o caso do potássio e<br />
outros) e, aproveitados mais facilmente pelas raízes das culturas em <strong>de</strong>senvolvimento.<br />
O aumento da matéria orgânica do solo está directamente ligado ao aumento na adição <strong>de</strong><br />
carbono e/ou redução da taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição dos materiais orgânicos frescos (MOF) e<br />
húmus. Uma forma <strong>de</strong> adicionar carbono ao longo dos anos é pela vegetação espontânea<br />
(invasoras), pelo cultivo <strong>de</strong> espécies perenes <strong>de</strong> pastagens ou através da prática or<strong>de</strong>nada<br />
<strong>de</strong> sucessões, rotações e/ou consorciação <strong>de</strong> culturas (sistemas), com elevada capacida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> produção <strong>de</strong> fitomassa que incluam conjuntamente cultivos comerciais e recuperadores<br />
<strong>de</strong> solos (plantas <strong>de</strong> cobertura).<br />
Material orgânico fresco cobrindo o solo (capim)<br />
e matéria orgânica estabilizada – coloração<br />
escura (húmus )<br />
31
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
A redução na taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição dos MOF e húmus em cultivos anuais é obtida através<br />
<strong>de</strong> redução do revolvimento do solo, quer pela <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> um manejo através do sistema <strong>de</strong><br />
cultivo mínimo ou principalmente através do sistema <strong>de</strong> plantio directo.<br />
Os principais aspectos auferidos pela manutenção e/ou adição da matéria orgânica do solo<br />
são:<br />
32<br />
elevada capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> armazenamento <strong>de</strong> água;<br />
contribui para uma melhoria do estado <strong>de</strong> agregação das partículas <strong>de</strong> solo através da<br />
formação dos complexos organo-minerais;<br />
proporciona um consi<strong>de</strong>rável incremento na vida biológica do solo;<br />
promove uma acentuada redução das perdas <strong>de</strong> nutrientes, favorecendo<br />
sensivelmente o seu suprimento às plantas;<br />
tem a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formar complexos com o alumínio e manganês que encontram-se<br />
em níveis tóxicos no solo;<br />
contribui significativamente para o aumento da CTC (capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> troca <strong>de</strong> cátions)<br />
efetiva do solo;<br />
melhoria do <strong>de</strong>senvolvimento e rendimento final das culturas.<br />
Além dos componentes dos tecidos das plantas, algumas enzimas necessárias à<br />
<strong>de</strong>composição das moléculas orgânicas estão presentes em um maior número <strong>de</strong> espécies<br />
microbianas, outras são sintetizadas apenas por alguns microorganismos específicos. O<br />
amido, proteínas, e celulose, por ex., fazem parte dos vegetais e são moléculas que<br />
facilmente são <strong>de</strong>gradas no solo pelos microorganismos, a maioria <strong>de</strong>les tem enzimas<br />
necessárias para a <strong>de</strong>gradação e posterior utilização como fonte <strong>de</strong> carbono e energia. No<br />
caso da lignina e alguns compostos fenólicos (ca<strong>de</strong>ias carbônicas maiores e mais<br />
complexas), componentes comuns nos tecidos vegetais, são mais difíceis <strong>de</strong> sofrerem o<br />
ataque microbiano, em função <strong>de</strong> sua estrutura e caminhos <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição<br />
permanecendo assim por muito mais tempo no solo até a mineralização ou sofrerem<br />
reacções químicas no solo (Fries & Aita, 1999).<br />
Visando facilitar a <strong>de</strong>composição e liberação <strong>de</strong> nutrientes, em algumas regiões da Europa,<br />
se recomenda adicionar, por cada 100 kg <strong>de</strong> resíduos vegetais (palha <strong>de</strong> gramíneas e/ou<br />
restolhos), <strong>de</strong> 0,7 – 1,3 kg <strong>de</strong> nitrogênio, além da fertilização normal utilizada no cultivo.<br />
Ao selecionarmos plantas para cobertura do solo e acúmulo <strong>de</strong> palha, <strong>de</strong>vemos buscar<br />
aquelas que apresentem maiores concentrações <strong>de</strong> lignina e <strong>de</strong>rivados <strong>de</strong> fenólicos, pois<br />
seus resíduos são mais resistentes à <strong>de</strong>composição e assim permanecem por mais tempo<br />
protegendo o solo.<br />
Balanço <strong>de</strong> húmus no solo:<br />
O humus, composto final da <strong>de</strong>composição dos resíduos orgânicos do solo apresentam<br />
inúmeros efeitos favoráveis ao solo, assim como as interações solo-água-planta-nutrientes.<br />
No dinâmico processo <strong>de</strong> manejo do solo é importante consi<strong>de</strong>rar se o solo alcançou ou não<br />
ainda seu equilíbrio. Equilíbrio este que é <strong>de</strong>finido como:<br />
Equilíbrio = quando ocorre maior acúmulo em relação às<br />
perdas <strong>de</strong> matéria orgânica (M.O.) no solo
Assim, Fries & Aita, 1999 apresentam um exercício <strong>de</strong> como avaliar este importante balanço<br />
no solo.<br />
Balanço Anual <strong>de</strong> Humus =<br />
Perdas Anuais <strong>de</strong> M.O. ▬ Ganhos <strong>de</strong> M.O.<br />
• Consi<strong>de</strong>rando (p. ex.) um solo com 2.5% M.O.;<br />
• Quilogramas <strong>de</strong> humus em 1 hectare = 2.159.000 kg <strong>de</strong> solo/ha X 2.5/100 = 53.975 kg<br />
/M.O.<br />
• Caso o solo seja manejado ou não, parte do humus do solo é <strong>de</strong>composto pelos microorganismos<br />
para sua manutenção durante o ano;<br />
• Nos USA estudos tem mostrado que a taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição do humus é:<br />
1. solo com 2% <strong>de</strong> M.O. = 2% taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição anual;<br />
2. solo com 4% <strong>de</strong> M.O. <strong>de</strong>composição <strong>de</strong> 2.5%, assim utilizando-se estes valores;<br />
portanto, 2.5% M.O. apresenta uma taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição = 2.125%.<br />
3. Em 1 hectare temos 53.975 kg. <strong>de</strong> M.O. X 2.125% = 1147 kg. <strong>de</strong> humus<br />
anualmente perdido pelo processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição natural;<br />
Estudos regionalizados (possivelmente com “mo<strong>de</strong>lagem”) <strong>de</strong>veriam ser conduzidos para<br />
<strong>de</strong>senvolver uma: Constante <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição da Matéria Orgânica no solo<br />
Estimativas <strong>de</strong> perdas <strong>de</strong> solos:<br />
Resultados obtidos por Sidiras ,1984, citado por Derpsch et al., 1991 em um latossolo roxo<br />
no Norte do Paraná, o preparo convencional do solo (1 aração com discos + 2 gradagens)<br />
mostrou perdas <strong>de</strong> solos <strong>de</strong> 68,2 ton./ha/ano. Ainda no Brasil, Ponta Grossa, Paraná, Araújo<br />
et all.1991, em 4 anos <strong>de</strong> estudos em Cambissolos álicos encontrou perdas médias <strong>de</strong> mais<br />
<strong>de</strong> 113 toneladas <strong>de</strong> perdas <strong>de</strong> solos por hectare/ano. Por outro lado, resultados obtidos por<br />
Venialgo, 1997 em Paraguai, mostraram perdas <strong>de</strong> 46,5 ton./ha/ano <strong>de</strong> solos (área <strong>de</strong><br />
convencional em pousio no inverno). Seguramente nas condições da Província <strong>de</strong> Sofala os<br />
valores não <strong>de</strong>vem ser muito diferentes, ou até em áreas mais <strong>de</strong>clivosas e cultivados<br />
tradicionalmente com perdas ainda maiores que as consi<strong>de</strong>radas anteriormente.<br />
• Assim, para fins <strong>de</strong> cálculos vamos consi<strong>de</strong>rar perdas anuais <strong>de</strong> solos no sistema<br />
convencional <strong>de</strong> 40 toneladas por hectare/ano.<br />
• Perdas <strong>de</strong> Solos = 40.000 kg/ha/ano X 2,5% = 1000 kg/ha/ano <strong>de</strong> humus perdido por<br />
erosão.<br />
• O solo perdido geralmente é mais rico em M.O., visto que a fração orgânica é mais leve<br />
que outras partículas do solo e com mais facilida<strong>de</strong> será levado pela enxurrada;<br />
• Análises realizadas mostram um valor aproximado <strong>de</strong> 1,5% vezes superior para a M.O.;<br />
• Assim, os valores serão estimados em: 1000 kg <strong>de</strong> humus X 1,5 = 1500 kg/ha/ano <strong>de</strong><br />
humus perdidos por erosão (valor corrigido);<br />
• Portanto, a Perda <strong>de</strong> Humus anual é <strong>de</strong>:<br />
• 1147 + 1500 = 2647kgs. <strong>de</strong> Humus são perdidos por ha/ano.<br />
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Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
Cálculo dos ganhos anuais <strong>de</strong> Matéria Orgânica:<br />
• Um cultivo <strong>de</strong> milho com um rendimento por ex. <strong>de</strong> 6000 kg/ha <strong>de</strong> grãos, normalmente<br />
irá produzir uma quantida<strong>de</strong> semelhante <strong>de</strong> palha (restolhos). Além disso, estima-se<br />
que a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> biomassa radicular é em torno <strong>de</strong> 17% da parte aérea, e a<br />
quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exudatos produzidos pelas plantas durante seu ciclo é quase semelhante<br />
à biomassa radicular.<br />
• Estima-se que quanto aos restolhos <strong>de</strong> milho, 33% ficam como humus no solo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />
1 ano, e em torno <strong>de</strong> 20% permanecem <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 5 anos no solo.<br />
• A conversão em humus para raízes e exudatos é em torno <strong>de</strong> 18%. O restante é liberado<br />
como CO2 (dióxido <strong>de</strong> carbono), principal componente da <strong>de</strong> composição microbiana,<br />
que irá utilizar a energia da palha para seu crescimento e manutenção <strong>de</strong> suas<br />
populações no solo.<br />
• Assim, temos: 6000kg x 33% = 1.980 kg <strong>de</strong> humus provenientes da palha;<br />
• Quantos quilogramas <strong>de</strong> raízes: ⇐ A soma <strong>de</strong> 6000 kg <strong>de</strong> palha + 6000 kg <strong>de</strong> grãos<br />
<strong>de</strong> milho =<br />
12000 kg x 17% = 2040 kg. <strong>de</strong> resíduos <strong>de</strong> raízes.<br />
A mesma quantida<strong>de</strong> para exudatos = 2040 kg. <strong>de</strong> exudatos radiculares.<br />
• Total <strong>de</strong> Raízes + Exudados = 4080 kg somente em torno <strong>de</strong> 18% fica como humus<br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1 ano; portanto: 4080 kg. x 18% = 734 kg. <strong>de</strong> humus <strong>de</strong>verão ser<br />
adicionados ao solo pelas raízes e exudatos radiculares.<br />
• Assim, o ganho anual <strong>de</strong> HUMUS, com o cultivo <strong>de</strong> milho será:<br />
1980 kg. (restolhos) + 734 kg. (raízes + exudatos) = 2714 kg. <strong>de</strong> HUMUS.<br />
Balanço do Humus = Ganhos Anuais <strong>de</strong> M.O. – Perdas Anuais <strong>de</strong> M.O.<br />
Balanço do Humus = 2714 – 2647 = + 67 Kg<br />
Obviamente que estes dados não estão consi<strong>de</strong>rando que as perdas <strong>de</strong> solos por erosão<br />
ocorrem principalmente na superfície do solo, região em que existem maiores<br />
concentrações <strong>de</strong> M.O. na superfície, portanto maiores serão as perdas, além do sistema<br />
convencional (solo revolvido) acelerar a <strong>de</strong>composição do húmus, conforme as condições<br />
<strong>de</strong> solos, clima, tipo <strong>de</strong> solo, altitu<strong>de</strong>, etc. e, seguramente nessas condições o BALANÇO<br />
ANUAL REAL é negativo.<br />
Quanto mais efetiva for a rotação <strong>de</strong> culturas maior quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> carbono orgânico será<br />
adicionado ao solo.<br />
Numa análise dos resultados apresentados se conclui que aumentar os níveis <strong>de</strong> matéria<br />
orgânica do solo é um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio, pela dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> adicionar elevadas quantida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> biomassa ao solo (como é o caso dos 2 cultivos apresentados). Visando maior adição <strong>de</strong><br />
carbono orgânico ao solo, é aconselhável seleccionar plantas, com qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
compostos bioquímicos e, que sejam capazes <strong>de</strong> produzir elevadas quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
restolhos, e que o carbono possa assim não ser perdido na atmosfera como CO2, mas sim<br />
ser acumulado na forma <strong>de</strong> humus no solo. Assim, capins e outras gramíneas, além do uso<br />
<strong>de</strong> misturas <strong>de</strong> leguminosas são recomendadas para acumular e aumentar o carbono<br />
orgânico do solo.<br />
34
4.3.2 Efeitos no armazenamento <strong>de</strong> água e diminuição das perdas no<br />
sistema<br />
Em visitas a áreas <strong>de</strong> produtores da região <strong>de</strong> Tambarare, Gorongosa, foi efetuado<br />
medições com termômetros <strong>de</strong> solos (geotermômetro) às 9:30´ (Tabela 5 em baixo).<br />
Tabela 5: Efeito da cobertura do solo nos gradientes <strong>de</strong> temperatura do perfil do solo<br />
Área on<strong>de</strong> se instalou os<br />
geotermômetros<br />
Profundida<strong>de</strong> do perfil do<br />
solo (2cm)<br />
Profundida<strong>de</strong> do perfil do<br />
solo (10-12cm)<br />
Solo <strong>de</strong>scoberto 43°C 30°C<br />
Solo coberto com palha 30°C 30°C<br />
Pela análise dos dados, observa-se que o solo <strong>de</strong>scoberto (2 cm. <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong>)<br />
apresentou uma temperatura <strong>de</strong> 13°C superior a área coberta com palha; por outro lado na<br />
profundida<strong>de</strong> 10-12 cm. a temperaturas observadas foram as mesmas (30°C) tanto para o<br />
solo <strong>de</strong>scoberto quanto para o solo com palhada e, também esta mesma temperatura foi<br />
observada na área com palha a 2 cm. <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong>. Numa avaliação dos dados obtidos<br />
nesta região po<strong>de</strong>-se concluir que:<br />
Sabendo-se que quando as temperaturas do solo atingem 32-35°C, as raízes das<br />
plantas nessa condição praticamente cessam quase todo o seu metabolismo (não<br />
absorvendo água e nem nutrientes do solo), portanto as raízes que ocupam a parte<br />
superficial do perfil do solo (primeiros centímetros) da área <strong>de</strong>scoberta está<br />
comprometido o seu trabalho, prejudicando severamente o <strong>de</strong>senvolvimento e<br />
rendimento final das plantas.<br />
Na área on<strong>de</strong> o solo está protegido com palha, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da profundida<strong>de</strong> (2cm. e<br />
12cm.) a temperatura observada foi a mesma: 30°C e, portanto as plantas possuem<br />
ótimas condições <strong>de</strong> terem seu metabolismo normal durante todo o dia, po<strong>de</strong>ndo as<br />
raízes absorverem água e nutrientes.<br />
Na área <strong>de</strong>scoberta, além <strong>de</strong> riscos e perdas <strong>de</strong> solos, nutrientes e água, por enxurradas<br />
e maior lavagem do perfil do solo, também os níveis <strong>de</strong> evaporação e perdas <strong>de</strong> água<br />
para a atmosfera são muito elevados; por outro lado na área com mulch as perdas por<br />
evaporação são quase inexistentes. Portanto, a proteção do solo com palhada e<br />
manutenção constante dos resíduos na superfície, são procedimentos básicos e<br />
fundamentais no manejo a<strong>de</strong>quado dos solos agrícolas.<br />
Erosão acelerada, compasso ina<strong>de</strong>quado e<br />
excessivo numero <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> milho por<br />
covacho: situações comuns em muitas<br />
zonas <strong>de</strong> Sofala<br />
Consórcio <strong>de</strong> milho e feijão nhemba no sistema <strong>de</strong><br />
Agricultura <strong>de</strong> Conservação: eficiente cobertura do<br />
solo, melhoria da fertilida<strong>de</strong>, controle efetivo <strong>de</strong><br />
invasoras<br />
35
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
Ainda em visita à região <strong>de</strong> Gorongosa (área do camponês Sr. Zegria) um grupo <strong>de</strong><br />
camponeses cultiva hortaliças (repolho, tomate, couve flor, etc.), no restante da machamba<br />
o camponês cultiva milho, feijão manteiga, batata doce, etc. Foi efectuado, através <strong>de</strong><br />
geotermômetro, a avaliação da temperatura do solo nos 3 cm. superficiais as 15:00´ horas,<br />
tanto em área <strong>de</strong>scoberta quanto on<strong>de</strong> havia resíduos sobre o solo.<br />
4.3.3 Efeitos nos gradientes <strong>de</strong> temperatura do perfil do solo<br />
36<br />
Área on<strong>de</strong> se instalou<br />
os geotermômetros<br />
Profundida<strong>de</strong> do perfil do<br />
solo (3 cm)<br />
Solo <strong>de</strong>scoberto 52° C<br />
Solo coberto com palha 22° C<br />
A temperatura no solo sem resíduos ou totalmente sem cobertura do solo, o que representa<br />
a gran<strong>de</strong> maioria da situação dos solos cultivados em todo o distrito <strong>de</strong> Gorongosa, atingiu<br />
52°C; enquanto a área que estava com o solo coberto com resíduos apresentou uma<br />
temperatura <strong>de</strong> apenas 22°C, ou seja uma diferença <strong>de</strong> 30°C.<br />
Isto é muito importante e tem repercussão no metabolismo das plantas e no processo <strong>de</strong><br />
crescimento. Dessa forma, mais uma vez, comprova-se que a cobertura do solo é<br />
fundamental para manter o solo sombreado, impedindo a evaporação da água do solo e<br />
também diminuindo o potencial <strong>de</strong> evapotranspiração das plantas, o que contribui para que<br />
a planta sofra menor “stress” e assim tenha um maior tempo e possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> absorver<br />
água e nutrientes e realizar a<strong>de</strong>quadamente a fotosíntese, e assim conseguir um melhor<br />
crescimento e conseqüente maior produção.<br />
Área com ananas e milho em solo com cobertura<br />
no sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação em<br />
Panja (Distrito <strong>de</strong> Chibabava)
4.3.4 Efeitos na composição florística do solo (efeitos alelopáticos e<br />
físicos) na diminuição das populações <strong>de</strong> invasoras (plantas<br />
daninhas)<br />
Popularmente se consi<strong>de</strong>ra uma planta daninha ou invasora, qualquer planta que cresce em<br />
local in<strong>de</strong>sejável no momento in<strong>de</strong>sejável. Assim, é consi<strong>de</strong>rado que as invasoras ao<br />
provocarem alta competição por nutrientes, água, luz com as culturas em crescimento,<br />
po<strong>de</strong>m provocar perdas <strong>de</strong> 5-40% no rendimento final das culturas. Na verda<strong>de</strong>, o controle<br />
das invasoras não promove aumento na produtivida<strong>de</strong> das culturas, mas sim impe<strong>de</strong> que os<br />
factores disponibilizados sejam insuficientes (nutrientes, água, luz), comprometendo um<br />
melhor <strong>de</strong>sempenho das espécies e por consequência levando a menores produtivida<strong>de</strong>s.<br />
Diversas áreas <strong>de</strong> Sofala estão infestadas pela Imperata cylindrica que é uma invasora <strong>de</strong><br />
difícil controle. É uma gramínea perene muito agressiva, que cresce rapidamente se<br />
proliferando por sementes e/ou rizomas. Geralmente muitos camponeses abandonam<br />
algumas áreas <strong>de</strong> suas machambas quando estão tomadas por essa terrível invasora. A<br />
Mucuna pruriens é uma leguminosa rústica, largamente utilizada nos países latinoamericanos<br />
e Oeste da África, quer como melhoradora dos atributos do solo, assim como<br />
pelos seus efeitos alelopáticos e <strong>de</strong> sombreamento, muitas vezes empregada com sucesso<br />
no controle do capim Imperata cylindrica.<br />
Foi ainda relatado por vários camponeses e técnicos da região do Distrito do Dondo e Búzi<br />
e, seguramente também em outros Distritos da Província <strong>de</strong> Sofala, que um dos gran<strong>de</strong><br />
problemas no manejo das machambas é a alta infestação <strong>de</strong> invasoras (plantas daninhas),<br />
principalmente Cyperus rotundus, Cynodon dactilum, etc., o que dificulta bastante os<br />
cultivos, além <strong>de</strong> alta competição com as culturas. Resultados observados com o emprego<br />
<strong>de</strong> Mucuna pruriens (preta, cinza), Calopogonium mucunoi<strong>de</strong>s, Crotalaria juncea, feijão <strong>de</strong><br />
porco (Canavalia ensiformis) e feijão bravo do Ceará (Canavalia brasiliensis), mostraram<br />
que estas espécies foram eficientes no controle <strong>de</strong> Cynodon dactilon e Cyperus sp. na<br />
região do Distrito do Búzi (Sofala- Moçambique), assim como em diversos outros trabalhos<br />
<strong>de</strong> pesquisa e experiência <strong>de</strong> produtores no Brasil e outros países.<br />
Uma das excelentes opções no controle, ou diminuição das populações <strong>de</strong>ssas<br />
invasoras é o uso <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura com características especiais (como é o caso<br />
<strong>de</strong> Canavalia ensiformis – feijão <strong>de</strong> porco e Mucuna pruriens – mucuna que não causa<br />
reação alérgica às pessoas.<br />
O feijão macaco (Mucuna coriacea), planta<br />
embora melhoradora dos solos agrícolas, é<br />
in<strong>de</strong>sejável pelos camponeses em função dos<br />
efeitos <strong>de</strong>sconfortantes causando irritação na pele<br />
através dos efeitos dos pêlos expelidos pelas<br />
vagens quando em maturação ou já secas.<br />
Normalmente esta espécie cresce naturalmente<br />
com outras invasoras e diferentes capins, sendo<br />
recomendável o manejo com rolo-faca quando<br />
esta leguminosa se encontrar na fase final <strong>de</strong><br />
florescimento/enchimento <strong>de</strong> vagens, momento<br />
em que irá ocorrer a maior mortalida<strong>de</strong> das<br />
plantas. Sendo recomendável substituir esta<br />
espécie por Mucuna cultivada (Mucuna pruriens),<br />
que além <strong>de</strong> proteger e melhorar os solos, não<br />
causam os efeitos <strong>de</strong>sconfortáveis às pessoas.<br />
Mucuna em pleno <strong>de</strong>senvolvimento<br />
(Província <strong>de</strong> Sofala)<br />
37
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
Das diferentes espécies <strong>de</strong> invasoras, também uma que tem causado problemas em Sofala,<br />
é a striga (Striga asiatica), que é uma espécie semi-parasita que ao crescer as suas raízes<br />
parasitam as raízes da cultura sugando a seiva <strong>de</strong> espécies gramíneas (mapira, milho,<br />
mexoeira, arroz, etc.) provocando severas perdas nos rendimentos <strong>de</strong>stas culturas.<br />
Geralmente a proliferação <strong>de</strong>ssa invasora está directamente relacionada com a <strong>de</strong>gradação<br />
dos solos: baixos níveis <strong>de</strong> matéria orgânica e nutrientes no solo e, também aliado à<br />
monocultura: mapira - mapira, ou milho – milho. Os herbicidas geralmente são pouco<br />
eficientes no seu controle, sendo a rotação com culturas que apresentam efeitos<br />
alelopáticos o melhor caminho <strong>de</strong> diminuir e até eliminar essa espécie. Algumas espécies<br />
são muito eficientes no controle <strong>de</strong>ssa invasora, <strong>de</strong>stacando-se: kudzu tropical, mucunas,<br />
gergelim, feijões: bóer, nhemba, vulgar, girassol, Calopogonium mucunoi<strong>de</strong>s, etc. Na<br />
verda<strong>de</strong> a gran<strong>de</strong> maioria das leguminosas e outras espécies não gramíneas causam<br />
efeitos favoráveis na diminuição da “Striga”<br />
Efeito <strong>de</strong> diferentes plantas <strong>de</strong> cobertura no controle <strong>de</strong> “STRIGA” – Exemplo da<br />
Costa do Marfim, África<br />
38<br />
Espécies leguminosas<br />
Plantas <strong>de</strong> milho<br />
infestada<br />
com Striga<br />
Rendimento<br />
<strong>de</strong> milho<br />
(kg/ha)<br />
Kudzu tropical Pueraria phseoloi<strong>de</strong>s 2.8 2.540<br />
Calopogonio Calopogonium mucunoi<strong>de</strong>s 3.6 2.260<br />
Cássia Cassia rotundifolia 18.4 2.310<br />
Siratro Macroptilium atropurpureum 98.0 1.250<br />
Centrosema Centrosema pubescens 100 1.120<br />
Tephrosia Tephrosia pedicellata 100 910<br />
TESTEMUNHA 100 730<br />
Fonte: Charpentier et al., 1999.<br />
Pelos resultados obtidos percebe-se que o kudzu, o calopogonio e a cássia foram as<br />
leguminosas mais eficientes em diminuir a infestação <strong>de</strong> Striga, além <strong>de</strong> aumentarem em<br />
mais <strong>de</strong> 200% o rendimento <strong>de</strong> milho em relação à área testemunha.<br />
Na região Norte da Costa do Marfim, o kudzu é a principal espécie empregada no controle<br />
<strong>de</strong> Striga.<br />
Além da competição exercida sobre as culturas, uma outra gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>svantagem da<br />
proliferação das invasoras ou plantas daninhas é o potencial que a gran<strong>de</strong> maioria das<br />
espécies possuem em multiplicar as populações <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s no solo. Dessa forma, uma<br />
das medidas essenciais no controle das invasoras é manejar estas plantas in<strong>de</strong>sejáveis<br />
antes que elas produzam sementes ou seja, não permitindo que as mesmas completem o<br />
seu ciclo e assim não continuem infestando as machambas. No sul do Brasil, Skora (1994)<br />
estudou por vários anos o comportamento <strong>de</strong> diferentes invasoras e mostrou como é<br />
possível diminuir as populações num manejo a<strong>de</strong>quado durante vários anos.
Diminuição da infestação <strong>de</strong><br />
invasoras em plantio directo<br />
não permitindo o ciclo<br />
completo das espécies<br />
600<br />
500<br />
400<br />
300<br />
200<br />
100<br />
0<br />
Fonte: Skora Neto, 1994<br />
Dessa forma, os trabalhos em áreas <strong>de</strong> plantio directo mostraram que as invasoras sendo<br />
manejadas (cortadas ou <strong>de</strong>ssecadas) antes que completem seu ciclo e, ao mesmo tempo<br />
anualmente adicionados “mulch” sobre o solo, as populações <strong>de</strong>crescem ao longo dos anos;<br />
enquanto outros trabalhos <strong>de</strong> pesquisa em áreas com o sistema convencional (solo<br />
revolvido anualmente) mostraram que as invasoras ten<strong>de</strong>m a aumentar as populações e os<br />
custos <strong>de</strong> seu controle.<br />
Algumas espécies que foram consi<strong>de</strong>radas plantas daninhas durante muitos anos em alguns<br />
países, são agora eficientemente utilizadas e manejadas a<strong>de</strong>quadamente como plantas <strong>de</strong><br />
cobertura no sistema <strong>de</strong> plantio direto. Algumas <strong>de</strong>ssas plantas são: Brachiaria plantaginea<br />
no Brasil, Chromoloena odorata na Costa do Marfim, Desmodium intortum na Ilha <strong>de</strong><br />
Bourbon, e Tithonia diversifolia em Honduras, Uganda, Kenya (e outros países).<br />
A Brachiaria plantaginea no sul do Brasil, embora sendo uma espécie invasora nas áreas <strong>de</strong><br />
lavoura (soja, milho, feijão, etc), antes <strong>de</strong> completar seu ciclo normalmente é <strong>de</strong>ssecada<br />
com herbicidas e/ou cortada produzindo boa cobertura protetora do solo no sistema <strong>de</strong><br />
plantio direto e, em algumas situações é cortada e utilizada como feno aos animais.<br />
No caso específico da Tithonia, que pertence à família das compostas, caracteriza-se por<br />
apresentar um forte e rápido crescimento, com efeitos alelopáticos e fisicos (sombreamento)<br />
no controle <strong>de</strong> diferentes invasoras. Em diversas regiões montanhosas Ondurenhas o feijão<br />
é semeado à lanço entre as plantas <strong>de</strong> Thitonia que se encontra no pleno <strong>de</strong>senvolvimento<br />
e, imediatamente é utilizado a catana para cortar essas plantas que irão cobrir o solo e<br />
permitir boa germinação e bom <strong>de</strong>senvolvimento do feijoeiro. Essa planta nativa possui uma<br />
elevada quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ácidos orgânicos em seus tecidos (parte aérea e raízes) os quais<br />
contribuem paras uma maior soluibilização e disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fósforo no sistema. Em<br />
regiões <strong>de</strong> Uganda on<strong>de</strong> são aplicados fosfatos naturais é semeado Thitonia diversifolia com<br />
a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acelerar a solubilização do fósforo no solo e, consequente aproveitamento<br />
pelas culturas posteriores.<br />
4.3.5 Efeitos na melhora <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> pousio<br />
Número <strong>de</strong> invasoras/m 2<br />
88/89 89/90 90/91 91/92 92/93 93/94<br />
Normalmente, os camponeses utilizam intensamente uma <strong>de</strong>terminada área por vários anos<br />
consecutivos levando na maioria dos casos a um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação do solo e<br />
diminuição da capacida<strong>de</strong> produtiva do mesmo. Geralmente mudam <strong>de</strong> área (nomadismo)<br />
<strong>de</strong>ixando por 2 ou mais anos em pousio para posteriormente retornarem a cultivar nestas<br />
áreas. Este período <strong>de</strong>ixado para crescimento expontâneo <strong>de</strong> invasoras rasteiras, e<br />
arbustivas, na maioria das vezes não é suficiente para recompor a fertilida<strong>de</strong> (física, química<br />
e biológica) do solo e, consequentemente a produtivida<strong>de</strong> das culturas continuam assim<br />
num processo continuo e <strong>de</strong>crescente.<br />
39
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
Diante <strong>de</strong>sta comum pratica agrícola entre os diversos Distritos da Província <strong>de</strong> Sofala, é<br />
sugerido um melhoramento do pousio. Obviamente <strong>de</strong>ve ser iniciado com um estudo local<br />
da área <strong>de</strong>gradada e verificar quais espécies po<strong>de</strong>riam ser empregadas para promover um<br />
melhoramento do pousio. Po<strong>de</strong>-se utilizar espécies <strong>de</strong> diferentes famílias, entretanto<br />
normalmente as leguminosas são as mais empregadas pois estas condições <strong>de</strong>gradadas<br />
geralmente a predominância é <strong>de</strong> gramíneas expontâneas e, muitas <strong>de</strong>las com capacida<strong>de</strong><br />
lenta <strong>de</strong> promover uma recuperação das proprieda<strong>de</strong>s do solo.<br />
Espécies anuais ou perenes po<strong>de</strong>m ser empregadas, com preferência as que possuem<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crescer e <strong>de</strong>senvolver bem em solos <strong>de</strong>gradados, que apresentem<br />
resementeira natural, facilitando assim a persistência das plantas <strong>de</strong> cobertura, que além <strong>de</strong><br />
controlar algumas invasoras, irão agregando material orgânico e melhorando as<br />
proprieda<strong>de</strong>s do solo.<br />
Este melhoramento po<strong>de</strong> ser alcançado aos 2 ou mais anos, conforme o nível <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>gradação, po<strong>de</strong>ndo então retornar com culturas (subsistência/mercado).<br />
Para as condições gerais da Província, nos solos arenosos (mais pobres) e também os<br />
<strong>de</strong>mais, po<strong>de</strong>m ser empregados algumas espécies, tais como: Stylosanthes sp., Feijão bóer,<br />
Mucuna pruriens (mucuna preta, cinza) Canavalia ensiformis (feijão <strong>de</strong> porco) Canavalia<br />
brasiliensis (feijão bravo do Ceará) , Clitoria ternatea, Calopogonio mucunoi<strong>de</strong>s,<br />
Macroptilium atropurpureum (siratro); além <strong>de</strong>ssas espécies po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve-se utilizar as<br />
próprias leguminosas nativas (Crotalarias, Vignas, Estilosantes, Calopogonio, Sesbanias,<br />
Tephrosias, etc.).<br />
Po<strong>de</strong> ser utilizado também algumas espécies leguminosas arbóreas no melhoramento do<br />
pousio, tais como: Glericidia sepium, Calliandra calythersus, Cassia Albida, etc., que irão<br />
produzir gran<strong>de</strong> biomassa e, após podadas as folhas e galhos serão distribuídos sobre o<br />
solo protegendo e recuperando a capacida<strong>de</strong> produtiva ao longo dos anos.<br />
Clitoria ternatea: leguminosa rústica tolerante à<br />
seca e boa opção na rotação com milho, mapira,<br />
etc. (Sr. Fernando Chadiwa – Bandua, Distrito do<br />
Búzi)<br />
40<br />
Feijão nhemba: opção alimentar, mercado e<br />
leguminosa protetora e melhoradora do solo<br />
(Grupo <strong>de</strong> Senhoras, Distrito do Búzi).<br />
Dessa forma, a área em pousio ficará enriquecido pela presença das plantas <strong>de</strong> cobertura<br />
e/ou espécies arbóreas, principalmente pela quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fitomassa vegetal produzida,<br />
como também pelo adição <strong>de</strong> nitrogênio ao sistema, além <strong>de</strong> outros efeitos das raízes no<br />
perfil do solo, melhorando-o fisicamente, maior aporte <strong>de</strong> outros nutrientes (reciclagem e<br />
maior solubilização), e também um incremento na biologia do solo pela constante adição <strong>de</strong><br />
material orgânico ao solo. Após <strong>de</strong>terminado tempo, conforme vai ocorrendo a melhoria<br />
gradativa <strong>de</strong> todas as proprieda<strong>de</strong>s do solo, esta área já estará apta a ser novamente<br />
cultivada e, então conduzida num sistema sustentável <strong>de</strong> produção (sistema <strong>de</strong> Agricultura<br />
<strong>de</strong> Conservação).
4.4 A produção <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong> cobertura<br />
Após a <strong>de</strong>vida selecção das espécies <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura, quer sejam nativas ou<br />
exóticas, a fazerem parte dos sistemas <strong>de</strong> produção local/regional, um outro importante<br />
aspecto é o que diz respeito à tecnologia <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> sementes dos referidos materiais.<br />
Esta produção, <strong>de</strong>verá preferentemente ser efectuada pelo camponês na sua própria<br />
machamba.<br />
A produção <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong> cobertura é uma importante activida<strong>de</strong> a ser realizada por parte<br />
dos camponeses no sentido <strong>de</strong> ter a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste tão importante insumo a ser<br />
utilizado nas suas próprias machambas. Normalmente, os diferentes materiais apresentam<br />
alguns <strong>de</strong>talhes específicos sobre o processo <strong>de</strong> multiplicação e produção <strong>de</strong> sementes.<br />
Geralmente as plantas ramadoras, como é o caso das mucunas preta e cinza, normalmente<br />
produzem mais sementes quando possuem um tutoramento natural, que po<strong>de</strong>m ser as<br />
próprias plantas <strong>de</strong> milho, mapira, mandioca, ricinus, ou mesmo pequenos arbustos <strong>de</strong>ntro<br />
da machamba, etc. Neste caso, os ramos irão subir nos tutores e, consequentemente<br />
obtendo maior luminosida<strong>de</strong>, aeração, irão produzir mais sementes.<br />
As sementes <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> colhidas <strong>de</strong>verão ser trilhadas e com teores <strong>de</strong> umida<strong>de</strong> do grão em<br />
torno <strong>de</strong> 12-14%, armazenadas em lugar seco, à sombra e ventilados, para que possam<br />
manter o po<strong>de</strong>r germinativo para futura utilização.<br />
41
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
5 A ROTAÇÃO E CONSORCIAÇÃO NO SISTEMA <strong>DE</strong><br />
<strong>AGRICULTURA</strong> <strong>DE</strong> <strong>CONSERVAÇÃO</strong><br />
A rotação <strong>de</strong> culturas é a alternância <strong>de</strong> espécies vegetais na mesma estação numa<br />
<strong>de</strong>terminada área, observando-se um período mínimo sem o cultivo <strong>de</strong>sta mesma espécie<br />
na mesma área. O a<strong>de</strong>quado planejamento <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> rotação <strong>de</strong> culturas <strong>de</strong>verá<br />
visar não apenas objetivos imediatos mas que, ao longo dos anos, a integração <strong>de</strong> culturas<br />
e muitas vezes a própria integração com animais, produza efeitos favoráveis ao sistema,<br />
proporcionando uma maior estabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção, menores riscos <strong>de</strong> infestação <strong>de</strong><br />
pragas e doenças, melhoria da capacida<strong>de</strong> produtiva do solo e consequente maior<br />
rentabilida<strong>de</strong> líquida na proprieda<strong>de</strong> agrícola como um todo.<br />
Os esquemas <strong>de</strong> rotação <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rão da região em questão, do tipo <strong>de</strong> solo, clima, manejo<br />
empregado, das características das machambas específicas e da infra-estrutura da<br />
proprieda<strong>de</strong>. O uso da rotação <strong>de</strong> culturas em proprieda<strong>de</strong>s diversificadas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá <strong>de</strong><br />
um planejamento or<strong>de</strong>nado e <strong>de</strong> uma criteriosa a<strong>de</strong>quação temporal e espacial das<br />
ativida<strong>de</strong>s.<br />
O conhecimento <strong>de</strong>talhado do histórico da área em questão, geralmente po<strong>de</strong> constar <strong>de</strong><br />
vários aspectos:<br />
quanto tempo que vem sendo cultivado nesta área<br />
quais as principais culturas <strong>de</strong>senvolvidas<br />
caso não haja análise química <strong>de</strong> solos, verificar o crescimento das plantas, produção<br />
alcançada em anos anteriores<br />
o acompanhamento criterioso das ativida<strong>de</strong>s realizadas quer seja quanto aos aspectos<br />
físicos, químicos e biológicos do solo, uso <strong>de</strong> calagem e adubações (química e<br />
orgânica), são fundamentos indispensáveis no estabelecimento <strong>de</strong> um esquema<br />
racional e compatível <strong>de</strong> rotação <strong>de</strong> culturas.<br />
A manutenção e/ou adição da matéria orgânica ao solo através da rotação <strong>de</strong> culturas,<br />
incluindo o a<strong>de</strong>quado emprego das coberturas vegetais e o manejo dos resíduos póscolheita,<br />
ten<strong>de</strong> a promover melhorias significativas no sistema produtivo ao longo dos anos,<br />
por:<br />
Melhorar o estado <strong>de</strong> agregação das partículas, através da formação <strong>de</strong> complexos<br />
organo-minerais.<br />
Aumentar a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> armazenamento <strong>de</strong> água.<br />
Contribui para um aumento da biodiversida<strong>de</strong> do solo, e ao incrementar a biologia do<br />
solo (micro, meso e macro [fauna e flora]), aumenta a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong><br />
organismos e também os inimigos naturais que irão atuar positivamente no controle e<br />
equilíbrio <strong>de</strong> pragas (insetos, nematoi<strong>de</strong>s e outros) e doenças.<br />
Reduzir as perdas <strong>de</strong> nutrientes e melhorar a solubilização <strong>de</strong> nutrientes, facilitando o<br />
seu aproveitamento pelas plantas.<br />
Promover a complexação orgânica do alumínio e manganês que encontram-se em<br />
níveis tóxicos no solo.<br />
Aumentar a CTC efetiva do solo (<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> pH).<br />
Melhorar o <strong>de</strong>senvolvimento das culturas, aumentando a estabilida<strong>de</strong> da produção ao<br />
longo dos anos.<br />
42
A rotação <strong>de</strong> culturas apresenta várias vantagens quando comparada à monoculturas<br />
tradicionais (Cook and Ellis,1987; Unger, 1994; Burton & Burd, 1994; Calegari, 2000, 2003):<br />
1) Melhor distribuição <strong>de</strong> trabalho e economia <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra;<br />
2) Contribuição para um aumento no número e nas espécies <strong>de</strong> organismos do solo,<br />
aumentando a biodiversida<strong>de</strong> e, promovendo um maior equilíbrio entre as espécies<br />
benéficas e as prejudiciais, levando assim a um maior controle biológico <strong>de</strong> pragas e<br />
doenças;<br />
3) Mais eficiente controle <strong>de</strong> invasoras;<br />
4) Promoção <strong>de</strong> uma melhoria geral e uniforme do solo através <strong>de</strong> seus efeitos favoráveis<br />
(físicos, químicos e biológicos);<br />
5) Melhora da estrutura e qualida<strong>de</strong> do solo, facilitando o <strong>de</strong>senvolvimento das diferentes<br />
culturas;<br />
6) Diferentes espécies <strong>de</strong> plantas usadas na rotação apresentam diferentes habilida<strong>de</strong>s e<br />
exploram diferentes profundida<strong>de</strong>s do perfil, proporcionando assim uma distribuição mais<br />
uniforme, um melhor equilíbrio e uma maior estabilida<strong>de</strong> nos nutrientes do solo;<br />
7) Os diferentes tipos e comprimento <strong>de</strong> raízes alcançam diferentes zonas do perfil,<br />
melhorando o solo em profundida<strong>de</strong>;<br />
8) Uma a<strong>de</strong>quada estratégia <strong>de</strong> rotação irá permitir uma quase permanente cobertura do<br />
solo;<br />
9) A adição anual <strong>de</strong> restolhos e compostos <strong>de</strong> carbono irá aumentar os teores <strong>de</strong> matéria<br />
orgânica do solo;<br />
10) Há uma tendência, ao longo dos anos, <strong>de</strong> diminuição dos custos <strong>de</strong> produção (menores<br />
gastos com fertilizantes, herbicidas e pesticidas em geral), conseqüente maior renda<br />
liquida na proprieda<strong>de</strong>;<br />
11) As diferentes espécies empregadas na seqüência or<strong>de</strong>nada irão causar efeitos<br />
diferenciados no solo e nos cultivos posteriores;<br />
12) Diminuição <strong>de</strong> riscos <strong>de</strong> toxicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> várias substancias no solo, pela sua alta<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação <strong>de</strong> diferentes componentes;<br />
13) Como efeito <strong>de</strong> médio/longo prazo contribui para uma maior estabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção e<br />
aumento <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> diferentes culturas.<br />
43
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
5.1 A rotação e consorciação <strong>de</strong> culturas<br />
5.1.1 Opções <strong>de</strong> rotação para arroz<br />
Normalmente nas áreas <strong>de</strong>stinadas ao cultivo <strong>de</strong> arroz, nas diferentes regiões da Província<br />
<strong>de</strong> Sofala, o sistema <strong>de</strong> manejo consiste em revolver o solo em profundida<strong>de</strong> todos os anos<br />
para posterior transplante do arroz. O arroz geralmente é colhido em abril/maio, e a palha é<br />
retirada ou queimada, permanecendo o solo <strong>de</strong>scoberto e, em seguida totalmente revolvido<br />
manualmente com enxadas ou através <strong>de</strong> tratores. Dessa forma, o solo permanece <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
Maio até Setembro sem nenhuma cobertura ou proteção, apenas as invasoras crescendo e<br />
infestando cada vez mais o terreno. Este tipo <strong>de</strong> manejo, on<strong>de</strong> o solo permanece longo<br />
tempo sem cobertura, o impacto direto das gotas <strong>de</strong> chuva ten<strong>de</strong> a contribuir para que<br />
ocorra um selamento superficial diminuindo a infiltração <strong>de</strong> água no perfil. Muitas vezes as<br />
invasoras são controladas através <strong>de</strong> pulverização com herbicidas. O transplante <strong>de</strong> arroz é<br />
efectuado normalmente em Novembro.<br />
Nesta situação comum à uma gran<strong>de</strong> maioria <strong>de</strong> produtores é sugerido que seja localmente<br />
e regionalmente testado e validado pelos produtores, algumas das seguintes inovações<br />
tecnológicas:<br />
1. Após a colheita dos grãos <strong>de</strong> arroz, a palha <strong>de</strong>verá ser distribuída uniformemente sobre<br />
a superfície do solo, contribuindo para uma maior rugosida<strong>de</strong> superficial; o não<br />
revolvimento do solo e os efeitos das raízes em <strong>de</strong>composição irão auxiliar no aumento<br />
<strong>de</strong> infiltração <strong>de</strong> água no solo, maior controle da população <strong>de</strong> invasoras, menor<br />
evaporação <strong>de</strong> água do perfil e consequente maior armazenamento <strong>de</strong> água no perfil do<br />
solo.<br />
2. Algumas plantas <strong>de</strong> cobertura po<strong>de</strong>rão ser implantadas em Maio, sobre os resíduos da<br />
colheita do arroz, sempre permanece alguma humida<strong>de</strong> no solo facilitando a<br />
germinação e crescimento <strong>de</strong>ssas plantas. Além <strong>de</strong> protegerem o solo por longo tempo e<br />
efectuarem uma melhoria nas proprieda<strong>de</strong>s do solo, po<strong>de</strong>rão ser manejadas com rolofaca<br />
e, caso haja necessida<strong>de</strong> complementar com <strong>de</strong>ssecação, para novamente sobre<br />
os resíduos vegetais (palhada <strong>de</strong> arroz e resíduos das coberturas ver<strong>de</strong>s) na superfície<br />
do solo, se implantar o arroz em plantio direto, ou o próprio transplante diretamente no<br />
solo sem revolvimento.<br />
3. Algumas plantas <strong>de</strong> cobertura são sugeridas,<br />
tais como: mucunas, crotalarias, feijão<br />
nhemba (já existem resultados favoráveis<br />
tanto na colheita dos grãos <strong>de</strong> nhemba quanto<br />
nos restolhos que aumentaram o rendimento<br />
posterior <strong>de</strong> arroz), feijão bóer, e, também<br />
algumas espécies <strong>de</strong> inverno <strong>de</strong>vem ser<br />
testadas: ervilhaca peluda (Vicia villosa), nabo<br />
forrageiro (Raphanus sativus), tremoço branco<br />
(Lupinus albus), ou mesmo algumas<br />
gramíneas como moha (Setaria italica), sorgo<br />
forrageiro, Murumbi (Eleusine coracana),<br />
mexoeira, ou mesmo algumas mesclas <strong>de</strong><br />
gramíneas + leguminosas (crotalaria juncea +<br />
mapira ou crotalaria juncea + mexoeira; feijão<br />
bóer + mapira ou feijão bóer + mexoeira, etc.).<br />
Estas espécies po<strong>de</strong>rão ser semeadas para<br />
protegerem e melhorarem as proprieda<strong>de</strong>s do<br />
solo e posteriormente manejadas e/ou<br />
44<br />
Arroz <strong>de</strong> sequeiro consorciado com<br />
Calopogonio mucunoi<strong>de</strong>s (leguminosa<br />
perene). Após a colheita do arroz, a<br />
leguminosa continua crescendo, cobrindo<br />
e produzindo elevada quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
biomassa vegetal e melhoria das<br />
proprieda<strong>de</strong>s do solo
colhidos os grãos para posterior implantação do arroz e assim viabilizar a Agricultura <strong>de</strong><br />
Conservação nos campos <strong>de</strong> arroz.<br />
Sesbania + Arroz<br />
As sementes da leguminosa nativa Sesbania spp <strong>de</strong>vem ser coletadas no campo,<br />
juntamente com os camponeses e, será semeada em outubro (logo no inicio das 1as.<br />
chuvas), aí então no inicio <strong>de</strong> Dezembro esta leguminosa será cortada com catana/rolo-faca<br />
e <strong>de</strong>ixado os resíduos sobre a superfície do solo e, posteriormente será transplantado<br />
diretamente o arroz sem nenhum preparo do solo. Os passos necessários são os seguintes:<br />
Passo 1 Passo 2 Passo 3 Passo 4 Passo 5<br />
Sesbania<br />
(coleta <strong>de</strong><br />
sementes em<br />
Julho)<br />
Sesbania<br />
(semeadura no<br />
inicio <strong>de</strong><br />
Outubro)<br />
Sesbania (corte<br />
com catana rente<br />
ao solo, ou com<br />
rolo-faca e <strong>de</strong>ixar<br />
os resíduos sobre<br />
o solo no inicio <strong>de</strong><br />
Dezembro)<br />
5.1.2 Opções <strong>de</strong> rotação para gergelim<br />
Arroz (semeadura<br />
direta sobre os<br />
resíduos da<br />
Sesbania em<br />
Dezembro).<br />
Arroz (colheita<br />
em Maio/Junho<br />
do próximo<br />
ano).<br />
Por ser o gergelim uma cultura <strong>de</strong> renda importante aos camponeses, é necessário ainda<br />
testar e validar sequências a<strong>de</strong>quadas que possam viabilizar o sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong><br />
Conservação on<strong>de</strong> esteja incluído esta espécie.<br />
O gergelim é uma cultura que nas condições <strong>de</strong> Moçambique, geralmente tem sido cultivado<br />
consorciado com milho ou mapira ou isoladamente, entretanto algumas opções <strong>de</strong> plantas<br />
<strong>de</strong> cobertura po<strong>de</strong>rão ser associados ou rotacionadas com este cultivo.<br />
Uma rotação interessante é aquela <strong>de</strong> entrar com mucuna em Junho/Julho e <strong>de</strong>pois em fins<br />
<strong>de</strong> Outubro manejar com rolo-faca, po<strong>de</strong>ndo plantar milho em novembro e entrar com<br />
gergelim entre as fileiras <strong>de</strong> milho (em fevereiro), o milho será colhido em março e os<br />
restolhos do milho po<strong>de</strong>m ser cortados e <strong>de</strong>ixados sobre o solo (entre as fileiras <strong>de</strong><br />
gergelim). Em seguida po<strong>de</strong> se entrar com feijão nhemba ou feijão manteiga, ou crotalaria<br />
spectabilis/crotalaria breviflora, crotalaria nativa ou mesmo feijão bóer anão em plantio<br />
directo sobre os restolhos do milho. A seguir são apresentados esta e outras sugestões <strong>de</strong><br />
opções <strong>de</strong> sequência <strong>de</strong> cultivos:<br />
Sistema 1:<br />
Cultura<br />
a ser<br />
implantada<br />
Mucuna<br />
preta<br />
plantada em<br />
Junho/Julho<br />
Manejo<br />
Rolofaca<br />
em<br />
fins <strong>de</strong><br />
Outubro<br />
Nova cultura<br />
a ser<br />
implantada<br />
Plantio directo<br />
<strong>de</strong> Milho em<br />
Novembro<br />
Cultura<br />
a ser<br />
consorciada<br />
Gergelim<br />
consorciado<br />
plantado em<br />
fevereiro entre<br />
as fileiras <strong>de</strong><br />
milho<br />
Milho em Marco; em<br />
seguida entrar com<br />
feijão manteiga, ou<br />
feijão <strong>de</strong> porco, ou<br />
crotalaria<br />
spectabilis,<br />
crotalaria breviflora,<br />
crotalaria nativa<br />
e/ou feijão bóer<br />
anão<br />
Colheita<br />
Gergelim em Junho;<br />
Também em Junho /<br />
Julho po<strong>de</strong> ser<br />
colhido o feijão<br />
manteiga, ou ainda<br />
ser manejada as<br />
crotalarias, feijão <strong>de</strong><br />
porco, feijão bóer<br />
anão para posterior<br />
continuida<strong>de</strong> do<br />
sistema<br />
45
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
Sistema 2:<br />
Cultura<br />
a ser<br />
implantada<br />
Gergelim<br />
em<br />
Fevereiro<br />
46<br />
Cultura <strong>de</strong><br />
cobertura<br />
Após 30-45 dias da<br />
semeadura do<br />
gergelim, entrar com<br />
planta <strong>de</strong> cobertura<br />
entre as linhas <strong>de</strong><br />
gergelim: feijão <strong>de</strong><br />
porco, feijão bóer<br />
anão, feijão<br />
manteiga, Crotalarias<br />
(spectabilis /<br />
breviflora ou nativa),<br />
feijão mungo (mung<br />
beans)<br />
Colheita<br />
Gergelim será colhido<br />
em Junho; enquanto<br />
o feijão manteiga,<br />
nhemba, mung beans<br />
em julho; enquanto<br />
as plantas <strong>de</strong><br />
cobertura po<strong>de</strong>rão<br />
ser manejadas com<br />
rolo-faca também em<br />
Julho<br />
Nova<br />
cultura<br />
a ser<br />
implantada<br />
Em fins <strong>de</strong><br />
Julho se po<strong>de</strong><br />
entrar com<br />
Mucuna preta<br />
ou ainda com<br />
uma<br />
gramínea:<br />
Murumbi,<br />
Eragrostis teff,<br />
etc.<br />
Manejo<br />
ou colheita<br />
Em fins <strong>de</strong><br />
Outubro-<br />
Novembro: A<br />
mucuna<br />
po<strong>de</strong>rá ser<br />
manejada com<br />
rolo-faca; as<br />
gramíneas<br />
po<strong>de</strong>rão ser<br />
colhidas<br />
também nesta<br />
época<br />
Nova<br />
cultura<br />
Em Novembro<br />
po<strong>de</strong>-se entrar<br />
com milho em<br />
plantio directo<br />
e <strong>de</strong>pois dar a<br />
continuida<strong>de</strong><br />
no sistema<br />
(Como segue<br />
no Sistema<br />
01)<br />
Os sistemas 01 e 02 são sugestões baseadas em sequência <strong>de</strong> cultivos da região, assim<br />
como resultados que obviamente necessitam ser testados e validados pelos camponeses e<br />
técnicos, para então serem ajustados e difundidos massivamente aos <strong>de</strong>mais camponeses.<br />
• Deve ser evitado o uso excessivo <strong>de</strong> leguminosas na rotação, principalmente o consórcio<br />
com nhemba (pragas comuns), assim como o uso <strong>de</strong> cucurbitáceas (melancia, abóbora,<br />
pepinos, melão, etc.) na rotação com gergelim, haja visto que foram encontrados<br />
algumas doenças comuns e também virosis que po<strong>de</strong>rão prejudicar o gergelim.<br />
• O gergelim (Sesamum indicum) apresenta um sistema radicular bem <strong>de</strong>senvolvido e com<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> afofar solos a<strong>de</strong>nsados ou com camadas compactadas. Em áreas on<strong>de</strong><br />
ocorre alta infestação <strong>de</strong> striga sp., normalmente consequência <strong>de</strong> monoculturas e<br />
<strong>de</strong>gradação <strong>de</strong> solos, o gergelim é uma boa alternativa na rotação, pois o mesmo não<br />
favorece o <strong>de</strong>senvolvimento da striga. O feijão nhemba adapta-se bem à consorciação<br />
com gergelim, principalmente varieda<strong>de</strong>s não ramadoras, bem como o feijão bóer anão,<br />
feijão manteiga, caupi, mucuna anã, feijão arroz, feijão mungo, etc.<br />
Cultivo <strong>de</strong> gergelim no sistema <strong>de</strong><br />
Agricultura <strong>de</strong> Conservação em<br />
Chibuabuabua (Distrito <strong>de</strong> Dondo)
5.1.3 Opções <strong>de</strong> rotação para algodão<br />
Cultura<br />
a ser<br />
implantada<br />
Algodão<br />
(Out./Nov.)<br />
plantado<br />
diretamente<br />
sobre<br />
restolhos <strong>de</strong><br />
culturas<br />
anteriores<br />
(milho,<br />
nhemba,<br />
mapira,<br />
etc.), sem<br />
efetuar<br />
preparo do<br />
solo<br />
Cobertura<br />
consorciada<br />
Caso houver<br />
necessida<strong>de</strong><br />
executar sacha<br />
(40-50 dias <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento)<br />
e plantar 1 fileira<br />
<strong>de</strong> mucuna entre<br />
as fileiras <strong>de</strong><br />
algodão<br />
Manejo<br />
ou colheita<br />
Após a colheita do<br />
algodão, a mucuna que<br />
terá crescido<br />
consorciado ao<br />
algodão irá promover<br />
uma proteção do solo e<br />
evitar o crescimento <strong>de</strong><br />
invasoras. Po<strong>de</strong>rá ser<br />
manejada no<br />
florescimento /<br />
enchimento <strong>de</strong> vagens<br />
com rolo-faca ou<br />
catana. Ou ser <strong>de</strong>ixada<br />
para colheita <strong>de</strong><br />
sementes. Po<strong>de</strong>rá ser<br />
semeado/transplantado<br />
diferentes espécies<br />
horticolas (repolho,<br />
couve, tomate,<br />
pimento, etc.)<br />
Nova cultura Colheita<br />
Novamente<br />
nos meses<br />
<strong>de</strong> Outubro-<br />
Dezembro<br />
po<strong>de</strong>rá ser<br />
semado na<br />
sequênia<br />
milho ou<br />
mapira que<br />
<strong>de</strong>verá ser<br />
consorciado<br />
com<br />
nnhemba ou<br />
feijão bóer ou<br />
mesmo<br />
mucuna para<br />
<strong>de</strong>pois no<br />
ano seguinte<br />
voltar com<br />
algodão<br />
Após a colheita do milho<br />
ou mapira a cobertura<br />
ver<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r continuar<br />
crescendo até o<br />
florescimento/enchimento<br />
<strong>de</strong> vagens para ser<br />
manejada (rolo-faca ou<br />
catana) ou ainda ser<br />
<strong>de</strong>ixada para produção<br />
<strong>de</strong> sementes.<br />
Posteriormente pod-se<br />
novamente voltar com o<br />
algodão sendo semeado<br />
directamente sobre os<br />
residuos, sem preparo do<br />
solo<br />
No caso do algodão po<strong>de</strong>rá ainda ser semeado feijão nhemba ou lablab entre as fileiras <strong>de</strong><br />
algodão (40-50 dias após a semeadura do algodão).<br />
47
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
5.1.4 Opções <strong>de</strong> alguns sistemas incluindo o uso <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong><br />
cobertura<br />
1. Feijão bóer + Ananaseira<br />
O ananás (A) po<strong>de</strong>rá ter um compasso <strong>de</strong> 1.5m. entre fileiras, e 1m. entre plantas na linha.<br />
O feijão bóer (FB) será semeado 1 fileira a cada 3 fileiras <strong>de</strong> ananaseiras e, terá um<br />
compasso <strong>de</strong> 0.5m. entre covachos (2-3 sementes/covacho).<br />
48<br />
A A A FB A A A FB A A A FB A A A FB<br />
A A A FB A A A FB A A A FB A A A FB<br />
A A A FB A A A FB A A A FB A A A FB<br />
A A A FB A A A FB A A A FB A A A FB<br />
Também se conseguem bons efeitos <strong>de</strong> cobertura plantando feijão nhemba entre as fileiras<br />
dos ananaseiros.<br />
2. Mandioca + Feijão nhemba + Feijão bóer<br />
O compasso da mandioca (M) será <strong>de</strong> 2m. entre fileiras e 1m. entre plantas;<br />
O compasso do feijão nhemba (NH) será 2 fileiras intercalada entre cada fileira <strong>de</strong> mandioca<br />
(0.5m. um covacho <strong>de</strong> nhemba do outro);<br />
O feijão bóer (FB) será plantado a cada 3 fileiras <strong>de</strong> mandioca ou seja a cada 4m. será<br />
plantado 1 fileira da outra, espaçados em 0.5m. entre covachos (2-3 sementes/covacho).<br />
M NH NH M NH NH M FB NH M NH NH M FB<br />
M NH NH M NH NH M FB NH M NH NH M FB<br />
M NH NH M NH NH M FB NH M NH NH M FB<br />
M NH NH M NH NH M FB NH M NH NH M FB<br />
3. Mandioca + Mucuna<br />
A mandioca (M) po<strong>de</strong>rá ter o compasso <strong>de</strong> 2m. entre fileiras e 1m. entre plantas;<br />
A mucuna (MUC) será intercalada 2 fileiras entre cada fileira <strong>de</strong> mandioca, espaçadas a<br />
0.5m. entre fileiras e também entre covachos (2-3 sementes/covacho).<br />
M MUC MUC M MUC MUC M MUC MUC M<br />
M MUC MUC M MUC MUC M MUC MUC M<br />
M MUC MUC M MUC MUC M MUC MUC M<br />
M MUC MUC M MUC MUC M MUC MUC M
4. Feijão bóer para recuperação <strong>de</strong> solo extremamente <strong>de</strong>gradado<br />
O compasso do feijão bóer será <strong>de</strong> 1m. entre fileiras e 0.5m. entre covachos<br />
(2-3 sementes/covacho).<br />
5. Milho + Feijão bóer<br />
O milho (MI) terá o compasso <strong>de</strong> 1m. entre fileiras e 0.20m. entre covachos<br />
(2-3 sementes/covacho → efetuar <strong>de</strong>sbaste e <strong>de</strong>ixar com uma população final em torno <strong>de</strong><br />
50.000 plantas/hectare).<br />
O feijão bóer (FB) será intercalado 1 fileira ente cada fileira <strong>de</strong> milho, espaçados em 0.5 –<br />
0.6m. entre cada covacho (2-3 sementes/covacho).<br />
O milho <strong>de</strong>verá ser semeado primeiro e 30-40 dias após plantar o feijão bóer.<br />
MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB<br />
MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB<br />
MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB<br />
MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB MI FB<br />
6. Ricinus + Mucuna<br />
(para áreas altamente infestadas com nematói<strong>de</strong>s)<br />
O Ricinus (Ricinus communis) terá um compasso <strong>de</strong> 2m. entre fileiras e 1m. entre covachos<br />
(2 sementes/covacho).<br />
A mucuna (MUC) será semeada 2 fileiras intercaladas entre cada fileira <strong>de</strong> Ricinus, e<br />
espaçadas em 0.5m. entre cada covacho (2-3 sementes/covacho).<br />
R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R<br />
R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R<br />
R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R<br />
R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R MUC MUC R<br />
49
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
7. Milho + Feijão nhemba + feijão bóer<br />
O feijão bóer (FB) terá um compasso <strong>de</strong> 2.4m. entre fileiras e 0.5m. entre covachos (2-3<br />
sementes/covacho);<br />
O milho (MI) terá um compasso <strong>de</strong> 0.8m. entre fileiras e, 0.30m. entre covachos (2-3<br />
sementes/covacho); e será semeado no meio das fileiras <strong>de</strong> feijão bóer (* vi<strong>de</strong> diagrama em<br />
anexo);<br />
O feijão nhemba (NH) será semeado 3 fileiras entre as fileiras <strong>de</strong> feijão bôer e milho,<br />
espaçados em 0.8m. entre as fileiras e 0.5m. entre covachos (2-3 sementes/covacho).<br />
O milho <strong>de</strong>verá ser semeado primeiro, 30-40 dias após <strong>de</strong>verá se plantar o feijão bóer e<br />
feijão nhemba.<br />
50<br />
FB NH MI NH MI NH FB NH MI NH MI NH FB<br />
FB NH MI NH MI NH FB NH MI NH MI NH FB<br />
FB NH MI NH MI NH FB NH MI NH MI NH FB<br />
FB NH MI NH MI NH FB NH MI NH MI NH FB<br />
8. Feijão bóer + Mucuna (ou Stylosanthes sp.)<br />
(para áreas com solos <strong>de</strong>gradados)<br />
O feijão bóer (FB) terá o compasso <strong>de</strong> 1.5m. entre fileiras e 0.5m. entre covachos (2-3<br />
sementes/covacho).<br />
A mucuna (ou stylosanthes) será semeado 2 fileiras intercalada entre cada fileira <strong>de</strong> bóer;<br />
sendo espaçado em 0.5m. entre fileiras e 0.5m. entre covachos (2-3 sementes/covacho<br />
para a mucuna e 5-8 sementes para o stylosanthes).<br />
FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC<br />
FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC<br />
FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC<br />
FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC FB MUC MUC<br />
O diagrama po<strong>de</strong>rá ser também para o stylosanthes consorciado com o feijão bóer (FB).<br />
9. Milho + Feijão bóer + Mapira<br />
No consórcio <strong>de</strong> plantas abaixo distribuídas, o milho é recomendado o plantio em fins <strong>de</strong><br />
outubro, a mapira em novembro/<strong>de</strong>zembro e o feijão bóer aos 30-40 dias após a semeadura<br />
do milho (* diagrama <strong>de</strong> distribuição das plantas).<br />
0.80m 0.80m 0.80m 0.80m 0.80m 0.80m 0.80m 0.80m 0.80m<br />
M M FB MAP FB M M FB MAP FB<br />
M M FB MAP FB M M FB MAP FB<br />
M M FB MAP FB M M FB MAP FB<br />
M M FB MAP FB M M FB MAP FB<br />
M M FB MAP FB M M FB MAP FB<br />
M M FB MAP FB M M FB MAP FB<br />
M: milho; FB: feijão bóer; MAP: mapira
Conforme vai se efetuando a colheita das diferentes espécies irá se proce<strong>de</strong>ndo a<br />
seqüência abaixo indicada:<br />
Julho – Ano 1 Outubro – Ano 2 Fevereiro – Ano 3 Julho/Agosto – Ano4<br />
FB (colheita <strong>de</strong> grãos)<br />
Pós-colheita <strong>de</strong> mapira<br />
Feijão bóer (FB)<br />
(colheita <strong>de</strong> grãos)<br />
Milho (colheita)<br />
FB (poda a 0.40m.<strong>de</strong><br />
altura)<br />
Girassol (plantio)<br />
Amendoim (plantio)<br />
FB (poda a 0.40m.<strong>de</strong><br />
altura)<br />
NH (plantio)<br />
NH (plantio)<br />
Milho (colheita) NH (plantio)<br />
FB (colheita <strong>de</strong> grãos)<br />
FB (poda a 0.40m.<strong>de</strong><br />
altura)<br />
FB em crescimento Colheita <strong>de</strong> FB<br />
Colheita e plantio <strong>de</strong><br />
lablab (2 fileiras)<br />
Colheita lablab<br />
FB em crescimento Colheita <strong>de</strong> FB<br />
Colheita do feijão<br />
nhemba (NH)<br />
Feijão manteiga<br />
(plantio)<br />
Feijão manteiga<br />
(plantio)<br />
Feijão manteiga<br />
(plantio)<br />
FB em crescimento Colheita <strong>de</strong> FB<br />
Com esta integração e seqüência <strong>de</strong> culturas, se utiliza plantas usadas na alimentação<br />
humana e ao mesmo tempo melhoradoras <strong>de</strong> solos: nhemba, lablab, girassol, amendoim,<br />
feijão bóer, etc. O lablab, girassol e amendoim contribuem para melhorar os atributos<br />
químicos do solo (adição <strong>de</strong> nitrogênio e outros nutrientes reciclados), além <strong>de</strong> contribuírem<br />
juntamente com feijão bóer e nhemba na diminuição da striga e no aumento da matéria<br />
orgânica do solo. O girassol é uma alternativa na produção <strong>de</strong> óleo vegetal (alimentação<br />
humana e biodiesel). O lablab é uma leguminosa rústica e com alta capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tolerar<br />
secas prolongadas e, portanto com potencial <strong>de</strong> continuar produzindo biomassa e grãos<br />
mesmo na época seca (outono/inverno).<br />
51
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
5.1.5 Sugestões <strong>de</strong> algumas opções <strong>de</strong> diagrama sequencial <strong>de</strong> culturas<br />
A seguir são feitas algumas sugestões <strong>de</strong> diferentes possíveis seqüências <strong>de</strong> culturas<br />
incluindo cultura (subsistência/mercado) e plantas <strong>de</strong> cobertura (recuperadora <strong>de</strong> solos).<br />
Obviamente são apenas sugestões, não há receitas prontas e acabadas para se aplicar<br />
diretamente a uma <strong>de</strong>terminada região da Província <strong>de</strong> Sofala, mas a rotação a<strong>de</strong>quada<br />
<strong>de</strong>ve ser planejada e executada conforme as condições locais, solo, clima, interesses do<br />
produtor e acima <strong>de</strong> tudo após um bom diagnostico <strong>de</strong> toda a área da machamba. Visando<br />
um uso e manejo a<strong>de</strong>quado e produção sustentável ao longo dos anos.<br />
CAMPANHAS (por exemplo: ano 1, 2, 3, 4 e 5)<br />
52<br />
1/2 2/2 2/3 3/4 4/5<br />
Plantio Outubro<br />
Milho +<br />
Plantio ou<br />
transplante<br />
Abril / Maio<br />
Batata doce ou<br />
Feijão manteiga<br />
Plantio<br />
Out. / Nov.<br />
Mapira +<br />
Plantio<br />
Abril / Julho /<br />
Out.<br />
Mandioca<br />
(Julho/Out.)<br />
Plantio<br />
Out. / Nov.<br />
Milho +<br />
Mucuna Feijão bóer Mucuna<br />
Milho + Cebola Milho +<br />
Feijão bóer Mucuna<br />
Milho +<br />
Ervilha –<br />
(regiões <strong>de</strong><br />
altitu<strong>de</strong>, clima<br />
mais fresco)<br />
Mapira +<br />
Nhemba Feijão bóer<br />
Alho<br />
(Abril)<br />
Sugar beans<br />
(Maio)<br />
Mapira<br />
Mexoeira
5.1.6 Sistemas <strong>de</strong> consorciação e rotação em diferentes sistemas <strong>de</strong><br />
produção<br />
O manejo <strong>de</strong> diferentes agro-ecosistemas, quer seja em sistemas <strong>de</strong> cultivos anuais ou<br />
mesmo em sistemas com cultivos perenes, <strong>de</strong>vem ser observados as condições específicas<br />
do local (clima, solo, etc.), para que se possa fazer uso <strong>de</strong> algumas opções <strong>de</strong> plantas<br />
protetoras e melhoradoras das proprieda<strong>de</strong>s do solo, entre as quais são sugeridas:<br />
Banana em cultivo isolado: Po<strong>de</strong>rá ser intercalada com mucunas, guandu, feijão <strong>de</strong><br />
porco, feijão bravo do Ceará, Indigofera sp., amendoim forrageiro perene (Arachis<br />
pintoi).<br />
Banana consorciada com milho e feijão (vulgar, nhemba): após a colheita do feijão,<br />
diversas opções po<strong>de</strong>m ocupar este espaço entre as fileiras <strong>de</strong> milho: mucuna preta ou<br />
cinza, mucura anã, feijão bóer anão, crotalaria juncea, crotalaria grahamiana, crotalaria<br />
spectabilis, clitoria ternatea, etc.<br />
Feijão (vulgar ou nhemba) po<strong>de</strong> ser rotacionado com mexoeira, mapira, capim moha<br />
(Setaria italica), marumbi (Eleusine corocana), e também com leguminosas (Crotalaria<br />
juncea ou guandu em mistura com gramíneas: mexoeira, setaria, mapira, murumbi, etc.).<br />
Mandioca (individual ou intercalada com milho, mapira, girassol, amendoim, mexoeira,<br />
feijão (vulgar ou nhemba), feijão mungo, feijão bóer, etc.): após a colheita das culturas<br />
<strong>de</strong> ciclo curto, a mandioca po<strong>de</strong>rá ainda, caso haja disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> umida<strong>de</strong>, ser<br />
consorciada com guandu anão, Crotalaria spectabilis, feijão <strong>de</strong> porco, etc. Portanto, no<br />
plantio <strong>de</strong> mandioca sobre restolhos e/ou plantas <strong>de</strong> cobertura, não há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
confecção <strong>de</strong> camalhões. Resultados obtidos no Paraguai com mandioca sobre<br />
restolhos <strong>de</strong> milho + mucuna alcançaram até 53 ton./ha <strong>de</strong> raízes <strong>de</strong> mandioca.<br />
Milho ou mapira consorciado com feijão (vulgar, nhemba, mungo): após a colheita do<br />
feijão, estes cereais po<strong>de</strong>rão ainda ser intercalados com mucunas, feijão bóer, feijão <strong>de</strong><br />
porco, crotalaria juncea intercalada com gramíneas (mexoeira, Setaria italica, ou<br />
murumbi). Camponeses que possuem áreas <strong>de</strong> milho, mexoeira ou mapira consorciado<br />
com feijão bóer, é recomendado que após a colheita do cereal, espere-se o momento<br />
a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> colheita do feijão bóer, on<strong>de</strong> os grãos po<strong>de</strong>rão ser usados na alimentação<br />
humana e mercado e, após isso com catana se proceda a poda das plantas <strong>de</strong> bóer<br />
(aos 40-60 cm. da superfície do solo). A poda nessa altura irá proporcionar melhores<br />
índices <strong>de</strong> rebrote; e também oferecendo outras opções <strong>de</strong> cultivos intercalados ao feijão<br />
bóer (feijão manteiga, mapira, nhemba, murumbi, etc.,) <strong>de</strong>ssa forma promovendo a<br />
rotação <strong>de</strong> culturas, ao invés da monocultura do milho.<br />
Batata doce: po<strong>de</strong>rá ser implantada sobre mulch <strong>de</strong> amendoim forrageiro perene<br />
(Arachis pintoi), Centrosema pubescens, mucunas + restolhos <strong>de</strong> milho e/ou mapira,<br />
Calopogonio mucunoi<strong>de</strong>s, soja perene ( Glycine wightii), Indigofera sp.. Portanto, não ha<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se efetuar camalhões para transplante <strong>de</strong> batata doce, principalmente<br />
em solos arenosos e/ou francos, sendo a partir do 2 o . ano os resultados bastante<br />
favoráveis no aumento da produção da batata doce e, principalmente na facilida<strong>de</strong> e<br />
diminuição do uso <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra.<br />
Algodão isolado ou consorciado com nhemba (varieda<strong>de</strong>s não ramadoras), po<strong>de</strong>rá ser<br />
rotacionado com:<br />
1) Milho/mapira (intercalado com diferentes combinações <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura<br />
listadas);<br />
2) Leguminosas: feijão (nhemba, vulgar, mungo), mucunas;<br />
3) Mandioca (solteira ou consorciada).<br />
53
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
54<br />
BATATA<br />
RENO<br />
FEIJÃO<br />
MANTEIGA<br />
SUGAR<br />
BEANS<br />
MANDIOCA<br />
Po<strong>de</strong>rá ser plantada em Março/Abril sobre Milho (mapira) + Mucuna; ou<br />
ainda sobre Milho (mapira) + Nhemba.<br />
O milho/mapira após ser colhido, a mucuna <strong>de</strong>verá ser manejada com<br />
catana e/ou rolo-faca e posteriormente plantado a batata.<br />
No caso do consórcio com Nhemba, também tanto o milho/mapira quanto o<br />
Nhemba <strong>de</strong>verão ser colhidos e posteriormente manejados os resíduos e<br />
implantado a cultura <strong>de</strong> batata.<br />
A amontoa da batata (35-50 dias após plantio) <strong>de</strong>ve ser com enxadas e,<br />
posteriormente o solo coberto novamente com restolhos.<br />
A colheita da Batata Reno <strong>de</strong>verá ser em Agosto/Setembro.<br />
O plantio po<strong>de</strong>rá ser efectuado em Maio sobre os resíduos <strong>de</strong> Milho +<br />
Mucuna.<br />
O milho que foi previamente plantado em Outubro/Novembro,<br />
posteriormente a Mucuna <strong>de</strong>verá ser plantada intercaladamente em torno<br />
45 dias após; após a colheita do milho a mucuna <strong>de</strong>verá ser manejada com<br />
catana e/ou rolo-faca.<br />
A colheita do feijão manteiga <strong>de</strong>verá ser feita em Julho/Agosto.<br />
Po<strong>de</strong>rá ser plantado sobre os resíduos <strong>de</strong> “MURUMBI” ou “ruquesa” ou<br />
“milho miúdo” (Eleusine coracana) que foi previamente semeado em<br />
Novembro/Dezembro e colhido em Abril, sendo manejado os resíduos para<br />
posteriormente em Maio ser plantado Sugar Beans (para consumo e<br />
principalmente para o mercado). Ou mesmo sobre milho/mapira + mucuna.<br />
Neste caso, o milho que foi previamente plantado em Outubro/Novembro,<br />
posteriormente a Mucuna <strong>de</strong>verá ser plantada intercaladamente em torno<br />
45 dias após; após a colheita do milho a mucuna <strong>de</strong>verá ser manejada com<br />
catana e/ou rolo-faca e plantado o sugar beans.<br />
A colheita do Sugar beans <strong>de</strong>ve ser em Julho/Agosto.<br />
O plantio da mandioca po<strong>de</strong>rá ser em Agosto/outubro (<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo das<br />
chuvas), sobre os resíduos <strong>de</strong> Milho + Mucuna ou ainda sobre os resíduos<br />
<strong>de</strong> Mapira + Mucuna. Neste caso, após a colheita dos grãos <strong>de</strong> Milho e <strong>de</strong><br />
Mapira, os resíduos <strong>de</strong>ssas gramíneas juntamente com a mucuna <strong>de</strong>verão<br />
ser manejados com catana e/ou rolo-faca e posteriormente implantado a<br />
Mandioca.<br />
Após 45 dias do plantio da mandioca, diferentes leguminosas po<strong>de</strong>rão ser<br />
consorciadas entre as fileiras <strong>de</strong> mandioca: nhemba, feijão bóer anão,<br />
crotalarias, mucuna anã, feijão <strong>de</strong> porco, feijão Mungo (Vigna radiata), etc.<br />
Caso houver umida<strong>de</strong> disponível, após a colheita/manejo da leguminosa,<br />
existe a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se implantar sobre estes resíduos, ainda uma<br />
outra espécie <strong>de</strong> cobertura protetora e melhoradora <strong>de</strong> solos.<br />
No cultivo <strong>de</strong> mandioca não é recomendável rotacionar com nabo forrageiro<br />
por aumentar os problemas <strong>de</strong> podridões radiculares (Fusarium sp.,<br />
Rhizoctonia sp., etc.), mas preferentemente após milho + mucuna, ou<br />
mapira + mucuna, ou ainda milho + nhemba ou mapira }+ nhemba, ou em<br />
áreas <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong> rotacionar com espécies <strong>de</strong> outono/inverno (ervilhacas,<br />
ervilha forrageira, aveia preta etc.).<br />
A colheita da mandioca <strong>de</strong>verá ser em Maio/Julho do ano seguinte.
5.1.7 Indicação <strong>de</strong> protocolo para produção <strong>de</strong> batata reno<br />
Propostas para 2 situações:<br />
1) Batata sobre plantas <strong>de</strong> cobertura: mucuna, feijão bóer, feijão nhemba,<br />
leguminosas nativas, etc.<br />
Na seleção das áreas, procurar escolher as áreas que possuam maior fertilida<strong>de</strong> natural<br />
e maiores teores <strong>de</strong> matéria orgânica do solo.<br />
Manejo das plantas <strong>de</strong> cobertura: catana, foice, rolo-faca, herbicidas.<br />
Efetuar sacha e/ou capina das invasoras (se necessário).<br />
Abertura do sulco (enxada, tração animal, tração tractorizada).<br />
Aplicar fertilizante orgânico (estrumes, compostagem) e/ou mineral <strong>de</strong>ntro do sulco,<br />
misturar com solo no fundo do sulco.<br />
Seleção/Escolha <strong>de</strong> batatas uniformes <strong>de</strong> tamanho médio (preferentemente), ou caso<br />
haja pouca disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sementes, fraccionar/colocar cinzas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira/<strong>de</strong>ixar em<br />
camadas intercaladas por capim (0.10m.), para provocar/acelerar o brotamento:<br />
Capim<br />
Batatas<br />
Capim<br />
batatas<br />
Quando em torno <strong>de</strong> 70% das batatas estiverem brotando, efetuar o plantio da batata<br />
reno <strong>de</strong>ntro do sulco.<br />
Aos 35-50 dias (início das tuberização) proce<strong>de</strong>r a sacha e amontoa com enxadas<br />
(chegada <strong>de</strong> terra aos pés da batata, sem revolver excessivamente o solo).<br />
Cortar capim e cobrir o solo próximo às plantas (sobre o solo adicionado aos pés da<br />
batata).<br />
Colheita manual através <strong>de</strong> enxadas ou tração animal (normalmente em<br />
setembro/outubro).<br />
Pós-colheita: proce<strong>de</strong>r um nivelamento do terreno (enxadas).<br />
Implantar milho ou mapira (Novembro/<strong>de</strong>zembro).<br />
Em torno <strong>de</strong> 45 dias após consorciar com mucuna e/ou feijão nhemba.<br />
Caso houver incidência <strong>de</strong> doenças proce<strong>de</strong>r controle conforme recomendação<br />
local/regional. Em caso <strong>de</strong> ataque <strong>de</strong> pragas → utilizar preferentemente medidas <strong>de</strong><br />
controle através <strong>de</strong> produtos biológicos com plantas insecticidas e outros (mutica,<br />
siringa, tabaco, Nim, folhas e sementes <strong>de</strong> papaia, etc.).<br />
55
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
2) Batata sobre restolhos <strong>de</strong> milho, mapira e mexoeira<br />
Na seleção das áreas, procurar escolher as áreas que possuam maior fertilida<strong>de</strong> natural<br />
e maiores teores <strong>de</strong> matéria orgânica do solo.<br />
Manejo dos restolhos: após a colheita <strong>de</strong> milho, mapira ou mexoeira, procurar distribuir<br />
uniformemente os restolhos sobre o solo (sachar as invasoras e necessário).<br />
Efetuar sacha e/ou capina das invasoras (se necessário).<br />
Abertura do sulco (enxada, tração animal, tração tractorizada).<br />
Aplicar fertilizante orgânico (estrumes, compostagem) e/ou mineral <strong>de</strong>ntro do sulco,<br />
misturar com solo no fundo do sulco.<br />
Seleção/Escolha <strong>de</strong> batatas uniformes <strong>de</strong> tamanho médio (preferentemente), ou caso<br />
haja pouca disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sementes, fraccionar/colocar cinzas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira/<strong>de</strong>ixar em<br />
camadas intercaladas por capim (0.10m.), para provocar/acelerar o brotamento:<br />
56<br />
Capim<br />
Batatas<br />
Capim<br />
Batatas<br />
Quando em torno <strong>de</strong> 70% das batatas estiverem brotando, efetuar o plantio da batata<br />
reno <strong>de</strong>ntro do sulco.<br />
Aos 35-50 dias (início das tuberização) proce<strong>de</strong>r a sacha e amontoa com enxadas<br />
(chegada <strong>de</strong> terra aos pés da batata, sem revolver excessivamente o solo).<br />
Cortar capim e cobrir o solo próximo às plantas (sobre o solo adicionado aos pés da<br />
batata).<br />
Colheita manual através <strong>de</strong> enxadas ou tração animal (normalmente em<br />
setembro/outubro).<br />
Pós-colheita: proce<strong>de</strong>r um nivelamento do terreno (enxadas).<br />
Efetuar plantio <strong>de</strong> mucuna ou feijão nhemba ou faixas <strong>de</strong> 3 metros com mucuna (5-6<br />
fileiras <strong>de</strong> mucuna espaçadas em 0.50m.) intercaladas com nhemba (5 fileiras <strong>de</strong><br />
nhemba espaçadas em 0.50m.) . Isto irá promover a possibilida<strong>de</strong> da colheita dos grãos<br />
e, também auxiliar no aumento da cobertura, proteção e melhoria das proprieda<strong>de</strong>s do<br />
solo, além <strong>de</strong> diminuir os riscos <strong>de</strong> proliferação <strong>de</strong> pragas e/ou doenças.<br />
Caso seja optado por este cultivo em faixas (mucuna e feijão nhemba):<br />
1º. Passo – colheita dos grãos <strong>de</strong> nhemba<br />
2º. Passo – Mucuna <strong>de</strong>verá ser manejada com catana, foice, rolo-faca no<br />
florescimento/enchimento <strong>de</strong> vagens.<br />
Após este manejo, a área já estará apta para receber novas culturas (cereais, hortícolas<br />
ou mesmo batata).<br />
Caso houver incidência <strong>de</strong> doenças proce<strong>de</strong>r controle conforme recomendação<br />
local/regional. Em caso <strong>de</strong> ataque <strong>de</strong> pragas → utilizar preferentemente medidas <strong>de</strong><br />
controle através <strong>de</strong> produtos biológicos com plantas insecticidas e outros (mutica,<br />
siringa, tabaco, Nim, folhas e sementes <strong>de</strong> papaia, etc.).
5.1.8 Rotação com espécies hortícolas<br />
As diferentes espécies hortícolas normalmente apresentam melhor <strong>de</strong>senvolvimento quando<br />
<strong>de</strong>vidamente sequenciadas por outras espécies. Resultados promissores tem sido<br />
alcançados quando em um mesmo solo sejam cultivados hortícolas <strong>de</strong> formas <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento e necessida<strong>de</strong>s nutricionais diferentes. As hortícolas que produzem folhas<br />
consomem mais nitrogênio, as hortícolas que produzem bulbos, raízes, tubérculos, rizomas,<br />
geralmente necessitam maiores quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> potássio, enquanto as leguminosas<br />
geralmente extraem maiores quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fósforo do solo.<br />
Dessa forma, para que ocorra um maior equilíbrio no solo, não se <strong>de</strong>ve repetir na mesma<br />
área hortícolas da mesma família e com características semelhantes, mas sim buscar<br />
seqüências alternadas (espécies e hábitos).<br />
Quando empregamos espécies como couve flor e outras hortícolas ver<strong>de</strong>s (alface,<br />
espinafre, acelga, couves, etc.) exigentes em nitrogênio, o solo <strong>de</strong>verá ter um suplemento<br />
com fertilização orgânica e, no próximo ano fazer cultivos <strong>de</strong> leguminosas como ervilhas,<br />
feijões, etc. que irão reconstituir e melhorar o solo, po<strong>de</strong>ndo também estas hortícolas ver<strong>de</strong>s<br />
serem seguidas do cultivo <strong>de</strong> hortícolas <strong>de</strong> raízes, bulbos, etc. (beterraba, cenoura, cebola,<br />
alho, batata, etc.) (Calegari & Peñalva, 1999). As leguminosas normalmente são mais<br />
exigentes em fósforo e, as hortícolas <strong>de</strong> raízes, bulbos, tubérculos, são espécies que<br />
extraem elevadas quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> potássio e fósforo. Dessa forma, a rotação é fundamental<br />
para um melhor aproveitamento e equilíbrio dos nutrientes do solo, não correndo riscos, com<br />
a repetição <strong>de</strong> espécies do mesmo tipo, <strong>de</strong> ocorrer esgotamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado nutriente,<br />
além dos maiores riscos <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> doenças e/ou pragas comuns.<br />
Num a<strong>de</strong>quado cultivo <strong>de</strong> hortícolas, <strong>de</strong>ve-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o inicio, ter como regra geral, quando<br />
se efetuar o cultivo <strong>de</strong> uma espécie exigente em nutrientes, em seguida, seguir com uma<br />
espécie menos exigente em nutrientes e que aproveite os resíduos da cultura anterior.<br />
A rotação <strong>de</strong> culturas é fundamental para um cultivo sustentável <strong>de</strong> hortícolas, ou seja,<br />
estabelecer seqüências <strong>de</strong> diferentes famílias intercaladas por plantas <strong>de</strong> cobertura<br />
(mucunas, crotalarias, feijão nhemba, murumbi, mapira, etc.), que terão efeitos favoráveis,<br />
tais como:<br />
Melhoria das proprieda<strong>de</strong>s do solo e reciclagem <strong>de</strong> nutrientes;<br />
Quebra <strong>de</strong> ciclo <strong>de</strong> pragas e/ou doenças (nematói<strong>de</strong>s), contribuindo para a diminuição<br />
do potencial <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong>sses organismos;<br />
Aumento no rendimento das diferentes espécies hortícolas.<br />
Cebola transplantada sobre capim no sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
(Grupo Batista – Guara Guara- Búzi)<br />
57
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
Não é aconselhável o plantio sucessivo durante vários anos <strong>de</strong> plantas da mesma família,<br />
como p. ex. as solanáceas (tomate, batata, berinjela, pimentão), o das cucurbitáceas<br />
(pepino, melancia, abóbora, melão, etc.), isto, em razão <strong>de</strong> pertencer a mesma família e,<br />
consequentemente po<strong>de</strong>rem apresentar pragas e doenças comuns.<br />
58<br />
Produção <strong>de</strong> alface e pimento<br />
no sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
Na produção <strong>de</strong> hortícolas, um dos fatores <strong>de</strong>cisivos no <strong>de</strong>senvolvimento e produção final<br />
das diferentes espécies é o viveiro <strong>de</strong> mudas. Portanto, é recomendável que o solo do<br />
viveiro <strong>de</strong>va ter uma cobertura com resíduos vegetais, emprego <strong>de</strong> estrumes, compostagem,<br />
cinzas, restolhos <strong>de</strong> leguminosas nativas e utilização <strong>de</strong> rotação <strong>de</strong> culturas.<br />
As hortícolas na área <strong>de</strong> cultivo, além <strong>de</strong> se utilizar <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura e/ou espécies<br />
gramíneas (ruquesa, mexoeira, capim moha – Setaria italica) normalmente, ten<strong>de</strong>m a<br />
eliminar a fonte <strong>de</strong> inóculos e diminuir a ocorrência <strong>de</strong> podridões radiculares e outras<br />
doenças. Também o uso <strong>de</strong> alguns produtos biológicos no manejo <strong>de</strong> pragas e/ou doenças<br />
(podridões radiculares e outras), tem mostrado resultados muito satisfatórios quando as<br />
pequenas mudas <strong>de</strong> plantas ainda se encontram na fase inicial <strong>de</strong> crescimento. Dentre as<br />
diferentes alternativas, uma <strong>de</strong>las é a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se utilizar 300gramas <strong>de</strong> sementes<br />
<strong>de</strong> siringa (mfuta, mquina) – Ricinus communis, misturada com 3 folhas ver<strong>de</strong>s <strong>de</strong> papaia,<br />
esmagada e misturada com 5 litros <strong>de</strong> água (<strong>de</strong>ixar em repouso por 72 horas). Após a<br />
filtragem, a solução po<strong>de</strong> ser usada para pulverizar sobre o viveiro <strong>de</strong> mudas, controlando<br />
algumas pragas e também o “Dumping off” (Fusarium spp.) que é um fungo que ataca novas<br />
plantas no viveiro.<br />
A cebola é uma cultura bastante comum na Província <strong>de</strong> Sofala, sendo bastante comum o<br />
aparecimento <strong>de</strong> doenças, principalmente Alternaria spp. Gran<strong>de</strong> parte da ocorrência <strong>de</strong><br />
doenças em hortícolas e outras culturas são <strong>de</strong>vido à monocultura contínua por vários anos,<br />
o que provoca a perpetuação dos inóculos no solo e nos resíduos culturais <strong>de</strong>ixados na<br />
área. O tratamento <strong>de</strong> sementes é uma medida <strong>de</strong> prevenção, que po<strong>de</strong> ser efetuada com<br />
fungicidas (Captan, Thiran, Benomil, etc.) ou mesmo com o uso <strong>de</strong> água quente no<br />
tratamento das sementes (*vi<strong>de</strong> em anexo). E um outro importante aspecto, é a mudança do<br />
viveiro <strong>de</strong> área, ou seja, quando o viveiro utiliza repetidamente o mesmo local para produção<br />
das mudas, os inóculos também ten<strong>de</strong>m a permanecer na área e contaminar as plantas.<br />
Um dos pioneiros da Agricultura <strong>de</strong><br />
Conservação no Distrito <strong>de</strong> Dondo:<br />
Sr. Sithole - mostrando campo <strong>de</strong><br />
cebola iniciado em 2002<br />
Experiências positivas comprovadas por<br />
camponeses no cultivo <strong>de</strong> tomate aplicando<br />
o sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação –<br />
Província Sofala
BATATA DOCE<br />
CEBOLA<br />
ALHO<br />
REPOLHO<br />
TOMATE /<br />
PIMENTO<br />
Po<strong>de</strong> ser implantada em Abril/Maio sobre Milho + Mucuna ou mesmo<br />
após mapira + mucuna, ou sobre resíduos <strong>de</strong> Indigofera sp., <strong>de</strong> Arachis<br />
pintoi (amendoim forrageiro perene). Após a colheita do cereal, o uso <strong>de</strong><br />
catana e/ou rolo-faca serão importantes no manejo e, 8-10 dias após o<br />
manejo po<strong>de</strong>-se efetuar o transplante da batata doce.<br />
Não há necessida<strong>de</strong> da construção <strong>de</strong> camalhões para transplante da<br />
batata doce. Decorridos 2-3 anos com uso a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> rotação o solo<br />
ficará cada vez mais macio e apto para um bom <strong>de</strong>senvolvimento e<br />
produção da batata.<br />
A colheita da batata doce <strong>de</strong>verá ser em Setembro/Outubro.<br />
Po<strong>de</strong> ser transplantada em Março/Junho sobre Milho + Mucuna, milho +<br />
mapira, etc.<br />
A colheita da cebola <strong>de</strong>verá ser em Agosto/Setembro.<br />
Po<strong>de</strong>rá ser plantado em Março/Abril sobre Milho + Mucuna, mapira +<br />
mucuna. Atentar para o momento da diferenciação, época em que se<br />
inicia a formação <strong>de</strong> “<strong>de</strong>ntes” do alho (diferenciação), <strong>de</strong>ve-se cessar a<br />
rega por 15-20 dias, para que ocorra um stress na planta e, então possa<br />
<strong>de</strong>stinar mais nutrientes aos <strong>de</strong>ntes e aumentar o crescimento e<br />
produtivida<strong>de</strong>.<br />
O alho <strong>de</strong>verá ser colhido em Agosto/Setembro.<br />
Po<strong>de</strong>rá ser transplantado em Março/Abril sobre resíduos <strong>de</strong> Mexoeira +<br />
Mucuna (que <strong>de</strong>ve ser plantado em Outubro/Novembro; material <strong>de</strong> ciclo<br />
curto): 3-4 meses; ou mesmo após milho + mucuna.<br />
A mucuna nessa condição <strong>de</strong>ve ser plantada intercaladamente em torno<br />
<strong>de</strong> 45 dias após a semeadura do cereal; sendo que após a colheita do<br />
milho/mapira, juntamente com os resíduos da gramínea ser manejado<br />
com catana e/ou rolo-faca e, posteriormente transplantado o repolho.<br />
A colheita do repolho <strong>de</strong>verá ser efectuado em Julho/Agosto.<br />
Po<strong>de</strong>rá ser transplantado em Marco/Junho sobre resíduos <strong>de</strong> mexoeira +<br />
mucuna, ou mesmo milho + mucuna (que <strong>de</strong>veriam ter sido plantados<br />
em Outubro/Dezembro do ano anterior).<br />
A mucuna <strong>de</strong>ve ser plantada aos 35-45 dias após o plantio do cereal e,<br />
após a colheita do milho/mapira, manejar com rolo-faca 5-10 dias antes<br />
do transplante do tomate/pimento. Caso não houver bom acúmulo <strong>de</strong><br />
mulch, aconselha-se adicionar mais capim cortado externamente sobre a<br />
superfície do solo, para que as culturas possam aproveitar <strong>de</strong> todos os<br />
benefícios <strong>de</strong>ste sistema.<br />
A colheita do tomate geralmente ocorre em torno <strong>de</strong> 3 meses após o<br />
transplante.<br />
59
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
5.2 Efeitos da rotação na ocorrência <strong>de</strong> pragas e doenças<br />
A rotação <strong>de</strong> culturas incluindo plantas <strong>de</strong> diferentes famílias é uma importante forma <strong>de</strong><br />
diminuir os efeitos das pragas e doenças, principalmente pela <strong>de</strong>struição do habitat e<br />
interrupção do ciclo <strong>de</strong>stes organismos no solo. Geralmente o ataque <strong>de</strong> pragas e doenças<br />
ocorre mais sobre plantas mal nutridas e/ou com níveis <strong>de</strong> nutrientes <strong>de</strong>sequilibrados.<br />
Assim, o bom suprimento <strong>de</strong> nutrientes propiciando um bom vigor às plantas é fundamental<br />
para conferir maior resistência às plantas.<br />
Diversas espécies <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura po<strong>de</strong>m ser cultivadas, além <strong>de</strong> melhorar as<br />
proprieda<strong>de</strong>s do solo, também minimizar a incidência dos efeitos prejudiciais das pragas e<br />
doenças no solo e nas culturas. Outras espécies, através dos exudados radiculares ou<br />
ácidos orgânicos <strong>de</strong> seus tecidos tem efeito nematicida no solo. No caso da mandioca,<br />
quando processada para a preparação <strong>de</strong> farinha, o resíduo liquido que possui alta<br />
concentração <strong>de</strong> HCN (ácido cianídrico), quando aplicado sobre o solo terá efeitos<br />
favoráveis no controle <strong>de</strong> várias espécies <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s.<br />
Conforme Sharma et al., 1982; Santos & Ruano, 1987 a utilização a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> diversas<br />
espécies <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura, po<strong>de</strong>m representar um dos meios mais valiosos e<br />
econômicos no controle <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s, além <strong>de</strong> inúmeros outros benefícios ao sistema<br />
solo-água-planta.<br />
Trabalhos realizados em Londrina, Paraná, Brasil por Kryzanowski & Calegari,1997 (dados<br />
não publicados) tem mostrado que a moha (Setaria italica L.) é uma espécie que tem<br />
<strong>de</strong>monstrado bons resultados no campo, não multiplicando nematói<strong>de</strong>s (Meloydogine<br />
incognita), constituindo uma opção importante a fazer parte <strong>de</strong> seqüência <strong>de</strong> culturas,<br />
principalmente hortícolas, haja visto o seu ciclo precoce (aos 35-50 dias após a semeadura<br />
já se po<strong>de</strong> manejar). Além disso, existe um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s (ovos e larvas)<br />
nos tecidos <strong>de</strong> algumas espécies <strong>de</strong> plantas, sendo possível que estas, quando em<br />
<strong>de</strong>composição no solo liberem diferentes ácidos e substancias aleloquimicas, dos tecidos e<br />
raízes que irão influenciar nas populações <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s. Assim, espécies como feijão<br />
bóer (Cajanus cajan), amendoim cavalo (Arachis hypogaea), Leucaena leucocephala,<br />
mexoeira, (Pennisetum americanum), capim elefante (Pennisetum atropurpureum), Ricinus<br />
communis, amendoim forrageiro (Arachis pintoi), e também outras gramíneas usadas como<br />
pastagens (diversas espécies <strong>de</strong> Brachiaria sp.) são bastante eficientes, quer pela alteração<br />
do pH da rizosfera (área circundante das raízes) das plantas, contribuindo para a diminuição<br />
das populações <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s no solo, além <strong>de</strong> outros fungos (Fusarium sp., Rhizoctonia<br />
sp., Sclerotinia sp.), que po<strong>de</strong>m causar danos às culturas. No caso <strong>de</strong> Sclerotinia sp., os<br />
resíduos <strong>de</strong> brachiaria e outras gramíneas agem como barreira física à fecundação e<br />
multiplicação do fungo no solo. O aumento da matéria orgânica do solo, principalmente pelo<br />
acúmulo <strong>de</strong> restolhos e outros resíduos adicionados na superfície do solo, incrementam a<br />
ativida<strong>de</strong> biológica, aumentando o numero e espécies <strong>de</strong> organismos, o que conduz a um<br />
maior equilíbrio natural, evitando que ocorra a predominância <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada (s) espécie (s)<br />
<strong>de</strong> organismo (s) sobre outra (s), e assim em algum momento resultar em prejuízo para<br />
<strong>de</strong>terminado cultivo.<br />
Resultados obtidos por Santos & Ruano, 1987 comprovam a eficiência <strong>de</strong>: crotalárias,<br />
mucunas , feijão bóer, alfafa, e gramíneas como aveia preta (Avena strigosa), centeio<br />
(Secale cereale), azevem (Lollium multiflorum) e cevada (Hor<strong>de</strong>um vulgare) no controle <strong>de</strong><br />
populações <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s ( Meloydogine incognita raça 3 e Meloydogine javanica).<br />
A diversificação no emprego alternado <strong>de</strong> diferentes espécies <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura em<br />
seqüências or<strong>de</strong>nadas com culturas <strong>de</strong> subsistência e comercial irá favorecer o crescimento<br />
<strong>de</strong> uma maior diversida<strong>de</strong> possível <strong>de</strong> organismos (conforme as condições ambientais: solo,<br />
clima, tipo <strong>de</strong> solo, fertilida<strong>de</strong> natura, etc.), entre os quais os inimigos naturais, ou seja, os<br />
60
insectos e organismos benéficos. Dessa forma, as plantas oferecem habitat natural para os<br />
insectos benéficos e, também o uso <strong>de</strong> faixas <strong>de</strong> vegetação natural próximo às áreas <strong>de</strong><br />
cultivo irá favorecer a reprodução <strong>de</strong>ssas espécies e, aumentar as populações <strong>de</strong><br />
organismos antagônicos às pragas, contribuindo para uma maior biodiversida<strong>de</strong> e maior<br />
controle biológico natural.<br />
Observações <strong>de</strong> campo e comprovação por parte <strong>de</strong> agricultores do Brasil mostram que<br />
restolhos <strong>de</strong> milho, girassol, mexoeira, quando cultivados em rotação, são muito eficientes<br />
na redução do potencial <strong>de</strong> inóculos <strong>de</strong> diversas doenças (fungos) no solo.<br />
Diversas espécies hortícolas, como por exemplo: tomate, pimento, batata, pepino, abóbora,<br />
repolho, couves, feijão, alface, melão, melancia, etc. po<strong>de</strong>m sofrer ataque <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s,<br />
principalmente do gênero Meloydogine. Além <strong>de</strong>ssa espécie <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>, também outras<br />
como Ditylenchus dipsaci, po<strong>de</strong> causar danos ao alho; Helycotylenchus sp. é normalmente<br />
controlado pelo uso <strong>de</strong> Mucunas, crotalaria juncea, Ricinus communis; enquanto<br />
Pratylenchus sp., po<strong>de</strong> ser suprimido pelo uso na rotação <strong>de</strong> leguminosas, tais como:<br />
Stylosanthes guianensis, Kudzu (Pueraria phaseoloi<strong>de</strong>s), Centrosema pubescens,<br />
Psophocarpus palustris e, algumas gramíneas, tais como: mexoeira, Eragrostis teff, Setaria<br />
italica, sudangrás, aveia preta, etc.<br />
Quando se cultiva por vários anos espécies que são susceptíveis a nematói<strong>de</strong>s, há uma<br />
tendência <strong>de</strong> aumento populacional dos mesmos, po<strong>de</strong>ndo causar danos econômicos às<br />
culturas comerciais. Geralmente quando isto ocorre está associado à <strong>de</strong>gradação do solo<br />
(principalmente com a diminuição dos níveis <strong>de</strong> matéria orgânica do solo), sendo necessário<br />
tomar medidas que procurem baixar as populações <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s fitoparasitas do solo e,<br />
assim tornar viável o plantio <strong>de</strong> culturas comerciais/subsistência. Dessa forma, as plantas <strong>de</strong><br />
cobertura têm uma gran<strong>de</strong> importância, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> estratégias que se associam a outras<br />
medidas <strong>de</strong> controle (rotação com outras culturas <strong>de</strong> baixa susceptibilida<strong>de</strong>, varieda<strong>de</strong>s<br />
resistentes, etc.).<br />
As condições <strong>de</strong> seca e alta temperatura po<strong>de</strong>m influir negativamente no aumento<br />
populacional <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s, enquanto a maioria das plantas invasoras são multiplicadoras<br />
<strong>de</strong> diferentes espécies <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s.<br />
Conforme relatos <strong>de</strong> Peñalva & Calegari, 1999; trabalhos <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> diferentes<br />
espécies <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura na rotação em relação à população <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s no<br />
Uruguai, mostraram o seguinte:<br />
Tratamentos com mucuna cinza, mexoeira, feijão bóer e mexoeira + feijão nhemba foram as<br />
que apresentaram a maior diminuição do numero <strong>de</strong> Xiphinema rivesi.<br />
As espécies: mucuna cinza, crotalaria juncea, mexoeira, feijão bóer, mexoeira + feijão<br />
nhemba não permitiram o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> Tylenchus.<br />
O consórcio entre mexoeira + feijão nhemba foi o que mais diminuiu a população <strong>de</strong><br />
nematói<strong>de</strong>s fitoparasitas.<br />
61
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
6 CONTROLE <strong>DE</strong> PRAGAS E DOENÇAS NO SISTEMA <strong>DE</strong><br />
<strong>AGRICULTURA</strong> <strong>DE</strong> <strong>CONSERVAÇÃO</strong><br />
À continuação são apresentadas medidas e aplicação <strong>de</strong> alguns produtos biológicos para o<br />
controle <strong>de</strong> pragas e doenças, principalmente recomendados para pequenos produtores<br />
agrícolas:<br />
1. Controle <strong>de</strong> doenças através imersão em água quente:<br />
Uma gran<strong>de</strong> variabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> doenças po<strong>de</strong> acometer as mais diversas espécies <strong>de</strong><br />
hortícolas a nível <strong>de</strong> campo. Dentre alguns procedimentos a serem tomados por parte dos<br />
produtores, visando diminuir este potencial risco <strong>de</strong> infeção por patógenos, <strong>de</strong> baixo custo e<br />
acessível a todos os produtores, é o tratamento das sementes<br />
Tabela 6: Doenças em hortícolas controladas pelo tratamento térmico das sementes<br />
62<br />
Cultura<br />
Tempo <strong>de</strong><br />
tratamento<br />
(minutos)<br />
Temperatura<br />
da água<br />
( o C)<br />
Aipo 30 48<br />
Doença<br />
controlada<br />
Septoria ssp<br />
C. apii<br />
Berinjela 25 50 P. vexans<br />
Couve brócolis 20 50<br />
Xanthomonas<br />
campestris<br />
Cenoura 15/20 50 X carotae<br />
Cenoura 15/20 50 A dauci<br />
Couve <strong>de</strong> Bruxelas 25 50 X. campestris<br />
Couve flor 20/25 50 X. campestris<br />
Espinafre 25 50 C. <strong>de</strong>rnatium<br />
Mostarda 15 50 C. campestris<br />
Rabanete 20 50 C. gloesporioi<strong>de</strong>s<br />
Pimenta doce 25 50 C. gloesporiói<strong>de</strong>s<br />
Pimenta doce 30 52 X. vesicatoris<br />
Pimenta doce 15 50 X campestris<br />
Nabo 25/30 50 X campestris<br />
Repolho 25 50 C. gloesporioi<strong>de</strong>s<br />
Tomate 25 50 X vesicatoria<br />
Tomate 25 50 A. solani<br />
Com este tempo <strong>de</strong> imersão das sementes em água (po<strong>de</strong>rão estar acondicionadas em<br />
pequenos sacos <strong>de</strong> aniagem) os patógenos indicados são controlados, <strong>de</strong>vendo as<br />
sementes serem secas à sombra e, preferentemente semeadas o mais rápido possível.
2. Nim (Azadirachta indica):<br />
Árvore em que po<strong>de</strong>m ser utilizados os extratos das folhas ou <strong>de</strong> sementes que po<strong>de</strong>rão ser<br />
utilizados como inseticidas para controle <strong>de</strong> diversas pragas.<br />
Sementes secas: 340 g/litro <strong>de</strong> água;<br />
Folhas secas: 40 g/litro;<br />
Óleo emulsionável (produto comercial): 5ml/litro;<br />
Torta <strong>de</strong> Nim: 5g/litro.<br />
A Azadirachta indica é largamente usada nas regiões costeiras dos Países do Leste<br />
Africano e nas terras áridas do Leste da Etiópia. Foi trazido da Ásia on<strong>de</strong> é comumente<br />
utilizado pelas suas proprieda<strong>de</strong>s medicinais e repelentes <strong>de</strong> pragas.<br />
As folhas po<strong>de</strong>m ser confundida com as folhas <strong>de</strong> “Siringa”, que é uma espécie muito<br />
próxima e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> semelhança. Po<strong>de</strong> ser facilmente diferenciada através dos frutos: os<br />
frutos <strong>de</strong> Nim caem ao solo quando maduros, enquanto os frutos <strong>de</strong> siringa ficam na árvore<br />
mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> maduros ou até secos. A casca da árvore <strong>de</strong> Nim é grosseira, enquanto a<br />
da siringa é bem lisa e <strong>de</strong> coloração escura.<br />
Algumas pragas que o Nim po<strong>de</strong> controlar:<br />
lagarta do repolho e outras hortícolas<br />
gafanhotos adultos<br />
diferentes espécies <strong>de</strong> pulgões<br />
pequenos insetos que atacam feijões, nhemba, e outros cultivos<br />
trips que atacam diferentes cultivos<br />
diferentes insetos ou lagartas que atacam plantas no inicio <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
po<strong>de</strong> ainda ser repelente <strong>de</strong> térmitas e muitas espécies <strong>de</strong> formigas por mais <strong>de</strong> 1 mês.<br />
Resíduos das sementes <strong>de</strong> Nim<br />
Após a retirada do óleo das sementes <strong>de</strong> Nim (Azadirachta indica), esses resíduos po<strong>de</strong>m<br />
ser utilizados como fertilizantes orgânicos no solo, embora pela alta relação C:N, po<strong>de</strong>rá<br />
ocorrer imobilização do nitrogênio do solo e, também po<strong>de</strong>rá interferir diretamente na<br />
população <strong>de</strong> alguns fungos fitopatogênicos.<br />
Os resíduos <strong>de</strong> Nim po<strong>de</strong>m ser aplicados em viveiros para eliminar problemas <strong>de</strong> fungos <strong>de</strong><br />
solo em cebola, e outras hortícolas.<br />
63
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
Tabela 7: Efeitos dos resíduos das sementes (após extração do óleo) <strong>de</strong> Nim em<br />
fungos patogênicos do solo<br />
64<br />
Cultura Fungo Efeitos<br />
Tomate<br />
Berinjela<br />
Arroz R. solani<br />
Algodão<br />
Rhizoctonia solani,<br />
Fusarium oxysporum<br />
R. solani, Fusarium<br />
spp., Colletotrichum<br />
atramentarium<br />
Doenças da<br />
sementeira<br />
Podridão <strong>de</strong> raízes<br />
<strong>de</strong>vido ao ataque <strong>de</strong><br />
Soja<br />
Macrophomina<br />
phaseolina<br />
Fonte: Adaptado <strong>de</strong> Steinhauer, 1999<br />
3. Sementes <strong>de</strong> “Siringa” (Melia azedarach)<br />
Sementes ver<strong>de</strong>s ......1 kg.<br />
Sementes secas ........0,5 kg.<br />
Supressão em 30 dias após a<br />
aplicação<br />
Supressão rápida<br />
Redução da infestação na<br />
sementeira<br />
Melhoria na germinação,<br />
menores danos nas plantas<br />
emergidas<br />
Redução da infecção<br />
Modo <strong>de</strong> preparar<br />
Adicionar folhas <strong>de</strong> siringa, folhas <strong>de</strong> tomateiro, folhas <strong>de</strong> pessegueiro, folhas <strong>de</strong> tabacofumo<br />
(Nicotiana tabacum), folhas <strong>de</strong> Cassia tora, e ainda se disponível folhas <strong>de</strong> assapeixe<br />
(Vernonia sp.) numa proporção <strong>de</strong> 300-400 gramas <strong>de</strong> cada.<br />
Tomar esta massa vegetal e esmagar ou quebrar em pedaços menores e colocar <strong>de</strong>ntro<br />
<strong>de</strong> um recipiente com álcool etílico, e <strong>de</strong>ixar por 2 dias em imersão.<br />
Caso não se tenha álcool po<strong>de</strong>-se também cozinhar em água estes ingredientes durante<br />
3-4 horas. Este sumo concentrado po<strong>de</strong>rá ser guardado por até 1 ano.<br />
Modo <strong>de</strong> aplicação:<br />
Usar 5 litros da solução acima misturado com 100 litros <strong>de</strong> água e pulverizar contra pulgões,<br />
ácaros, pequenas lagartas e brocas <strong>de</strong> solo.
4. Tephrosia (Tephrosia vogelli):<br />
Esta leguminosa arbustiva é também<br />
recomendável no controle <strong>de</strong> diversas<br />
pragas, com o uso <strong>de</strong> macerado <strong>de</strong> folhas,<br />
ramos, raízes e sementes.<br />
Tephrosia vogelli e Piretro (Pyrethrum<br />
sp). (vários componentes da planta).<br />
O uso <strong>de</strong> Tephrosia vogelli “mutica” (folhas<br />
esmagadas, ramos, raízes, e sementes)<br />
po<strong>de</strong> ser misturado com água e cozido ou<br />
misturado com álcool (esperar por 2 dias)<br />
e, <strong>de</strong>pois misturar este concentrado (5%)<br />
com água (95%) e pulverizar sobre as<br />
plantas pra controlar diferentes pragas<br />
(insetos e outras). Também o extrato <strong>de</strong><br />
Pyrethrum po<strong>de</strong> ser utilizado com similar<br />
emprego da Tephrosia vogelli (lagartas,<br />
pulgões, trips, Diabrotica sp., gafanhotos,<br />
etc.).<br />
Mutica (Tephrosia vogelli) – alternativa no controle biológico <strong>de</strong> pragas.<br />
5. Pyrethrum<br />
Em 10 litros <strong>de</strong> água fervendo colocar 2 xícaras <strong>de</strong> flores <strong>de</strong> Piretro. Esperar esfriar, filtrar o<br />
líquido e diluir em 2-5 partes <strong>de</strong> água. Adicionar 60 g <strong>de</strong> sabão macio em cada 10 litros,<br />
posteriormente pulverizar as plantas.<br />
6. Papaia<br />
É possível o uso <strong>de</strong> sementes e folhas secas <strong>de</strong> papaia, as quais são moídas para tratar<br />
sementes <strong>de</strong> hortaliças e outros grãos, e também po<strong>de</strong> controlar muitos insetos, pulgões,<br />
trips, <strong>de</strong> diferentes culturas. Produto biológico que consta da coleta e repouso por 30 dias<br />
num recipiente totalmente fechado (fermentação anaeróbica).<br />
7. Controle <strong>de</strong> Fusarium sp. (dumping off)<br />
Po<strong>de</strong> se utilizar 300gramas <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong> siringa (mfuta) – Ricinus communis, misturada<br />
com 3 folhas ver<strong>de</strong>s <strong>de</strong> papaia, que após esmagadas são misturadas com 5 litros <strong>de</strong> água<br />
(<strong>de</strong>ixar em repouso por 72 horas). Após a filtragem, a solução po<strong>de</strong> ser usada para<br />
pulverizar as mudas do viveiro (usar este concentrado diluído em água: 1/10), a qual irá<br />
controlar algumas pragas e também o “Dumping off” (Fusarium sp.) que é um fungo que<br />
ataca novas plantas no viveiro.<br />
8. Urina <strong>de</strong> vaca<br />
Po<strong>de</strong>-se misturar 3 litros do sumo <strong>de</strong> plantas + 5 litros da urina fermentada + 100 litros <strong>de</strong><br />
água e pulverizar em 1 hectare. Esta mistura irá controlar pragas (lagartas, ácaros,<br />
gafanhotos, trips, brocas, cigarrinhas, vaquinhas e mesmo a lagarta do cartucho do milho<br />
(Spodoptera frugiperda) e outras pragas, e também irá funcionar como fungicida e<br />
65
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
biofertilizante (presença e nutrientes e substancias que ativam enzimas ativando o<br />
metabolismo das plantas e, promovem um rápido crescimento das plantas.<br />
A urina após coletada dos animais é <strong>de</strong>ixada em meio aeróbico, recipiente fechado sem a<br />
presença <strong>de</strong> oxigênio, em torno <strong>de</strong> 20-30 dias. Após isso é retirada e utilizada na mistura<br />
acima.<br />
É recomendável a aplicação sobre milho, feijão e outras culturas logo após a germinação<br />
<strong>de</strong>stas plantas, e uma nova aplicação aos 20 dias da semeadura, o que irá favorecer o<br />
controle das pragas e o rápido crescimento das plantas.<br />
9. Repelentes<br />
Em um pequeno container 2/3 é cheio com folhas e flores picadas (esmagadas) <strong>de</strong> cravo <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>funto (Tagetes taget ou Tagetes patula) - Mexican marigolds, Ocimum suave, ou<br />
pimentas ver<strong>de</strong>s ou vermelhas. O restante do container será cheio por água limpa e <strong>de</strong>ixado<br />
em <strong>de</strong>scanso por 5-7 dias. Após isso, tomar o sumo (após ser filtrado) e adicionar 30 g <strong>de</strong><br />
sabão macio para cada 5 litros <strong>de</strong> água. Para plantas jovens, po<strong>de</strong> diluir 1 parte da solução<br />
para cada 5 partes <strong>de</strong> água. Para plantas adultas e/ou velhas, diluir 1 parte da solução<br />
para 1 parte <strong>de</strong> água.<br />
O cravo <strong>de</strong> <strong>de</strong>funto em geral age como repelente <strong>de</strong> pequenos insetos e nematói<strong>de</strong>s.<br />
Pimentas (chilly) é bastante efetivo na proteção <strong>de</strong> pequenos e gran<strong>de</strong>s insetos. Ocimum<br />
suave po<strong>de</strong> ser usado para diferentes tipos <strong>de</strong> insetos.<br />
Plantas com efeitos repelentes a insetos e doenças:<br />
Inúmeras plantas possuem esta característica, tais como: malmequer (Tagetes minuta) ou<br />
também cravo <strong>de</strong> <strong>de</strong>funto (Tagetes patula), pimentas (Capsicum annuum), alho (Allium<br />
cepa), Ocimun suave, Tephrosia vogelli, Tithonia diversifolia, po<strong>de</strong>m ser utilizadas como<br />
repelentes ou também extraído soluções que po<strong>de</strong>rão ser diluídas em água e pulverizadas<br />
sobre as plantas, prevenindo ou reduzindo o ataque <strong>de</strong> vários insetos e doenças.<br />
10. Tabaco (Fumo)<br />
Ferver uma xícara <strong>de</strong> restos <strong>de</strong> cigarros (após serem fumados) ou 250 g <strong>de</strong> tabaco em 4<br />
litros <strong>de</strong> água. Esfriar, filtrar, e diluir em mesma quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água limpa. Misturar com 30<br />
g <strong>de</strong> sabão macio em cada 5 litros <strong>de</strong> líquido antes <strong>de</strong> pulverizar. Esta solução <strong>de</strong> tabaco é<br />
muito tóxica e <strong>de</strong>ve ser usada apenas em emergência. É efetiva contra lagarta do cartucho<br />
do milho (Spodoptera frugiperda), lagartas, térmitas, e outros insetos e pragas do solo.<br />
11. Controle <strong>de</strong> nematói<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Galhas<br />
O pó <strong>de</strong> Nim po<strong>de</strong> ser usado para controlar nematói<strong>de</strong>s nos viveiros <strong>de</strong> mudas. Misturar 2<br />
kg <strong>de</strong> pó (8 mãos cheias) com 10 litros <strong>de</strong> água e <strong>de</strong>ixe por 1 noite (não necessita adicionar<br />
sabão na água). No próximo dia, tome a mistura e aplique diretamente no solo usando um<br />
pequeno pulverizador. Esta quantida<strong>de</strong> é suficiente para uma área <strong>de</strong> 8m quadrados (2m X<br />
4m). É recomendável aplicar 10-15 dias antes da semeadura ou transplante. Contra alguns<br />
parasitas <strong>de</strong> animais, é possível controlar através das folhas <strong>de</strong> Nim que são comidas pelos<br />
animais.<br />
66
12. Controle <strong>de</strong> Ratos<br />
Um agricultor <strong>de</strong> Ghana usa um interessante meio <strong>de</strong> controlar ratos usando folhas <strong>de</strong><br />
plantas com espinhos (Obetia radula), conhecida em algumas áreas como hila hila ou<br />
thabai. Também outras plantas que tenham espinhos em suas folhas ou ramos po<strong>de</strong> ser<br />
utilizada. Ratos geralmente não gostam <strong>de</strong> fazer seus ninhos em locais com espinhos que<br />
os incomodam e, assim mudam para outros locais.<br />
Moer 100 gramas <strong>de</strong> sementes <strong>de</strong> Gliricidia sepium, misture com 100 gramas <strong>de</strong> milho<br />
moído. É aconselhável adicionar um pouco <strong>de</strong> água, manteiga ou açúcar para melhorar o<br />
cheiro e o sabor. Po<strong>de</strong>m ser preparadas algumas pequenas bolas e <strong>de</strong>ixados em locais<br />
visitados pelos ratos, principalmente à tar<strong>de</strong> ou noite, e principalmente em épocas <strong>de</strong> menor<br />
oferta <strong>de</strong> alimentos no campo. As sementes <strong>de</strong> G. sepium têm um forte efeito na<br />
mortalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ratos.<br />
13. Controle <strong>de</strong> Formigas 2<br />
Algumas formigas gran<strong>de</strong>s (Atta capiguara e outras espécies) que po<strong>de</strong>m causar danos às<br />
culturas po<strong>de</strong>m ser tomadas algumas medidas <strong>de</strong> controle:<br />
Algumas culturas e árvores po<strong>de</strong>m ser mais bem nutridas com molibdênio, que irá contribuir<br />
para as plantas sintetizarem mais proteínas e diminuir a atrativida<strong>de</strong> pelas formigas. Po<strong>de</strong><br />
ser aplicado 0,5% <strong>de</strong> molibdênio (uma única vez).<br />
Utilizar um extrato <strong>de</strong> sisal (5 folhas em 5 litros <strong>de</strong> água). Moer as folhas e <strong>de</strong>ixar por 2 dias<br />
com água. Retirar o sumo e aplicar 2 litros no principal buraco das formigas e feche os<br />
outros buracos.<br />
O plantio <strong>de</strong> gergelim ao redor <strong>de</strong> outras culturas sensíveis ao ataque <strong>de</strong> formigas, ou<br />
mesmo consorciar o gergelim com culturas susceptíveis, ele age como repelente. As<br />
sementes <strong>de</strong> gergelim po<strong>de</strong>m ser esmagadas e usadas como iscas. Também as sementes<br />
<strong>de</strong> mamona/Ricinus (castor beans) po<strong>de</strong>m ser esmagadas e o fermentado po<strong>de</strong> ser aplicado<br />
nos formigueiros.<br />
Pedaços <strong>de</strong> pães velhos misturados com vinagre po<strong>de</strong>m ser aplicados nos buracos das<br />
formigas. As formigas irão manter isto <strong>de</strong>ntro do buraco e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> fermentado irá ser<br />
tóxico às formigas.<br />
Adicionar cal virgem <strong>de</strong>ntro do buraco das formigas, <strong>de</strong>pois adicione alguma água e feche o<br />
buraco o que irá criar alguns gases que irão afetar as formigas. Po<strong>de</strong> ser adicionado 2<br />
kilogramas <strong>de</strong> cal para 100 litros <strong>de</strong> água.<br />
Próximo às plantas atacadas po<strong>de</strong> ser aplicado cinzas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, ou cascas <strong>de</strong> ovos<br />
moída, farinha <strong>de</strong> ossos ou carvão vegetal moído, todos vão impedir a ação das formigas.<br />
Para baixas populações <strong>de</strong> formigas po<strong>de</strong> ser usado plantas repelentes: menta, batata doce,<br />
salsa, cenoura, mamona e gergelim.<br />
Algumas plantas po<strong>de</strong>m ser usadas como iscas: Leucaena leucocephalla, cana-<strong>de</strong>-açúcar, e<br />
gergelim preto.<br />
Água quente também po<strong>de</strong> ser usada no controle <strong>de</strong> formigas.<br />
Po<strong>de</strong> ser aplicado Boro (500g) misturado com 500g <strong>de</strong> açúcar e água, coloque no caminho<br />
on<strong>de</strong> as formigas costumam passar (po<strong>de</strong> também controlar baratas).<br />
Inseticida natural: Misturar 50 litros <strong>de</strong> água + 10 quilogramas <strong>de</strong> esterco fresco bovino + 1<br />
quilograma <strong>de</strong> extrato <strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar ou açúcar mascavo. Misture todos os ingredientes,<br />
<strong>de</strong>ixe para fermentar durante 1 semana. Passe por um tecido ou por uma peneira <strong>de</strong> malhas<br />
2 Experiência <strong>de</strong> agricultores brasileiros<br />
67
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
muito fina e, aplique <strong>de</strong>ntro do buraco das formigas (1 litro da mistura com 10 litros <strong>de</strong> água)<br />
até que o buraco se encha totalmente.<br />
Caso os produtos a serem aplicados sejam tóxicos aos pássaros, inimigos naturais e outros<br />
animais <strong>de</strong>verá ser evitado, pois po<strong>de</strong> contribuir para o <strong>de</strong>sequilíbrio no ambiente.<br />
14. Utilizar cordões vegetados ou quebra ventos<br />
A presença <strong>de</strong> árvores ou quebra ventos, não apenas impe<strong>de</strong> a formação <strong>de</strong> ventos, assim<br />
como auxiliam na mo<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> temperaturas, redução da evaporação, e cria um habitat<br />
favorável para a proliferação <strong>de</strong> insetos benéficos; Alguns exemplos <strong>de</strong> árvores como:<br />
Grevillea robusta, e espécies arbóreas <strong>de</strong> médio porte tais como, sesbania (Sesbania<br />
sesban), Tephrosia tunicata, or Leucaena leucocephalla fornece um habitat favorável e<br />
também ajuda na proteção contra ventos excessivos. Também espécies como Tephrosia<br />
vogelli e Tithonia diversifolia além <strong>de</strong> agir como repelente <strong>de</strong> insetos, suas raízes e seus<br />
resíduos quando cortados melhora as proprieda<strong>de</strong>s do solo.<br />
Algumas faixas <strong>de</strong> plantas com espécies tais como: girassol, Crotalaria grantiana, Crotalaria<br />
ochroleuca, Crotalaria spectabilis, finger millet, e também algumas espécies nativas, as<br />
quais produzem inúmeras inflorescências, são muito atrativas a pássaros e insetos. Esta<br />
diversificação <strong>de</strong> espécies ajudam a evitar o ataque das pragas nas culturas específicas.<br />
68
7 RESULTADOS OBTIDOS POR PRODUTORES COM O<br />
USO <strong>DE</strong> COBERTURA DO SOLO, ROTAÇÃO E PLANTIO<br />
DIRECTO<br />
7.1 Resultados obtidos na Província <strong>de</strong> Sofala<br />
Experiência 1: Cebola no sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
(Guara Guara e Bandua)<br />
Um grupo <strong>de</strong> camponeses <strong>de</strong> Guara Guara vem <strong>de</strong>senvolvendo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2001 o cultivo <strong>de</strong><br />
cebola em Agricultura <strong>de</strong> Conservação. Também em Bandua o Sr. Fernando Chadiwa,<br />
iniciou nesta mesma época e, tem alcançado resultados muito favoráveis com o solo coberto<br />
com restolhos no rendimento <strong>de</strong> cebola e outras hortícolas. Os resultados promissores<br />
alcançados têm incentivado estes e outros camponeses a seguirem este sistema <strong>de</strong><br />
agricultura (Tabela 8 em baixo).<br />
Tabela 8: Sistema <strong>de</strong> comparação: Consumo <strong>de</strong> água, mão-<strong>de</strong>-obra e rendimento <strong>de</strong><br />
cebola em Guara Guara e Bandua, Distrito do Búzi<br />
Sistema<br />
<strong>de</strong> cultivo<br />
Mão-<strong>de</strong>obra<br />
consumida<br />
até a<br />
semeadura<br />
da cebola<br />
(homens<br />
dia/ha)<br />
No. <strong>de</strong><br />
irrigação<br />
por<br />
semana<br />
No. <strong>de</strong><br />
sachas<br />
(todo o<br />
ciclo da<br />
cebola)<br />
Rendimento <strong>de</strong><br />
cebola/bulbos<br />
(kg/ha)<br />
Ano<br />
(2002)<br />
Ano<br />
(2003)<br />
Solo coberto<br />
com capim<br />
Sistema<br />
tradicional<br />
7 1 0 35,000 39,000<br />
(solo<br />
preparado com<br />
enxadas)<br />
45 3 14 15,000 23,000<br />
Irrigação em<br />
sulcos<br />
– 2 8 ─ 25,000<br />
Fonte: Calegari, 2003, 2004. PACDIB / PROMEC, Distrito do Búzi<br />
A mão-<strong>de</strong>-obra requerida pelo Sr. Chadiwa em Bandua para cortar o capim, carregar e<br />
distribuir sobre o solo para posterior transplante da cebola foi <strong>de</strong> apenas sete dias/hectare;<br />
enquanto na área tradicional foram necessários 45 dias <strong>de</strong> trabalho. Dessa forma, o tempo<br />
gasto no sistema tradicional foi seis vezes superior ao da Agricultura <strong>de</strong> Conservação.<br />
Avaliando o rendimento <strong>de</strong> cebola no 1 o . Ano (2002) pelo grupo <strong>de</strong> camponeses <strong>de</strong> Guara<br />
Guara, no sistema tradicional, sobre solo preparado com enxadas e sem capim, apresentou<br />
rendimentos <strong>de</strong> 1,5 kg/m 2 (15ton./ha) e, 3,5 kg/m 2 (35ton./ha) no solo sem preparo e coberto<br />
com capim. Portanto, o sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação apresentou um rendimento<br />
superior ao tradicional <strong>de</strong> 20ton./ha <strong>de</strong> bulbos. Isto encorajou e incentivou os camponeses a<br />
continuarem no <strong>de</strong>senvolvimento do sistema.<br />
Já no segundo ano consecutivo (2003), a cebola no sistema tradicional ren<strong>de</strong>u 2,3 kg/m 2 (23<br />
ton./ha <strong>de</strong> bulbos);um outro sistema com sulcos irrigado ren<strong>de</strong>u 2,5kg/m 2 (23 ton./ha) por<br />
outro lado o sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação ren<strong>de</strong>u em torno <strong>de</strong> 2,3 kg/m 2 (23<br />
ton./ha <strong>de</strong> bulbos); no sistema com sulcos irrigado produziu 2,5kg/m 2 (25ton./ha <strong>de</strong> bulbos),<br />
69
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
enquanto no sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação, on<strong>de</strong> a cebola é transplantada no solo<br />
sem preparo e coberto com capim, o rendimento obtido foi <strong>de</strong> 3,9kg/m 2 (39ton./ha <strong>de</strong><br />
bulbos). Neste caso, o solo foi anteriormente coberto com mucuna + capim, o que<br />
certamente contribuiu para uma maior disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nitrogênio e outros nutrientes<br />
absorvidos pela cebola. Os resultados alcançados <strong>de</strong>monstram pela segunda vez<br />
consecutiva nesta área o <strong>de</strong>sempenho superior da cebola no sistema com solo coberto com<br />
capim e sem nenhum revolvimento em relação aos <strong>de</strong>mais. Em comparação ao sistema<br />
tradicional, on<strong>de</strong> o solo é revolvido com enxadas e não efetuado a cobertura do solo com<br />
capim, a cebola apresentou uma menor necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra e água, além <strong>de</strong> um<br />
rendimento superior <strong>de</strong> 16 ton./ha (quase 70% a mais).<br />
Os resultados positivos alcançados por este grupo <strong>de</strong> camponeses, aliados ao entusiasmo<br />
em assessorar alguns vizinhos, tem influenciado na formação <strong>de</strong> outros grupos que estão<br />
implementando a Agricultura <strong>de</strong> Conservação, quer seja em hortícolas (cebola, tomate,<br />
pimento, repolho, couves) e também em cereais (milho, mapira), feijões, e produção <strong>de</strong><br />
sementes <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura.<br />
Experiência 2: Sr. Fernando Chadiwa em Agricultura <strong>de</strong> Conservação (Bandua)<br />
O Sr. Fernando Chadiwa é um camponês que iniciou a Agricultura <strong>de</strong> Conservação em<br />
2001, aon<strong>de</strong> vem testando e validando o sistema em produção <strong>de</strong> hortícolas. Ele também<br />
tem apoiado vários vizinhos e atualmente vem colaborando com oito grupos <strong>de</strong> camponeses<br />
na localida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bandua, on<strong>de</strong> estão alcançando resultados promissores com o cultivo <strong>de</strong><br />
diferentes hortícolas (Tabela 9).<br />
Tabela 9: Hortícolas no sistema tradicional e no sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong><br />
Conservação<br />
70<br />
Hortícola Sistema tradicional<br />
(kg/ha)<br />
Agric. conservação<br />
(kg/ha)<br />
Alho 7.500 13.000<br />
Repolho 22.500 29.000<br />
Cebola<br />
23.000<br />
38 irrigações durante<br />
todo o ciclo<br />
15 sachas durante<br />
todo o ciclo<br />
32.500<br />
15 irrigações durante<br />
todo o ciclo<br />
3 sachas durante todo o<br />
ciclo<br />
Os dados mostram as vantagens da Agricultura <strong>de</strong> Conservação em menor necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
irrigações (maior armazenamento e conservação <strong>de</strong> água), menos mão-<strong>de</strong>-obra para<br />
sachas e, principalmente maior rendimento na Agricultura <strong>de</strong> Conservação (conseqüências<br />
<strong>de</strong> uma maior disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nutrientes, água e maior equilíbrio biológico no solo)<br />
quando comparado ao sistema tradicional, possibilitando o aumento da área das<br />
machambas.<br />
Exemplo claro <strong>de</strong>ssa realida<strong>de</strong>, é o Sr. Chadiwa que normalmente cultivava 0.5ha e,<br />
atualmente está cultivando mais que 3 hectares, vem utilizando rolo-faca tração animal com<br />
sucesso no manejo do capim e outras invasoras e, tem empregado temporariamente 3<br />
outros camponeses.
Experiência 3: Cobertura com leguminosa nativa<br />
Na machamba do produtor Sr. Fernando Meque, Estaquinha – Zona <strong>de</strong> Begaja, uma<br />
<strong>de</strong>terminada área on<strong>de</strong> estava com uma alta infestação <strong>de</strong> capim, foi manejado através do<br />
corte com catana e <strong>de</strong>ixado sobre a superfície sendo posteriormente semeado à lanço a<br />
Sesbania sp. nativa, que havia sido colhida em outras machambas da região. A sesbania<br />
teve boa germinação, rápido crescimento e, encontrava-se com uma altura em torno <strong>de</strong><br />
1,50-2,00m., em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> altas precipitações e o solo muito encharcado, ao invés <strong>de</strong> rolofaca<br />
foi manejada com catana. Mostrou um ótimo controle sobre o capim e, o arroz foi<br />
implantado diretamente sobre esses resíduos <strong>de</strong>ixados na superfície do solo. As plantas<br />
apresentavam muito boa nodulação tanto nas raízes quanto no caule (nódulos<br />
róseos/avermelhados – sinais <strong>de</strong> que as bactérias fixadoras do nitrogênio atmosférico estão<br />
em plena ativida<strong>de</strong>).<br />
Seguramente espera-se que o aproveitamento <strong>de</strong> espécies leguminosas nativas, como é a<br />
experiência do Sr. Meque, seja cada vez mais intensificado nos diferentes Distritos <strong>de</strong><br />
Sofala e, consequentemente todos os benefícios do uso <strong>de</strong>sse componente do sistema <strong>de</strong><br />
Agricultura <strong>de</strong> Conservação seja alcançado por um maior número <strong>de</strong> camponeses. Assim,<br />
estas parcelas validadas pelos camponeses servirão como base real, ou como “Unida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong>monstrativas” para outros grupos <strong>de</strong> produtores locais ou <strong>de</strong> outras regiões que ao<br />
visitarem, discutirem com o camponês ou seu grupo envolvido, serão mais sensibilizados e<br />
aptos a iniciarem o processo <strong>de</strong> adoção <strong>de</strong> inovações tecnológicas. O camponês, apesar <strong>de</strong><br />
problemas com excesso <strong>de</strong> chuvas dificultando o manejo da Sesbania, consegui<br />
transplantar uma parte do arroz e alcançou ótimos rendimentos. O sistema está em<br />
continuida<strong>de</strong> e, mais Sesbania sp. nativa já foi semeada e será oportunamente<br />
(setembro/outubro) manejada com rolo-faca para imediato transplante ou plantio direto <strong>de</strong><br />
arroz sobre estes restolhos.<br />
Experiência 4: Produção <strong>de</strong> hortícolas no Distrito do Dondo<br />
Leguminosa nativa (Sesbania spp.) que tem<br />
gran<strong>de</strong> potencial em rotacionar com arroz e<br />
outras culturas (Zona <strong>de</strong> Begaja – Distrito do<br />
Búzi)<br />
No vale do Mandruzi, as experiências do camponês Sr. Joaquim Mapinda, que vem<br />
praticando Agricultura <strong>de</strong> Conservação <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2001, são bastante relevantes. Ele tem<br />
utilizado mucuna e cortado o capim para cobrir o solo e, tem realizado várias experiências<br />
com diferentes culturas: milho, mapira, feijão nhemba, feijão vulgar, repolho transplantado e<br />
mais recentemente tomate. Os resultados obtidos são muito encorajadores e, conforme<br />
relata o camponês, tem aumentado a produção, diminuído o uso <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra e,<br />
aumentado a área da machamba. Conta-nos ainda que obteve alta produção <strong>de</strong> repolho<br />
sobre resíduos <strong>de</strong> mucuna (pós-colheita), o que lhe proporcionou elevados lucros. Este<br />
camponês está aumentando as áreas com cobertura <strong>de</strong> solo e implementando o sistema <strong>de</strong><br />
Agricultura <strong>de</strong> Conservação.<br />
71
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
O Sr. Sithole, também um camponês do vale do Mandruzi iniciou no sistema <strong>de</strong> Agricultura<br />
<strong>de</strong> Conservação em 2001 e, vem obtendo resultados muito satisfatórios. O camponês nos<br />
relatou que no inicio não acreditava muito neste sistema <strong>de</strong> plantar sobre o solo coberto com<br />
mulch (capim ou outra cobertura vegetal), mas os resultados obtidos com rendimentos <strong>de</strong><br />
cebola, feijão ver<strong>de</strong>, milho convenceram plenamente o camponês que vem aumentando a<br />
área <strong>de</strong> sua machamba com este sistema.<br />
• Um camponês <strong>de</strong> Chibuabuabua após cortar o capim e <strong>de</strong>positar sobre o solo,<br />
transplantou cebola (red creola) sobre esses resíduos; enquanto numa parcela ao lado<br />
efetuou o sistema convencional (queima dos restolhos, aração com enxadas) e,<br />
posteriormente também efetuou o transplante da cebola (red creola). Os rendimentos<br />
<strong>de</strong> bulbos <strong>de</strong> cebola obtidos foram <strong>de</strong> 3,5Kg/m 2 (35 ton./ha) na área <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong><br />
Conservação, rendimentos estes superiores em 20% ao obtidos na área convencional<br />
(solo preparado e sem cobertura).<br />
• Uma outra experiência <strong>de</strong> um camponês com cebola branca (Texas Grano), alcançou<br />
rendimentos <strong>de</strong> 3 kg/m 2 e bulbos e folhas. Com os efeitos favoráveis da cobertura do<br />
solo, o camponês reduziu drasticamente a irrigação e quase não houve problema com<br />
invasoras. Na área sem mulch, ele irrigou 2-3 vezes/semana e sachas a cada 2<br />
semanas.<br />
• O camponês Sr. João Alberto Torcida efetuou o plantio <strong>de</strong> cebola em diferentes<br />
situações <strong>de</strong> manejo para possível implantação/Teste/Validação do sistema com a<br />
cultura da cebola em canteiros:<br />
72<br />
• Cebola com uréia solo <strong>de</strong>scoberto / sem mulch,<br />
• Cebola com uréia com cobertura/capim;<br />
• Cebola sem uréia solo <strong>de</strong>scoberto / sem mulch,<br />
• Cebola sem uréia com cobertura/capim<br />
Foram avaliados os efeitos do capim e também da adubação nitrogenada, bem como a<br />
necessida<strong>de</strong> do número <strong>de</strong> regas e monda nas diferentes situações e, através da avaliação<br />
dos rendimentos da cebola comprovar a eficiência do uso da cobertura <strong>de</strong> solo no cultivo da<br />
cebola.<br />
Conforme o relato do camponês, os resultados obtidos no solo coberto com capim foi bem<br />
superior àqueles on<strong>de</strong> o solo estava <strong>de</strong>scoberto; e os rendimentos <strong>de</strong> cebola no tratamento<br />
com uréia foi quase semelhante àquele obtido com o solo coberto com capim. Foi ainda<br />
marcante a diminuição <strong>de</strong> regas e monda, nos tratamentos com capim em relação à área<br />
<strong>de</strong>scoberta, mostrando assim as inúmeras vantagens do solo coberto, on<strong>de</strong> praticamente se<br />
obteve alto rendimento <strong>de</strong> cebola mesmo sem a aplicação <strong>de</strong> nitrogênio (uréia).<br />
O produtor <strong>de</strong>monstrou um gran<strong>de</strong> convencimento quanto ao solo coberto com mulch<br />
(capim), mencionando que parte <strong>de</strong> sua machamba já se encontra coberta com capim on<strong>de</strong><br />
será oportunamente transplantado tomate.
Experiência 5: Produção <strong>de</strong> ananás no Distrito do Búzi<br />
Caso 1: Área do Sr. Pedro Chicaruge<br />
Numa área visitada do Sr. Pedro Chicaruge (Estaquinha), o campo apresentava-se com um<br />
plantio <strong>de</strong> ananás, em fase <strong>de</strong> maturação, em excelente qualida<strong>de</strong>, 1.5 a 3.0kg. cada fruto.<br />
A área possui um solo bastante arenoso que foi anteriormente preparado pelo sistema<br />
tradicional, preparo <strong>de</strong> solo com enxadas, estando o mesmo bastante <strong>de</strong>scoberto com riscos<br />
<strong>de</strong> erosão e perda <strong>de</strong> matéria orgânica e nutrientes. Foi avaliado, discutido com o grupo <strong>de</strong><br />
camponeses e técnicos presentes e, recomendado o uso <strong>de</strong> cobertura do solo com algumas<br />
das seguintes espécies: Arachis pintoi, Mucuna sp., Indigofera sp., Calopogonium<br />
mucunoi<strong>de</strong>s, para proteger e melhorar a qualida<strong>de</strong> do solo durante o cultivo do ananás.<br />
Foi verificado que os frutos <strong>de</strong> ananás recebem insolação direta quase constante,<br />
provocando queima parcial do fruto, sendo nestas condições recomendado, num cultivo<br />
posterior que a cada 2 linhas <strong>de</strong> ananás, sejam semeadas 1 fileira <strong>de</strong> feijão bóer, ou uma<br />
outra espécie que possa fornecer um sombreamento parcial ao ananás (Crotalaria juncea,<br />
Crotalaria paulina, Crotalaria grahamiana, ou ainda Crotalarias nativas da região e/ou<br />
Sesbania sp. Nativa. Além <strong>de</strong>ssas espécies, é possível optar pelo cultivo <strong>de</strong> milho ou mapira<br />
(1 fileira), plantados numa época em que coincida o seu pleno <strong>de</strong>senvolvimento com o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento e maturação dos frutos <strong>de</strong> ananás.<br />
Quanto ao manejo do ananás, foi ainda informado da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se melhorar a<br />
fertilida<strong>de</strong> da sementeira através do emprego da compostagem, restos <strong>de</strong> leguminosas<br />
nativas encontradas na área e outros resíduos orgânicos disponíveis na machamba, sendo<br />
então distribuídos na área da sementeira que <strong>de</strong>verá também ser finalmente protegida com<br />
capim. Caso os brotos sejam vigorosos e com bastante substancias <strong>de</strong> reserva po<strong>de</strong>rá ser<br />
subdividido em 2 ou 4 partes. Posteriormente po<strong>de</strong>rá se implantar os rebentos e os brotos<br />
do ananás no solo, cobrir parcialmente com capim e utilizar rega para facilitar o<br />
enraízamento do material vegetativo <strong>de</strong> propagação. Após enraízamento, na época<br />
oportuna, efetuar transplante <strong>de</strong>finitivo ao campo.<br />
Área Sr. Paulo Chicaruge mostrando ananás<br />
em solo coberto com capim –<br />
zona <strong>de</strong> Begaja Distrito do Búzi<br />
Ananás consorciado com feijão nhemba:<br />
excelente cobertura do solo, controle <strong>de</strong><br />
invasoras, e maior humida<strong>de</strong> disponível<br />
(Província <strong>de</strong> Sofala).<br />
O ananás cultivado tinha uma <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1 x 1m., sendo possível caso o solo tenha boa<br />
fertilida<strong>de</strong>, utilizar uma maior <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> (0,6 x 0,6m.) e, assim aumentar o rendimento <strong>de</strong><br />
frutos por área.<br />
O camponês efetuou plantio <strong>de</strong> feijão nhemba consorciado com ananás e obteve excelentes<br />
resultados com a produção <strong>de</strong> nhemba e, também com ananás, ainda em fase final <strong>de</strong><br />
colheita. Foi recomendado ao camponês que além <strong>de</strong> adicionar capim e o feijão nhemba<br />
entre as fileiras do ananaseiro, seja ainda intercalado covachos com murumbi (ruquesa)<br />
73
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
entre as plantas <strong>de</strong> feijão nhemba, <strong>de</strong> forma que tenhamos um consórcio<br />
leguminosa/gramínea e, consequentemente após a colheita do feijão nhemba e murumbi,<br />
mais resíduos permaneceram sobre o solo cobrindo, protegendo e melhorando as<br />
proprieda<strong>de</strong>s do solo.<br />
Este produtor é um exemplo <strong>de</strong> como é possível e viável a diversificação na proprieda<strong>de</strong>.<br />
No ano <strong>de</strong> 2005 o produtor relatou que, com ajuda <strong>de</strong> trabalhadores, cultiva atualmente um<br />
total <strong>de</strong> 7 hectares, incluindo arroz, milho, mapira, ananás, hortícolas, criação <strong>de</strong> gado<br />
bovino (14 cabeças), galinhas, patos, cabritos e porcos. Está implementando a Agricultura<br />
<strong>de</strong> Conservação com muito sucesso.<br />
Caso 2: Área do Sr. Albino João (Chicumbua)<br />
Observou-se um campo <strong>de</strong> ananás em fase <strong>de</strong> crescimento/ maturação <strong>de</strong> frutos<br />
consorciado com feijão nhemba em fase <strong>de</strong> enchimento <strong>de</strong> grãos/colheita em excelentes<br />
condições. A área se apresentava com baixa infestação <strong>de</strong> invasoras pois o nhemba cobria<br />
quase que totalmente o solo, num consorcio bem apropriado.<br />
Foram sugeridos algumas outras opções <strong>de</strong> consorcio com ananás:<br />
Crotalaria spectabilis, feijão bóer anão, amendoim forrageiro perene (Arachis pintoi), Njugo<br />
beans (feijão jugo), Indigofera sp., etc. No caso do feijão bóer comum (porte alto), para que<br />
o sombreamento excessivo não prejudique o <strong>de</strong>senvolvimento do ananás, é recomendado<br />
que seja plantado 1 linha (10-15 plantas por metro linear) a cada 3 linhas <strong>de</strong> ananás.<br />
Além <strong>de</strong>ssas espécies, se faz necessário a introdução <strong>de</strong> alguma gramínea como por ex. a<br />
ruquesa ou (Eleusine coracana) que po<strong>de</strong> produzir elevada quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> biomassa,<br />
apenas o sistema radicular po<strong>de</strong> produzir ao redor <strong>de</strong> 6 ton./ha, que auxilia na diminuição <strong>de</strong><br />
algumas doenças do solo (Fusarium sp.) e também alguns nematói<strong>de</strong>s. Uma outra espécie,<br />
a Eragrostis teff (sin. Eragrostis abyssinica), que é uma gramínea muito resistente à seca<br />
prolongada, além <strong>de</strong> cobrir bem o solo é uma alternativa <strong>de</strong> alimentação humana muito<br />
comum na Eritrea e Etiópia (mais <strong>de</strong> 2,5 milhões <strong>de</strong> hectares). Outra espécie que po<strong>de</strong>ria<br />
ser testada é a Setaria itálica, gramínea anual <strong>de</strong> crescimento rápido, que contribui também<br />
para melhoria das proprieda<strong>de</strong>s do solo.<br />
Experiência 6: Distrito <strong>de</strong> Gorongosa<br />
Neste Distrito, com apoio da GTZ (Cooperação Alemã) e DDA, há quase uma década se<br />
iniciou o uso <strong>de</strong> alguns componentes do sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação.<br />
Entretanto, o novo enfoque <strong>de</strong> se colocar juntos os diferentes componentes na Agricultura<br />
<strong>de</strong> Conservação se iniciou há 4 anos pelo PRO<strong>DE</strong>R – GTZ e DDA <strong>de</strong> Gorongosa.<br />
Algumas UTVs (Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> teste e validação) no sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
foram implantadas em representativas machambas das diferentes Zonas do Distrito. Foram<br />
discutidos com técnicos e camponeses e implementados o uso <strong>de</strong> diferentes plantas <strong>de</strong><br />
cobertura, rotação <strong>de</strong> culturas, e plantio direto das culturas (covachos, matraca, máquina<br />
plantio direto tração animal), conforme as condições <strong>de</strong> solo, e interesses dos camponeses<br />
(Tabela 10).<br />
74
Tabela 10: Rendimento <strong>de</strong> grãos (t/ha) em Agricultura <strong>de</strong> Conservação em diferentes<br />
áreas <strong>de</strong> Gorongosa<br />
Culturas<br />
1o. ano<br />
(2002-03)<br />
2o. ano<br />
(2003-04)<br />
Milho + mucuna 2.6 ton. 3.1 ton.<br />
Milho + nhemba 1.9 ton. 3.0 ton.<br />
Milho + feijão bóer 1.8 ton. 2.9 ton.<br />
Milho + feijão vulgar 1.7 ton. 3.1 ton.<br />
Mapira + mucuna 0.9 ton. 2.3 ton.<br />
Mapira + nhemba – 1.5 ton.<br />
* Milho + feijão soroco – 4.5 ton.<br />
Mapira + amendoim<br />
Fonte: DDA, Gorongosa<br />
– 2.3 ton.<br />
Estes dados foram coletados durante 2 anos nas machambas dos camponeses em<br />
diferentes localida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Gorongosa (em solos arenosos, argilosos e franco), em UTVs com<br />
uma área <strong>de</strong> no mínimo 1000m 2 .<br />
Na quase totalida<strong>de</strong> das áreas não foi aplicado nenhum fertilizante, e foi também<br />
rotacionado os cultivos havendo uma tendência <strong>de</strong> aumento <strong>de</strong> rendimentos a cada ano no<br />
sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação.<br />
Em geral o milho apresentou um aumento <strong>de</strong> rendimento <strong>de</strong> 55%, enquanto a mapira com<br />
apenas uma área do mesmo cultivo no ano anterior, teve um aumento <strong>de</strong> rendimento <strong>de</strong> 1.4<br />
ton./ha.<br />
Na parcela on<strong>de</strong> se utilizou fertilizante químico foi aplicado: 100 kg/ha (N-P-K) (12-24-12) +<br />
uréia (100 kg/ha), e o milho + feijão soroco alcançou 4.5ton./ha. Os dados mostram que com<br />
o uso <strong>de</strong> fertilizantes, nesta situação, foi possível rapidamente atingir altos rendimentos,<br />
embora neste caso, o aumento alcançado foi praticamente para cobrir os custos com<br />
fertilizantes. Certamente <strong>de</strong>ve ter ficado algum resíduo <strong>de</strong> fertilizante para a próxima<br />
campanha, embora seja fundamental a avaliação econômica e sustentável para todas as<br />
tecnologias implementadas no processo.<br />
Área do grupo <strong>de</strong> camponeses – Localida<strong>de</strong> Madibe<br />
A Coor<strong>de</strong>nadora do grupo é a Sra. Fariana Gemusse, que juntamente com os outros<br />
membros do grupo, assessorados pelos técnicos montaram uma UTV <strong>de</strong> 1000m 2 no ano <strong>de</strong><br />
2001, numa machamba abandonada, pois o solo se encontrava totalmente <strong>de</strong>gradado pelo<br />
contínuo preparo do solo, queima dos restolhos, e on<strong>de</strong> praticamente não havia mais<br />
nenhuma produção.<br />
• Após a avaliação (diagnóstico breve das condições do terreno), foram recomendadas as<br />
seqüências <strong>de</strong> culturas a seguir:<br />
• (1o. ano) iniciou-se com milho + nhemba;<br />
• (2º. Ano) milho + feijão bóer + mucuna;<br />
• (3º. Ano) mapira + feijão bóer + mucuna.<br />
75
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
76<br />
Área com solo recuperado e produtivo<br />
novamente, mostrando rebrote do feijão bóer<br />
(Madibe – Gorongosa)<br />
Para se iniciar o i<strong>de</strong>al seria com feijão bóer pela sua rusticida<strong>de</strong>, entretanto por interesse da<br />
camponesa no feijão nhemba, foi iniciado com esta leguminosa + milho.<br />
Esta área é um solo franco arenoso, que durante quase 4 anos, o solo não foi mais arado e<br />
nem efetuado queima, e sempre recebendo culturas consorciadas (renda, subsistência e<br />
recuperadora <strong>de</strong> solos), adicionando resíduos na superfície, reciclando nutrientes e, embora<br />
não se tenha aplicado nenhum fertilizante, agora o solo já se encontra totalmente<br />
recuperado e, com alta capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção.<br />
Atualmente o campo se encontra com os resíduos da colheita <strong>de</strong> mapira, e restolhos <strong>de</strong><br />
mucuna e feijão bóer. Em poucos dias ocorrerá nova semeadura com a seguinte distribuição<br />
das plantas:<br />
80 cm 80 cm 80 cm<br />
FB NH M NH M NH FB<br />
FB NH M NH M NH FB<br />
FB NH M NH M NH FB<br />
FB NH M NH M NH FB<br />
FB= feijão bóer, NH= feijão nhemba, M= milho<br />
O feijão bóer será semeado simultâneo ao milho, enquanto o feijão nhemba, <strong>de</strong>verá ser<br />
semeado quando o milho estiver com 6-8 pares <strong>de</strong> folhas (aos 30-40 dias <strong>de</strong>pois).<br />
O feijão bóer (FB) terá um compasso <strong>de</strong> 2.4m. entre as fileiras, com 0.40m entre covachos<br />
(2-3 sementes cada); enquanto as <strong>de</strong>mais fileiras internas <strong>de</strong> milho (M) serão distanciadas<br />
em 0.80m. uma da outra, com 5 plantas por metro; enquanto feijão nhemba terá um<br />
compasso <strong>de</strong> 0.40m distanciado da linha <strong>de</strong> feijão bóer e 0.40m da linha <strong>de</strong> milho, com<br />
0.40m entre covachos (2-3 sementes cada).<br />
Quando o feijão nhemba estiver amarelecendo ao lado <strong>de</strong>stas se entra com mucuna<br />
intercalar, ou seja as fileiras <strong>de</strong> mucuna irão substituir as <strong>de</strong> nhemba e após a colheita <strong>de</strong><br />
nhemba e milho, a mucuna continuará cobrindo e protegendo o solo, diminuindo as<br />
invasoras e melhorando as proprieda<strong>de</strong>s do solo. No próximo ano em outubro/novembro, as<br />
sementes da mucuna po<strong>de</strong>rão ser colhidas e novamente mapira ou milho em combinações<br />
po<strong>de</strong>rá ser semeado.<br />
Foi relatado que a mucuna no ano <strong>de</strong> 2004, produziu em torno <strong>de</strong> 200kg. e 50kgs. <strong>de</strong> feijão<br />
bóer numa área <strong>de</strong> 1000 m 2 .
Dessa forma se recuperou esta área, po<strong>de</strong>ndo a mesma já estar sendo cultivada com bons<br />
rendimentos, <strong>de</strong>vendo-se sempre proce<strong>de</strong>r a rotação com culturas melhoradora <strong>de</strong> solos e a<br />
adição constante <strong>de</strong> material orgânico ao solo. Obviamente, com boas colheitas, po<strong>de</strong>rá ser<br />
disponibilizado alguns recursos para aquisição <strong>de</strong> fertilizantes e, consequentemente a<br />
reposição dos nutrientes ao solo irá ainda aumentar mais os rendimentos das culturas,<br />
promovendo a SUSTENTABILIDA<strong>DE</strong>: técnica, social, ecológica e econômica.<br />
Esta parcela já saiu da fase <strong>de</strong> UTV e agora está na fase <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Demonstração:<br />
<strong>de</strong>vendo entrar numa fase <strong>de</strong> difusão massal, ou massificação do sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong><br />
Conservação para essas condições. Assim, as informações aqui geradas <strong>de</strong>verão ser<br />
repassadas aos <strong>de</strong>mais camponeses do Distrito. Assim, para estas condições <strong>de</strong> clima e<br />
solo <strong>de</strong>gradado, este sistema <strong>de</strong>ve entrar no processo <strong>de</strong> difusão e adoção por parte dos<br />
camponeses <strong>de</strong> outras localida<strong>de</strong>s.<br />
Experiência 7: Distrito <strong>de</strong> Caia<br />
As experiências com Agricultura <strong>de</strong> Conservação no Distrito estão com menos <strong>de</strong> 2 anos,<br />
entretanto já foi alcançado resultados bastante promissores.<br />
Numa área em Caia Se<strong>de</strong>, próximo a um braço do Rio Zambezi, num solo areno-argiloso<br />
altamente infestado com tiririca o milho foi semeado diretamente no solo sem preparo e,<br />
consorciado com mucuna. O rendimento <strong>de</strong> milho atingiu 3,77t/ha <strong>de</strong> grãos, além da<br />
mucuna proporcionar um controle quase que total da tiririca.<br />
Foi recomendado na rotação, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se entrar com feijão lablab imediatamente,<br />
haja visto a gran<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> que esta espécie possui em tolerar a seca prolongada.<br />
Assim, após a colheita dos grãos, po<strong>de</strong>ria se entrar em outubro/novembro com milho + feijão<br />
nhemba.<br />
Diversas parcelas e experiências <strong>de</strong> camponeses com hortícolas: tomate, repolho, couves,<br />
pepino, etc. em Agricultura <strong>de</strong> Conservação vem sendo conduzidas em diferentes partes do<br />
Distrito e, certamente a curto prazo são esperados resultados favoráveis com o sistema e<br />
uma adoção rápida por parte dos camponeses.<br />
Na Zona <strong>de</strong> Chipen<strong>de</strong>, o produtor Sr. Zacarias, foi beneficiado por crédito através do<br />
Consórcio Italiano (Cooperação Italiana da Província <strong>de</strong> Trento) para compra <strong>de</strong> uma junta<br />
<strong>de</strong> bois. Na campanha <strong>de</strong> 2004-05 ele semeou 3 hectares <strong>de</strong> milho utilizando a semeadora<br />
<strong>de</strong> plantio direto Fitarelli tração animal e, conseguiu uma produção média <strong>de</strong> 1,7 ton/ha <strong>de</strong><br />
grãos <strong>de</strong> milho. O produtor <strong>de</strong>monstrou estar muito contente com a Agricultura <strong>de</strong><br />
Conservação e preten<strong>de</strong> semear 6 hectares nesta nova campanha. Os vizinhos também<br />
estão acompanhando atentamente os resultados e prometem também testar este sistema<br />
em suas machambas.<br />
Experiência 8: Distrito <strong>de</strong> Cheringoma<br />
As experiências com Agricultura <strong>de</strong> Conservação no Distrito começaram em 2003,<br />
alcançando resultados muito favoráveis com hortícolas: cebola, tomate, couves, repolho,<br />
etc.<br />
Também experiências com mapira, milho, consorciados com feijão bóer, nhemba e mucuna<br />
vem sendo testadas e validadas por vários camponeses em diferentes localida<strong>de</strong>s.<br />
77
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
Um camponês da localida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mazamba na campanha 2004-2005 semeou em Agricultura<br />
<strong>de</strong> Conservação (plantio direto sem preparo do solo, nem queima dos restolhos) um total <strong>de</strong><br />
4,5 hectares <strong>de</strong> milho consorciado com feijão vulgar. Os resultados, apesar da seca foram<br />
muito favoráveis e o agricultor <strong>de</strong>verá continuar ainda mais com o sistema, buscando<br />
<strong>de</strong>senvolver rotações a<strong>de</strong>quadas <strong>de</strong> cultura. Neste distrito já existem resultados promissores<br />
alcançados com mapira, milho consorciados com feijão bóer, mucuna, nhemba e, portanto<br />
pelos resultados favoráveis qe vem sendo alcançados é <strong>de</strong> se esperar que cada vez mais o<br />
sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação ten<strong>de</strong> a se expandir a outros camponeses.<br />
Experiência 9: Outros Distritos<br />
Os <strong>de</strong>mais Distritos da Província <strong>de</strong> Sofala, tais como: Maringue, Chemba, Marromeu,<br />
Muanza, Nhamatanda, Chibababava e Machanga iniciaram há 2 anos, com algumas UTVs<br />
em Agricultura <strong>de</strong> Conservação. Já foram alcançados resultados encorajadores junto aos<br />
diferentes campos, o que certamente irá influenciar positivamente os camponeses a<br />
continuarem com a Agricultura <strong>de</strong> Conservação, num constante processo <strong>de</strong> testar/validar<br />
diferentes consórcios incluindo plantas <strong>de</strong> cobertura (leguminosas e outras) e rotação com<br />
culturas <strong>de</strong> subsistência e mercado (milho, mapira, feijões, amendoim, gergelim, algodão,<br />
etc.). Em pouco tempo, é esperado, nestes Distritos, uma maior implementação e avanço<br />
<strong>de</strong>sta nova tecnologia e, consequentemente um maior número <strong>de</strong> camponeses a adotarem<br />
este sistema <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento agrícola sustentável que é a Agricultura <strong>de</strong> Conservação.<br />
7.2 Resultados obtidos em diferentes países<br />
Inúmeros resultados favoráveis com o emprego da rotação <strong>de</strong> culturas têm sido relatados<br />
em diferentes regiões do mundo.<br />
No Zimbabwe, os rendimentos <strong>de</strong> milho após amendoim foram <strong>de</strong> 6.2 e 7.6t/ha <strong>de</strong> grãos,<br />
conforme as varieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> amendoim, por outro lado sobre pousio os rendimentos foram <strong>de</strong><br />
apenas 4.3t/ha <strong>de</strong> milho (Mukurumbira, 1985).<br />
No Norte da Nigéria, os rendimentos <strong>de</strong> milho foram superiores quando semeados<br />
posteriormente a amendoim, em relação a milho semeado após feijão nhemba, algodão e<br />
mapira. O aumento <strong>de</strong> rendimento está diretamente relacionado com a maior disponibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> nitrogênio no solo após amendoim (Jones, 1974).<br />
As áreas ocupadas por amendoim e soja estão aumentando rapidamente no Norte da<br />
Tailândia. Estas espécies são cultivadas em rotação com arroz, milho e mandioca. A<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> incluir outras leguminosas no sistema <strong>de</strong> rotação, principalmente plantas <strong>de</strong><br />
cobertura é viável para oferecer outras opções <strong>de</strong> seqüência <strong>de</strong> culturas. Resultados nas<br />
terras altas (elevada altitu<strong>de</strong>) <strong>de</strong>sta região, em experimentos com amendoim seguido <strong>de</strong><br />
milho alcançaram um aumento <strong>de</strong> 65% no rendimento <strong>de</strong> milho. Apesar disso, conforme os<br />
autores caso o plantio do milho fosse um pouco mais atrasado, seria suficiente para uma<br />
maior <strong>de</strong>composição dos restolhos do amendoim, seguramente os rendimentos <strong>de</strong> milho<br />
seriam ainda maiores (Toomsan et al. 1993).<br />
Ainda na Tailândia, trabalhos incluindo leguminosas na seqüência apresentaram aumentos<br />
substanciais <strong>de</strong> rendimentos do arroz. Os efeitos <strong>de</strong> feijão nhemba (Vigna unguiculata L.)<br />
antes <strong>de</strong> arroz contribuíram para um aumento <strong>de</strong> 100% no rendimento do arroz (2.2t/ha),<br />
quando comparado com pousio. Eles concluíram que na região Norte (terras altas) <strong>de</strong><br />
Tailândia a limpeza e queima <strong>de</strong> novas áreas levaram a uma diminuição da matéria orgânica<br />
do solo, que po<strong>de</strong>rá ser restaurada com um a<strong>de</strong>quado manejo que inclua a rotação <strong>de</strong><br />
78
culturas com leguminosas, retorno dos restolhos pós-colheita, e manutenção do solo coberto<br />
com mulch na superfície.<br />
Segundo dados do Banco Mundial, o avanço das áreas com plantio direto no Brasil<br />
(Agricultura <strong>de</strong> Conservação), não são por acaso, mas sim frutos da <strong>de</strong>dicação e<br />
persistência por parte dos agricultores e auxilio dos técnicos da pesquisa, extensão rural,<br />
cooperativas e Universida<strong>de</strong>s que juntos se aplicaram nos últimos 33 anos e o Brasil chega<br />
atualmente (Setembro 2005) a ocupar uma área aproximada <strong>de</strong> 22-23 milhões <strong>de</strong> hectares<br />
com este sistema. As diferenças favoráveis ao sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
quando comparado ao sistema convencional (preparo do solo) po<strong>de</strong>m ser observados por<br />
estes dados compilados no Sul do Brasil (Tabela 11).<br />
Tabela 11: Benefícios directos na comparação entre Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
(plantio directo) e sistema convencional (solo preparado)<br />
Sistema <strong>de</strong><br />
manejo do solo e<br />
cultura<br />
Agricultura<br />
convencional<br />
Rendimentos<br />
(kg/ha)<br />
Agricultura <strong>de</strong><br />
Conservação<br />
Aumento do<br />
rendimento<br />
(%) Trabalho<br />
Diminuição em horas/ha/ano<br />
(%)<br />
Uso <strong>de</strong><br />
equipamentos<br />
Consumo <strong>de</strong><br />
combustível<br />
Mecanizado<br />
Soja 2440 3100 27 - 10 - 27 - 27<br />
Milho 4500 5850 30 - 51 - 19 - 19<br />
Tracção animal<br />
Milho 4000 4800 20 - 55 - 66 -<br />
Soja 1460 2000 37 - 59 - 46 -<br />
Fonte: World Bank, 1998a, 1998b<br />
Percebe-se claramente pelos dados que a Agricultura <strong>de</strong> Conservação além <strong>de</strong> proteger o<br />
solo, aumentar os rendimentos das culturas, ainda diminui a mão-<strong>de</strong>-obra, necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
uso <strong>de</strong> equipamentos e menor consumo <strong>de</strong> energia (combustível), <strong>de</strong>monstrando o potencial<br />
<strong>de</strong> ser uma agricultura sustentável.<br />
Numa amostragem efetuada com 477 agricultores do estado do Paraná, Brasil, Bragagnolo<br />
et al. (1997) verificou que a renda liquida média <strong>de</strong> todos estes agricultores que estão<br />
adotando o sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação há alguns anos, aumentou em 59%.<br />
Este aumento da rentabilida<strong>de</strong> é refletido por vários indicadores, tais como: compras <strong>de</strong><br />
bens <strong>de</strong> uso para a casa, um aumento <strong>de</strong> 8% com gastos em produtos elétricos/eletrônicos,<br />
10% mais em investimentos em equipamentos para uso na agricultura e, também no<br />
aumento do número <strong>de</strong> bovinos e aves. Portanto, além <strong>de</strong> melhorar as condições ambientais<br />
com a adoção <strong>de</strong>ste sistema, também a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>stes agricultores teve uma<br />
melhoria substancial.<br />
No Distrito <strong>de</strong> Obligado- Departamento <strong>de</strong> Itapúa, Paraguai, numa área <strong>de</strong> solos argilosos,<br />
Harter (1998) selecionou várias parcelas <strong>de</strong> agricultores com distintos anos <strong>de</strong> plantio direto<br />
e, obteve resultados diferenciados conforme os níveis <strong>de</strong> matéria orgânica, e <strong>de</strong> acordo aos<br />
sistemas <strong>de</strong> produção e anos <strong>de</strong> cultivo. Foram selecionadas as seguintes áreas:<br />
proprieda<strong>de</strong>s com sistema convencional (solo preparado anualmente com aração e<br />
gradagens – tratorizado);<br />
proprieda<strong>de</strong>s com 4 anos <strong>de</strong> plantio direto (não preparo do solo e plantio sobre mulch);<br />
79
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
2 proprieda<strong>de</strong>s com 7 anos <strong>de</strong> plantio direto (não preparo do solo e plantio sobre mulch);<br />
2 proprieda<strong>de</strong>s com 10 anos <strong>de</strong> plantio direto (não preparo do solo e plantio sobre<br />
mulch);<br />
Os aumentos dos níveis <strong>de</strong> matéria orgânica do solo estão diretamente relacionados com os<br />
anos <strong>de</strong> plantio direto e rotação, comparado com a área convencional (solo preparado a<br />
cada ano). Assim, a adição anual <strong>de</strong> resíduos sobre a superfície do solo e o não preparo do<br />
solo promoveu uma melhoria no sistema repercutindo num acumulo <strong>de</strong> crescente <strong>de</strong> matéria<br />
orgânica e condições ambientais favoráveis ao <strong>de</strong>senvolvimento das culturas (Tabela xx).<br />
Tabela 12: Rendimento médio <strong>de</strong> soja (kg/ha) e % <strong>de</strong> matéria orgânica<br />
em plantio directo e convencional<br />
Distrito <strong>de</strong> Obligado, Itapúa, Paraguai (1998)<br />
80<br />
SISTEMA<br />
Produção <strong>de</strong> soja<br />
(kg/ha)<br />
Rendimento<br />
(%)<br />
Matéria orgânica<br />
(%) (0-20 cm)<br />
Preparo convencional<br />
(média <strong>de</strong> 10 anos)<br />
2.050 100,00 2,52<br />
Plantio directo (4 anos) 2.956 144,19 2,71<br />
Plantio directo (7 anos) 3.199 156,05 2,92<br />
Plantio directo (10 anos) 3.188 155,51 3,12<br />
Os resultados alcançados pelos produtores <strong>de</strong> Obligado mostram bem que com o <strong>de</strong>correr<br />
dos anos, o sistema <strong>de</strong> plantio direto além <strong>de</strong> promover uma melhoria no sistema com<br />
aumento dos teores <strong>de</strong> matéria orgânica do solo, ocorreu também um aumento na média<br />
dos rendimentos <strong>de</strong> soja, levando a uma maior rentabilida<strong>de</strong> econômica quando comparada<br />
ao convencional.<br />
O convencional, provoca maiores perdas <strong>de</strong> solos por erosão, diminuição dos níveis <strong>de</strong><br />
matéria orgânica e nutrientes levando a uma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong> fertilizantes<br />
químicos e/ou orgânicos ao longo dos anos. Além <strong>de</strong> uma maior infestação com invasoras e<br />
maior uso <strong>de</strong> herbicidas, e assim um aumento substancial nos custos <strong>de</strong> produção. Quando<br />
comparado aos sistemas <strong>de</strong> plantio direto (4, 7 e 10 anos), os resultados obtidos pelos<br />
produtores mostram que o plantio direto, em termo <strong>de</strong> rendimentos médios <strong>de</strong> soja, foi<br />
superior em 44, 56 e 55% em relação ao sistema convencional (aração e gradagens).<br />
Também nas savanas brasileiras (Região dos Cerrados), on<strong>de</strong> predominam solos <strong>de</strong> textura<br />
franca ou arenosa em algumas regiões e, também com estação <strong>de</strong> chuvas <strong>de</strong>finidas e<br />
menor precipitação que no Sul do Brasil, o sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação tem<br />
<strong>de</strong>monstrado que a renda liquida da proprieda<strong>de</strong> po<strong>de</strong> duplicar em poucos anos (Séguy et<br />
al., 2001).<br />
Estimativas mostram que o Brasil possui uma área superior a 22 milhões <strong>de</strong> hectares<br />
ocupado pelo sistema <strong>de</strong> plantio directo (Agricultura <strong>de</strong> Conservação), enquanto que a nível<br />
Mundial a área ocupada por este sistema é superior a 80 milhões <strong>de</strong> hectares ( III CA<br />
World Congress, 2005). Isto <strong>de</strong>monstra claramente a importância e vantagens <strong>de</strong>ste<br />
sistema, bem como o crescente interesse dos mais diferentes países <strong>de</strong> diversas regiões do<br />
mundo, que tem encontrado na Agricultura <strong>de</strong> Conservação um meio viável <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver<br />
uma agricultura sustentável.
8 COMO ASSEGURAR O AVANÇO E ESTABELECIMENTO<br />
DO SISTEMA <strong>DE</strong> <strong>AGRICULTURA</strong> <strong>DE</strong> <strong>CONSERVAÇÃO</strong><br />
As vantagens do sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação nos mais diversos países, mostram<br />
a viabilida<strong>de</strong> técnica, econômica e social <strong>de</strong>ste sistema quando a<strong>de</strong>quadamente inserido<br />
nos diferentes sistemas <strong>de</strong> produção regionais.<br />
Para que haja uma constante sensibilização principalmente por parte dos camponeses e<br />
técnicos, é necessário <strong>de</strong>senvolver estratégias técnicas e operacionais no sentido <strong>de</strong> atingir<br />
e sensibilizar um maior numero <strong>de</strong> camponeses possível, e buscar meios efetivos <strong>de</strong> se<br />
reproduzir as experiências já validadas em algumas regiões para outras regiões vizinhas.<br />
Para tal, são sugeridas algumas alternativas:<br />
Promover troca <strong>de</strong> experiências entre camponeses locais ou <strong>de</strong> diferentes regiões/Distritos<br />
(ex. camponês/camponês, dias <strong>de</strong> campo, viagens <strong>de</strong> estudo treino/visita, machamba<br />
escola, grupo <strong>de</strong> camponeses, cursos <strong>de</strong> treinamento práctico (manejo <strong>de</strong> coberturas, ajuste<br />
<strong>de</strong> máquinas, equipamentos, etc.)<br />
Através do envolvimento dos grupos <strong>de</strong> camponeses na condução dos trabalhos à campo:<br />
Instalação; acompanhamento, avaliação e validação das UTVs (Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Teste e<br />
Validação) <strong>de</strong> algumas tecnologias preconizadas para aquela <strong>de</strong>terminada região e sistema<br />
<strong>de</strong> produção. Assim, após um período <strong>de</strong> estudos e comprovação das tecnologias ou do<br />
sistema testado e, após alguns resultados já validados em machambas representativas;<br />
esforços <strong>de</strong>verão ser empregados no sentido <strong>de</strong> buscar estratégias <strong>de</strong> disseminação <strong>de</strong>ssas<br />
inovações tecnológicas, <strong>de</strong> forma que outros grupos <strong>de</strong> camponeses possam ter acesso e<br />
conhecê-las, assim como levar às suas machambas e implementá-las em pequenas áreas<br />
para uma comprovação local, e posteriormente já num processo <strong>de</strong> adoção incrementar<br />
em áreas maiores das machambas.<br />
Deverão ser buscadas estratégias para <strong>de</strong>senvolver uma melhor difusão do sistema <strong>de</strong><br />
Agricultura <strong>de</strong> Conservação, planificando dias-<strong>de</strong>-campo, visitas camponês/camponês,<br />
documentários, jornais, folhetos, manuais, rádio, procurando envolver os diferentes atores<br />
na divulgação das vantagens e benefícios <strong>de</strong>ste Sistema.<br />
Na seleção <strong>de</strong> novas espécies <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura, o potencial <strong>de</strong> uso na alimentação<br />
humana, também <strong>de</strong>verá ser consi<strong>de</strong>rado, haja visto que plantas com múltiplos usos<br />
oferecem melhores chances <strong>de</strong> serem validados e preferidas pelos camponeses. Assim,<br />
espécies potenciais <strong>de</strong>verão ser testadas no sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação: lablab,<br />
feijão arroz, ruquesa, feijão bóer anão (verão), e lentilha, ervilhas, chicharo, tremoço, canola<br />
(inverno/regiões <strong>de</strong> elevada altitu<strong>de</strong>), etc. os quais irão facilitar a adoção por parte dos<br />
camponeses; além <strong>de</strong> se buscar a inclusão <strong>de</strong> espécies oleaginosas nas rotações, tais<br />
como: girassol, nabo forrageiro, ricinus (mfuta), etc.(potencial <strong>de</strong> uso na produção <strong>de</strong><br />
biodiesel).<br />
Para que seja dado um salto em termos <strong>de</strong> aumento <strong>de</strong> áreas com o cultivo <strong>de</strong> grãos em<br />
Agricultura <strong>de</strong> Conservação: milho, mapira, feijões, mexoeira, amendoim, etc., faz-se<br />
necessário a viabilização dalgumas máquinas <strong>de</strong> plantio direto: plantio direto tração animal<br />
<strong>de</strong> 2 linhas e, também tractorizadas sejam disponibilizadas aos camponeses;<br />
Maior disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> matracas e rolo-faca para que mais camponeses possam ter<br />
acesso à estas ferramentas da Agricultura <strong>de</strong> Conservação;<br />
81
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
Viabilização <strong>de</strong> animais <strong>de</strong> tração, como no caso <strong>de</strong> Gorongosa, para que possam ser<br />
treinados e disponibilizados aos pequenos camponeses;<br />
A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso por parte dos camponeses irá certamente contribuir para que um<br />
maior numero <strong>de</strong> camponeses possam conhecer o sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação,<br />
po<strong>de</strong>ndo abranger uma maior área no processo <strong>de</strong> teste/validação e, consequentemente<br />
maior difusão e adoção do sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação.<br />
Pela dinâmida<strong>de</strong> que apresenta o sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação, cursos e<br />
treinamento/capacitação contínua <strong>de</strong>verão sempre ser contemplados, tanto para técnicos<br />
como para camponeses, versados principalmente em ativida<strong>de</strong>s e experiências <strong>de</strong> campo.<br />
Os resultados obtidos ao longo dos anos com o sistema <strong>de</strong> plantio direto pelos produtores<br />
brasileiros e outros países tropicais, tem mostrado:<br />
aumento nos teores <strong>de</strong> carbono orgânico do solo<br />
maior armazenamento e diminuição <strong>de</strong> perdas <strong>de</strong> água no solo<br />
manutenção e melhoria da fertilida<strong>de</strong> do solo (proprieda<strong>de</strong>s químicas, físicas e<br />
biológicas)<br />
redução dos custos <strong>de</strong> produção: menos trabalho, menor infestação <strong>de</strong> invasoras,<br />
diminuição da ocorrência <strong>de</strong> pragas e doenças<br />
maior estabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção das culturas<br />
aumento no rendimento das culturas<br />
aumento na renda líquida da família através da redução da mão-<strong>de</strong>-obra, e diminuição<br />
da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> energia.<br />
Por outro lado, os principais sistemas <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> Moçambique <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m<br />
sobremaneira da tração humana, principalmente o uso <strong>de</strong> enxadas, no qual o preparo do<br />
solo e a sacha/monda consistem nos maiores <strong>de</strong>safios e penosida<strong>de</strong> do trabalho,<br />
principalmente para as mulheres que normalmente contribuem com a maior mão-<strong>de</strong>-obra<br />
nas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> campo. Dessa forma, qualquer tecnologia ou sistema que permita uma<br />
redução na mão-<strong>de</strong>-obra ou diminuição da penosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho tem gran<strong>de</strong> chance <strong>de</strong><br />
ter sucesso no meio rural. A Agricultura <strong>de</strong> Conservação já esta validada em vários Distritos<br />
por vários camponeses que estão obtendo resultados muito favoráveis e encorajadores a<br />
continuar aumentar e difundir este Sustentável Sistema <strong>de</strong> Produção Agropecuária para<br />
outros camponeses <strong>de</strong> toda a Província <strong>de</strong> Sofala.<br />
É necessário que o processo <strong>de</strong> validação continue avançando a outros camponeses em<br />
diferentes regiões, on<strong>de</strong> ainda não foram validados os componentes do sistema e, ao<br />
mesmo tempo se fazem necessário <strong>de</strong>senvolver estratégias eficientes <strong>de</strong> sensibilização e<br />
difusão <strong>de</strong>ste processo a todos os <strong>de</strong>mais camponeses da Província <strong>de</strong> Sofala.<br />
82
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85
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
ANEXOS<br />
Anexo 1: Manejo ambiental a<strong>de</strong>quado evitando as queimadas.............................................87<br />
Anexo 2: Plantas <strong>de</strong> cobertura comuns na Província <strong>de</strong> Sofala ............................................89<br />
Anexo 3: Produção <strong>de</strong> massa vegetal <strong>de</strong> diferentes espécies <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura<br />
e % <strong>de</strong> nutrientes na matéria seca..........................................................................92<br />
Anexo 4: Características, comportamento e recomendações para o uso <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong><br />
cobertura <strong>de</strong> primavera/verão .................................................................................93<br />
Anexo 5: O sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação no Brasil.............................................103<br />
Anexo 6: Características <strong>de</strong> diferentes espécies <strong>de</strong> plantas melhoradas <strong>de</strong> solos .............105<br />
86
Anexo 1: Manejo ambiental a<strong>de</strong>quado evitando as queimadas<br />
Inúmeros são os fatores que po<strong>de</strong>m provocar as queimadas: restos <strong>de</strong> cigarros,<br />
agricultura itinerante, caça, apicultura, <strong>de</strong>scuido <strong>de</strong> muitas pessoas, pratica cultural <strong>de</strong><br />
queimar resíduos pós-colheita, inexistência <strong>de</strong> aceiros ou barreiras <strong>de</strong> controle do fogo,<br />
etc. Além disso, outros aspectos <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>rados quanto ao processo contínuo<br />
<strong>de</strong> sensibilização das comunida<strong>de</strong>s: medidas <strong>de</strong> sensibilização acompanhadas <strong>de</strong><br />
medidas administrativas, divulgação <strong>de</strong> pacote legal (Lei da terra, Lei das Florestas),<br />
promoção <strong>de</strong> tecnologias simples e <strong>de</strong> baixo custo <strong>de</strong> implantação, incrementar meios<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver uma agricultura não extrativista e esgotante dos recursos naturais mas<br />
sim <strong>de</strong> preservação e aumento da capacida<strong>de</strong> produtiva dos recursos, viabilizando a<br />
exploração racional dos recursos naturais.<br />
Diversos aspectos relevantes quanto ao combate/controle das queimadas e,<br />
simultaneamente métodos e/ou práticas agrícolas po<strong>de</strong>m contribuir para uma maior<br />
diversificação e proteção da água, da floresta e do solo agrícola, ou seja, métodos e<br />
procedimentos que permitam uma exploração racional e sustentável do meio com um<br />
mínimo <strong>de</strong> interferência no equilíbrio ambiental, são procedimentos a serem buscados<br />
no sentido <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver um manejo sustentável do ambiente.<br />
Muitas situações são relatadas por técnicos e mesmo camponeses: “a maioria utiliza o<br />
fogo porque não possuem outro meio <strong>de</strong> limpar as machambas”; <strong>de</strong>monstrando assim<br />
que os campos cultivados estão na maioria dos casos completamente tomados por<br />
plantas invasoras, ou seja, a maior parte do tempo consumido pelos camponeses nas<br />
machambas é para a limpeza e controle da alta infestação <strong>de</strong> plantas in<strong>de</strong>sejáveis.<br />
Nesse sentido é também fundamental <strong>de</strong>senvolver o sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong><br />
Conservação (SAC) on<strong>de</strong> o mulch (capins, restolhos dos cultivos, etc.) <strong>de</strong>ve permanecer<br />
cobrindo o solo quase que todo o ano, promovendo um controle bastante eficiente das<br />
invasoras e, consequentemente o camponês terá um maior tempo disponível para outras<br />
ativida<strong>de</strong>s e, inclusive para aumentar a área <strong>de</strong> cultivo <strong>de</strong> suas machambas. Portanto,<br />
indirectamente o SAC também irá contribuir para diminuir os riscos <strong>de</strong> queimadas, e<br />
maior protecção <strong>de</strong> todo o meio ambiente.<br />
A experiência brasileira e, também a <strong>de</strong> outros países sobre Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
tem reforçado a importância <strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolver sistemas racionais e sustentáveis <strong>de</strong><br />
manejo do solo e <strong>de</strong> cultivos. Assim, a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> espécies nativas locais<br />
(leguminosas e outras), com potencial <strong>de</strong> serem introduzidas nos sistemas <strong>de</strong> produção<br />
regional, e posteriormente validadas pelos camponeses em suas machambas, também a<br />
avaliação <strong>de</strong> espécies exóticas potenciais (algumas inclusive já vem sendo empregadas<br />
em algumas regiões (mucunas, lablab, feijão bóer, nhemba, etc.), o uso integrado <strong>de</strong><br />
outras práticas complementares conservacionistas do solo e da água (barreiras vivas,<br />
muralha <strong>de</strong> pedras, cordões vegetados, canal escoadouro vegetado, cultivos<br />
associados/intercalados por ex. milho + mucuna, mapira + feijão bóer, etc.,) <strong>de</strong>vem ser<br />
intensificadas e <strong>de</strong> uma forma racional e harmônica integradas tanto a nível <strong>de</strong><br />
proprieda<strong>de</strong> agrícola como a nível <strong>de</strong> microbacia hidrográfica.<br />
A constante busca <strong>de</strong> manutenção e aumento da melhoria da capacida<strong>de</strong> produtiva dos<br />
solos, aliado a uma menor necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra, com diminuição nos custos <strong>de</strong><br />
produção e aumento da produção e da produtivida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>senvolvidos <strong>de</strong> uma forma<br />
equilibrada e com protecção ambiental, são etapas a serem atingidas quando o SAC for<br />
<strong>de</strong>vidamente implementado nas diferentes regiões agrícolas <strong>de</strong> todo o País.<br />
O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> Projetos, alguns com activida<strong>de</strong>s em andamento, on<strong>de</strong> são<br />
<strong>de</strong>senvolvidos estratégias no sentido <strong>de</strong> promover mudanças junto aos camponeses,<br />
87
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
88<br />
levando-os a pensar e agirem com um espírito empreen<strong>de</strong>dor e com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
tornarem-se empresários agrícolas, não apenas com a produção familiar (subsistência),<br />
mas com a implementação do SAC, os ganhos e melhoria da qualida<strong>de</strong> do solo irá<br />
seguramente incorrer num aumento da produção e da produtivida<strong>de</strong> e<br />
consequentemente um maior exce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> produtos que po<strong>de</strong>rão serão direccionados<br />
ao mercado (local e externo). Dessa forma, certamente ocorrerá um acréscimo da renda<br />
líquida das famílias, repercutindo numa melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e, principalmente com<br />
preservação ambiental e exploração sustentável (econômica, agro-ecológica e social).<br />
Seguramente os princípios e conceitos da Agricultura <strong>de</strong> Conservação, necessitam ser<br />
internalizados por todos os técnicos e produtores “chaves” nos Distritos trabalhados.<br />
Buscando meios práticos e factíveis <strong>de</strong> aplicação prática nos diferentes sistemas <strong>de</strong><br />
produção regionais com vistas a economizar mão-<strong>de</strong>-obra, com a não necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
lavrar o solo e não queimar os resíduos, libera maior tempo para aumentar a área da<br />
machamba (aumentando a área <strong>de</strong> produção) e, com o SAC certamente com o tempo<br />
ocorrerá um aumento da produção e da produtivida<strong>de</strong> dos diferentes cultivos,<br />
incrementando a renda familiar, e a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos camponeses.<br />
Devem ser oferecidos e divulgados aos camponeses, sistemas alternativos à queimadas no<br />
sentido <strong>de</strong> se evitar a queima <strong>de</strong> florestas, restolhos dos cultivos, <strong>de</strong>composição e perdas da<br />
matéria orgânica e <strong>de</strong>gradação das proprieda<strong>de</strong>s do solo (químicas, físicas e biológicas),<br />
evitando-se danos ambientais e diminuição do potencial produtivo das terras agricultáveis.<br />
A continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhos junto a grupos <strong>de</strong> camponeses previamente seleccionados<br />
<strong>de</strong>verão ser priorizados, fazendo-se oportunamente os ajustes necessários, e a coleta das<br />
informações e dados gerados no processo <strong>de</strong> teste/validação efectuados pelos camponeses<br />
nas diferentes regiões, em direcção a uma Agricultura mais racional e Sustentável.<br />
Explorando o ambiente <strong>de</strong> forma racional e equilibrada, mantendo/aumentando a<br />
capacida<strong>de</strong> produtiva dos solos, com um mínimo <strong>de</strong> riscos ambientais e <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação dos<br />
recursos naturais, diminuindo a penosida<strong>de</strong> dos trabalhos <strong>de</strong> campo e, oferecendo meios <strong>de</strong><br />
domínio <strong>de</strong> tecnologias simples e <strong>de</strong> fácil adaptação aos meios produtivos,<br />
consequentemente abrindo oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aumento da área cultivada, com a elevação<br />
dos níveis <strong>de</strong> renda familiar dos camponeses.
Anexo 2: Plantas <strong>de</strong> cobertura comuns na Província <strong>de</strong> Sofala<br />
Comportamento e características gerais – Exemplos da região do Distrito do Búzi<br />
Foi implantado um “screening” (colecção) <strong>de</strong> diferentes espécies <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura<br />
activida<strong>de</strong> esta conduzida e sob a responsabilida<strong>de</strong> da DADR local.<br />
Este campo <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> diferentes espécies <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura foi implantado no<br />
Distrito do Búzi no ano <strong>de</strong> 2002, sendo o solo bastante arenoso e <strong>de</strong> fertilida<strong>de</strong> muito baixa.<br />
Algumas plantas que se <strong>de</strong>stacaram nestas condições:<br />
Feijão bóer anão: completou o ciclo aos 120-130 dias da semeadura;<br />
Mucunas (ver<strong>de</strong>, preta): já completaram o ciclo; sendo que as folhas já estão em fase<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>composição sobre solo<br />
Clitoria ternatea: excelente vigor, boa produção <strong>de</strong> biomassa, em fase <strong>de</strong><br />
florescimento, com algumas vagens já secas (po<strong>de</strong>ndo ser colhidas)<br />
Crotalaria juncea: já completou o ciclo<br />
Crotalaria spectabilis: parte das plantas já completaram o ciclo, e parte estão com<br />
vagens<br />
Calopogonio mucunoi<strong>de</strong>s: apresenta um excelente <strong>de</strong>senvolvimento e vagens em fase<br />
final <strong>de</strong> maturação<br />
O feijão <strong>de</strong> porco (Canavalia ensiformis) apresentou um bom <strong>de</strong>senvolvimento e<br />
praticamente já havia completado o ciclo<br />
Percebe-se que há vários materiais com gran<strong>de</strong> potencial <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e, inclusive<br />
vários <strong>de</strong>les já com experiências regionais comprovadas e validadas pelos camponeses.<br />
Como é o caso <strong>de</strong>: Mucunas, feijão bóer, o feijão bóer anão, crotalarias (principalmente<br />
juncea e spectabilis), Clitoria ternatea, Calopogonio mucunoi<strong>de</strong>s, lablab, feijão mungo (Vigna<br />
radiata) que além <strong>de</strong> melhorar o solo é uma gran<strong>de</strong> opção na alimentação humana.<br />
Ainda alguns materiais como: Setaria italica (ciclo curto: 50-75 dias), finger millet – Eleusine<br />
coracana (marumbi ou ruquesa ou milho miúdo), Feijão arroz (Vigna umbelata), se faz<br />
necessário continuar com as avaliações em razão do gran<strong>de</strong> potencial que possuem estas<br />
espécies (protecção do solo, alimentação humana e animal – excepto setaria).<br />
Deve-se continuar com as colecções com outras espécies <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura, inclusive<br />
algumas espécies nativas com potencial, no sentido <strong>de</strong> melhor avaliar e se ter mais opções<br />
para incluir nas rotações dos diferentes sistemas <strong>de</strong> produção regional.<br />
Um dos gran<strong>de</strong> problemas comum à maioria dos camponeses dos diferentes Distritos é a<br />
alta infestação <strong>de</strong> invasoras (plantas daninhas), principalmente Cyperus spp., Cynodon<br />
dactilum (sp.), etc., o que dificulta bastante os cultivos, alta competição com as culturas, alta<br />
utilização <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra em razão da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> várias operações <strong>de</strong> sacha e<br />
monda.<br />
Portanto, perante estas condições, a <strong>de</strong>finição do uso a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas espécies<br />
<strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> cobertura <strong>de</strong>vidamente adaptados aos sistemas <strong>de</strong> produção regional (o que<br />
<strong>de</strong>verá ser realizado previamente através dos processos <strong>de</strong> Teste / Validação efectuado<br />
pelos camponeses), consiste em uma das ferramentas essenciais (componente essencial),<br />
que a ser integrado com outros componentes, tais como não queimar os resíduos; não arar<br />
o solo; efectuar a rotação <strong>de</strong> culturas – fundamentos básicos do sistema da Agricultura <strong>de</strong><br />
Conservação e outros como procurar <strong>de</strong>senvolver preferentemente processos biológicos no<br />
manejo <strong>de</strong> pragas / doenças e invasoras , assim como procurar usar biofertilizantes; realizar<br />
o plantio direto <strong>de</strong> culturas <strong>de</strong> grãos ou hortaliças (sementes ou transplante <strong>de</strong> mudas) sobre<br />
palhada; po<strong>de</strong> promover uma agricultura sustentável para o produtor familiar.<br />
89
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
Numa nova visita, foi verificado que algumas coberturas ainda estavam na área:<br />
• Mucuna cinza e preta<br />
• Calopogonium mucunoi<strong>de</strong>s<br />
• Feijão bravo do Ceará (Canavalia brasiliensis)<br />
• Clitoria ternatea<br />
Todas estas plantas <strong>de</strong> cobertura haviam produzido sementes e, embora tenham sido<br />
colhidas, muitas sementes caíram no solo e ressemearam naturalmente. A quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
biomassa <strong>de</strong> todos os materiais era muito boa, sendo que a mucuna cinza e Calopogonium<br />
mucunoi<strong>de</strong>s controlaram totalmente o capim que vegetava na área (Cynodon dactilon).<br />
Portanto, estas plantas mostraram-se muito eficientes no uso <strong>de</strong> melhoramento <strong>de</strong> pousio<br />
(áreas <strong>de</strong>gradadas).<br />
Seguramente através dos trabalhos realizados em áreas <strong>de</strong> camponeses, on<strong>de</strong> seja<br />
possível a integração <strong>de</strong>stes componentes e os ajustes necessários efectuado<br />
oportunamente, os rumos <strong>de</strong> uma Agricultura Sustentável estarão sendo trilhados em<br />
condições reais e factíveis <strong>de</strong> realização a nível <strong>de</strong> pequenos camponeses na Província <strong>de</strong><br />
Sofala. Dessa forma, o ambiente estará cada vez mais preservado; a capacida<strong>de</strong> produtiva<br />
dos solos elevada; os riscos <strong>de</strong> contaminação ambiental diminuídos; seguramente haverá<br />
menor penosida<strong>de</strong> dos trabalhos e maior disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra com consequente<br />
maior área <strong>de</strong> cultivo, maior produção e maior renda aos camponeses; isto indirectamente<br />
irá proporcionar uma maior qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida àqueles que estão cultivando a terra.<br />
Portanto, se tem experiências e bons resultados nos diferentes Distritos com algumas<br />
espécies <strong>de</strong> cobertura, como é o caso das Mucunas, lablab, Crotalaria juncea e, também<br />
algumas com múltiplos fins: alimentação humana e animal, proteção e recuperação <strong>de</strong><br />
solos: feijão bóer, feijão nhemba, mexoeira, murumbi, e outras; além das espécies<br />
leguminosas nativas encontradas naturalmente vegetando as diferentes regiões da<br />
Província <strong>de</strong> Sofala: Crotalarias, Sesbanias, Vignas, Indigoferas, Canavalias, Calopogonium<br />
sp., Pueraria sp., Stylosanthes sp., Arachis sp., Centrosema sp., Macroptilium sp. e diversas<br />
outras espécies com gran<strong>de</strong> potencial <strong>de</strong> fazerem parte <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> rotação <strong>de</strong> culturas<br />
com outras culturas (subsistência e <strong>de</strong> renda). Necessitando regionalmente testar e validar<br />
nas machambas estas espécies potenciais e importante componente do Sistema <strong>de</strong><br />
Agricultura <strong>de</strong> Conservação.<br />
Alternativas <strong>de</strong> plantas para áreas com elevada altitu<strong>de</strong> e temperaturas baixas no<br />
inverno:<br />
Em regiões <strong>de</strong> elevada altitu<strong>de</strong> (800-1000m., ou mais), como por exemplo na região <strong>de</strong><br />
Gorongosa (Canda-Nhabirira), muitos camponeses nessas condições estão cultivando<br />
hortícolas em geral: alho, batata, repolho, milho, etc.<br />
No inverno geralmente po<strong>de</strong> ocorrer baixas temperaturas, po<strong>de</strong>ndo apresentar mínimas <strong>de</strong><br />
11-12°C nos meses <strong>de</strong> abril, maio, junho e julho; portanto oferecendo potencial <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> culturas tais como: ervilha (Pisum sativum), lentilha (Lens culinaris),<br />
grão <strong>de</strong> bico (Cicer arietinum), tremoços doces (Lupinus sp.), canola (Brassica napus), trigo<br />
(Triticum aestivum), cevada (Hor<strong>de</strong>um vulgare), centeio (Secale cereale), aveias (Avena<br />
sp.), triticale (X triticosecale), trigo sarraceno (trigo mourisco) (Fagopirum esculentum), etc.,<br />
com elevado potencial <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.<br />
Também algumas forrageiras e melhoradoras <strong>de</strong> solos po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senvolver: trevos (Trifolium<br />
sp.), cornichão (Lotus corniculatus), serra<strong>de</strong>la (Ornithopus sativus), azevém (Lollium<br />
90
multiflorum), etc. Além da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crescer algumas frutíferas perenes: vi<strong>de</strong>ira,<br />
pessegueiro, figueiras, nectarinas, etc.<br />
Assim, existe um potencial em aumentar a diversificação <strong>de</strong> culturas nessas áreas, <strong>de</strong>vendo<br />
os sistemas <strong>de</strong> produção serem testados e validados pelos camponeses e, com a geração<br />
<strong>de</strong> novas alternativas para o mercado e melhoria da dieta alimentar, com incremento da<br />
rentabilida<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos camponeses locais.<br />
91
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
Anexo 3: Produção <strong>de</strong> massa vegetal <strong>de</strong> diferentes espécies <strong>de</strong><br />
plantas <strong>de</strong> cobertura e % <strong>de</strong> nutrientes na matéria seca<br />
92<br />
ESPÉCIES<br />
Massa<br />
ver<strong>de</strong><br />
(t/ha)<br />
Matéria<br />
seca<br />
(t/ha)<br />
Nitrogénio Fósforo Potássio<br />
(% na matéria seca)<br />
Mexoeira 11 - 90 3.5 - 21 0.34 - 1.46 0.13 - 0.29 1.05 - 3.12<br />
Feijão nhemba 20 - 33 2.5 - 6 1.67 - 2.22 0.25 - 0.50 1.82 - 2.77<br />
Mucuna cinza 10 - 25 2 - 6 1.56 - 2.43 0.46 - 0.57 1.00 - 1.55<br />
Feijão bóer 18 - 45 5 - 12 2,41 - 2,85 0,12 - 0,19 2,40 - 2,84<br />
Feijão bóer anão 14- 22 2 - 6.5 1.02 - 2.04 0.21 - 0.28 0.92 - 1.47<br />
Mucuna preta 12-23 2 - 5 2,29 - 2,73 0,11 - 0,17 1,25 - 1,55<br />
Mucuna ana 10- 18 2 - 4 2,85 - 3,35 0,16 - 0,23 4,14 - 4,84<br />
Crotalaria spectabilis 12-23 4 - 7 2,14 - 2,20 0,07 - 0,12 1,40 - 1,78<br />
Feijão <strong>de</strong> porco 14 - 26 3 - 7 3,00 - 3,39 0,12 - 0,18 5,30 - 5,94<br />
Feijão bravo do Ceara 14 - 25 3 - 6.5 2,27 - 2,71 0,11 - 0,15 1,58 - 1,78<br />
Feijão mungo 12 - 22 3 - 5.5 2,00 - 2,18 0,15 - 0,27 4,64 - 5,24<br />
Dolichos lab-lab 14 - 28 4 - 7 2,15 - 2,57 0, 27 - 0,61 2,14 - 2,53<br />
Leucaena leucocephala 20 - 50 10 - 16 4, 17 - 4,43 0,17 - 0,28 1,45 - 1,94<br />
Indigofera sp. 13 - 24 4 - 7 2,02 - 2,33 0,09 - 0,19 1, 45 - 1,64<br />
Calopogonio mucunoi<strong>de</strong>s 14 - 23 4 - 6 2,05 - 2,28 0,08 - 0,17 1,43 - 1,68<br />
Kudzu 13 – 25 4 - 7 3,47 -3,88 0,23 - 0,36 2,06 - 2,23<br />
Soja perene 12 – 23 4 - 6 2,44 - 2,85 0,17 - 0,30 2,24 - 2,45<br />
Centrosema pubescens 14 - 27 4.5 - 6.5 2,21 - 2,48 0,17 - 0,29 1, 03 - 1,34<br />
Mexoeira + nhemba 19 - 40 3.5 - 10 0.61 - 0.82 0.13 - 0.17 1.08 - 1.12<br />
Crotalaria juncea 15 - 35 2.5 - 8.5 1.42 - 1.65 0.19 - 0.21 0.96 - 1.38<br />
Girassol 20 - 46 4 - 8 1. 02 - 1,12 0.18- 0,24 2,50 - 2.78<br />
Aveia preta 15 - 40 2 - 11 0.70 - 1.68 0.14 - 0.42 1.08 - 3.08<br />
Centeio 30 - 35 4 - 8 0.58 - 0.66 0.16 - 0.29 0.75 - 1.45<br />
Ervilhaca peluda 20 - 37 3 - 5 2.51 - 4.36 0.25 - 0.41 2.41 - 4.26<br />
ervilhaca comum 20 - 30 3 - 5 2.74 - 3.47 0.27 - 0.38 2.33 - 2.56<br />
Ervilha forrageira 15 - 40 2.5 - 7 1.77 - 3.36 0.14 - 0.41 0.67 - 3.31<br />
nabo forrageiro 20 - 65 3 - 9 0.92 - 1.37 0.18 - 0.33 2.02 - 2.65<br />
Tremoço branco 30 - 40 3.5 - 5 1.22 - 1.97 0.25 - 0.29 1.00 - 1.77<br />
Tremoço azul 25 - 40 3 - 6 0.85 - 2.15 0.12 - 0.29 1.36 - 1.49<br />
Aveia preta +<br />
ervilhaca comum<br />
15 – 50 2 - 10 0.93 - 1.39 0.15 - 0.16 1.23 - 1.47<br />
Ervilhaca comum + aveia<br />
preta + tremoço branco<br />
18– 26 3,5 - 6 1,99 - 2,99 0,16 - 0,26 2,86 - 3,86<br />
Ervilha forrageira +<br />
aveia preta<br />
27– 34 4 - 10 1,62 - 2,22 0,13 - 0,18 2,55 - 3,35<br />
Fonte: Adaptado <strong>de</strong> Calegari, 1995, 2000, Florentin et al., 2001
Anexo 5: O sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação no Brasil<br />
O sucesso do sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação (plantio direto) no Brasil, não po<strong>de</strong> ser<br />
atribuído à exclusiva adoção <strong>de</strong> parâmetros técnicos. Aliado aos aspectos técnicos, um<br />
enfoque participativo em adaptar resultados da pesquisa e transferência <strong>de</strong> tecnologia foi<br />
adotado buscando respon<strong>de</strong>r aos anseios dos produtores em seus diferentes sistemas <strong>de</strong><br />
produção. Um forte suporte das políticas governamentais foi concentrado em treinamentos<br />
e educação das diferentes comunida<strong>de</strong>s rurais com suas representações (grupos,<br />
associações, cooperativas, etc.) no sentido <strong>de</strong> melhor capacitá-las e assim, levando em<br />
consi<strong>de</strong>ração os diferentes componente do sistema (plantas <strong>de</strong> cobertura, rotação <strong>de</strong><br />
culturas, construção <strong>de</strong> terraços, etc.), as pessoas po<strong>de</strong>rem adotar a<strong>de</strong>quadamente a<br />
Agricultura <strong>de</strong> Conservação.<br />
Na década <strong>de</strong> 70 praticamente os produtores brasileiros não utilizavam o plantio direto, com<br />
exceção <strong>de</strong> alguns pioneiros no sistema, como é caso dos Srs. Herbert Bartz (Rolândia-PR),<br />
Manoel Henrique Pereira (Ponta Grossa-PR) e Frank Dijkstra (Castro-PR), que foram<br />
exemplos <strong>de</strong> perseverança e forte influencia a muitos produtores brasileiros no processo <strong>de</strong><br />
adoção. No ano 2000, em torno <strong>de</strong> 14 milhões <strong>de</strong> hectares já era ocupado por este sistema.<br />
Essa mudança foi lenta no inicio, e foi muito mais que uma simples mudança <strong>de</strong> um pacote<br />
tecnológico: convencional ou tradicional para um on<strong>de</strong> não se prepara mais o solo. Durante<br />
um período <strong>de</strong> 25 anos, a adoção foi <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um enfoque integrado, incluindo esforços e<br />
mobilização social, educação e treinamento constante, marketing e diversificação, e<br />
preocupação com questões ambientais; com repercussão direta na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida dos<br />
agricultores e na gestão ambiental.<br />
Uma completa estratégia <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da Agricultura <strong>de</strong> Conservação criou as<br />
condições <strong>de</strong> expansão da experiência conseguida com os primeiros agentes <strong>de</strong> mudança:<br />
agricultores, especialistas técnicos, input do setor privado e extensionistas, através <strong>de</strong> uma<br />
re<strong>de</strong> <strong>de</strong> organização <strong>de</strong> produtores a nível local (comunida<strong>de</strong>), estadual, fe<strong>de</strong>ral e,<br />
atualmente a nível Internacional.<br />
As estratégias <strong>de</strong> apoio ao <strong>de</strong>senvolvimento da Agricultura <strong>de</strong> Conservação no Brasil<br />
foi alicerçada basicamente em:<br />
Estreita colaboração entre pesquisadores, extensionistas, sector privado e agricultores<br />
para o <strong>de</strong>senvolvimento, adoção e melhoria do sistema <strong>de</strong> plantio direto (Agricultura <strong>de</strong><br />
Conservação);<br />
UTVs nos campos dos agricultores e <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico participativo;<br />
Fortalecimento da organizações dos agricultores. Criação dos clubes locais: “Clube<br />
amigos da Terra”, on<strong>de</strong> os agricultores podiam trocar informações e experiências,<br />
facilitando o acesso à informações e outros serviços tais como, aquisição <strong>de</strong> insumos e<br />
opções <strong>de</strong> mercado para seus produtos;<br />
Estreitamento <strong>de</strong> parcerias com cooperativas existentes e novas opções <strong>de</strong> mercado, na<br />
transformação e processamento <strong>de</strong> produtos primários, visando adicionar valores aos<br />
seus produtos básicos, assim como na própria integração agricultura/pecuária;<br />
Estratégia agressiva <strong>de</strong> disseminação técnica, econômica e informações ambientais<br />
através da mídia, rádio, jornais, TV, documentos, reuniões, conferências, controlada e<br />
manejada principalmente por organizações <strong>de</strong> produtores com ênfase nas experiências<br />
produtor x produtor;<br />
A FEBRAPDP (Fe<strong>de</strong>ração Brasileira <strong>de</strong> Plantio Direto na Palha) <strong>de</strong>sempenhou um papel<br />
fundamental <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo e apoiando a promoção do plantio direto (Agricultura <strong>de</strong><br />
Conservação) tanto aos gran<strong>de</strong>s produtores como aos <strong>de</strong> pequena escala, nas mais<br />
103
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
104<br />
diferentes regiões brasileiras. Por ser um sistema complexo a Agricultura <strong>de</strong><br />
Conservação requer um eficiente manejo e integração <strong>de</strong> todos os componentes a nível<br />
<strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> rural, <strong>de</strong> forma a ter uma visão holística e dinâmica <strong>de</strong> todo o sistema, e<br />
a a<strong>de</strong>quada interação entre esses componentes <strong>de</strong> forma a aten<strong>de</strong>r aos princípios da<br />
Agricultura <strong>de</strong> Conservação: manter o solo coberto, se possível todo o ano, não preparar<br />
o solo, utilizar plantas <strong>de</strong> cobertura e efetuar rotação <strong>de</strong> culturas;<br />
Parceria entre o setor público e setor privado: algumas empresas <strong>de</strong> agrotóxicos<br />
contribuíram com Projetos <strong>de</strong> validação/<strong>de</strong>monstração em pequenas e gran<strong>de</strong>s<br />
proprieda<strong>de</strong>s disponibilizando insumos e serviços <strong>de</strong> extensão;<br />
Na adoção por parte dos pequenos agricultores os subsídios a curto prazo facilitaram a<br />
adoção do sistema. Muitos dos equipamentos tração animal utilizados pelos pequenos<br />
produtores do estado do Paraná foi adquirido com suporte financeiro do estado através<br />
<strong>de</strong> Programa <strong>de</strong> Desenvolvimento, principalmente do Banco Mundial;<br />
Integração agricultura/pecuária: muitos sistemas <strong>de</strong>senvolvidos em diversas regiões<br />
contemplam a exploração com cultura <strong>de</strong> grãos: milho, soja, trigo, com a integração na<br />
criação <strong>de</strong> bovinos, aves (galinhas), suínos, e peixes. Sempre consi<strong>de</strong>rando a<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>, além <strong>de</strong> ter disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forragem no campo aos animais, <strong>de</strong>ixar<br />
resíduos sobre o solo suficientes para se ter uma boa cobertura e proteção do solo e,<br />
condições da Agricultura <strong>de</strong> Conservação ter sua continuida<strong>de</strong> em condições<br />
a<strong>de</strong>quadas;<br />
Gestão ambiental: algumas <strong>de</strong>gradações observadas a nível <strong>de</strong> microbacia hidrográfica,<br />
por ex. erosão do solo, poluição <strong>de</strong> lagos e rios, danificação em estradas, etc., foram<br />
completamente corrigidas com as práticas da Agricultura <strong>de</strong> Conservação e, isto<br />
contribuiu fortemente na adoção <strong>de</strong> todo o sistema <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação.<br />
Preocupação crescente com o ambiente, foi também facilitado com a criação <strong>de</strong> setores<br />
coletivos <strong>de</strong> coleta e armazenamento <strong>de</strong> “containers” perigosos às pessoas e ao<br />
ambiente, locais a<strong>de</strong>quados para abastecimento <strong>de</strong> pulverizadores (evitando-se assim o<br />
contacto direto com riachos e riscos <strong>de</strong> contaminação) e, melhoria <strong>de</strong> galerias nas<br />
florestas (facilitando o escoamento <strong>de</strong> águas).
Anexo 6: Características <strong>de</strong> diferentes espécies <strong>de</strong> plantas<br />
melhoradas <strong>de</strong> solos<br />
A seguir são apresentados diferentes espécies leguminosas, que apresentam<br />
comportamento diferenciado conforme os distintos ambientes ( Alcântara & Bufarah ,1980;<br />
Calegari et al. 1993; Calegari & Peñalva, 1999):<br />
Características Tipo <strong>de</strong> leguminosa<br />
Dolichos lablab<br />
Canavalia ensiformis<br />
Canavalia brasiliensis<br />
Stizolobium sp.<br />
Cajanus cajan<br />
Vigna unguiculata<br />
Desmanthus virgatus<br />
Desmodium uncinatum<br />
Galactia striata<br />
Glycine wightii Verdc. Cooper<br />
Nome Vulgar<br />
Tolerância à seca<br />
(sin. Neonotonia wightii<br />
Lackey)<br />
Indigofera en<strong>de</strong>caphylla<br />
Leucaena en<strong>de</strong>caphylla<br />
Macrotyloma axillare<br />
Stylosanthes hamata cv.<br />
Verano<br />
Stylosanthes guyanensis<br />
Stylosanthes humilis<br />
Tolerância a solos <strong>de</strong> baixa<br />
fertilida<strong>de</strong>:<br />
Lupinus albus L.<br />
Pisum sativum subesp.<br />
Arvense<br />
Cajanus cajan<br />
Canavalia ensiformis<br />
Canavalia brasiliensis L.<br />
Vigna unguiculata<br />
Stizolobium aterrimum Piper<br />
& Tracy<br />
Stizolobium cinereum<br />
O gênero Stylosanthes (em<br />
geral)<br />
Calopogonium mucunoi<strong>de</strong>s<br />
Desmodium spp.<br />
Indigofera spp.<br />
Leucaena leucocephala<br />
Teramus uncinatus<br />
Centrosema sp.<br />
Galactia striata<br />
Macroptilium atropurpureum<br />
Zornia diphylla<br />
Vicia villosa<br />
Lupinus luteus L.<br />
Lotus corniculatus L.<br />
Ornithopus sativus L.<br />
105
Guía prático <strong>de</strong> Agricultura <strong>de</strong> Conservação<br />
106<br />
Características Tipo <strong>de</strong> leguminosa Nome Vulgar<br />
Arachis pintoi<br />
Canavalia ensiformis<br />
Leucaena leucocephala<br />
Pueraria phaseoloi<strong>de</strong>s<br />
Leguminosas adaptadas a<br />
condições <strong>de</strong><br />
sombreamento:<br />
Leguminosas adaptadas a<br />
solos <strong>de</strong> média fertilida<strong>de</strong><br />
química:<br />
Leguminosas adaptadas a<br />
solos férteis:<br />
Leguminosas mais<br />
adaptadas a áreas baixas e<br />
húmidas:<br />
Leguminosas adaptadas às<br />
condições <strong>de</strong> frio:<br />
Trifolium repens<br />
Calopogonium caereleum<br />
Calopogonium mucunoi<strong>de</strong>s (<br />
somb. Parcial)<br />
Centrosema macrocarpum<br />
Desmodium heterophylum<br />
Desmodium ovalifolium<br />
Indigofera en<strong>de</strong>caphyla<br />
(somb. Parcial)<br />
Centrosema pubescens<br />
Galactia striata<br />
Macroptilium atropurpureum<br />
Raphanus sativus L. (crucif.)<br />
Lupinus albus L.<br />
Lupinus angustifolius L.<br />
Lathyrus sativus L.<br />
Crotalaria juncea L.<br />
Glycine wightii Verdc. (sin.<br />
Neonotonia wightii Lackey)<br />
Medicago sativa<br />
Trifolium spp.<br />
Vicia sativa L.<br />
Stizolobium <strong>de</strong>eringianum<br />
Steph & Bart<br />
Vigna umbelata L<br />
Centrosema pubescens<br />
Phaseolus mungo<br />
Pueraria phaseoloi<strong>de</strong>s<br />
Sesbania sp.<br />
Clitoria ternatea<br />
Desmodium intortum cv.<br />
Greenleaf<br />
Desmodium incinatum cv.<br />
Silverleaf<br />
Glycine wightii Verdc. cv.<br />
Tinaroo (sin. Neonotonia<br />
wigthii Lackey)<br />
Lotononis bainesii<br />
Phaseolus lathyroi<strong>de</strong>s<br />
Medicago sativa<br />
Trifolium spp.<br />
Lupinus angustifolius L.<br />
Vicia villosa<br />
Vicia sativa
Características Tipo <strong>de</strong> leguminosa Nome Vulgar<br />
Leguminosas mais<br />
adaptadas a áreas com<br />
períodos <strong>de</strong> inundação<br />
Leguminosas adaptadas às<br />
condições <strong>de</strong> fogo (po<strong>de</strong>m<br />
rebrotar):<br />
Sesbania sp.<br />
Lotononis bainesii<br />
Phaseolus lathyroi<strong>de</strong>s<br />
Vigna luteola<br />
Vigna umbelata L.<br />
Pueraria phaseoloi<strong>de</strong>s<br />
Glycine wightii Verdc. (sin.<br />
Neonotonia wightii Lackey)<br />
Centrosema pubescens<br />
- Desmodium adscen<strong>de</strong>ns<br />
Macroptilium atropurpureum<br />
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